Como alunos da Rede Pública de Ensino vêem o Brasil após passar um mês nos Estados Unidos?
Agosto 17, 2001

Alvaro, Alessandra, Danilo e LuísUm grupo de alunos da rede estadual de ensino desfrutaram de umas férias diferentes: conviveram um mês com uma família norte-americana, em diversas cidades dos Estados Unidos, e aproveitaram a oportunidade para aperfeiçoar seus conhecimento de Inglês. A experiência foi patrocinada por uma empresa multinacional, a Dow Química.

Roseli Becchier Salgueiro, diretora da Escola Estadual Padre Sabóia de Medeiros, na Chácara Santo Antônio, disse que os alunos foram selecionados por sua origem afro, e seu comportamento e rendimento exemplar. Três dos seus alunos relataram, ao portal Sampa Online, suas impressões (na foto à direita, vemos, em sentido horário, Alvaro, Alessandra, Danilo e Luís).

Alessandra Aparecida da Silva, 17 anos, está na 2ª série do colegial. Ficou um mês na cidade de San Francisco, na casa de uma família pobre, "mas lá pobre é diferente, é como classe média daqui: eles tinham computador, carro, televisão, tudo!". Para Alessandra os norte-americanos "tem mais vontade de ter uma cultura, tem vontade de ler, de estudar. E as pessoas lá são bem mais limpas". Limpeza, aliás, é para Alessandra uma das grandes diferenças entre San Francisco e a cidade de São Paulo. Saudades? "Da comida; lá a comida era ruim". E das pessoas: "Aqui no Brasil as pessoas são mais amorosas, elas dão mais importância para as outras pessoas. Nos outros países não, eles são bem frios e ninguém liga se você está morrendo, para eles tanto faz. Nesse sentido, eu  acho que o Brasil é melhor". É possível que o Brasil algum dia melhore? "Eu acho que a nossa geração, do jeito que está, pode até mudar, mas tem que acabar com a ignorância, com o analfabetismo e oferecer mais estudo e mais trabalho para as pessoas. Acho que é possível mudar, mas não vai ser agora".

Álvaro Rodrigues dos Santos, 16 anos, está estudando no 2º ano do ensino médio. Ficou um mês em Chicago, e também ficou impressionado com a limpeza. "Lá  é muito limpo; aqui você encontra sujeira na rua, pichações em qualquer lugar, tanto em bairro rico quanto pobre, lá não, só em bairros pobres, isolados, é que você encontra isso". E há buracos nas ruas? "Não, lá eles asfaltam as ruas direito. Aqui é cheio de buraco, asfaltam de qualquer jeito, fazem um serviço porco". É possível que algum dia o Brasil tenha a cultura, a limpeza e todas as outras qualidades que Álvaro encontrou em Chicago? "Isso é um sonho impossível. Veja o exemplo do Japão, que foi destruído por duas bombas atômicas e em poucos anos já está reconstruído. Ninguém nunca destruiu o Brasil, e está desse mesmo jeito, mesmo depois de receber mais dinheiro do que o Japão, e pior ainda, continua endividado.".

Danilo tem 17 anos e está cursando o terceiro ano, que é o último ano do 2º grau. Ficou um mês em San Diego, na Califórnia, estudando na  Escola ELS Language Center e convivendo com uma família americana. Danilo ficou impressionado com a organização da cidade: "há uma parte que é só área industrial, outra só área comercial, outra só área residencial. Nos ônibus tem agendas, tem um mapa, tem até o horário que passa em tal ponto". A limpeza da cidade também impressionou o Danilo: "Raramente você vê pessoas jogando papeis no chão, raramente você vê pessoas cuspindo no chão, que é uma coisa normal que se vê aqui no Brasil. A atitude do povo diferencia muito. A educação deles me deixou super impressionado". Questionado se gostaria que São Paulo fosse organizada com São Diego, responde afirmativamente, mas acha bastante difícil alcançar esse nível e organização já que o povo brasileiro "é desorganizado por natureza, e tem uma educação diferente". Mas Danilo ainda acredita que é possível mudar, "já que o nível de analfabetismo aqui no Brasil está diminuindo, mas vai ter muita dificuldade. Melhorando a educação do povo as conseqüências seriam melhores", conclui.

Danilo é o autor de um dos quadros que enfeitam o muro da escola (leia "A Chácara Santo Antônio dá um exemplo de cidadania"), que reproduzimos abaixo:

Ciranda

Opiniões

Henrique Barreto opina: "Moro na Califórnia há 4 anos. Quanto à limpeza das cidades americanas sao impecáveis, isso porque existem regras, regras que nao cumpridas geram multas elevadíssimas, mas a limpeza residencial fica de longe se comparada a do Brasil. Ha 3 anos entrego comida e vocês não acreditariam nas condições de na maioria das residências americanas. "É casa de pobre mas é limpa", essa frase não se encaixa por aqui".

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