Moradores da Rua Guaçú não querem ser vizinhos de um prédio residencial.
Abril 15, 2002
por Glaucia Noguera

Rua GuaçúA luta de alguns moradores do Sumaré para impedir a construção de um prédio de apartamentos de oito andares na Rua Guaçú (foto à direita) ainda deverá se arrastar por mais um bom tempo. Nesta semana, funcionários de uma demolidora representando a construtora Zarvos, que já comprou dois imóveis localizados neste endereço, estiveram presentes no local. Porém, sem o alvará de demolição, tudo não passou de uma visita de reconhecimento, mas para os moradores foi sinal de uma ameaça. "Nós não sabemos qual é a verdadeira intenção que eles têm. Acreditamos que essa seja uma forma de pressionar as outras pessoas da rua que ainda não venderam suas casas e são contra a construção do prédio", disse Fábio Gabarra Botter, que reside em um sobrado em frente aos que já foram comprados pela construtora.

Na Zarvos, ninguém nega a história. "Nós pedimos um orçamento para a demolidora e nada mais natural do que ela ir ao lugar para saber quanto será cobrado pelo serviço", disse o diretor comercial Otávio Uchôa Zarvos, que reafirmou não possuir o alvará de demolição que deve ser expedido pela prefeitura. "Até por isso, não podemos fazer nada. Não podemos mexer no terreno. Pedimos o alvará no ano passado, que ainda não saiu. Nós pensamos em demolir o mais rápido possível por medo de que essas casas sejam invadidas e apresentem risco de segurança para os próprios moradores", completou. O projeto também não está terminado e a construtora aguarda a sua conclusão para dar entrada na aprovação do município. 

A possibilidade de conviver ao lado de um prédio residencial preocupa os moradores da Rua Guaçú desde o final do ano passado, época em que a construtora tentou a primeira aproximação. "Meu telefone de São Paulo não consta na lista telefônica, mas nós temos um outro número, que está em nome do meu marido, em uma casa no interior. Você acredita que a construtora nos achou lá e nos fez uma proposta de compra?", perguntou dona Daise, que vive na Guaçú há mais de vinte anos. Ela conta que a principio não ofereceu resistência e chegou a demonstrar interesse em se desfazer do terreno. "Queria saber quanto eles estavam dispostos a pagar, mas não tinha verdadeira intenção de vender", completa.

Assim como dona Daise, os vizinhos do lado ímpar da rua receberam telefonemas, que segundo eles, ao passar dos dias passava a ser mais ameaçador. "Eles diziam que se não vendêssemos, a casa ficaria isolada, que o local seria desvalorizado", contou. Um abaixo assinado com 500 assinaturas foi levado às autoridades, mas não foi suficiente para paralisar o trabalho da construtora.

dona Daise, o Eng. Fábio e Eviam EliasA mobilização dos moradores ganhou apoio da Sociedade dos Amigos e Moradores do Sumaré (SOMASU) e ganhou mais força. Eles insistem em que as construtoras estão avançando indevidamente sobre áreas estritamente reservadas a residências unifamiliares, as chamadas Z1 e adjacentes (Z18, Z8-CR-8). No entanto, os fundos dos lotes da Rua Guaçú fazem divisa com uma outra categoria de zoneamento e vem daí toda a confusão. "Não temos estrutura para receber um prédio com cerca de 30 apartamentos. A rua é estreita e sinuosa e não suportará um aumento no fluxo de veículos dos novos moradores e dos visitantes", disse Fábio. (Na foto à direita, em sentido horário, dona Daise, o Eng. Fábio e Eviam Elias).

A versão da Zarvos é diferente. "Estamos fazendo tudo dentro da legalidade. Tanto que já existem alguns prédios nas redondezas. Nós não iríamos nos aventurar a comprar terrenos que depois não pudéssemos construir. Tudo isso foi checado", disse Otávio. 

Os moradores também argumentam que no local existem árvores centenárias, algumas frutíferas que não podem ser arrancadas. "Elas estão contadas nos 4,5% de área verde que ainda resta em São Paulo", disse a diretora da SOMASU, Eviam Elias. Mas, segundo a Zarvos, a questão das árvores não serão problema no projeto do prédio. "As árvores serão preservas. Elas já foram todas marcadas e a previsão é que a área verde ainda seja maior do que a existente atualmente. Nós queremos defender o bairro do Sumaré porque também nos consideramos moradores", disse e foi ainda mais longe. "Quando os primeiros compradores adquiriram estas terras, tudo era um sítio provavelmente. E muitas mudanças tiveram de ocorrer para serem construídas as casas. Esse processo é natural do desenvolvimento da cidade", completou.

Por enquanto, a Zarvos já é proprietária de dois imóveis da Guaçú e precisaria de mais um para executar o projeto dentro de suas expectativas. Mas como a resistência dos moradores é grande, é admitida a possibilidade de seguir com as obras na área atual. "Dois terrenos são suficientes", concluiu Otávio Zarvos.

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