Estudo da USP revela que distúrbio alimentar 
pode ser herdado 
Abril 28, 2010.
Os transtornos 
alimentares, cuja complexidade dificulta o conhecimento das causas, também podem 
ser herdados. Pesquisadoras da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da 
USP identificaram a herança psíquica dessas doenças atravessando gerações. Os 
resultados da pesquisa foram apresentados em março pela psicóloga Christiane 
Baldin Adami Lauand em sua dissertação de mestrado "As experiências alimentares 
de mães com filhas portadoras de transtornos alimentares: investigando a 
transgeracionalidade". 
 
O estudo envolveu mães de adolescentes com anorexia nervosa que frequentaram o 
grupo de apoio psicológico aos familiares do Grupo de Assistência em Transtornos 
Alimentares (GRATA) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de 
Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP no ano de 2008. A psicóloga delimitou o número de 
mães por saturação dos dados obtidos por entrevistas com cinco mães. A análise 
foi qualitativa e o critério de seleção adotado foi que elas deveriam ter 
participado do grupo de apoio psicológico em 2008. 
 
O estudo investigou os hábitos alimentares das mães buscando compreender a 
existência de transmissão psíquica. A psicóloga queria conhecer a relação que as 
mães construíram com a alimentação e o que aconteceu depois do diagnóstico de 
transtorno alimentar da filha. Chamou a atenção, o fato de a maioria das mães 
trazer história de restrição alimentar em algum momento da vida, principalmente 
na infância, seja por questões financeiras ou restrição auto-imposta. 
 
"Eram ruins de boca", lembra Christiane, dizendo que assim se classificavam. 
"Não gostavam de comer, não queriam comer. Em comum, todas vivenciaram situações 
de restrição alimentar e, agora, suas filhas estavam sofrendo de anorexia 
nervosa", conta a pesquisadora. 
 
Repetição 
 
A pesquisa mostrou que, depois do episódio de restrição, essas mães 
tentaram modificar um pouco a história. Ao se tornarem mães, muitas delas 
ofereciam aos filhos abundância de comida ou alimentos muito calóricos. Queriam 
dar aquilo que não tiveram. Num determinado momento, entretanto, as filhas 
passaram a restringir, por si mesmas, todo o alimento que tinham em excesso. 
 
Christiane garante que esse mecanismo não é regra para todas as filhas de mães 
que viveram situações de restrição alimentar. "De alguma forma, aquela filha têm 
um psiquismo que absorve isso. E fica tentando resolver o problema que foi 
adquirido", explica. No próprio cuidado materno, a mãe transmite conteúdos para 
essa filha, influenciados por aspectos inconscientes. "A gente não sabe como 
essa mãe lidou com o seu trauma; ele deve ter ficado lá e, como um 'fantasma', 
pode ressurgir a qualquer momento", diz. 
 
Quando as filhas adoecem, estas mães reavivam suas experiências alimentares. 
"Muitas adoecem juntamente com as filhas, não sentem mais prazer em se 
alimentar, perdem peso, perdem confiança na alimentação e no ato de alimentar os 
outros, passam a não mais fazer refeições juntamente com a família, nem mesmo em 
datas comemorativas". A psicóloga afirma que essa situação não é algo que surgiu 
agora, já aconteceu antes, especialmente na infância delas. 
 
Vivências 
 
A professora orientadora da pesquisa, Rosane Pilot Ribeiro, chama a 
atenção para o caráter afetivo da alimentação e também para o simbolismo que o 
alimento confere às relações sociais e emocionais, tendo na família importante 
instrumento de transmissão de rituais e regras dietéticas. "O alimento não serve 
apenas para suprir necessidades fisiológicas, mas vem carregado de vivências 
afetivas, significados", lembra Rosane, alertando para o fato de que, se esses 
transtornos são transmitidos pelas gerações, não adianta apontar ou achar um 
culpado. "Não é culpa da mãe", defende a professora. 
 
A psicóloga Christiane completa: "Nessa questão, não há culpados. Há um conteúdo 
transmitido que atravessa gerações", garante. "Mas devido à complexidade dos 
fatores que envolvem a doença, uma série de aspectos necessita de análise para 
entender o transtorno alimentar. O foco está na doença da filha, mas trata-se de 
uma rede: constituição da mente da paciente, questões sociais, culturais, 
biológicas, genéticas, padrões de vínculo e a transmissão transgeracional. A 
abordagem da vida materna, sua história e os significados que atribuiu à sua 
alimentação conferem o aspecto inédito ao trabalho, aponta Rosane. "É um estudo 
importante e inovador em termos de transmissão psíquica envolvendo transtorno 
alimentar", conclui. 
Fonte: USP. 
 
Outras notícias 
Teatro Sérgio Cardoso apresenta espetáculos Memória e Adoniran, do Ballet Stagium.  Montagem une dois trabalhos coreografados por Décio Otero em única apresentação no dia 12 de novembro, com entrada gratuita. 
Saia Sambando: evento gratuito no CEU Sapopemba, tem oficina de canto e rodas de samba para mulheres. As atividades têm participação da sambista Eloisa Marques e da cantora Luiza Abe. 
AMÉM & AMEM celebra 80 anos de Naná Vasconcelos na CAIXA Cultural São Paulo. Tributo reúne Virgínia Rodrigues, Zé Manoel, Lucas dos Prazeres e Marivaldo dos Santos em homenagem ao percussionista pernambucano que projetou a musicalidade brasileira no mundo. 
4ª edição Circo Contêiner chega ao fim em novembro com mais seis novos espetáculos gratuitos. As atrações do mês são Cia. Pé de Mamão, Trupe Lona Preta, A Casa das Lagartixas, Trupe Liuds, Trupe DuNavô e The Pambazos Bros. 
O Mundo do Circo SP estreia A Magia do Natal e apresenta programação gratuita do mês. O espetáculo estreia no dia 15 de novembro. 
+ Mais notícias 
 | 
 |