Televisão
por Elmo Francfort Ankerkrone
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Os Estúdios da Vila Guilherme

O assunto desta semana será justamente a história dos estúdios de televisão da Vila Guilherme. É o ponto que liga a história da TV Excelsior, que falamos nas últimas semanas, com os 20 anos da TVSBT - que foi comemorado no domingo passado, dia 19 de agosto às 10h. Vamos ao que interessa, leitores? Então...boa leitura!

'Complexo' Santa Veloso

Foto. Aguarde .... carregandoComo já falamos na coluna sobre a TV Excelsior, em 1965 Otávio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho (donos do Grupo Folha de São Paulo) adquiriam a emissora do Grupo Saad-Leite, que inicialmente haviam comprado a empresa da família Simonsen. Mas os Simonsen queriam a televisão de volta. Enquanto a parceria Frical (Frias e Caldeira) comandava a Rede Excelsior surgiu o projeto de inventarem para a emissora os maiores estúdios do Brasil. Desta forma inauguraram em 10 de agosto de 1967 os novos estúdios na Rua Santa Veloso, 575,  no bairro de Vila Guilherme. Na época a emissora já estava sem força e devia muita às distribuidoras de filmes, bancos e até a seus funcionários.

Os estúdios foram construídos sobre uma fábrica antiga, adaptando o terreno para o meio televisivo, prolongando-o e fazendo sua nova fachada, com direito a estacionamento para unidades móveis na parte da frente. Meu avô Julio Francfort e meu tio Luiz chegaram a ver a construção destes estúdios, já que bem na sua frente ficava o depósito da construtora Macife (Madeira, Cimento e Ferro), onde trabalhavam na época. Tempos depois meu tio estava trabalhando na emissora.

Esses estúdios foram considerados por 23 anos como sendo o maior complexo televisivo do país. Sua marca só foi ultrapassada pela Rede Manchete (curioso é que um canal 9 superou o outro!) em 1990, quando esta construiu o Complexo de Água Grande, sendo depois superado pelo PROJAC (Globo) e o CDT (SBT).

Como estávamos falando, Wallace Cochrane Simonsen Netto (Wallinho) finalmente conseguiu recomprar a emissora. Só que o Grupo Frical não aceitou vender o prédio e junto com as dívidas, Wallinho é obrigado a pagar aluguel a eles pelos estúdios da Vila Guilherme. Wallinho acreditava que agora, com a idéia de ter um grupo para gerir os negócios da emissora, poderia recuperá-lá. Idéia que não deu certo... Em pouco tempo a emissora entrou em crise por completo...

Agora vamos falar de alguns momentos que causaram pânico no meio de toda essa crise... Falaremos dos incêndios da emissora. Os estúdios do Teatro Cultura Artística foram os primeiros a pegar fogo em 1966, mas esta vez não foi tão grave. Nos estúdios da Vila Guilherme depois, em agosto de 1969, um curto-circuito provocou um incêndio durante o programa "Sessão de Mulher", com Léa de Hollanda. Mas este primeiro incêndio na Dona Santa Veloso não causou tantos estragos.

O segundo incêndio foi em 17 de julho de 1970, praticamente dois meses antes da Excelsior sair do ar. Tudo começou no estúdio 4, ao lado do que Peirão de Castro apresentava seu programa "Homem e Mulher". Ouviu barulhos, sentiu o cheiro e teve uma idéia: chamou os comerciais falando: "Tem gato no telhado...". O incêndio devastou quase toda a emissora, sobrando intactos somente dois dos seis estúdios. Cenários das novelas, equipamentos, móveis e fitas se perderam com o fogo. Neste mesmo dia, horas depois, começou outro incêndio: agora no Teatro Cultura Artística. Não precisa nem dizer que isto colaborou e muito para a falência total do canal 9.

Meu tio Luiz Francfort estava trabalhando na emissora neste dia, como diretor de TV, quando tudo isto aconteceu. E ele relata sobre os incêndios: "Em 1970, o ano em que a líder TV Excelsior foi cassada pelo Ministério das Comunicações, a emissora sofreu dois incêndios quase seguidos. O primeiro, nos enormes estúdios da Vila Guilherme (em S. Paulo), que irrompeu durante um programa apresentado por Peirão de Castro (lembram desse ótimo narrador esportivo ?). Logo depois, o fogo tomou conta do auditório da Rua Nestor Pestana no centro da capital paulista.

Esse eu assisti de perto e ajudei a retirar o que foi possível, de equipamentos. Me lembro que o simpático gordinho "Neto" foi um verdadeiro herói, salvando câmeras, correndo sérios riscos, nos dois incêndios (por onde anda o Neto?)".

Em 30 de setembro de 1970, com ou sem incêndios, a TV Excelsior sairia do ar, sendo extinta para sempre. Seus estúdios foram lacrados... Os da Vila Guilherme apenas, já que as instalações do Teatro Cultura Artística era alugadas. Apesar dos estúdios da Vila Guilherme pertencerem ao Grupo Folha, eles optaram por deixarem lacrados até que alguém os aluga-se novamente.

Silvio Santos vem aí...

E aqueles 11.000m² dos estúdios da Dona Santa Veloso ficaram trancados até 1972, quando - por intermédio da Caixa Econômica Federal - o Grupo Folha os alugou para a produtora "TV Studios Silvio Santos". E ali o apresentador começou a produzir seus programas fora das sedes de televisão (já que antes ele utilizava o auditório da TV Globo Paulista no bairro de Santa Cecília). E a partir da Vila Guilherme ele produziu shows e musicais para a TV Globo e TV Tupi. Foi ali que nasceu o sonho de ter seu próprio canal de televisão em São Paulo. A compra da Record foi o primeiro passo. E a Vila Guilherme foi berço das produções da TVS, o futuro SBT.

Para quem não sabe o SBT não fez 20 anos na verdade. Quem comemorou este aniversário foi a TVS de São Paulo, responsável pela formação do Sistema Brasileiro de Televisão como hoje conhecemos. O SBT na verdade surgiu na década de 70 quando Silvio Santos transmitia numa espécie de rede o seu "Programa Silvio Santos" simultaneamente na Record (canal 7, SP), na TVS (canal 11, RJ) e TVS (canal 5, RS). Aparecia na tela o logo do SBT (idêntico ao primeiro do canal) dizendo que as emissoras de Silvio Santos estavam unidas simultaneamente. A Rede Tupi exibia o programa na época também, com o loguinho do SBT no canto (já que era o mesmo sinal indo por satélite para todas as emissoras), mas ela não fazia parte do "sistema". Esta transmissão na Tupi também se deve a um coleguismo de Silvio Santos com a emissora, que afundada em dívidas logo perderia o canal 4. Mas Silvio resolveu pelo menos tentar a possibilidade de que com seu programa a audiência e os anunciantes aumentassem na Tupi... Sua força foi grande, mas mesmo assim a Tupi não resistiu e saiu do ar em 16 de julho de 1980.

Mas voltando a falar na Vila Guilherme, Silvio Santos herdou também o mesmo problema da Excelsior: os incêndios. Em 12 de dezembro de 1972 os estúdios da Dona Santa Veloso pegaram fogo novamente. Silvio Santos chegou a perder nove anos de arquivos de seu programa e horas depois, de improviso, produziram seu programa numa casa vizinha.

Mesmo com a Record em suas mãos, o programa e a produtora eram independentes da emissora, sendo que os mesmos sempre foram realizados na Vila Guilherme. Quando a TVS entrou no ar, em 19 de agosto de 1981, ela começou a operar nos estúdios do Sumaré (antes pertencentes à Rede Tupi) e logo passaram para os estúdios da Vila Guilherme. O Programa Silvio Santos deixou a Vila Guilherme anos depois e começou a ser realizado em outra sede comprada a pouco pelo SBT, o Teatro Silvio Santos, na Avenida Ataliba Leonel (Carandiru) - antigo Cine Sol. E o novo SBT surgiu ali e quando foram vendidas à Igreja Universal as emissoras da Record em 1990, a TVS definitivamente já tinha adotado o nome de SBT. E o nome oficial em registro do canal 4 mudou de TVStudios Ltda. para TVSBT.

E o SBT resolveu retornar em 1993 para o Sumaré após tantos danos causados pelas enchentes na Vila Guilherme, inundando os estúdios de ponta-a-ponta. As maioria das novelas do SBT antes deste ano foram realizadas na Vila Guilherme, sendo as últimas "Cortina de Vidro" e "Brasileiras e Brasileiros", além do seriado "Grande Pai". "Jô Soares Onze e Meia", "Programa Hebe" e "Programa Livre" nasceram na Vila Guilherme.

Sílvio Santos utilizou os estúdios até 19 de agosto de 1996, data do 15º aniversário do SBT, quando inaugurou o Complexo Anhangüera, juntando em um só lugar toda sua equipe e produções que se dividiam nas sedes da Vila Guilherme, Sumaré, Rua dos Camarés e Teatro Ataliba Leonel. Assim os grandiosos estúdios da Vila Guilherme ficaram pequenos perto dos 210.000m² do Complexo Anhangüera, sede atual do SBT, no Km 19 da Rodovia Anhangüera.

E desde 1996 os estúdios da Santa Veloso ficaram abandonados. Aos poucos seus vidros se quebraram, parte da escada de emergência despencou, o mato começou a crescer em volta e lá foi largada a antiga antena parabólica do canal... Eu vi tudo isso de perto e fechado. Chega a dar pena. Mais triste ainda é saber do lastimável fim que tomaram os estúdios da Dona Santa Veloso a partir de 2001: boa parte interna deles está sendo destruída para abrigar um grande galpão retangular feito de placas metálicas. Tem uma cara de que ele vai servir de templo, já que sua parte da frente é aberta. E é quase uma certeza, ainda mais se vermos a placa da construtora, dizendo que o terreno agora pertence a Igreja Bíblica do Brasil. Custa saber se vão destruir tudo e matar de vez uma parte gloriosa de nossa história televisiva. No estado que se encontram suas fachadas, é mais fácil destrui-las do que as reformar, infelizmente mesmo! É duro um dia contar a nossos filhos que no lugar daquela Igreja era no passado um dos mais importantes estúdios televisivos do país... Por isto, tristemente, registro aqui a história dos estúdios da Dona Santa Veloso, 575. Antes que vire mais uma página esquecida na história televisiva do país. E aqui ficam saudades dos estúdios da Vila Guilherme e seus 34 anos de história...

Unidades móveis flutuantes

E os estúdios da Vila Guilherme também tinhas suas curiosidades...Entre elas destaca-se uma: uma unidade móvel do SBT nada convencional, que só a Vila Guilherme possuiu em toda história televisiva mundial! Fica aqui um relato de meu irmão Arthur Ankerkrone sobre o fato:

"Antes de mudar para o CDT da Anhanguera, o SBT ocupava o antigo prédio da TV Excelsior na Vila Guilherme. Só que o bairro, e sobretudo os quarteirões próximos, inundam com qualquer chuvinha mais forte... Bem, o jornalismo não podia parar, e a emissora se adaptou como pôde... O SBT lançou, por volta de 92 ou 93, sua mais versátil unidade móvel: um bote inflável, que realizou muitas coberturas para o Aqui Agora e para o TJ Brasil. Era engraçado ver aquele barquinho de borracha flutuando pelas ruas, com um adesivo "reportagem"; na popa...Coisas da televisão..."

A primeira cidade cenográfica

A Excelsior também possuiu outras sedes "alugadas" além da Vila Guilherme e do Teatro Cultura Artística. Uma delas foram os Estúdios de Cinema Vera Cruz, localizados em São Bernardo do Campo. Lá fizeram muitas novelas.

E em 1966 quando resolveram fazer a novela "Redenção" (com Francisco Cuoco no papel de Doutor Fernando, protagonista da trama) a Rede Excelsior resolveu gastar demais com esta produção, que conforme seu projeto era para ser a maior novela da TV brasileira em duração ( "Redenção" durou de 16 de maio de 1966 a 2 de maio de 1968... é a maior até hoje!). E a Excelsior resolveu comprar o terreno em frente à Vera Cruz para construir a Vila Redenção, onde se passaria a história. A Vila tinha desde Igreja até cadeia e obelisco na praça! Alugaram do Museu do Ipiranga um trem maria-fumaça (locomotiva e vagões) para construir uma estrada de ferro fictícia, que apenas dava voltas na cidade. Assim a Excelsior construiu a primeira cidade cenográfica da história da TV brasileira. Com o fim da novela o governo do Estado de São Paulo permitiu que aumentassem os trilhos de "Redenção", com o auxílio dos funcionários da Estrada de Ferro Sorocabana. Ele virou atração turística de São Bernardo e a prefeitura pagou 100 milhões de cruzeiros pela "Vila Redenção" (pertencente à Excelsior antes, é claro) e pela ampliação dos trilhos. E em volta da cidade construiu um parque infantil, hoje renomeado como "Cidade da Criança". A emissora gravava a novela durante a semana e nos fins de semana a cidade passeava pela cidade cenográfica. Foram 9.000m² utilizados pela Excelsior.

TV Leitor

- A coluna é dedica ao leitor Leandro Tavares Guimarães que tanto me pediu para falar dos estúdios do SBT. E também é dedicada ao canal do Silvio Santos, que como já disse, comemorou no último domingo 20 anos de vida.

- Ao leitor Giancarlo Conti digo que seu pedido sobre relembrar do Toppo Giggio na minha coluna já foi realizado na semana passada, em"Mascotes e Bonecos da TV". Mas futuramente estarei publicando a outra coluna que você me pediu, sobre a Vila Sésamo.

- Marcos Lopes Firmo, não possuo imagens do arquivo da TV Tupi dos "programas Flávio Cavalcanti e Carlos Imperial, bem como algumas novelas e especiais", mas você pode encontrar alguns no arquivo da TV Cultura, no Centro Cultural São Paulo (Vergueiro), na Cinemateca Brasileira e no MIS (Museu da Imagem e Som). Essas são as informações que eu tenho sobre os arquivos da Tupi, mas para adquiri-los aí é bom se informar com cada uma das instituições.

- Até semana que vem! E como no final fala Miguel Falabella: " Cala boca, Magda!!!"...Ops...Me enganei...Digo... "Fiquem com Deus!"
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