Futebol
por Luiz Fernando Bindi
Fevereiro 23, 2001

Atirei o pau no gato

Oi, gente! Tudo bem?

Realmente, eu não queria falar sobre esse assunto. A falsificação de Certidões de Nascimento de jovens futuros jogadores é algo muito triste não só para o futebol, mas para o País, pois reflete a miséria e a desinformação que preenchem as cabeças e as almas do pobre povo brasileiro.

Mas o que leva um pai a aceitar que alguém adultere a idade de seu filho? Certamente, troca-se essa cruel falsificação por um punhado de reais, que no futuro, renderão muitos dólares ao empresário que provocou essa artimanha. 

Há alguns anos, sempre que uma seleção africana (especialmente Gana) disputava campeonatos para menores de 21 anos, surgia a piada que o jogador mais novo tinha 35 anos. O que ninguém sabia (ou fingia não saber) é que isso também acontecia no Brasil, muito mais perto do que nós imaginávamos. 

Surge então, por um motivo que eu desconheço qual seja, a figura retórica do “gato”, ou seja, jogador que tem sua idade diminuída a fim de facilitar transações, principalmente com clubes do exterior. Com uma idade inferior à real, o jogador tem mais possibilidades de ser naturalizado, ou ter sua cidadania estrangeira forjada. 

E os empresários, claro, ganham rios de dinheiro ao negociar o passe do jogador a igualmente inescrupulosos times belgas, turcos, gregos, holandeses, suecos e até mesmo de Honduras, Tunísia, Marrocos e Nova Zelândia. Tudo então, reside na necessidade patológica que esses empresários têm de ganhar dinheiro em cima da inocência dos jogadores. Eu tenho certeza que a maioria dos jogadores nem tem consciência do que essa falsificação pode trazer de conseqüência à vida deles.  

E agora, surge uma modalidade menos cruel, porém de conseqüências que ultrapassam o futebol: a falsificação de passaportes, de forma que facilitem a entrada dos jogadores nos países do exterior. 

Isso aconteceu com inúmeros atletas brasileiros (sem falar no caso de Recoba, estrela uruguaia que jogava na Inter de Milão com passaporte grego falso), como Aloísio, que joga no Saint-Ettiène da França e Délson, que joga no Gençlebirligi da Turquia. E recaem suspeitas sobre Sonny Anderson, Zé Elias, Jardel, Penna, Edu e outros jogadores famosos que há muito atuam no exterior.  

E o que mais me entristece é começar a ver ex-jogadores sendo acusados de comandar esquemas de adulteração de idades e passaportes. Edinho (um fantástico zagueiro que jogou no Fluminense e disputou duas Copas com o Brasil) foi acusado pelo Saint-Ettiène de ser o responsável pela falsificação do passaporte de Aloísio. O ex-centroavante Careca, que tem um maravilhoso e até então insuspeito trabalho com a garotada na região de Campinas, também é acusado desse crime. 

Muitos leitores me dizem que as colunas têm tido um tom amargo. É claro que eu gostaria de falar do futebol como arte e diversão, mas a incompetência diretiva levou nosso futebol a um destrutivo caminho que eu, sinceramente, temo que seja sem volta.  

Pílulas de Idéias

# Perdeu dois pênaltis, defendidos por Flávio, goleiro da Cabofriense que teve seus minutos de fama. Depois, ele teve a coragem de um verdadeiro líder, ao bater um terceiro pênalti, que finalmente converteu. Estaria eu falando de um herói, de um deus da raça? Não, falo de Romário, que mostra que aliada à genialidade inata, pode andar uma força interior típica dos grandes líderes.

# O poético gol de bicicleta de Juninho Paulista no mesmo jogo contra a Cabofriense, além de me dizer um dos porquês que me faz amar o esporte, me fez lembrar de Leônidas da Silva, aquele que pela primeira vez executou um gol com esse estilo. Venerável Leônidas, hoje doente e pobre numa cama de hospital, é mantido por amigos e pelo São Paulo, clube onde brilhou. E tem gente que hoje valoriza o futebol brucutu e despreza o São Caetano... Lembremos Leônidas!

# Na coluna da semana passada, eu disse que Raí, entre outros, havia sido convidado para fazer parte de uma “comissão de notáveis”, primeiro fruto da estranha parceria entre Pelé e Ricardo Teixeira. No seu texto de domingo no Estadão, Raí disse que não aceitou fazer parte de nenhum tipo de comissão. E ele é sério, muito sério. O que pensar dessa negativa?  

# Já começou. Edmundo foi punido em US$ 150 mil por ter ofendido o técnico do Napoli (Giovanni Mondonico) que o substituiu durante o jogo. E foi o próprio time napolitano que pediu a punição ao atleta. Mais um erro na carreira de Edmundo. Como acreditar quando ele diz que mudou?  

# O excelente Juninho Pernambucano está encostado no Vasco porque não comemorou o gol que fez contra o São Caetano, na final da João Havelange, do jeito que Eurico Miranda queria. Mais uma despautério sem cabimento deste péssimo dirigente, que agora, faz as vezes de escravocrata.  

# O mesmo Vasco trouxe de volta ao Brasil, o experiente volante Mazinho, que estava no pequenino Elche, da Espanha. Mazinho foi um dos melhores que vi na posição e com a idade, deve ter se tornado ainda melhor. Ponto positivo para o Vasco.  

# A FERJ (Federação de Futebol do Rio de Janeiro), mudou o regulamento do quadrangular final da Taça Guanabara –o primeiro turno do Campeonato Carioca. O bizarro é o seguinte: o regulamento mudou depois do campeonato iniciado e pior, o quadrangular começa neste domingo. Lamentável. 

# O Palmeiras contratou Fábio Júnior e Muñoz. De Fábio Júnior, tenho a impressão que é um típico atacante de área, que tem a exclusiva função de finalizar, mesmo sem muita técnica. Sobre Muñoz, colombiano que jogou o último Pré-Olímpico (no qual sua seleção perdeu por 9 a 0 do Brasil), a informação é que ele é veloz, mas também com técnica limitada. E sem técnica, não há futebol bonito. 

# O Corinthians voltou ao inferno com a derrota para a Matonense por 3 a 2. Os torcedores entraram em campo e tentaram agredir Fábio Luciano, André Luís e Marcelinho Carioca. Lembram quando eu disse que Marcelinho poderia desestabilizar um bom time?  

# Mas, no que diz respeito às invasões de campo, elas devem ser punidas com muito rigor, assim como as pessoas que o fazem, que nada mais são que baderneiros. Os jogadores e técnicos não podem ter medo de entrar em campo por causa de meia dúzia de marginais. 

# O diretor de futebol do Corinthians, Roque Citadini (na minha opinião, um pára-quedista bem intencionado) disse na Rádio Bandeirantes, que uma das soluções para se evitar a invasão de campo é aumentar o preço dos ingressos, que na opinião dele, é baixo. Uma declaração profundamente infeliz. O futebol é uma das poucas diversões que o povo ainda tem o direito de desfrutar por cinco reais e ainda assim, os campos têm estado vazios. Aumentando os preços, isso seria gravemente acentuado.  

# Um exemplo a ser seguido: o Cruzeiro tem uma escola (a Escola Alternativa) dentro da Toca da Raposa (centro de treinamentos do time mineiro). Nesta escola, os futuros jogadores conseguem conciliar os treinos e a educação básica, contando com 17 professores e uma pedagoga. Tudo isso ao gasto de 30 mil reais mensais, valor ínfimo se comparado aos salários dos jogadores do time cruzeirense.  

# Como todo palpiteiro, não posso negar que “quebrei a cara”. Na coluna da semana passada, disse que a final do Rio-São Paulo seria entre Santos e Fluminense. E ocorreu exatamente o contrário: São Paulo e Botafogo disputarão o título. O São Paulo, que nunca conquistou esse campeonato, me parece o favorito, pois tem um time melhor e um goleiro que dispensa zagueiro, o excepcional Rogério Ceni. Porém, o Botafogo (classificado graças à uma arbitragem pavorosamente ruim) está num momento psicológico positivo, mas Sebastião Lazaroni tem o poder de estragar tudo. 

# Imoral ou incompetente? O juiz Amaurílio Machareth Saleão (nome difícil de se esquecer), que assaltou grosseiramente o Santos na Vila Belmiro, merece uma punição mais do que exemplar por parte de CBF. Afinal, ele acabou com o sonho de toda uma torcida e pior: acabou com um trabalho sério e dedicado dos jogadores santistas e da comissão técnica do time da Baixada Santista.  

# “Quando quero, sei bagunçar um campeonato”. Palavras de Eurico Miranda do diário Lance!. Para dizer pouco, uma declaração triste, que de certa forma, reflete o corpo dirigente do nosso futebol. 

Fala, Internauta 

# Rodrigo Machado, bacharel em Turismo que conhece tudo sobre as ruas de São Paulo acha que Pelé não é santo e me pergunta por que considerei que houve uma “iconoclastia que beira o insuportável” contra Pelé. Rodrigo, eu creio que o povo brasileiro tenha um costume de endeusar as pessoas muito rapidamente e desmoronar a reputação com a mesma rapidez que a construiu.

# O leitor Marcos Giusti, que tem parte do coração em Londres, me pergunta o que achei do suposto lançamento de Sócrates, ex-jogador do Corinthians, à presidência da CBF. Marcos, na segunda-feira, dia 19, eu conversei com o ex-lateral Wladimir, amigo pessoal do famoso Magrão, sobre esse assunto e outros mais. Ele me garantiu que Sócrates não tem como ambição imediata assumir uma “bomba” como a CBF. Mas da mesma forma, o Doutor quer, de fato, reinstalar a histórica e saudosa Democracia Corinthiana, dessa vez, em todo o futebol. E, ao contrário de Pelé, Sócrates tem um lastro cultural e político bastante sólido.

# Fernando Leite, ético jornalista da Editora Abril, faz uma pequena correção na observação que fiz sobre o Campeonato Francês: o Lille (que eu disse estar nas últimas colocações do torneio), na verdade está na disputa direta do título, juntamente com o Sedan e o Bordeaux. Uma rata imperdoável, pela qual peço desculpas aos meus leitores.

# O mesmo leitor me pergunta o porquê da convocação de Christian e sugere Éwerthon (do Corinthians) ou Sonny Anderson (do Lyon). E também considera desnecessária a convocação de Cafu, que nada mais tem a provar, e sugere Clébson, do Vasco. Fernando, na entrevista que fiz com Leão, que você pode ler nesta coluna (veja link na página principal do site), ele me disse que a convocação de Christian ocorreu porque ele pensa no jogador como um “ponto de referência” dentro da área, como seria Jardel, Fábio Júnior ou Oséas. Na minha opinião, centroavantes grandalhões são inúteis na beleza que Leão quer impor na futebol da Seleção. Sobre Cafu, sem dúvida é um ponto de vista interessante. Para quê trazer Cafu da Europa para dois amistosos anêmicos? Que se chame um lateral-direito mediano -Clébson, Russo, do Santos, Paulo César, do Fluminense ou Neném, do Palmeiras, para vermos se há uma opção natural para a reserva e não uma improvisação como Rogério ou Beletti.

# Agradeço às importantes manifestações enviadas. Um abraço aos leitores Lívia de Sousa, Carlos Silva, Daniela Brasil, Márcio de Castro, Eliana Gonçalves, Ibrahim Hassan, Mariana Cotrim, Rodrigo Andreonni, Edson Gabriel, Ramón de Oliveira, Oswaldo Barbosa e Carlos Eduardo Freitas (do Pelé.net). Como eu já disse, assim caminharemos juntos.

# Dedico essa coluna à minha amiga Denise Cardomingo Volpe, que passa por um momento familiar difícil, mas que pode contar com os amigos.  

# Até semana que vem.  

Qual é sua opinião sobre este artigo?

Você gostou deste artigo ?

Sim Mais ou menos Não

Os dados a seguir são OPCIONAIS:

Deseja enviar uma mensagem ao autor desta coluna?

Seu nome:
E-mail
A produção do site não comercializará o endereço de e-mail acima, nem enviará correspondência indesejada.
Sexo
Feminino Masculino
Sua idade
Deseja assinar, gratuitamente, o Boletim do site, e receber semanalmente, via e-mail, um resumo das novidades publicadas no site do bairro?

Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação de dados ou transmitida, de nenhuma forma ou por nenhum meio eletrônico, mecânico, de fotocópia, gravação ou qualquer outro, sem a prévia autorização por escrito do autor.