Valmir Marques expressa seu espanto pela "ação" dos patrulheiros rodoviários federal
Junho 03, 2006

No dia 05/04/2006, exatamente as 12h20min, pleno meio dia, trafegávamos eu e minha companheira na rodovia BR 101, no sentido sul/norte, rumo a Salvador,
a mais ou menos 100 km da capital baiana, quando, a menos de 1 km do posto da Policia Rodoviária Federal -PRF, fomos abordados por dois elementos armados com submetralhadora e pistola, a bordo de um automóvel Santana de cor verde, que nos obrigaram a parar sob a mira das armas, tenho um deles me obrigado a entrar em seu carro enquanto o outro ocupava a direção do meu carro, uma Blazer prata, com minha companheira a seu lado e se dirigiram com ambos os veículos para uma estrada vicinal, sem pavimentação, a poucos metros do local do seqüestro.

2- Depois de dirigirem por um trecho que calculo mais ou menos de um a dois km, pararam os carros, sempre nos apontando as armas, reviraram toda a bagagem em busca de dinheiro, armas ou equipamentos de rastreamento, segundo suas próprias palavras, nos abandonaram na referida estrada de terra e fugiram em alta velocidade de volta ao asfalto, na BR 101.

3- Na seqüência dos eventos e no exato momento que somos abandonados surge um motoqueiro que para sem que peçamos e nos informa que não devemos andar em direção a casa que avistávamos a curta distancia pq lá não tinha ninguém, nem telefone.
Em seguida, em questão de menos de um minuto, surge um automóvel tipo Gol, branco, cujo condutor, atendendo a aceno do motoqueiro se dispõe solicitamente a nos conduzir em busca de socorro.

4- Inicialmente somos conduzidos ao já citado posto da PRF onde informamos o ocorrido e os integrantes da equipe fazem as comunicações com a policia militar estadual, tomam nosso depoimentos - para "o serviço de inteligência", em suas palavras - e nos liberam rapidamente.

5- Na seqüência somos encaminhados para a delegacia de policia civil (que na Bahia se chama "complexo"), pelo mesmo motorista do gol, que se mantém a nossa disposição todo o tempo. Na policia civil, depois de relatarmos detalhadamente todo o ocorrido em 3 ocasiões diferentes, para diferentes funcionários somos dispensados já a noite e, sempre conduzidos pelo mesmo motorista do gol, resolvemos comprar passagem rodoviária para Salvador, de onde pretendíamos retornar a nossa cidade de origem por via aérea.
Os eventos na delegacia contêm sua própria bizarrice, na justa medida da totalidade da experiência: inicialmente sou impedido de entrar no dito complexo por não estar devidamente trajado (bermudas), problema que, não sem alguma dificuldade, logro contornar explicando que estava assim pq justamente acabara de ser despojado de todos os meus pertences, roupas inclusive.
Num dos penosos depoimentos (penoso pq foi reiniciado inúmeras vezes por "queda no sistema") a uma idosa senhora que, depois descobri não ser a escrivã, já que tive de fazer todo o depoimento de novo ao escrivão, com direito as mesmas inúmeras "quedas do sistema" sou submetido a experiência mais vexatória e constrangedora que a da bermuda.
A referida anciã conduziu o interrogatório para a questão religiosa, como se isso fosse pertinente ao caso, querendo saber que tipo de crença eu era portador, e ao saber que eu não fora abençoado pelo dom da fé, que não possuo nenhum tipo de vocação ou contemplação para o além ou o sobrenatural, imediatamente passou a insinuar que essa seria a causa de meus dissabores com os malfeitores seus (dela) conterrâneos. Fiquei pensando cá com meus botões se acaso teria o todo poderoso algum tipo de convenio com os salteadores para fornecer um salvo conduto aos seus seguidores. Evidentemente nada falei, até pq se fosse argüir algo seria a condição laica, desvinculada de seitas ou dogmas religiosos do estado brasileiro, como consta na carta magna. Mas nem isso achei prudente mencionar, tal era o fanatismo e obtusidade manifesta da megera.

6- Após concluirmos que já era tarde para ir para Salvador de ônibus, sob protestos do referido motorista do Gol, que insistia para que embarcássemos no mesmo dia, por volta de 20 horas, somos conduzidos a uma loja de roupa, a nosso pedido - já que perdemos junto com o carro (que não tinha seguro), toda nossa bagagem, dinheiro e pertences, ficando somente com a roupa do corpo e minha carteira de documentos - onde o tal motorista, que nos ajuda a comprar algumas peças de roupa, escolhendo, dando sugestões e mostrando onde provar, onde pagar e etc.

7- Sua presença - do cara do gol - e insistência já nos causavam estranheza e constrangimento, mas não tínhamos motivos para pensar que ele tinha outras razões para nos acompanhar além do desejo de ser útil, embora excessivo e inusual.
As coisas foram ficando mais estranhas, entretanto quando o tal sujeito fez questão de esperar que nos registrássemos no hotel, querendo saber qual o apartamento e a que horas pretendíamos partir. Além disso, antes, na loja de roupa e depois na portaria do hotel, sempre nos recomendava enfática e insistentemente que não mencionássemos o assalto a quem quer que seja na cidade.
Em todos os momentos anteriores que tentáramos dispensá-lo ele se negava a fazê-lo de modo silencioso e sem apresentar razões de sua atitude.

8- Após passarmos a noite em claro, praticamente, na manha seguinte, 06/04/2006, nos dirigimos do hotel para a rodoviária, de táxi. Nesse percurso, desde a porta do hotel até a rodoviária nosso táxi foi seguido por um outro veiculo, tipo Astra,com vidros muito escuros, de cor preta com placas de São Paulo. No terminal rodoviário embarcamos para Salvador, de onde tomamos o primeiro vôo rumo a nossa cidade de origem.

9- Outros fatos relevantes a serem relatados é que, durante as longas horas que permanecemos no "complexo" fomos encaminhados a um estabelecimento comercial em frente do referido "complexo" para tirar copia xérox dos documentos do carro para juntar a representação. No referido estabelecimento, casualmente, travamos conhecimento com seu proprietário que, ao saber do ocorrido conosco, mostrou-se, surpreendentemente, inteirado dos fatos, coisa de que foi informado NO EXATO MOMENTO DE NOSSO SEQÜESTRO, pq toda a ação foi presenciada por um seu empregado, motorista de caminhão que seguia exatamente a nossa frente no momento que fomos raptados na rodovia, que telefonou para seu patrão dizendo o que viu, por pensar - segundo o próprio, - que se tratava do veiculo do filho do referido comerciante, cujo carro é do mesmo modelo do nosso. O referido comerciante, pessoa idônea e solidamente estabelecida na cidade, nos informou que, no exato momento que recebeu a noticia, imediatamente entrou em contato com todas as unidades policiais da cidade, PRF, policia civil e militar.

10- Na delegacia (complexo) logo em nossa chegado foram-nos mostradas fotos dos marginais, (dos quais se conhecem os nomes) que nos atacaram, com a descrição exata, pelos policiais, do modus operandi dos delinqüentes, reproduzindo inclusive as expressões usadas pelos mesmos, que tentam se passar por "policia federal" ao abordar as vitimas, usando às vezes até mesmo um giroflex no seu carro.
A policia local informou ter dezenas de ordens de prisão contra os mesmo, além de fotos, embora os bandidos nunca tenham sido presos.
Todas as atitudes policiais indicam uma grande familiaridade com a ação desses delinqüentes, inclusive dando a entender que os mesmos só atacam veículos caros, originados de outros estados e não matam as vitimas, indicando que não se trata de criminosos tão perigosos, afinal. Razão pela qual, deduz-se, sua captura são seja prioritária.

11- Registre-se que, sempre que em nossos depoimentos, tanto na PRF como na policia civil, tínhamos de indicar a localidade exata do corrido, sugeríamos que fosse ouvido nosso acompanhante do Gol, que é da região e sabia exatamente onde tudo se passara, isso era liminarmente rechaçado como dispensável e irrelevante.

É o ocorrido;

Conclusão:

O objetivo desse relato é consignar nosso espanto pela "ação" dos patrulheiros rodoviários federal, que, mesmo cientes do ocorrido e informados de seu local exato, no justo momento dos acontecimentos a poucos metros de sua unidade, mantiveram-se bravamente imóveis nas respectivas cadeiras. E obviamente ocupados em emitir prioritárias e urgentes multas e autuações contra perigosos motoristas que não usam cinto de segurança ou com extintor de incêndio vencido.
Depois temos também de registrar a espantosa encenação de surpresa que fizeram ao chegarmos ao posto policial, com uma frenética e impressionante serie de comunicados via radio, cheias de códigos cabalísticos e misteriosos, (do nosso caso para outras unidades - que tb já sabiam de tudo, pq alertadas pelo citado comerciante antes referido).
Entendemos que tal cena teatral destinava-se a nos distrair de nosso trauma e aliviar a angustia pelo que passáramos a pouco.
Não podemos deixar de louvar seu talento dramático pq ficamos absolutamente convencidos de sua surpresa, embora tenham cometidos pequenos erros de desempenho teatral, (como iniciar a agitação antes mesmo de aproximarmos, quando chegamos) certamente por falta de ensaio e de um bom diretor de cena.

Ps: pela nossa percepção dos fatos, não restou duvida tratar-se motoqueiro e o motorista do gol branco que nos resgatou, de elementos de apoio da quadrilha com inúmeras funções com vistas a garantir o sucesso da operação, como por exemplo:
1- assegurar-se de não se tratar (as vitimas) de pessoas de projeção social ou política que poderiam mobilizar aparatos policiais de fora (pq os locais parecem inteiramente sob controle).

2- limitar a repercussão da noticia monitorando nossos movimentos e aconselhando a ficar calados, como fez.

3- impedir o acionamento de controles remotos de dispositivos do tipo que imobilizam os veículos ou acionam rastreadores, se eu os possuísse.

4- aferir as providencias tomadas pela policia no sentido de sua captura e perseguição, assim como o que se sabe dos malfeitores como nomes, reconhecimento de fotos e etc...

5- despachar as vitimas - que sempre são de outros estados o mais rápido possível (pela solicitude e disponibilidade do sujeito não tenho duvidas que ele nos daria o dinheiro da passagem se precisássemos).

6- se, por exemplo, tivéssemos tido alguma reação no sentido de dominar nossos atacantes, e tivéssemos sucesso, poderíamos imediatamente pelo pessoal de apoio.

7- se a policia se mobilizasse e cercasse os malfeitores nós seriamos reféns, pq ainda estaríamos em suas mãos.

Quer dizer: motivos presumidos são o que não falta.

Ps2. Eu obtive com o motorista do gol 2 números de telefone celular, alem de um nome pelo qual ele atende, num dos quais ele me atendeu uma vez que liguei. Quer dizer, se alguém quisesse puxar o fio da meada para desbaratar a quadrilha isso não seria difícil.

Valmir Marques
bol.com.br

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