Futebol
por Luiz Fernando Bindi
Fevereiro 16, 2001

Oi, gente! Tudo bem?

Na coluna da semana passada, fiz menção ao susto que levei com os "carinhos verbais" que se ensaiavam entre Pelé e Ricardo Teixeira, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (a CBF).

Quem primeiro se manifestou contrário à essa insólita união foi Juca Kfouri, um dos mais competentes jornalistas esportivos que temos. E Juca, que era assessor de Pelé quando este foi Ministro dos Esportes, parecia assustado com a possibilidade do ex-jogador se unir à uma figura tão controversa como o presidente da CBF.

Quais seriam as intenções de Pelé e de Teixeira? Muita coisa foi dita. O contrato de Pelé com a rede de televisão PSN e as relações no mínimo obscuras da CBF com a Traffic (uma das proprietárias da referida emissora) foram os pontos que mais impunham suspeitas sobre a união.

Todos sabem que Pelé é um desafeto histórico de João Havelange e, por conseguinte, de Ricardo Teixeira (ex-genro do antigo presidente da FIFA). Em várias ocasiões, Pelé foi preterido em solenidades e eventos, tanto pela CBF como pela própria FIFA. Daí surgirem tantas dúvidas em relação a esse "namoro".

Pelé, como esportista, é considerado o melhor de todos os tempos. Infelizmente, não o vi jogar. Mas regras foram criadas para subverter a ordem que ele criou no futebol (hoje, é proibida a "paradinha" antes da cobrança de pênaltis), o jogo mudou para se adequar às imensas habilidades de Pelé. São mais de 1200 gols, feito quase inigualável (Friendereich, que jogou em São Paulo nas décadas de 20 e 30, fez mais de 1300) e que, dificilmente um dia será batido. Chamavam-no apenas de "Ele", como se uma divindade representasse.

Ao terminar sua carreira, Pelé iniciou uma carreira empresarial, na qual obteve um sucesso também expressivo. Hoje, tem acumulada uma fortuna bastante razoável, contratos milionários com a Nokia (empresa de telefonia), a Time-Warner (mega-empresa multinacional de comunicação) e agora, a PSN. Além disso, é dono da Pelé Sports Marketing, empresa que agencia, organiza e vende campeonatos e eventos esportivos.

Ele sempre deixou claro que um dia, entraria na política. Quando fez seu milésimo gol, em 1969 disse que dedicava o gol às crianças pobres do Brasil, especialmente àquelas vitimadas numa enchente em Santa Catarina. Essa atitude, que muitos caracterizaram como demagógica, mostrou que a preocupação de Pelé ia além de jogar bola. Certa vez declarou que o povo brasileiro não sabia votar. Declaração infeliz, feita em meio à luta pela volta da democracia no país, mas que da mesma forma, demonstrava que Pelé tinha um raciocínio além das ditas quatro linhas.

Em 1994, tornou-se Ministro dos Esportes do governo Fernando Henrique Cardoso e criou uma lei que certamente, será para os jogadores de futebol o que foi a Lei Áurea para os escravos, chamada Lei Pelé. Hoje, a Lei Pelé -que ele prefere chamar de Lei do Passe, encontra-se em tramitação e a partir de 26 de março, começará a ser aplicada (que comentarei com mais profundidade oportunamente nessa coluna).

Mas a aura de divindade imposta a Pelé sempre se manteve quase intacta. Quase, porque há por parte do brasileiro uma iconoclastia que beira o insuportável. Quando surgiu uma suposta filha ilegítima Pelé, tentou (erroneamente, aliás) esquivar-se e por isso foi colocada em xeque a sua decência como homem. Filha reconhecida, o assunto foi esquecido.

E agora, cogitou-se essa união entre ele e Ricardo Teixeira, um dirigente de futebol que inacreditavelmente não gosta de futebol. Pelé precisava se explicar.

E isso aconteceu, no domingo (dia 11), dentro do programa Supertécnico, da TV Bandeirantes, com apresentação de Milton Neves. E Pelé foi bastante convincente em suas explicações. Disse que, se em duas semanas, nada de novo for trazido ao futebol brasileiro, todos poderão criticá-lo.

A minha genuína esperança é que essa união seja em prol, de fato, da organização do futebol brasileiro. E talvez, a força psicológica que a presença de Pelé representa já possa ser suficiente para começar a colocar nos eixos esse abandonado, desrespeitado futebol. De fato, Pelé precisa da CBF: tudo que se resolver no futebol do Brasil precisa passar pelo crivo de Ricardo Teixeira (infelizmente, esse é o fato). E talvez o presidente da Confederação Brasileira de Futebol tenha visto que não tem a menor competência de acertar o futebol brasileiro e tenha entregue isso nas mãos de alguém que entenda do assunto.

Espero que com Pelé, o futebol brasileiro encontre seu eixo (que em termos organizacionais, nunca existiu) e que ver um jogo de futebol seja tão prazeroso quanto todos nós queremos. Do jeito que está, não dá para continuar.

Porém nesta quarta (dia 14), anunciou-se a composição do grupo que irá estudar a nova trajetória do futebol brasileiro. Ela é formada por Pelé, Zico e Raí (pessoas de reconhecida capacidade e caráter). Mas, junto a eles, que tanto entendem de futebol e são realmente bem-intencionados, vemos Ricardo Teixeira, Fabio Koff, Eduardo "Caixa d’Água" Vianna e outras personagens do gênero. Aí, minha esperança pode se revelar frustrada em menos tempo.

Nesta quinta-feira, dia 15, o técnico da Seleção Brasileira, o ex-goleiro Émerson Leão convocou o time que disputará dois amistosos nos dias 3 e 7 de março contra as "poderosas" seleções dos Estados Unidos e do México. O técnico pediu que os jogadores não cometam "excessos" no Carnaval e não "desfilem em cinco escolas..."

Essa é a lista de convocados:

# O Estado de São Paulo de domingo apresentou uma excelente reportagem sobre jovens que não gostam de futebol. A maioria diz que não se interessa porque são muitos jogos, violência e desorganização. Eu já sentia essa diminuição pelo interesse no futebol, sempre devido aos mesmos motivos. Esses lamentáveis dirigentes do nosso esporte maior ainda vão acabar com o futebol!

# Ler Raí (assim como ler Tostão, José Trajano, Soninha e Torero) é sempre um prazer. Na sua última coluna, ele mostra um exemplo do que rende um futebol organizado. Ele conta, que na semana retrasada, esteve em Paris e assistiu uma partida entre Paris Saint-Germain e Lille. O jogo, segundo Raí, tinha mais de 45000 espectadores, todos muito bem-acomodados, pagando ingressos a preços justos, com estacionamento, banheiros limpos e organização. Os times encontravam-se em 11^o. e 15^o. lugares, respectivamente, e o estádio (o lindo Parque dos Príncipes) estava cheio. E quem me diz que Paris Saint-Germain e Lille apresentam um futebol melhor que Mogi-Mirim e Ponte Preta? A questão é o respeito pelo torcedor.

# Na segunda-feira passada, dia 12, o meio-campista palmeirense Alex deu uma longa entrevista à Rádio Bandeirantes. Fiquei muito impressionado com a inteligência e desenvoltura verbal do jogador. Ele não se alonga nas respostas, só fala o que deve e faz da sua importância como jogador excelente que é, uma arma de comunicação. Muito bom mesmo, e é um rapaz de 23 anos. Realmente, acima da média da "boleirada".

# O mesmo Alex: ele não parece estar conseguindo se adaptar à uma nova situação no Palmeiras. Até outro dia, ele mais um grande jogador e se destacava muito. Hoje, ele é o principal jogador do time e parece se esconder da responsabilidade.

# Um curta-metragem sobre a infância de Pelé em Bauru, chamado Uma História de Futebol, concorre ao Oscar de Melhor Curta. Com direção de Paulo Machline, roteiro do excepcional José Roberto Torero e narração de Antônio Fagundes é um filme quase desconhecido. Há alguns meses, vi o filme (que tem 20 minutos de duração) no excelente programa Grandes Momentos do Esporte, da TV Cultura de São Paulo e achei excelente, especialmente as interpretações do ator que atua como Pelé (o garoto Leonardo Delfino) e de José Rubens Chachá, que faz o técnico do Pelé-menino. Mas o filme já foi premiada em vários festivais, inclusive Nova York e Gramado. Seria muito legal se o primeiro Oscar brasileiro viesse do futebol, que nosso cinema nunca levou a sério (exceção feita ao maravilhoso Boleiros, de Ugo Giorgetti).

# Renata Alves (a principal testemunha nas denúncias a Wanderley Luxemburgo) posou nua para uma revista de circulação mediana. Independente da análise estética, considero esse fato um ponto positivo para o técnico: para mim, fica claro que a moça queria mais é se promover às custas da fama do seu ex-chefe.

# O Santos goleou a Barbarense e sobrou em campo. Parece que Geninho está dando um jeito no time da Vila. Quem sabe esse ano a agonia acaba e o Santos dá a alegria de um titulo importante?

# O Corinthians, com Luxemburgo, venceu o Palmeiras, ressurgindo apesar do futebol apresentado ter sido apenas razoável. É sempre bom que um time como o Corinthians esteja bem. O futebol também estará.

# Já o Palmeiras... Daniel, Argel, Taddei, Claudecir, Magrão, Fernando, Reinaldo, Juninho, Adriano são um amontoado de jogadores somente esforçados, mas que não têm a menor possibilidade de jogar no Palmeiras, além de um técnico de mentalidade retranqueira. Desse jeito, será a versão verde-branca do "faz-me rir" corinthiano.

# A Copa da Alemanha chega à sua final com uma curiosidade: o Union Berlim, time da sétima divisão do futebol alemão. E o jogo semifinal, contra o tradicional Borussia Möenchengladbach, vencido nos pênaltis só foi disputado depois que cem torcedores do Union tiraram a neve que cobria o gramado, numa atitude que emocionou até os jogadores do time adversário. A final será em Berlim, num jogo único e certamente, a maioria dos 75 mil presentes estará ao lado do simpático Union contra o poderoso Schalke 04.

# Na terça-feira, dia 13, assisti ao jogo Real Madrid 3x2 Lazio, pela Champions League, a "Libertadores" da Europa. Fiquei maravilhado com o futebol apresentado pelo time espanhol. Hierro, Helguera, Roberto Carlos, Makelele, McManaman, Raúl, Figo e Morientes são simplesmente impressionantes. Grande responsabilidade cabe o técnico Vicente Del Bosque, que com um elenco estelar com esse, montou um time ofensivo, com três zagueiros (comandados pelo soberbo Hierro), quatro meio-campistas (onde se destacam Roberto Carlos, que joga quase como ponta-esquerda, os inteligentes volantes Helguera e Makelele e o cerebral McManaman) e um ataque arrasador, com o excepcional Figo e os goleadores Raúl e Morientes. No Campeonato Mundial de julho, creio que não terá concorrentes.

# Como querem popularizar o tênis cobrando essa exorbitância para assistir à Copa Davis? Pior: no domingo, diminuíram os preços, cobrando R$ 50,00 (!!!). Dessa forma, jamais o tênis será popular, com ou sem Guga. Com a palavra, a CBT.

# Nesta quarta (14), iniciou-se a disputa das semifinais do infeliz e extemporâneo Torneio Rio - São Paulo. Meu palpite, e puro palpite, é que a final será disputada por Fluminense e Santos, e aí, sem favoritismo.

# O Vasco está no fundo do poço. Um dia depois do presidente da Federação Carioca de Futebol ter aos clubes cariocas que emprestassem dinheiro para o Vasco, pois o time está em graves apuros financeiros, o clube foi denunciado pelo seu parceiro, o Nations Bank. O time carioca corre o risco de ter São Januário e todos os seus jogadores penhorados. Taí para quem diz que Eurico Miranda é bom para o Vasco. Ele não é bom para ninguém, e quando sair do Vasco (merecidamente punido, espero) todos veremos como o glorioso time cruzmaltino ficará.

# No dia 23 de fevereiro, estará nas bancas e nas livrarias o Almanaque do Futebol Paulista 2001. Como na edição 2000, o Almanaque tem informações detalhadas sobre todos os clubes profissionais do estado de São Paulo, fichas de campeonatos e uma seção histórica-estatísitca deliciosa. José Jorge Farah Neto, Rodolfo Kussarev Jr. (um fanático por distintivos, como eu) e o pessoal do Aboladabola são muito competentes e certamente fizeram um livro muito interessante para quem ama futebol.

# O assíduo leitor Oswaldo Barbosa diz que o bonito do futebol não é necessariamente o gol, mas a imponderabilidade que o esporte proporciona. De fato, Oswaldo, eu creio ser esse um dos principais motivos do futebol ser o mais popular dos esportes: é lindo um jogo no qual o time pequeno ganha do time poderoso. Quando acontece uma surpresa no basquete ou no vôlei, por exemplo?

# Fernando Leite, competente editor dos Guias Quatro Rodas, faz duas considerações sobre a coluna da semana passada. Na primeira diz que entre os bons laterais-esquerdos, eu deveria ter citado Athirson e Serginho, que ele considera excelentes. Na segunda, afirma que eu jamais deveria ter colocado Raí no mesmo "saco" de Taffarel, Paulo Sérgio e Dunga, dizendo que Raí foi excelente, apesar de ter ido mal na Copa de 94. Sobre Athirson, considero-o um jogador muito instável e fisicamente frágil, apesar de tecnicamente ótimo. Já Serginho, sim é excepcional. Faço aqui um mea culpa por ter esquecido desse grande jogador. Quanto a Raí, minha consideração foi realmente em relação à Copa do Mundo e mesmo assim, considero que a importância dele no futebol esteve além da sua técnica e sim na sua capacidade intelectual, sua raça e sua fibra fora do comum.

# Fernando Pratti, assessor de imprensa da CBT, também fala sobre Athirson, dizendo ser ele um grande lateral. Cita Alex, do Palmeiras, como um grande jogador. Fernando: considero Alex um jogador acima da média, com uma técnica maravilhosa, habilidade rara no atual futebol. No entanto, acho que ele seja um pouco sonolento em campo, o que atrapalha o seu jogo. Mas, sem dúvida, é candidato a craque.

# O mesmo Fernando Pratti (um flamenguista bissexto), me diz que assistia no Maracanã ao jogo Flamengo 0 x 2 São Paulo e saiu no meio do primeiro tempo pela falta de gols e conseqüentes emoções. Opinião de alguém que ama o Basquete e o Tênis, esportes onde os tentos são constantes ao contrário do futebol. Eu, ao contrário, vejo na raridade de tentos (e na dificuldade de obtê-los) uma das maiores belezas do futebol.

# O geógrafo e dedicado educador Marcos Giusti é um dos que ama futebol, mas que a desorganização tem afastado do esporte. Ele me envia um email dizendo que o mais incomoda é a falta de identificação do jogador com o clube, citando o caso de Raí/São Paulo e Zico/Flamengo. Pois é, Marcos, esse é o problema de um futebol administrado como na várzea e que se arroga profissional. Acho imoral, por exemplo, que Rincón volte ao Corinthians. Afinal, ele saiu dizendo que lá dentro do Parque São Jorge, ninguém prestava, começando pelo presidente do clube, que ainda é o mesmo.

# Agradeço às importantes manifestações enviadas. Um abraço aos leitores Rogério Rodrigues Ribeiro, Eliana Gonçalves, Erna Matarazzo, Henrique Machado, Marcos Köesle, Fabio Hideo, Isabel Menucci, Luiz Urbano Camargo, Edgar de Mattos, Gregório Dutra, Kléber Oliveira, Mariana Cotrim e à excelente jornalista Adriana de Castro (que agora, desfila sua capacidade na SporTV). Como eu já disse, assim caminharemos juntos.

# Dedico essa coluna ao grande narrador Sílvio Luiz (que foi um dos responsáveis pelo meu amor ao futebol), que me enviou muita força, a quem agradeço profundamente. Meu respeito a ele.

# Até semana que vem.

América de Cáli	Atletico Junior	Boca Juniors	Cerro Porteño
Cobreloa	Sporting Cristal	Cruz Azul	Defensor Sporting
Deportivo Cáli	Deportes Concepción	El Nacional	Emelec
Guaraní	Jorge Willstermann	Cruzeiro	Nacional de Montevidéu
Olimpia	Olmedo	Oriente Petrolero	Palmeiras
Peñarol	River Plate	Rosario Central	San Lorenzo
São Caetano	Sport Boys	The Strongest	Táchira
Universidad do Chile	Univeristario	Vasco	Vélez Sarsfield

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