Delegado do 27 DP, Lupércio Dimov, dá dicas à população e fala sobre a atuação da polícia
por Entrevista por Mariana De Felice
Abril 09, 2007

Lupércio Antonio DimovLupércio Antônio Dimov, 52 anos, é o delegado titular do 27 DP em Campo Belo há 6 meses. Neto de russos, corintiano, formando na PUC, é casado há 6 anos e pai de um garoto de 5 anos. Dimov está nessa profissão há 20 anos e passou por diversos distritos da cidade, acumulando vasta experiência na carreira policial.

Sampa Online: Que locais a 27 DP atende?

Lupércio Dimov: A 27 DP engloba 5 bairros de grande dimensão: Moema, Campo Belo, Brooklin Paulista, Aeroporto de Congonhas e Jardim Aeroporto. Mas nós trabalhamos muito com os flutuantes, pessoas de outros locais. A gente leva isso em consideração nas estatísticas porque tem muita gente que vem para a nossa região procurando barzinhos, casas de show, o Shopping Ibirapuera, teatros, entre outros.

SO: Há quanto tempo o sr. está na 27 DP?

LD: Estou aqui desde 10 de outubro e nesses 6 meses nós esclarecemos dois casos de repercussão no bairro. Um foi o arrastão do Edifício Verona na Alameda dos Nhambiquaras [Moema]. Nós conseguimos pedir a preventiva de um criminoso. A mídia divulgou bastante esse caso. É difícil o próprio Distrito resolver esse tipo de crime porque existe uma delegacia específica do DEIC [Departamento de Investigações sobre Crime Organizado] para esses casos, mas nós conseguimos resolver por meios próprios. O outro foi um latrocínio de dois policiais militares, pelo qual nós recebemos um elogio também. Eles estavam fazendo a segurança de um carro de valores na Av. Santo Amaro e o carro foi roubado, houve troca de tiros e os dois foram mortos. Nós prendemos 4 pessoas em virtude desse crime de latrocínio [roubo seguido de morte] de PM´s no final do ano, em dezembro.

SO: Como o senhor ingressou na carreira policial? Tinha influência da família?

LD: O meu pai era Delegado estagiário. Naquela época não havia concurso, então o Secretário de Segurança nomeava os bacharéis em Direito. E eu também sempre gostei muito da carreira.

SO: Quais foram os pontos de destaque da sua carreira como policial?

LD: Eu sou delegado de primeira classe. Estou há 20 anos na Polícia Civil. Fui delegado do 16º DP, Vila Gumercindo. Fui Delegado Divisionário da DEATUR, que é a Delegacia de Atendimento ao Turista, que engloba delegacias dos aeroportos, Cumbica, Congonhas, Viracopos, uma delegacia no Porto de Santos e uma Delegacia na Av. São Luis que atende basicamente ao turista. Estou aqui agora e ao longo da carreira passei por muitos distritos da Capital.

SO: Como funciona essa mudança de Distritos Policiais?

LD: Normalmente é pelos casos que você resolve. A chefia de administração avalia o seu trabalho, a sua performance. Se você vai bem em um distrito eles vão galgando um distrito de maior complexidade para você dirigir, em bairros mais complexos. Há uns 5 anos atrás eu fui Delegado Titular de Itaquera, periferia. Fiquei um bom tempo em Itaquera e fiz trabalhos de destaque lá; recebi um prêmio do Delegado Geral como Policial do Mês pela desativação de uma fábrica de metralhadoras, que trabalhava por encomendas, fazendo réplicas de armas em uma residência. Duas pessoas ganharam prêmio do Delegado Geral. Então, ao longo da sua carreira você vai galgando conforme a sua avaliação, se é boa ou ruim, você vai ganhando notoriedade.

SO: Esta pode ser considerada uma região "privilegiada". Qual o tipo de ocorrências principais?

LD: Todo mês nós verificamos o INFOCRIM [permite o mapeamento temático para desenvolvimento de ações preventivas de grande envolvimento social]. No mês de fevereiro nós tivemos o maior número de incidências na Av Ibirapuera, com 33 ocorrências registradas, depois vem a Av Washington Luiz com 14 ocorrências, Vereador José Diniz com 13, Av Santo Amaro, 12 e a Av Bandeirantes com 8. A campeã é a Av. Ibirapuera porque lá tem shopping, muito comércio e bancos. E a maior incidência é de roubos em geral porque a região é rica, tem muito patrimônio. Ocorrem muitas “saidinhas de banco”, mas existem rondas periódicas para coibir, mas mesmo assim existem umas pessoas, em geral da extremidade sul, que migram para fazer roubo aqui, que é uma região mais rica.

SO: Quais conselhos o senhor daria às pessoas para minimizar as chances de ser assaltadas?

LD: Recentemente um aposentado retirou R$ 2300,00 do banco na Av Ibirapuera, pegou esse dinheiro e foi para um barzinho.Só que no meio do trajeto, na calçada, o ladrão tentou tirar do bolso dele o dinheiro e esse senhor reagiu; o ladrão disparou e acertou a dona do bar de raspão no ombro. Então o que a gente sempre aconselha é não reagir, tirar pouca importância do banco, o mínimo possível para pagar contas.

SO: Como os ladrões sabem? Eles possuem olheiros dentro do banco?

LD: Normalmente é complicado até para os serviços de inteligência da polícia, que tentam detectar, mas às vezes essas ações partem de funcionários do banco, que têm a informação sobre a quantidade de dinheiro que a pessoa está portando e avisam por telefone celular para quem está fora do banco. Por exemplo, nessa delegacia que eu trabalhei do turista, DEATUR, sabíamos que quando o turista descia no saguão, os criminosos já sabiam a marca do relógio, a pasta, o tipo notebook que ele estava levando e cometiam o assalto durante o trajeto. Orientava a mesma coisa: não andar no Aeroporto com anel, relógio de marca, tinha que tomar conta da bagagem e outros. No banco é a mesma coisa: não pode sacar muito dinheiro, deve ter a cautela de ir direto para o carro porque alguém pode estar te seguindo e, principalmente, não reagir, porque o principal patrimônio que a gente têm é a vida.   

SO: Há alguma obra prevista na antiga carceragem?

LD: Nos locais em que a carceragem foi desativada, nós vamos fazer umas 5 salas para utilização social. Já estamos na fase de colocação de piso. Vão ser utilizadas para, por exemplo, o atendimento ao idoso, ou qualquer área social para que esse espaço não seja mais utilizado para a carceragem. Nós tivemos uma fase em que a Polícia Civil cuidava de presos, levava para hospital, fórum. Aqui, por exemplo, tinham 150 presos. Uma das coisas boas que o Alckmin fez como governador foram os 11 Centros de Detenção Provisória (CDP). Nós estamos com perspectiva de inauguração em final de junho com a presença do Delegado Geral. A melhoria na Delegacia é uma melhoria para o bairro.

SO: Aqui é uma delegacia participativa?

LD: Não. A Delegacia Participativa já foi mais participativa. Não só no nome. Ela tinha mais funcionários. Houve uma defasagem de funcionários e hoje não há muita diferença entre a participativa e a normal. No início, quando ela saiu, tinha mais funcionários, assistentes sociais, mas agora a realidade não é essa. Aqui nós temos todas as características de uma delegacia participativa.

SO: O que o sr. acha da relação da imprensa com a polícia? O quanto o noticiário atrapalha ou colabora com o trabalho da polícia?

LD: Depende da imprensa. Tem alguns jornalistas que fazem do fato uma notícia sensacionalista para dar Ibope. Para nós isso não é bom. A imprensa tem que noticiar o fato friamente, não pode criar um sensacionalismo muito grande. Por exemplo, roubo a banco: existem 3 mil casas bancárias na Capital e começou a noticiar-se dizendo que teve dois, três roubos a banco diários. Você tem que noticiar o fato, você não pode fazer sensacionalismo e assustar a população. Você não pode deixar a população com medo de ir ao banco. Três, quatro ou cinco assaltos diários a banco, no universo de 3 mil agências bancárias, é pouquíssimo. Mas você não pode dimensionar isso na notícia. É como arrastão de prédio. Às vezes tem, porque existem muitos prédios aqui em São Paulo. Tem um ou outro mas era para ter mais. Aqui nós só tivemos um em seis meses e nós esclarecemos. Se você dimensionar o arrastão você cria um pânico. A imprensa é boa porque noticia um fato, mas se ela dimensionar o fato e criar um sensacionalismo muito grande, é bom para o seu programa, mas está assustando a população. 

SO: O que o sr. acha da renovação da polícia?

LD: Eu estou há 20 anos na carreira e o que eu acho importante é a vocação, porque às vezes muitas pessoas prestam concurso para polícia como trampolim para pagar uma faculdade, mas eu acho que para trabalhar na polícia tem que gostar, tem que ser vocacionado, tem que tem sangue de policial para ter um interesse. Não pode pensar só em salário, porque você tem que gostar da investigação, ter aquela alma do policial. Se for por salário, está na profissão errada.

SO: O que o sr. acha da redução da maioridade penal?

LD: Eu acho que tem que reduzir porque se o jovem de 16 anos pode votar, tem plena consciência dos seus atos, ele pode casar, ter filhos, ter uma iniciação sexual cedo, a responsabilidade também tem que ser criminal. Temos o exemplo de Embu, do Chapinha, esse menor que estuprou a Liana. Esse garoto tem que responder criminalmente.

SO: O sr. tem contato com menores infratores aqui? Qual é a postura deles?

LD: Diariamente. Infelizmente, aqui tem muito ato infracional, que é o tráfico de entorpecente em que utilizam menores. No ato infracional é ouvido o policial e a droga vai para exame. Por isso, é complicado para fazer o ato infracional. O menor chega na FEBEM e no dia seguinte é liberado e volta a comercializar a droga. No papel, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é moderno, mas na prática para nós ele deixa a desejar.

SO: Quais os planos para o 27 DP?

LD: A gente sempre pede funcionários. A delegacia dispõe de cinco delegados, 5 equipes, o que propicia que o policial tenha 3 dias de folga após o plantão diurno de 12 horas e no dia seguinte 12 horas noturnas. Esses 3 dias são importantes porque ele tem o convívio com a família e dá para ele se reestruturar. Três ou quatro equipes estava muito desgastante.

SO: O sr. gostaria passar uma mensagem à comunidade?

LD: Gostaria sim. A comunidade deve acreditar na polícia, que é a malha protetora da sociedade. Também é importante o registro de ocorrências na delegacia, porque nós temos um sistema de informatização que se detecta os locais que maior incidência criminal e desviamos nossa investigação para esse setor onde está mais carregado. E que, em caso de assalto, a vítima jamais deve reagir porque o maior patrimônio que a gente tem é a vida. E confiar na polícia.

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