Espetáculos, performances, estreias e temáticas diversas compõem o segundo bloco de outubro do Festival Arte como Respiro – Cênicas

Outubro 16, 2020

De 21 a 25 de outubro, quarta-feira a domingo, o Itaú Cultural leva para o seu site mais um bloco do Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas, reunindo, desta vez, 17 apresentações de sete diferentes estados. Todos foram selecionados em Arte como respiro: múltiplos editais de emergência, realizado pela instituição para apoiar os artistas no período de suspensão social.


Crédito: Lenise Pinheiro

O novo recorte é marcado pela predominância de performances e espetáculos completos de teatro, com temáticas que abordam assuntos diversos como representatividade, lembranças, questões sociais e as consequências e diferentes olhares sobre o isolamento. Após entrarem no ar, sempre às 20h, as apresentações ficam disponíveis no site da instituição por 24 horas, para que possam ser assistidas virtualmente.

Reunindo, na maioria, números realizados durante a quarentena, além de registros de apresentações anteriores ao período, este segundo bloco de outubro da edição cênica do Festival começa no dia 21 de outubro, quarta-feira, com uma programação intensa e quase toda paulista. Estudos para um Vídeo Circo, da Companhia Mano a Mana, abre a noite com o trabalho desta dupla circense, que, desde o início da suspensão social, aproveitou o seu flerte com a linguagem do audiovisual para registrar a criação de exercícios usando os limites da casa.

Na sequência, o Projeto Hito apresenta em Às Vez|o|s, que parte do vocábulo vezo – segundo o dicionário, pode significar costume censurável, modo repetido de agir ou reincidência – para retratar a rotina de um casal que já se habituou a viver em conjunto, mas esqueceu o quanto a presença do outro é importante para um bom convívio. Também como fruto do isolamento, Giovanni Venturini apresenta Poesia de Quarentena, número que surgiu despretensiosamente nas redes sociais do ator, que passou a registrar em vídeo a nova rotina na quarentena, usando a poesia como válvula de escape para a solidão e como um escudo de esperança.

As lembranças e afetividades conduzem o número de dança Áudio da Minha Vó, de Amanda Souza. A bailarina, ao receber da avó, logo no começo da pandemia, um áudio dizendo "meu coração está em paz", passou a buscar na dança a paz sugerida por ela – mesmo com o caos mundial vivido. A Casa Esquecida, de Maria Amélia Farah e Soraia Costa, traz esse local de afeto e memórias no registro da ida de uma mãe e uma filha para uma casa no interior de São Paulo, fechada há anos. Mas o que era uma ação apenas para escapar do epicentro da pandemia na capital acaba por colocá-las frente à frente com vestígios da infância da filha e também as fez mergulhar neste museu autobiográfico onde os tempos se misturam.

O espetáculo completo desta noite fica por conta de Jogo de Damas, da companhia carioca Amok Teatro, única produção deste dia que é de fora de São Paulo. Criado a partir da obra Fim de Partida, de Samuel Beckett, e da música do estoniano Arvo Pärt, a peça coloca em cena duas mulheres idosas, reclusas, que sofrem com a escassez de alimentos, remédios, sonhos e ideais em um mundo apocalíptico. Assim, elas fazem um ensaio sobre a solidão face à finitude do corpo, do mundo e da vida.

Feminino

Com uma programação enxuta, porém densa, o dia 22 de outubro, quinta-feira, traz duas apresentações. A abertura fica por conta de Dentro, do coletivo gaúcho Das Flor, composto por artistas de dança, teatro, circo, música, artes visuais e cinema, que investigam a fusão dessas linguagens. Trata-se de um vídeo-performance que expressa as emoções que atravessam o espaço em que se habita. Esta casa – agora, corpo ou corpo-casa –, está resguardada dentro da casa-habitação, convivendo intensamente com tudo que se acumula dentro e fora, convivendo com as emoções pessoais e com as emoções dos que compartilham deste espaço.

Uma Lei Chamada Mulher é o espetáculo do coletivo paulista Takamakina, que complementa a grade do dia. Peça teatral com direção de Lenise Pinheiro e texto de Consuelo de Castro, ela retrata a história real de Maria da Penha, marcada pelos diferentes momentos de um relacionamento abusivo e pela violência que quase lhe custou a vida. A montagem aborda o abuso contra a mulher e as atrocidades que se infiltram pelas frestas e se instauram no ambiente doméstico. Misturando doses de ficção e realidade, mostra como sedução, encantamento e magia se transformam em assombros em diálogos extraídos do cotidiano de muitas Marias.

Estreia

A literatura é a base para as apresentações do dia 23 de outubro, sexta-feira, que também traz uma estreia. A noite é aberta por Receitas Antitédio: Quarentena, da Companhia Barco, de São Paulo, com um miniprograma satírico de três episódios, baseado na obra Pequenas Sugestões e Receitas de Espanto Antitédio para Senhores e Donas de Casa, da escritora Hilda Hilst. Em cena, os apresentadores, entre receitas cômicas e absurdas, compartilham anedotas biográficas da autora, em uma homenagem à poeta que teria feito 90 anos em abril de 2020.

Logo em seguida, o cartaz é para a estreia de Onde Está todo Mundo? Nova parceria do pernambucano Coletivo Angu de Teatro com o escritor Marcelino Freire, o espetáculo foi integralmente pensado para acontecer dentro do momento atual da quarentena, usando o espaço digital como palco e realizando os processos dentro das medidas de isolamento. Assim, o grupo brinca com o universo das transmissões, através de um experimento que simula uma live, e onde personagens do universo de Marcelino Freire aparecem em textos escritos durante a pandemia.

Multilinguagens

Circo, performance e teatro compõem as atividades do festival no sábado, dia 24 de outubro, que começa com IsolARTe, de Ana Clara Atui, do Espaço ART NO AR, de São Paulo. Empresária e mãe em isolamento, sentindo necessidade de se expressar e de buscar novas maneiras de tocar seu público, a artista apresenta um número de tecido acrobático, mostrando que é necessário voltar-se para dentro de si e se reinventar, como o circo vem se reinventando na pandemia.

A paulista Josefa Rouse inspira-se em textos de escritoras negras, para performar suas palavras em Mulheres Negras – Performances Poéticas. Aqui, cinco poemas de Cristiane Sobral escorrem e permeiam o corpo e o espaço, de forma a aliar a força da escrita à cena performada.

A atriz cearense Jéssica Teixeira fecha a noite com E.L.A., solo criado a partir da investigação cênica de seu corpo, tido como estranho, e das maneiras como ele se desdobra, desestabilizando e potencializando outros corpos e olhares. Com temática diretamente relacionada ao corpo físico, trazendo questões como beleza, saúde, política, feminilidade e acessibilidade, a peça mescla vídeo, artes plásticas e dramaturgia por meio de colagens e textos autobiográficos da atriz, refletindo acerca da aceitação e do lugar de cada um no mundo.

Existencial

Questionamentos sobre a vida atual ou sobre o tempo norteiam o último dia desta programação do Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas, costurada por performances e um espetáculo da Intrépida Trupe, que festeja seus 34 anos de criação.

Em Autocuidado, ação para vídeo registrada com um celular durante o isolamento social, o performer paranaense Maikon K propõe uma meditação ativa e de resistência, usando uma câmera e um preservativo. Após vestir o objeto como uma máscara, o artista não usa mais mãos, mas só os pulmões, respirando dentro do preservativo, que cobre o rosto.

Por sua vez, o ator pernambucano Marco Salomão está na performance Isolamento Horizontal ou Arte em Home Office. Em cena, ele reflete sobre o tempo, a rotina modificada, o medo, a frustração, o distanciamento, o espetáculo interrompido, a estreia adiada, a conta a pagar, a saudade dos amigos e a preocupação com o futuro. Mas só o essencial funciona. A terceira performance da noite é a mineira Tentando Entender os Verbetes, de Idylla Silmarovi, na qual palavras se convertem em ação, traduzindo afetos. Trata-se de uma poesia visual do instante, onde uma tela em branco está em constante montagem e desmontagem.

Quem encerra a programação é À Deriva, espetáculo da Intrépida Trupe. Grupo carioca pioneiro e referência do novo circo no Brasil, eles mostram o registro do espetáculo que comemora seu trigésimo quarto aniversário de fundação. Criada antes da pandemia, a obra, com direção de Mário Nascimento, usa técnicas de circo e dança para fazer uma reflexão sobre o sentimento de estar à deriva diante dos riscos, das incertezas e de questões existenciais no mundo atual.

Outros selecionados

Além deste novo bloco da edição Cênicas, a programação do Festival Arte como Respiro traz, também neste mês, outros recortes dos selecionados na série de editais. O que é direcionado para trabalhos musicais traz shows de 28 de outubro a 1 de novembro; o de poesia surda, tem mostra em formato audiovisual do primeiro bloco, que fica disponível para ser conferida no site do Itaú Cultural até o dia 7 de novembro.

A novidade neste mês fica por conta da publicação, também no site, dos selecionados no segmento literatura. Nos dias 13, 20 e 27 de outubro,terças-feiras, entram no ar os trabalhos contemplados na categoria Poesia Escrita (prosas e poesias), compilados em cadernos com textos sobre o mundo no pós-pandemia. Os da categoria Poesia Falada estreiam na programação no dia 29 de outubro, com 25 versos apresentados em vídeo. Todas as obras podem ser acessadas pelo público até 15 dias depois da publicação em www.itaucultural.org.br.

Serviço

Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas
De 21 a 25 de outubro (quarta-feira a domingo)
No site do Itaú Cultural: www.itaucultural.org.br

Itaú Cultural

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