Sociedades de bairro lutam para impedir construção de condomínio e salvar 60 mil m² de área verde na zona sul
Andrezza Carvalho Arnone
Julho 05, 2002
 

Após anos de esquecimento e abandono, o Jardim Alfomares, uma área de aproximadamente 60 mil m² localizada no Alto da Boa Vista, zona sul de São Paulo, se transformou em briga judicial. O motivo? O lançamento do condomínio Palm Hills. 

Há quase oito décadas as terras, que mediam cerca de 80 mil m² e que pertenciam a um espanhol, abrigavam uma casa e um jardim projetado por Burle Marx, além de grande quantidade de mata atlântica. Na época, pelo menos 11 mil m², foram vendidos pelo proprietário, restando a área que hoje é reivindicada pelas associações de bairro. 

Com a morte do espanhol, as terras ficaram abandonadas e, assim como a casa, a mata e o jardim ficaram mal cuidados. A princípio, nenhum herdeiro foi deixado aqui no Brasil. No entanto, com o passar dos anos, uma mulher de mesma nacionalidade conseguiu provar o parentesco com o europeu e briga na justiça pela posse do local.

Roberto Manca di Villahermosa, presidente da Sociedade Amigos dos Jardins Petrópolis e dos Estados (SAJAPE), explica que as discussões sobre o terreno começaram há mais de um ano, quando a casa, o jardim e parte da mata foram derrubados por uma construtora que pretende transformar o local em uma vila. “Isso é crime ambiental”, diz. “Se construírem esse condomínio horizontal, a pouca mata que ainda resta será extinta.”

Segundo Villahermosa, há indícios de que o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) do terreno esteja atrasado há mais de 10 anos. “Uma maneira de quitar essa dívida é, ao invés de pagar, transformar as terras em bem público.”  Para isto, a Sajape elaborou um abaixo-assinado com assinaturas dos moradores da região solicitando à Prefeitura a construção de um parque do qual todos possam desfrutar. “Queremos preservar vegetação, não importa a maneira.”

Para decidir o destino do terreno está marcada para o mês de agosto mais uma audiência entre representantes da Sociedade Amigos do Jardim Petrópolis (Sajape), Sociedade Amigos Alto da Boa Vista e da construtora envolvida. A nova data foi marcada, pois representantes da construtora não compareceram à reunião de conciliação que deveria ter ocorrido na terça-feira, dia 2 de julho. 

Os moradores do bairro Chácara Flora, vizinho do Alto da Boa Vista e Alfomares, também estão sob tensão. De acordo com Cristina Antunes, também da Sajape, a Prefeitura quer derrubar os muros do Condomínio Chácara Flora – bairro fechado por muros que abriga residências de alto padrão. Isso porque os moradores estariam utilizando irregularmente a área pública, já que impedem o acesso às ruas que ficam no interior do bairro. O condomínio abriga 170 residências, além de uma praça e dois lagos. “Se acabarem com as terras do Alfomares e com a Chácara Flora ficaremos sem nenhum pedacinho de mata”, diz Cristina. “A Prefeitura precisa considerar o impacto que isso vai causar se tudo tiver de ser modificado.”

A confusão sobre o fechamento também não é recente. O condomínio foi formado na década de 20, quando a antiga proprietária resolveu lotear a chácara. Naquela época, a região fazia parte da zona rural Com a urbanização, a Chácara passou aos poucos a se consolidar como um bairro. As ruas, à época inexistentes, foram oficializadas pelo município a partir da década de 50. Os muros, porém, permaneceram. 

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