"Causos" do coreto da Praça Floriano Peixoto
Janeiro 14, 2002

Alexandre Moreira NetoAlexandre Moreira Neto, presidente do Centro das Tradições de Santo Amaro, afirmando não ser historiador mas "contador de estórias que ouvi e continuo ouvindo de pessoas que me ensinam no dia-a-dia", contou alguns "causos" do coreto. "Aqui, antes de existir este coreto, era um círculo onde se reuniam as banda musicais. Santo Amaro tinha duas: uma que nasce no fim do século XIX e a outra que nasce na década de 1915, famosa até recentemente. O museu deverá receber aí o remanescente dessa de 1915, que é do maestro Norvaledo, nós já dissemos que o museu está aberto para agasalhar essa obra. Então este coreto nasceu em razão da existência dessas bandas e tornou-se, aos domingos, o local onde havia os passeios, o "footing", onde as moças conheciam os rapazes, os rapazes conheciam as moças e muito mais importante, eram vigiados pela família. Na revolução de 32 este mesmo coreto serve ao chamamento da população de Santo Amaro para fazer parte do então pelotão ou destacamento voluntário. Na década de 60 aqui nesse coreto aconteceu uma gincana que ligava Santo Amaro a Itapecerica e a primeira grande prova é com os adolescentes da época que participavam da gincana, e que aqui de cima faziam declarações de amor. Assim, "en passant", eu me lembro dois que infelizmente já não estão mais no nosso meio, o Telmo Sgarbi, que chegou em segundo lugar, e o outro é o Ciro Ferreira da Silva, cujo o pai, doce memória também, pertencia à associação dos Cavalheiros e Romeiros de Santo Amaro. Na década de 70, exatamente quando Santo Amaro deixava de ser Subprefeitura e passava a ser Administração Regional, houve o grupo, e esse grupo já era o embrião do Centro das Tradições, que fez o carnaval de rua, que foi foi totalmente concentrado aqui nesse pedaço.

"Também gostaria de contar para vocês que no fim da década de 40,  na sexta-feira santa, de madrugada, os adolescentes da época tiraram um Judas que estava ali naquela esquina da Paulo Eiró e trouxeram aqui para esse coreto à noite, para brincar com o guarda, isto é, tinha guarda noturna na época. E qual foi a surpresa deles que passou uma viatura do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) os prendeu e levou todo mundo para o DOPS lá no centro, daí conversa vai, conversa vem o pai do Zinho que era o Joaquim escrivão, todos os mais antigos conhecem, foi chamado, pois o Zinho se identificou: "eu sou filho de escrivão, da Delegacia de Santo Amaro, não sei porque que eu estou preso". Aí o delegado ligou para Santo Amaro e ele foi para o DOPS e liberou o pessoal. A estória bolada depois é a seguinte: nessa ocasião o Partido comunista do Brasil, o Partidão, vivia na clandestinidade, e a Semana Santa era usada para botar panfletos dentro do Judas porque depois na hora da malhação ninguém sabia da onde tinha vindo os panfletos e essa foi essa razão do pessoal ter sido preso; eu acho um fato muito pitoresco".

O outro fato pitoresco, e é o último que vou contar, aconteceu na década de 20. Haviam dois grupos políticos do Partido Republicano Paulista - e daí nasce o Botina Amarela: um era liderado pelo Isaías Branco de Araújo e outro grupo pelo Juquinha. Aqui, neste mesmo local, também eram feitas as concentrações políticas. Chamaram para participar dos comícios o então senador Prats, que era de Santo André, um município vizinho de Santo Amaro, que tinha o dom da oratória, era um poeta, um filósofo. Quando começou a dar o recado dele, e alguém de lá de traz gritou: "sapo de fora não chia", que tornou-se hoje gíria comum. Passadas as eleições, efetuada a apuração, Isaías Branco ganhou a eleição, foi pedida a recontagem e a eleição foi cancelada, daí o porque isso daqui é 28 e não 32, houve a intervenção do município e a manchete do jornal Santo Amaro foi: "Sapo de fora chia, sim”. 

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