Poluição do ar e doenças respiratórias
Maio 21, 2001

Na segunda rodada do ciclo de debates sobre "Município Saudável", o Dr. Chin An Lin, Médico Pneumologista, Pesquisador do Laboratório Experimental da Poluição Atmosférica do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, e o Químico Cláudio Darwin Alonso, gerente do Departamento de Qualidade Ambiental da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), abordaram o tema "Poluição do ar e doenças respiratórias".

Como estudar os efeitos da exposição à poluição em seres humanos? O Dr. Chin explicou que o estudo pode ser efetuado a partir de voluntários, mas é muito complicado obter este tipo de informação por causa das implicações éticas e do custo do processo. E, fundamentalmente, as informações obtidas através deste tipo de estudo não são mais importantes nem mais precisas do que estudos epidemiológicos, baseados em dados coletados em diversos hospitais do Município de São Paulo, onde a exposição da população já ocorre naturalmente.

As pessoas mais susceptíveis aos efeitos da poluição são aquelas que estão nos extremos da pirâmide da faixa etária: recém nascidos e a população infantil em geral, e os idosos. O Dr. Chin citou estudos exaustivos que demonstram que há um aumento na incidência de problemas cardio-respiratórios em pacientes idosos (acima de 65 anos) expostos à poluição, e a taxa de mortalidade dessas pessoas aumenta treze por cento nos dias mais poluídos. Outros trabalhos demonstram que o índice de morbidade (o processo da doença, anterior ao falecimento) é muito mais elevado em pessoas expostas à poluição. Também foi demonstrado que em dias mais poluídos se enfarta mais e há mais arritmia na cidade de São Paulo.

Para o Dr. Chin a poluição pode ser considerada um problema de saúde pública: "Nossos dados, recolhidos principalmente no  SUS, demonstram que grande parte da população pode ser afetada pela elevação dos índices de poluição". Se a poluição for minimizada, os recursos que hoje são gastos em atender pacientes afetados pelo problema poderiam ser transferidos para atender outras epidemias.

Questionado por um dos participantes quanto a efetividade das áreas verdes no combate à poluição, o Dr. Chin disse que área verde é sinônimo de qualidade de vida, mas não necessariamente indicativo de ausência de poluição: "o Parque do Ibirapuera é uma das áreas com maior nível de ozônio na cidade de São Paulo", exemplificou.

O Químico Cláudio Darwin Alonso, gerente do Departamento de Qualidade Ambiental da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), afirmou que a questão ambiental é complexa, formada por um conjunto de questões, muitas das quais a população não percebe, creditando-as ao que chamou de "mágicas ambientais". "Quando você acorda de manhã", disse o Químico Cláudio, "você abre a torneira e magicamente sai água limpa; a água suja é eliminada, como por arte de mágica, pelo ralo. Você não percebe o custo de purificar a água nem de tratar o esgoto. Mas não há mágica que faça sumir a poluição do ar: quando existe, você percebe, seja pelo cheiro, pela cor da fumaça, ou por efeitos tais como irritação da vista, da garganta ou até por efeitos mais graves".

A qualidade do ar é afetada pelas diversas fontes de emissão (queima de combustível pelos veículos, ônibus, caminhões, chaminés industriais) e é caracterizada pela topografia e meteorologia próprias de uma determinada região. Os limites que determinam a qualidade do ar definem-se em função da pergunta: "Que qualidade de ar desejamos, de tal forma que o ar não cause problemas às pessoas?". A legislação já estabelece números que devem ser respeitados, e acredita-se que esses números sejam suficientemente rígidos para proteger a saúde das pessoas. Após definidos esses números, devem-se aplicar técnicas de controle, por um órgão que licencie, controle e  fiscalize, levando em conta considerações econômico-sociais.

Os dados exibidos pelo Químico Cláudio não deixam lugar a dúvida: o grande vilão, responsável pela geração da maior parte da poluição na região metropolitana da cidade de São Paulo, continua sendo a frota de veículos, principalmente os de passageiros. Mas há uma diminuição consistente nos índices. Na década de 70 o valor médio do índice de fumaça (partículas que provêm do processo de combustão) girava em torno de 100. Após um controle muito rígido das emissões industriais, e de intensificar o programa conhecido popularmente como caça-fumaça sobre a frota veicular diesel, houve, a partir de 1995/1996 uma queda acentuada e consistente no índice de fumaça. "No início do programa, 45% da frota estava desregulada; hoje, essa percentagem está em torno de de 8%".

O dióxido de enxofre (SO2), um componente da chuva ácida, que chegou até 140 em 1979, também apresentou uma baixa acentuada, e hoje gira em torno de 20. A CETESB considera este problema resolvido. A preocupação, hoje, é manter esses índices, mas "manter um programa e tão difícil e caro quanto implanta-lo", afirmou o Químico Cláudio.

Há, entretanto, um poluente cujo crescimento preocupa profundamente às autoridades: o ozônio, um agente extremamente agressivo à saúde, que ataca o sistema respiratório, à vegetação e aos materiais, acelerando sua oxidação. O ozônio não é emitido diretamente por fontes; forma-se, pela reação dos chamados precursores: COVs  (carbono orgânico volátil, gerado por solventes, combustíveis evaporados ou mal queimados), e  NOx (óxidos de nitrogênio, formados em qualquer processo de queima) na presença de luz , por isso chamado de fotoquímico. Na região metropolitana da cidade de São Paulo a presença de ozônio pode ser notada entre as 13h e 16h, mas dificilmente ocorre em dias frios.

"O controle do ozônio é difícil porque a fonte é múltipla, difusa, e ele se forma na atmosfera", explicou o Químico Cláudio. Os dados apresentados demonstram uma piora da situação no ano de 2001, quando comparados com os do ano passado. Em 2000, houveram 16 dias nos quais o ar esteve fortemente contaminado com ozônio; este ano, foram 35, mais do dobro. "Mas é difícil de saber se houve um aumento das fontes ou uma influência das características meteorológicas", segundo o Químico  Claudio.

Nota: O ciclo de debates sobre "Município Saudável" é organizado pelo gabinete do Vereador Gilberto Natalini.

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