Penúltima edição do Festival Arte como Respiro – Cênicas traz circo tradicional e trabalhos voltados ao corpo, questões raciais e música

Novembro 26, 2020

De 2 a 6 de dezembro, quarta-feira a domingo, o Itaú Cultural realiza a penúltima semana da série de apresentações do Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas, disponibilizando em seu site uma programação que reúne 33 projetos contemplados no Arte como respiro: múltiplos editais de emergência. Com um olhar voltado às diferentes linguagens das artes cênicas, o edital selecionou para este recorte projetos de circo de lona, que ganham um bloco especial, reunindo 12 apresentações e uma mesa reflexiva a respeito dessa arte secular, que passa por sérias dificuldades durante o isolamento social.

No restante da programação, o público confere, ainda, sempre às 20h, 21 projetos de oito estados (Alagoas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo), que ficam disponíveis por 24 horas para serem assistidos virtualmente.

A programação desta semana no festival começa no dia 2 de dezembro, quarta-feira, às 20h, com o primeiro episódio de QUAREN.TINA: o isolamento perfeito de Tina. Esta série de vídeos de humor das atrizes Isabela Mariotto e Júlia Burnier, de São Paulo, tem a dublagem como linguagem. Retratando o cotidiano da personagem Tina durante esse período de suspensão social, este episódio, O Sol da Manhã, anuncia que ela começará os seus dias de isolamento tomando sol.

A dança e as artes do corpo conduzem o restante da programação neste dia. De Minas Gerais, vem Número de Contorção com Gabriel Wallace, artista circense, contorcionista e paradista, que neste trabalho busca trazer equilíbrio e respiração, mas também a inquietude artística para o atual momento que o mundo vive. Também circense, Louisse Aldrigues apresenta Sensitiva, número de parada de mão que envolve fluidez e desperta a sensibilidade visual, por meio da sincronia da coreografia e da técnica com a música.

O breaking, por sua vez, é o mote de Células Dançantes e Outras Coisas, apresentação do grupo Camarão Crew, do Rio Grande do Norte, que aproveita os movimentos e gestos desta dança para atualizá-los em corpos com repertórios diferenciados. A noite fecha com o espetáculo Sr. Will, da Giro8 Cia de Dança, de Goiás. O grupo leva à cena bailarinos e uma máquina manipulada e manipuladora para discutir como as relações humanas se constroem e se modificam.

Racial

Ícones e vozes da representatividade afro-brasileira compõem a programação do dia 3 de dezembro, quinta-feira. A abertura fica por conta de Voz da Periferia, projeto do Rio de Janeiro da dançarina de danças urbanas Jaqueline Monteiro. Com uma vasta atuação ao lado de artistas como Iza e Anitta, ela expressa, em pouco mais de um minuto, na dança, a sua revolta política e as suas sensações diante da notícia do início do isolamento.

Danço Para não Morrer de Tédio é o nome do episódio do projeto Plano de Abandono, apresentado pelos intérpretes Mainá Santana e René Loui, do Rio Grande do Norte. Nele, dois corpos negros costuram, com humor, fragmentos de dança que se reorganizam por meio do encontro à distância.

Em diálogo com a literatura e a dança, a noite traz, ainda, dois espetáculos que reverenciam a trajetória de mulheres negras que são referência em suas artes. Salve ela! Carolina Maria de Jesus em cena – Expandindo a cena, da carioca Companhia Alternativa de Teatro, leva para o digital duas cenas feitas a partir do espetáculo homônimo apresentado nos palcos. Escritora negra e favelada, que escreveu um livro e que trouxe à tona a realidade difícil da favela, tem sua voz ecoando e reverberando até os dias atuais.

Mercedes, da também carioca Cia Emú de Teatro, celebra a vida e a obra da bailarina e coreógrafa Mercedes Baptista, um dos maiores ícones da cultura brasileira. Por meio das artes integradas, a peça aborda a vida da primeira bailarina negra a compor o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sendo a principal precursora da dança afro-brasileira pelo mundo.

Reflexivos

Para a sexta-feira, dia 4 de dezembro, o Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas reserva uma programação com temática mais densa e reflexiva.

A partir das 20h, entra no ar Barbárie, episódio da série de vídeo Vozes da Queda, do baiano Teatro da Queda, gravado especialmente para o edital Arte como Respiro. Décima parceria dos artistas Daniel Arcades e Thiago Romero que estrearia em novembro de 2020, este espetáculo-sarau-performático-musical faz homenagem ao tempo e à ancestralidade diaspórica, unindo palavra e imagem na figura de Barbárie, drag queen de Thiago Romero. Os demais episódios da série serão exibidos nas redes sociais da companhia.

Do Rio de Janeiro, O Abutre, de Vini Soares, coloca em cena três pessoas que, diante de um prenúncio de caos, refletem sobre os ocorridos dos últimos tempos. Assim, o elenco composto por Dennis Pinheiro, Jessica Freitas e Karen Julia trata de sua relação com o trabalho e suas existências dentro de uma sociedade acometida por uma pandemia.

O último espetáculo da noite é Palavra de Stela. Registro do monólogo dirigido por Elias Andreato e interpretado pela atriz Cleide Queiroz, leva à cena a figura de Stela do Patrocínio, diagnosticada como psicopata e esquizofrênica, com um histórico de mais de 30 anos em instituições psiquiátricas, mas que desenvolveu um discurso considerado de alto teor poético.

Picadeiro

A programação do Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas do sábado, dia 5 de dezembro, começa às 17h, com um bloco especial dedicado ao circo de lona.

A abertura fica por conta do debate online Sob a lona em movimento: formação, vínculos e histórias a partir da vivência com o circo, realizado pelo Itaú Cultural, ouvindo três mulheres que atuam em diferentes espaços, contando suas vivências, refletindo e tecendo, juntas, futuros possíveis para essa linguagem artística. A conversa, mediada pela gerente do Núcleo de Arte Cênicas da instituição, Galiana Brasil, reúne a historiadora e pesquisadora paulista do circo Erminia Silva, a acordeonista, circense, cantautora e socióloga baiana Livia Mattos e Fátima Pontes, atriz, produtora e coordenadora da área executiva e artística da ONG Escola Pernambucana de Circo.

Nesse mesmo horário, o site da instituição coloca no ar 12 apresentações curtas de artistas nascidos em famílias circenses que, em meio à pandemia, vêm tentando sobreviver e manter viva a arte do circo de lona. Nino Baeta, do Circo Spadoni, apresenta Globo da Morte, assim como Emanuel Rios e Tiago Rios, do Império Cirkus. Chang Baeta, considerado um dos melhores equilibristas do Brasil, apresenta número de equilibrismo, e Rafaela Jardim mostra Equilíbrio na Natureza, destacando a necessidade premente na atualidade de manter o equilíbrio.

Os bambolês conduzem as apresentações de Lorena Beatriz Luiz Pena e da pequena Isis Robatini – esta, do Circo DI ITÁLIA – e os malabares dão o tom dos números do Circo Peppa e de Tiago Rio. A arte da palhaçaria foi a linguagem escolhida pelo Circo Di Mônaco em Reprise, e o Número de Tecido foi a opção do Pymentynha Circus Show. Por sua vez, o Circo Pindorama mostra performance feita ao ar livre, no local onde estaria o circo armado, enquanto Elisabete Mondini, acróbata aérea há 26 anos, mostra as dificuldades para manter sua arte em meio aos improvisos do cotidiano dentro de casa em Artista em Casa na Quarentena.

Os espetáculos que entram no ar nesse dia a partir das 20h, por sua vez, são conduzidos pela música. Deu Samba, dos paulistas da Caravana Tapioca, mostra o que acontece quando um casal de artistas está em casa, com saudades de tocar e se apresentar. Os cariocas da Cia. Nós da Dança apresentam um fragmento do espetáculo Bossa Nossa, recriado virtualmente, unidos pela necessidade de continuar dançando, mesmo que isolados e separados.

Em Unus - Nada Além que o Ser, a dupla circense Luana Albeniz e Jovanni Almeida faz uma apresentação de força, união, confiança e equilíbrio ao som do músico russo Ilja Boldakow. A Ópera Estúdio Unicamp leva à tela Gianni Schicchi, ópera cômica do compositor italiano Giacomo Puccini que mostra as diferentes nuances das relações entre os membros de uma família tradicional italiana após a morte do tio rico.

Mescla

A penúltima semana do Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas encerra no dia 6 de dezembro, domingo, reunindo dança, arte circense e espetáculo poético-fantástico.

Em uma semana marcada pelo circo, a programação abre com Paranajanela, do grupo Sururu Técnicas Circenses, de Alagoas. Nele, duas pessoas confinadas, entre altos e baixos, equilíbrios e desequilíbrios, veem o peso das emoções na convivência ser intensificado pelo isolamento social. Já no projeto Escada para o Céu da Boca, de São Paulo, as artistas Marina Viski e Veronica Piccini colocam seus corpos expostos aos estímulos contínuos de aparelhos aéreos, como o trapézio, e das transformações diárias de um contexto social e político atípico.

Casamata, série de vídeodanças produzida pelos artistas Deisi Margarida e Rodrigo Gondim, transforma a casa em espaço restrito para a experiência humana e vira uma espécie de coreógrafo do corpo em seu medo da morte e do ímpeto de fuga do claustro. A noite fecha com Manaós – Uma Saga de Luz e Sombra, espetáculo dos paranaenses da Ave Lola, que leva à cena um universo fantástico. Na Manaus de 1911, três mulheres de povos distintos encontram-se e são desafiadas a enfrentar os medos e as ameaças de uma dura realidade. A obra teve como disparadores o conto Pequena-abelha, a irmã de Árvore-alta, da escritora acreana Jamilssa Melo, e a obra do renomado cineasta Hayao Miyazaki.

Serviço

Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas
De 2 a 6 de dezembro (quarta-feira a domingo)
No site do Itaú Cultural: www.itaucultural.org.br

Itaú Cultural

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