Prefeitura e padre Lancelotti divergem quanto política aos moradores de rua
por Bruno Meirelles
Outubro 05, 2007

O Secretário Municipal de Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, falou nesta semana sobre as ações da prefeitura da Prefeitura direcionadas aos moradores de rua da cidade, durante uma apresentação na Câmara Americana de Comércio (AMCHAM). O tratamento a ser dado a essa questão gera divergências de opinião entre Matarazzo e o padre Júlio Lancelotti, fundador da entidade de apoio Casa Vida.

"É lindo ver o padre Lancelotti falar do 'povo da rua'. É o máximo termos pena deles, faz bem para a nossa culpa cristã, mas não resolve o problema do coitado que está lá. Sabemos que 80% dos moradores de rua tem algum transtorno mental ou dependência química grave, e o dever do poder público é cuidar dessas pessoas. O padre fala que sou higienista, que quero tirá-los da rua, e quero mesmo, tirá-los da rua, fazer dormir na cama, comer na mesa, tomar banho no banheiro", afirma Matarazzo.

Ainda segundo ele, os projetos da prefeitura têm se mostrado mais atrativos para os moradores de rua. "O Hospital das Clínicas está criando agora uma liga de médicos especializada em tratamento de moradores de rua, de doenças mentais e de dependência química grave. E o interessante é que o 'povo de rua' dele [padre Lancelotti] tem migrado para nós, pois eles dizem que preferem ter vida aqui na Terra, e o pós-Terra vão se preocupar depois. O padre Lancelotti recebe dinheiro da prefeitura todo mês para bater na gente como ele faz".

Para o padre Júlio Lancelotti, a principal diferença entre seu trabalho e as ações da prefeitura está no caráter distinto delas. "A prefeitura é poder público, e nós não. Somos sociedade civil e nosso papel é lutar para que os direitos assegurados nas leis sejam postos em prática. Mandar jogar água nas pessoas, retirar seus pertences, são sim práticas higienistas. As ações da prefeitura estão voltadas para tirar as pessoas de um local tão visível como o centro, e não para a garantia de direitos".

O padre Lancelotti acredita que a política ideal a ser adotada pela administração pública já existe no papel. "A prefeitura deveria aplicar a lei municipal 12.316/97 [exige instalação e manutenção de uma rede de serviços e de programas públicos que garantam mínimos direitos sociais e de cidadania a esse segmento social, incluindo direito de se localizar e referir na cidade, não discriminação e não violência, unidade familiar, restabelecimento da dignidade, da autonomia e da convivência comunitária], que foi construída em conjunto com a própria população de rua. Porém, o fato de ela não ser colocada em prática revela que eles continuam sendo alvo constante de preconceitos".

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