Atirei o pau no gato
Oi, gente! Tudo
bem?
Realmente, eu não
queria falar sobre esse assunto. A falsificação de Certidões de Nascimento de
jovens futuros jogadores é algo muito triste não só para o futebol, mas para
o País, pois reflete a miséria e a desinformação que preenchem as cabeças e
as almas do pobre povo brasileiro.
Mas o que leva um pai
a aceitar que alguém adultere a idade de seu filho? Certamente, troca-se essa
cruel falsificação por um punhado de reais, que no futuro, renderão muitos dólares
ao empresário que provocou essa artimanha.
Há alguns anos,
sempre que uma seleção africana (especialmente Gana) disputava campeonatos
para menores de 21 anos, surgia a piada que o jogador mais novo tinha 35 anos. O
que ninguém sabia (ou fingia não saber) é que isso também acontecia no
Brasil, muito mais perto do que nós imaginávamos.
Surge então, por um
motivo que eu desconheço qual seja, a figura retórica do “gato”, ou seja,
jogador que tem sua idade diminuída a fim de facilitar transações,
principalmente com clubes do exterior. Com uma idade inferior à real, o jogador
tem mais possibilidades de ser naturalizado, ou ter sua cidadania estrangeira
forjada.
E os empresários,
claro, ganham rios de dinheiro ao negociar o passe do jogador a igualmente
inescrupulosos times belgas, turcos, gregos, holandeses, suecos e até mesmo de
Honduras, Tunísia, Marrocos e Nova Zelândia. Tudo então, reside na
necessidade patológica que esses empresários têm de ganhar dinheiro em cima
da inocência dos jogadores. Eu tenho certeza que a maioria dos jogadores nem
tem consciência do que essa falsificação pode trazer de conseqüência à
vida deles.
E agora, surge uma
modalidade menos cruel, porém de conseqüências que ultrapassam o futebol: a
falsificação de passaportes, de forma que facilitem a entrada dos jogadores
nos países do exterior.
Isso aconteceu com inúmeros
atletas brasileiros (sem falar no caso de Recoba, estrela uruguaia que jogava na
Inter de Milão com passaporte grego falso), como Aloísio, que joga no
Saint-Ettiène da França e Délson, que joga no Gençlebirligi da Turquia. E
recaem suspeitas sobre Sonny Anderson, Zé Elias, Jardel, Penna, Edu e outros
jogadores famosos que há muito atuam no exterior.
E o que mais me
entristece é começar a ver ex-jogadores sendo acusados de comandar esquemas de
adulteração de idades e passaportes. Edinho (um fantástico zagueiro que jogou
no Fluminense e disputou duas Copas com o Brasil) foi acusado pelo Saint-Ettiène
de ser o responsável pela falsificação do passaporte de Aloísio. O
ex-centroavante Careca, que tem um maravilhoso e até então insuspeito trabalho
com a garotada na região de Campinas, também é acusado desse crime.
Muitos leitores me
dizem que as colunas têm tido um tom amargo. É claro que eu gostaria de falar
do futebol como arte e diversão, mas a incompetência diretiva levou nosso
futebol a um destrutivo caminho que eu, sinceramente, temo que seja sem volta.
Pílulas de Idéias
#
Perdeu dois pênaltis, defendidos por Flávio, goleiro da Cabofriense que teve
seus minutos de fama. Depois, ele teve a coragem de um verdadeiro líder, ao
bater um terceiro pênalti, que finalmente converteu. Estaria eu falando de um
herói, de um deus da raça? Não, falo de Romário, que mostra que aliada à
genialidade inata, pode andar uma força interior típica dos grandes líderes.
# O poético gol de bicicleta de Juninho Paulista no mesmo jogo contra a
Cabofriense, além de me dizer um dos porquês que me faz amar o esporte, me fez
lembrar de Leônidas da Silva, aquele que pela primeira vez executou um gol com
esse estilo. Venerável Leônidas, hoje doente e pobre numa cama de hospital, é
mantido por amigos e pelo São Paulo, clube onde brilhou. E tem gente que hoje
valoriza o futebol brucutu e despreza o São Caetano... Lembremos Leônidas!
# Na coluna da semana passada, eu disse que Raí, entre outros, havia
sido convidado para fazer parte de uma “comissão de notáveis”, primeiro
fruto da estranha parceria entre Pelé e Ricardo Teixeira. No seu texto de
domingo no Estadão, Raí disse que não aceitou fazer parte de nenhum tipo de
comissão. E ele é sério, muito sério. O que pensar dessa negativa?
# Já começou. Edmundo foi punido em US$ 150 mil por ter ofendido o técnico
do Napoli (Giovanni Mondonico) que o substituiu durante o jogo. E foi o próprio
time napolitano que pediu a punição ao atleta. Mais um erro na carreira de
Edmundo. Como acreditar quando ele diz que mudou?
# O excelente Juninho Pernambucano está encostado no Vasco porque não
comemorou o gol que fez contra o São Caetano, na final da João Havelange, do
jeito que Eurico Miranda queria. Mais uma despautério sem cabimento deste péssimo
dirigente, que agora, faz as vezes de escravocrata.
# O mesmo Vasco trouxe
de volta ao Brasil, o experiente volante Mazinho, que estava no pequenino Elche,
da Espanha. Mazinho foi um dos melhores que vi na posição e com a idade, deve
ter se tornado ainda melhor. Ponto positivo para o Vasco.
# A FERJ (Federação
de Futebol do Rio de Janeiro), mudou o regulamento do quadrangular final da Taça
Guanabara –o primeiro turno do Campeonato Carioca. O bizarro é o seguinte: o
regulamento mudou depois do campeonato iniciado e pior, o quadrangular começa
neste domingo. Lamentável.
# O Palmeiras
contratou Fábio Júnior e Muñoz. De Fábio Júnior, tenho a impressão que é
um típico atacante de área, que tem a exclusiva função de finalizar, mesmo
sem muita técnica. Sobre Muñoz, colombiano que jogou o último Pré-Olímpico
(no qual sua seleção perdeu por 9 a 0 do Brasil), a informação é que ele é
veloz, mas também com técnica limitada. E sem técnica, não há futebol
bonito.
# O Corinthians voltou
ao inferno com a derrota para a Matonense por 3 a 2. Os torcedores entraram em
campo e tentaram agredir Fábio Luciano, André Luís e Marcelinho Carioca.
Lembram quando eu disse que Marcelinho poderia desestabilizar um bom time?
# Mas, no que diz
respeito às invasões de campo, elas devem ser punidas com muito rigor, assim
como as pessoas que o fazem, que nada mais são que baderneiros. Os jogadores e
técnicos não podem ter medo de entrar em campo por causa de meia dúzia de
marginais.
# O diretor de futebol
do Corinthians, Roque Citadini (na minha opinião, um pára-quedista bem
intencionado) disse na Rádio Bandeirantes, que uma das soluções para se
evitar a invasão de campo é aumentar o preço dos ingressos, que na opinião
dele, é baixo. Uma declaração profundamente infeliz. O futebol é uma das
poucas diversões que o povo ainda tem o direito de desfrutar por cinco reais e
ainda assim, os campos têm estado vazios. Aumentando os preços, isso seria
gravemente acentuado.
# Um exemplo a ser
seguido: o Cruzeiro tem uma escola (a Escola Alternativa) dentro da Toca da
Raposa (centro de treinamentos do time mineiro). Nesta escola, os futuros
jogadores conseguem conciliar os treinos e a educação básica, contando com 17
professores e uma pedagoga. Tudo isso ao gasto de 30 mil reais mensais, valor ínfimo
se comparado aos salários dos jogadores do time cruzeirense.
# Como todo
palpiteiro, não posso negar que “quebrei a cara”. Na coluna da semana
passada, disse que a final do Rio-São Paulo seria entre Santos e Fluminense. E
ocorreu exatamente o contrário: São Paulo e Botafogo disputarão o título. O
São Paulo, que nunca conquistou esse campeonato, me parece o favorito, pois tem
um time melhor e um goleiro que dispensa zagueiro, o excepcional Rogério Ceni.
Porém, o Botafogo (classificado graças à uma arbitragem pavorosamente ruim)
está num momento psicológico positivo, mas Sebastião Lazaroni tem o poder de
estragar tudo.
# Imoral ou
incompetente? O juiz Amaurílio Machareth Saleão (nome difícil de se
esquecer), que assaltou grosseiramente o Santos na Vila Belmiro, merece uma punição
mais do que exemplar por parte de CBF. Afinal, ele acabou com o sonho de toda
uma torcida e pior: acabou com um trabalho sério e dedicado dos jogadores
santistas e da comissão técnica do time da Baixada Santista.
# “Quando quero, sei
bagunçar um campeonato”. Palavras de Eurico Miranda do diário Lance!. Para
dizer pouco, uma declaração triste, que de certa forma, reflete o corpo
dirigente do nosso futebol.
Fala, Internauta
# Rodrigo Machado, bacharel em Turismo que conhece tudo sobre as ruas de
São Paulo acha que Pelé não é santo e me pergunta por que considerei que
houve uma “iconoclastia que beira o insuportável” contra Pelé. Rodrigo, eu
creio que o povo brasileiro tenha um costume de endeusar as pessoas muito
rapidamente e desmoronar a reputação com a mesma rapidez que a construiu.
# O leitor Marcos Giusti, que tem parte do coração em Londres, me
pergunta o que achei do suposto lançamento de Sócrates, ex-jogador do
Corinthians, à presidência da CBF. Marcos, na segunda-feira, dia 19, eu
conversei com o ex-lateral Wladimir, amigo pessoal do famoso Magrão,
sobre esse assunto e outros mais. Ele me garantiu que Sócrates não tem como
ambição imediata assumir uma “bomba” como a CBF. Mas da mesma forma, o Doutor
quer, de fato, reinstalar a histórica e saudosa Democracia Corinthiana, dessa
vez, em todo o futebol. E, ao contrário de Pelé, Sócrates tem um lastro
cultural e político bastante sólido.
# Fernando Leite, ético jornalista da Editora Abril, faz uma pequena
correção na observação que fiz sobre o Campeonato Francês: o Lille (que eu
disse estar nas últimas colocações do torneio), na verdade está na disputa
direta do título, juntamente com o Sedan e o Bordeaux. Uma rata imperdoável,
pela qual peço desculpas aos meus leitores.
# O mesmo leitor me pergunta o porquê da convocação de Christian e
sugere Éwerthon (do Corinthians) ou Sonny Anderson (do Lyon). E também
considera desnecessária a convocação de Cafu, que nada mais tem a provar, e
sugere Clébson, do Vasco. Fernando, na entrevista que fiz com Leão, que você
pode ler nesta coluna (veja link na página principal do site), ele me
disse que a convocação de Christian ocorreu porque ele pensa no jogador como
um “ponto de referência” dentro da área, como seria Jardel, Fábio Júnior
ou Oséas. Na minha opinião, centroavantes grandalhões são inúteis na beleza
que Leão quer impor na futebol da Seleção. Sobre Cafu, sem dúvida é um
ponto de vista interessante. Para quê trazer Cafu da Europa para dois amistosos
anêmicos? Que se chame um lateral-direito mediano -Clébson, Russo, do Santos,
Paulo César, do Fluminense ou Neném, do Palmeiras, para vermos se há uma opção
natural para a reserva e não uma improvisação como Rogério ou Beletti.
# Agradeço às
importantes manifestações enviadas. Um abraço aos leitores Lívia de Sousa,
Carlos Silva, Daniela Brasil, Márcio de Castro, Eliana Gonçalves, Ibrahim
Hassan, Mariana Cotrim, Rodrigo Andreonni, Edson Gabriel, Ramón de Oliveira,
Oswaldo Barbosa e Carlos Eduardo Freitas (do Pelé.net). Como eu já disse,
assim caminharemos juntos.
# Dedico essa coluna
à minha amiga Denise Cardomingo Volpe, que passa por um momento familiar difícil,
mas que pode contar com os amigos.
# Até semana que vem.
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