Dezembro 02, 2025
Nos anos de 1980, o cineasta alemão Werner Herzog dirigiu Fitzcarraldo, filme em que levou uma ópera à Amazônia e se tornou um clássico do cinema mundial. No elenco, estavam o ator alemão Klaus Kinski, os atores brasileiros José Lewgoy e Grande Othelo e o cantor e compositor Milton Nascimento, que fez uma ponta. Algumas décadas depois, em nova visita ao Brasil, o diretor contou como Othelo o encantou: "Havia tanta vida naquele pequeno homem! Simplesmente maravilhoso!"
É esta personalidade marcante nacional e internacionalmente, irrequieta, icônica e fundamental para a cultura brasileira que encerra as exposições da série Ocupação Itaú Cultural de 2025. A partir das 11h do sábado 6 de dezembro, Ocupação Grande Othelo reúne no piso 1 do Itaú Cultural (IC) mais de 160 peças desse icônico artista. A mostra permanece em cartaz até 8 de março de 2026.
O espaço expositivo apresenta rascunhos de poemas ou outros concluídos – como Cadê você, Gonzagão? que ele escreveu em homenagem a Luiz Gonzaga –, partituras originais dos anos 1940, roteiros, objetos, cartas, fotografias, indumentárias, suas agendas para recados e outros cadernos pessoais, documentos históricos como um contrato com a Rede Globo, de 1967, ou um diploma de cidadão paulistano, de 1978, e troféus como o Velho Guerreiro, que Chacrinha lhe ofereceu em seu programa dominical.

Há ainda livros, objetos táteis, depoimentos em vídeos – como o de um de seus filhos, o ator José Antonio Souza Prata, conhecido como Pratinha –, capturados pela equipe IC, que também confeccionou uma publicação nos formatos impresso e digital e um site com outros conteúdos inéditos (itaucultural.org.br/ocupacao).
A maioria dos objetos em exposição faz parte do acervo de Othelo guardado no Centro de Documentação e Pesquisa da Fundação Nacional de Artes (Cedoc/Funarte) – parceiro do Itaú Cultural nesta mostra –, que se insere no Programa Funarte Memória das Artes, o qual, desde 2008, visa reconhecer, valorizar e preservar a memória das artes no Brasil.
Outros itens presentes na mostra têm origem nos arquivos da TV Cultura e da TV Globo. A concepção, realização, curadoria e projeto de acessibilidade são do Itaú Cultural, com consultoria da pesquisadora Deise de Brito, projeto expográfico de Kleber Montanheiro e desenho técnico de Lígia Zilbersztejn.
"Esta Ocupação reconhece a relevância da memória na consolidação do direito às artes neste país", diz Maria Marighella, presidenta da Funarte. "É por meio da difusão de acervos que instituições e agentes podem promover o acesso à cultura e se comprometer, de maneira compartilhada, com a reconstituição da história de todos nós", conclui.
"As exposições que compõem a série Ocupação Itaú Cultural têm justamente esse papel de difundir – e assim preservar – a memória dos nossos artistas cuja influência atravessa gerações", conta Galiana Brasil, gerente do Núcleo de Curadorias e Programação Artística do Itaú Cultural, que assina esta mostra. "A trajetória de Grande Othelo é marcada pelo racismo, que mantém sua estrutura perversa inclusive nos espaços em que a equidade deveria prevalecer", observa ela, concluindo: "Apesar disso sua genialidade predominou e ele se tornou uma das figuras mais emblemáticas no imaginário cultural brasileiro, com reconhecimento dentro e fora do país. Estamos muito felizes em oferecer esta Ocupação ao público."
A mostra
De nome de batismo Sebastião Bernardes de Souza Prata, nascido em Uberlândia (MG) em 1915 (ou 1917, de acordo com alguns registros), ele adotou primeiro o nome Pequeno Otelo e depois Grande Othelo – ele mesmo acrescentou o "h" no nome e assim está registrado em sua lápide. Morreu aos 78 anos no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, França, em 1993, vítima de um ataque cardíaco fulminante quando se preparava para seguir para o Festival de Nantes, onde receberia uma homenagem.
Othelo deixou um vasto legado artístico, iniciado em um circo, em 1923, quando ainda era pequeno: 103 atuações nos palcos, mais de 100 filmes e 42 gravações em discos. Vale lembrar que ele atuou no teatro de revista – gênero popular que combinava música, humor, crítica social e números de variedades – entre as décadas de 1930 e 1950. Quando criança, ingressou na Companhia de Comédia e Variedades Sarah Bernhardt e, depois, para a Companhia Negra de Revistas pautada pela crítica social e o humor. Assim, abriu o caminho nesse tipo de arte cênica para artistas e talentos negros no cenário artístico nacional. Ele também participou da fase áurea do Cinema Novo e do Cinema Marginal. Orson Welles, para quem Othelo atuou em It's All True, que nunca chegou a ser finalizado, o considerou o maior ator da América Latina.
Ator, comediante, cantor, produtor e compositor brasileiro, considerado um dos maiores ícones da cultura popular brasileira do século XX, ele nunca deixou de lado a questão racial em suas declarações e entrevistas. Em 1987, foi entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura, e denunciou abertamente a existência do preconceito racial. Para Othelo, a chamada democracia racial era uma falácia e afirmava que, apesar de seu sucesso individual, a discriminação ainda persistia para a maioria da população negra. Ele também se relacionou com diversas personalidades artísticas, entre eles, a amizade com Abdias Nascimento, do Teatro Experimental do Negro e que também foi homenageado por uma Ocupação Itaú Cultural, em 2016.
A sua trajetória ainda envolve atuações com o humorista Oscarito, especialmente nas chanchadas da companhia cinematográfica Atlântida, a cantora e dançarina Josephine Backer, as atrizes Bibi Ferreira e Ruth de Souza, a atriz, intérprete, bailarina e cantora Watusi, o cantor Nath King Cole, entre muitos outros. Atingiu o ápice em Macunaíma, filme lançado em 1969 e dirigido por Joaquim Pedro de Andrade. Por fim, deixou um inestimável patrimônio cultural para todos os brasileiros.
Todos esses aspectos de sua vida e obra estão presentes na Ocupação Grande Othelo, que se propõe em revelar percursos pouco conhecidos do público sobre Othelo, como, por exemplo, suas contribuições à classe artística brasileira, tendo sido vice-presidente da Associação Brasileira de Atores Cinematográficos. Na exposição, um documento de 26 de setembro de 1961 revela o convite para assumir o cargo.
O ambiente central desse espaço expositivo parece uma praça carioca dos anos dourados, que abriga até uma banca de revistas. Há também acesso a uma sala estilizada de cinema da época, onde são exibidos recortes de filmes em que ele atuou: Também somos irmãos (1949), de José Carlos Burle, Amei um bicheiro (1952), produzido pela Atlântida com argumento do ator Jorge Dória, Assim era Atlântida, documentário de Carlos Manga de 1974, e Carnaval no Fogo – este filme dirigido em 1949 por Watson Macedo, no qual Othelo contracena com Oscarito, pegou fogo literalmente, restando apenas esse trecho a ser exibido.
Na Itaú Cultural Play
Em sintonia com a Ocupação Grande Othelo, a plataforma gratuita de cinema brasileiro do Itaú Cultural (itauculturalplay.com.br), exibe a partir de 5 de dezembro, uma mostra em homenagem ao ator. Os filmes são as comédias Carnaval Atlântida (1952), de José Carlos Burle, no qual ele contracena com Oscarito, Cyll Farney, Eliana e José Lewgoy e Matar ou correr (1954), de Carlos Manga, com Oscarito, José Lewgoy, Renato Restier, Inalda de Carvalho. Ainda, os dramas Jubiabá (1987), de Nelson Pereira dos Santos, ao lado de Charles Baiano, Françoise Goussard, Catherine Rouvel e Betty Faria, e Rio, Zona Norte (1957), do mesmo diretor e no qual atuou com Jece Valadão, Paulo Goulart, Maria Petar, Malú Maia, Haroldo de Oliveira, a cantora Ângela Maria e Zé Ketti.
Também fazem parte da programação o policial Lúcio Flávio, o passageiro da agonia (1977), de Hector Babenco, e Ana Maria Magalhães, Ivan Cândido, Milton Gonçalves, Paulo César Pereio, Reginaldo Faria no elenco ao seu lado; o clássico Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, em que atua com Paulo José, Dina Sfat, Jardel Filho e Milton Gonçalves. Por fim, Também somos irmãos, realizado por José Carlos Burle em 1949, com Aguinaldo Camargo, Vera Nunes, Jorge Dória e Ruth de Souza.
SERVIÇO
Ocupação Grande Othelo
De 6 de dezembro de 2025, a partir das 11h, a 8 de março de 2026
(terças-feiras a sábados, das 11h às 20h domingos e feriados das 11h às 19h)
Itaú Cultural – Piso 1
FICHA TÉCNICA
Concepção e realização: Itaú Cultural
Curadoria: Itaú Cultural
Consultoria: Deise de Brito
Projeto expográfico: Kleber Montanheiro
Desenho técnico: Lígia Zilbersztejn
Projeto de acessibilidade: Itaú Cultural
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô
De terça-feira a sábado, das 11h às 20h.
Domingos e feriados 11h às 19h
Informações: pelo telefone (11) 2168.1777 e wapp (11) 9 6383 1663
E-mail: atendimento@itaucultural.org.br
Acesso para pessoas com deficiência física
Estacionamento: entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
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Fonte: Assessoria de Imprensa - Conteúdo Comunicação
Itaú Cultural recebe lançamento de livro da jornalista Rosane Borges sobre o papel da mulher negra na contemporaneidade.
Com participação da filósofa Sueli Carneiro e da cantora Izzy Gordon, este lançamento se transforma em encontro para debater a temática da publicação e apresentar propostas de ação nesse contexto, a partir da leitura histórica de como o racismo apagou experiências e a criatividade de uma parcela da população.
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Comunidade Cultural Quilombaque recebe estreia do novo número circense do artista Guilherme Torres.
Com um número circense que combina garrafas de vidro, monociclo, bicicleta acrobática e cenas que desafiam a gravidade, Guilherme Torres revela a maturidade de sua trajetória artística no equilibrismo, destacando-se como um dos nomes promissores dessa arte no Brasil.
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Festival Charles Edward - Edição Rockphonic acontece dia 07 de dezembro.
Com seis atrações, evento terá entrada gratuita.
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Cia. Salto Alto apresenta espetáculo PernalTAP no Parque Central, EMIA Aron Feldman e Ipiranguinha.
O espetáculo circense reúne teatro físico, sapateado e pernas de pau em uma experiência divertida para toda a família.
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MAC USP abre exposição sobre usos criativos e dissidentes das tecnologias digitais.
A exposição ANTAGONISTAS: resistências algorítmicas reúne obras de 26 artistas ou coletivos
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Teatro Sérgio Cardoso recebe nova edição do Natal Solidário com música e arte circense.
Evento gratuito arrecada leite em pó para o Hospital Cruz Verde e conta com participações de Lucinha Lins, Claudio Lins, Roberta Campos e Orquestra Villa-Lobos.
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