Uso excessivo dos fones de ouvido pode trazer danos auditivos
Janeiro 22, 2008
Um dos entretenimentos favoritos dos jovens é ouvir música em modernos aparelhos
eletrônicos, como o MP3, sem desconfiar do perigo que correm. “O fone de ouvido
tem um tipo de ruído que provoca zumbido, sinal de alerta precoce de perda
auditiva, especialmente quando o equipamento é utilizado no volume máximo e em
longo tempo de exposição direta no tímpano”, avisa a otorrinolaringologista
Tanit Ganz Sanchez, do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Zumbido é um ritmo acelerado que se manifesta na cabeça ou no ouvido para
compensar a perda auditiva. A sensação é de chiado, som de apito ou cigarra.
Pode ser contínuo ou intermitente.
O Grupo de Pesquisa em Zumbido do HC constata que quase 35% dos casos de
problemas auditivos diagnosticados na unidade relacionam-se a ruído por
exposição prolongada a sons potencialmente lesivos. A incidência aumenta
gradativamente em crianças e jovens.
“Os mais novos não acreditam que a falta de cuidados com os ouvidos leva a
problemas futuros, por isso precisam de muita orientação para mudar a conduta”,
salienta a médica. No caso dos adultos, ela diz que aceitam a orientação e
previnem-se.Insônia e ansiedade – Os médicos consideram os fones de ouvido
prejudiciais à saúde auditiva porque descarregam sons de até 120 decibéis (dB)
diretamente no tímpano. Os brinquedos eletrônicos vendidos no comércio chegam a
emitir ruídos de 82 dB a 130 dB – intensidades maiores do que as preconizadas
para um trabalhador (de 80 dB a 85 dB).
“O uso do fone de ouvido não resulta na perda total da audição, mas a lesão
adquirida dificilmente será recuperada”, adverte a médica.
Os dados que seguem na tabela (Recomendação sonora) foram obtidos do Grupo de
Pesquisa de Zumbido da FMUSP. Para evitar problemas auditivos, o estudo
recomenda o tempo máximo de exposição relacionado (na tabela) de acordo com o
nível de ruído.
A médica recomenda que ao primeiro sinal de um zumbido deve-se procurar um
otorrino, pois barulho estranho no ouvido pode prejudicar a qualidade de vida
das pessoas: provoca alteração emocional, irritabilidade, insônia, falta de
concentração, desestabilização do convívio social, agitação, taquicardia e
ansiedade.
“Jamais espere deixar de escutar bem para procurar o médico. Nesse momento a
pessoa já perdeu bastante a audição, isso é irreversível”, orienta. Aconselha
que quanto mais cedo começar o tratamento, melhor será o resultado.Festas
barulhentas – Não são apenas os jovens que gostam de se distrair com fone de
ouvido que correm perigo. Danceterias, shows e festas de carnaval com trio
elétrico são exemplos de ambientes com altos níveis de ruído, prejudiciais ao
sistema auditivo.
Quem adora shows e assiste a uma apresentação de banda de rock, por exemplo,
receberá nos ouvidos 120 dB. Num aeroporto, em especial na pista de pouso e
decolagem, a turbina de avião emite 110 dB. Uma motosserra ligada responde por
100 dB; o cortador de grama, 90 dB.
Veja alguns exemplos de ruídos, cujos níveis de som são considerados toleráveis:
cachorro latindo (80 dB), bebê chorando (60 dB), voz cochichada (40 dB) e folhas
caindo (10 dB). “As pessoas não precisam parar de se divertir, mas é necessário
ter bom senso”, recomenda a otorrino. Ela aconselha usar protetor de ouvido nas
festas “barulhentas” e retirar-se desse local, por algum tempo, a cada hora de
exposição.
Aos viciados em fones de ouvido sugere evitar contato com o aparelho durante
mais de uma hora seguida. Ajuste seu volume na potência média ou um terço do
total. Pensando em sua saúde, opte por abolir o volume máximo.
A doutora destaca essas advertências porque 28 milhões de brasileiros sofrem de
zumbido nos ouvidos. O mal atinge pessoas de todas as idades, porém é mais
freqüente em idosos.
A médica Tanit explica que, além do ruído provocado pela exposição a sons
estrondosos, há outros fatores que resultam no zumbido, como envelhecimento
natural, labirintite e má alimentação.
Recomendação sonora
Nível de ruído (dB) Tempo máximo de exposição diária permitida
85 dB - 8 horas
90 dB - 4 horas
95 dB - 2 horas
100 dB - 1 hora
105 dB - 30 minutos
110 dB - 15 minutos
(Fonte: Grupo de Pesquisa em Zumbido da FMUSP)
Doença tem tratamento
O Grupo de Pesquisa em Zumbido da FMUSP foi criado em 1994 para investigar as
principais causas do zumbido e propor tratamento específico. O serviço é
pioneiro no Brasil e foi idealizado pela otorrinolaringologista Tanit Ganz
Sanchez.
Antes disso, “poucos profissionais se sentiam à vontade para falar sobre
zumbido, pois na época eram bastante comuns as idéias do tipo ‘zumbido não tem
cura’, ‘não há nada que possa ser feito para ajudar’ e ‘não adianta investir no
tratamento de zumbido’”, relembra.
Por esse motivo, a médica iniciou seus estudos, inclusive no exterior, para
desvendar as causas da doença. Descobriu que há várias opções de tratamento, de
acordo com a origem do zumbido. Tanit coordena uma equipe de pós-graduandos,
médicos, dentistas, fonoaudiólogos e psicólogos que se dedicam à pesquisa dos
casos graves de problemas auditivos atendidos no serviço.
Gapz faz palestras grátis sobre zumbido
Em 1999 foi criado o Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido (Gapz), formado por
equipe multidisciplinar voluntária liderada pela otorrinolaringologista Tanit
Ganz Sanchez. O Gapz dissemina conhecimentos sobre zumbido a outros
profissionais do País e oferece palestras gratuitas ao público em geral.
A Fundação Otorrinolaringologia atua na cidade de São Paulo, num espaço do HC.
Desde 2004, existem unidades do Gapz em Campinas, São José do Rio Preto,
Curitiba, Brasília e Rio de Janeiro. No segundo semestre chegará ao Maranhão.
As reuniões gratuitas de esclarecimento sobre o zumbido, orientações e noções de
tratamento são promovidas toda semana, duram 120 minutos e ocorrem de março a
dezembro. Na cidade de São Paulo, o público interessado deve reservar sua vaga
pelo telefone (11) 3068-9855. Capacidade: 80 vagas semanais.
Fonte: Agência Imprensa Oficial
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