Luiz Antônio Ribeiro Longo

Conheça o novo delegado titular do 96º Distrito Policial do Brooklin
Entrevista por Gislene Vieira Pereira e Jorge Marmion. Edição de Gislene Vieira Pereira
Abril 02, 2007

Luiz Antônio Ribeiro Longo, 46,  é o delegado titular do 96º DP desde janeiro. Ele formou-se em direito na faculdade Mackenzie no ano de 1985. Desde então o policial passou por diversos distritos policiais na cidade de São Paulo, além do Departamento de Narcóticos (DENARC), o que lhe conferiu grande experiência na carreira. Ele é casado há 21 anos e é pai de dois filhos.

SampaOnline: O sr. foi influenciado a seguir a carreira de policial?
Luiz Longo: Não, acho que foi por vocação mesmo. Desde a adolescência eu pensava em ser policial. Eu sempre fui muito curioso, queria ir a fundo em uma coisa e isso foi me atraindo, a possibilidade de fazer uma investigação.

SO: O sr. espera que algum de seus filhos siga seus passos?
LL: Não, não. O mais velho estuda administração, enquanto o mais novo quer seguir a área de marketing. Eles convivem com minha rotina desde pequenos e viram o quanto é sofrido.

SO:  O sr. se considera realizado na profissão?
LL: Toda a carreira traz coisas boas e coisas ruins; tem seus problemas e suas características. Eu não me arrependo. Às vezes a gente pensa "ela [carreira] poderia ser um pouco mais reconhecida, tanto pela área governamental, quanto pela população".  Os nossos acertos são geralmente notas de rodapé, enquanto o erro vira manchete. Mas a gente percebe que nos últimos tempos está havendo um expurgo dos maus policiais e isso traz para a gente um ânimo a mais, porque essa depuração só pode acabar em coisa boa. Policiais com má conduta já se tornaram exceção.

SO:  Há uma grande quantidade de "jovens" na polícia. A que o sr. atribui essa renovação?
LL: Realmente houve uma renovação de quadros. Há muitos investigadores universitários, os delegados são mais novos. Lógico que existe o pessoal experiente que continua no comando, mas houve um arejamento. Talvez tenha sido pela situação do País, que dificulta a obtenção de empregos, porque hoje há muita gente que vem prestar concurso na Polícia que têm qualificação para mais. Por exemplo, no último concurso para investigador exigia-se o nível médio, mas muitos tinham nível superior. Vê-se muita gente entrando na carreira de investigador de polícia que não precisaria nem trabalhar, pois tem elevado nível sócio-econômico.

SO:  O sr. não acha que houve uma glamourização  da profissão por causa de seriados de televisão que apresentam a polícia de uma forma muito positiva?
LL: A polícia nesses seriados é mostrada como sendo extremamente inteligente, hábil e com tecnologia. Mas essa glamourização é importada, porque na hora que a gente vai ver a realidade, ela não é aquilo ali. Houve um grande progresso em termos de tecnologia, armamento e viaturas. A gente nem imaginava há 10 anos que poderíamos utilizar viaturas descaracterizadas e hoje todos os segmentos da polícia utilizam-se delas. E não há só um modelo, que o marginal logo descobre que é da polícia. Temos carros desde um corsa 1.0 até um 2.0. O armamento também melhorou, apesar de que os marginais têm coisas que nem a polícia possui, porque para a gente há uma burocracia na legislação a ser cumprida enquanto eles conseguem as armas por meio de contrabando.

SO:  E quanto ao problema da interceptação da freqüência de rádio da Polícia por parte dos marginais? Há um meio de acabar com isso?
LL: Em termos de rádio-comunicação, estamos recebendo em breve rádios digitais que não permitirão mais interferência, e 90% deles não poderão ser "copiados", pois ele sairá codificado no emissor e será descodificado no receptor. Quem estiver no meio do caminho vai ouvir só barulho. Com isso daremos um passo importante, porque geralmente em grandes roubos a banco eles monitoram a chegada das viaturas por meio dos rádios.

SO:  Há explicação para o grande número de roubos a bancos vistos nos últimos meses?
LL: Há alguns anos também se via muito roubo a banco e o que aconteceu é que houve uma investigação ostensiva por parte da Delegacia de Roubo a Bancos que começou a trabalhar de forma incisiva em cima disso, identificando as quadrilhas, conseguiu descobrir o modus operandis e a forma como esse dinheiro era gasto; a maioria estava ligada ao tráfico de entorpecentes. Eles conseguiram prender os grandes chefes e mostraram aos bancos onde estavam as fragilidades. Daí virou "moda" os seqüestros relâmpagos, mas  logo a polícia conseguiu conter esses crimes. Depois veio o seqüestro mesmo. Conforme a polícia cerca determinado delito eles vão mudar para outro, isso é natural no mundo do crime. Agora o tráfico de entorpecentes está sendo muito combatido em São Paulo. Há grandes apreensões de drogas, monitoramento de quadrilha e muita gente vai para a cadeia.

SO:  O sr. acha que a imprensa pode supervalorizar os problemas de segurança e aumentar o pânico da população, como no ano passado no caso do PCC?
LL:  A notícia tem que chegar, mas não pode haver sensacionalismo. Um exemplo: no ano passado, um canal de televisão ficou uma semana mostrando as mesmas imagens. Me diz qual é a utilidade pública disso? Ela faz isso pelo lado comercial, para ganhar “ibope”. Isso é importante para a população? É justo com a polícia? Outra coisa, às vezes o jornalista tem uma informação importante sobre a investigação de algum caso e divulga isso na imprensa. A partir daí acabou a investigação. Muitos repórteres me perguntam o porquê de eu não dar entrevistas. E eu respondo: “se eu não posso te dar a notícia, para que vou dar a entrevista?”. Eu não vou falar para ele como anda a investigação. Eu vou dar uma entrevista quando eu puder dizer “começamos uma investigação há seis meses, daí chegamos no José e ele estava vinculado com isso e isso, que levou ao João, que teve a escuta telefônica quebrada e agora está todo mundo preso e está aqui o dinheiro que eles desviaram”. Essa entrevista eu dou.

SO:
 Há quanto tempo o senhor está no 96º DP?
LL:  Aqui eu estou pouco tempo, desde 11 de janeiro.

SO:  Quais são os pontos principais de sua carreira?
LL: Eu trabalhei em plantões policiais de atendimento ao público durante uns nove anos seguidos. Eu já trabalhei no 3º DP, no 5º DP, no 6º DP, no 8º DP, no 15º DP, no 27º DP, no 30º DP, no 29º DP, no 42º DP, no 21º DP... eu já passei por tudo! Já fui [delegado] titular do 56º DP, na Vila Alpina, fui [delegado] titular do 35º DP, no Jabaquara que também é um distrito pesado e agora estou aqui no 96º DP. Eu já conhecia a região porque eu havia trabalhado no 15º DP e no 27º DP. Facilita porque assim a gente já sabe o perfil da região.

SO:
 Quais são seus planos no 96º DP?
LL: Um objetivo: quando eu cheguei aqui eles já tinham um incêndio para apagar. Meu antecessor havia começado uma investigação, nós demos prosseguimento e graças a Deus conseguimos resolver. O problema era o furto de hidrômetros por causa do material de que eles são feitos. Eles são roubados para depois serem derretidos. A grande maioria dos que fazia isso era formada por carroceiros, que agiam durante a madrugada. Foi presa uma mulher que era uma grande receptadora e com isso houve uma redução de 95% dos roubos aqui na região. Um próximo problema a ser resolvido: roubo a bancos. Se o comércio dele [banco] é o dinheiro, ele tem que ter uma segurança um pouco maior. Outra coisa é que os bancos de nossa área estão em ruas de muito movimento. O que estamos fazendo para combater isso é colocar duas viaturas descaracterizadas que rodam pela zona bancária o dia inteiro. Fazemos sempre abordagem de motoqueiros principalmente, elementos suspeitos a pé, grupos de pessoas. A Polícia Militar também tem que fazer isso com a ronda ostensiva. É difícil porque eles [marginais] conseguem monitorar a gente, e nós não temos como monitorá-los. Mas estamos tentando, devagar estamos conseguindo. Os rádios digitais vão ajudar muito nisso. Outro problema que aconteceu aqui algumas vezes é que prendemos um indivíduo, e quando vamos conversar com ele, muitas vezes ele não sabe dizer quem foi mandante do crime. Eles são recrutados para fazer aquele serviço e não sabem direito sobre as ligações que existem na quadrilha. Assim fica mais difícil chegar ao chefão. Muitas vezes só temos as imagens da segurança do banco, mas uma hora ou outra conseguimos chegar, pois muitos são figuras carimbadas. E grande parte do dinheiro desses roubos vai para o tráfico de entorpecentes.

SO:
 E quanto à população, o sr. acha que ela é participativa? Os moradores vêm até o DP fazer boletins de ocorrência?
LL: Os boletins de ocorrência são feitos, mas alguns [moradores] não aparecem porque acreditam que nada será feito. Vou dar um exemplo: na semana passada prendemos um ladrão de laptop. Uma grande investigação foi feita, conseguimos várias vítimas que o reconheceram, tudo foi muito bem feito. Então ele foi preso por um roubo, em primeiro momento, e por mais cinco identificações. Depois de um tempo apareceu aqui um cidadão que ficou sabendo da prisão e queria fazer a identificação. Quando eu pedi o b.o., ele disse que não havia feito. Se ele não fez o b.o. ele nunca será chamado em lugar algum para reconhecer um ladrão. O cidadão nesses casos deve aparecer para fazer o boletim de ocorrência e acreditar que a polícia pode resolver o caso para ele. Quanto à participação nos CONSEGs [Conselho de Segurança Comunitária], a grande maioria vai lá com seu caso particular. Daí a gente vai ver o problema, resolve e nunca mais esse cara aparece. Nem para agradecer e dizer aos outros que o problema dele foi resolvido. Isso eu acho falta de participação da sociedade.

SO:
 O sr. acha que o cidadão pode sentir-se constrangido em fazer reclamações nos CONSEGs, visto que qualquer pessoa pode participar?
LL: Temos um controle de quem participa por meio de um livro de visitas. Mas realmente muitas vezes isso ocorre. O cara vai ter medo de reclamar de um traficante que fica na rua dele. Por isso eu acho que poderíamos rever esse modelo. Um representante do CONSEG poderia ficar todos os dias em horário comercial dentro da delegacia para ouvir as reclamações dos moradores, sem que eles necessitem falar com o investigador, com o escrivão ou com o delegado.

SO:  Essa é uma idéia que dá para ser colocada em prática?
LL: Eu gostaria de colocar até outras coisas em prática. Por aqui ser uma delegacia participativa, nós temos psicólogos e estagiários de direito à disposição da população. Isso é bom para os moradores, apesar de que a demanda é pequena e certamente mais pessoas precisam de ajuda como essa. Mulheres que sofrem agressão ou são constrangidas pelo marido recebem auxílio psicológico e são orientadas juridicamente pelos estagiários para saberem como proceder em casos como esses. E tudo isso sem precisar falar com nenhum policial. Esse tipo de serviço talvez não seja muito procurado aqui por estarmos em um bairro privilegiado, mas em locais de periferia esse tipo de serviço é muito procurado.

SO:
 O sr. é a favor ou contra a diminuição da maioridade penal?
LL: O Código Penal Brasileiro adotou o critério da idade de 18 anos porque entende-se que nessa idade há um desenvolvimento intelectual que permite o discernimento. Isso é uma teoria. Houve uma profunda modificação no Código no ano de 1984, mas não se discutiu isso. Eu acredito que outros critérios poderiam ser adotados. Por exemplo: qual é a maioridade penal de uma pessoa? Depende de cada caso. Eu acho que alguns jovens de 14 anos têm total consciência do que estão fazendo; porém há alguns de 18 que não têm. Talvez por um retardo mental, desenvolvimento intelectual insuficiente ou uma criação em um lugar ermo, onde não aprendeu que fazer xixi em frente a uma mulher é um ato obsceno. Então eu não posso repreender os diferentes de forma igual. Não gosto de comparações, mas na Inglaterra o menor responde de acordo com a ação dele e o quanto ele sabia que isso era errado. Aqui no Brasil parece uma utopia, mas o que poderia ser feito: primeiro passo, fazer uma análise psicológica para descobrir o quanto ela [pessoa] entende do crime que cometeu; com base nesse laudo a gente vê que tipo de pena daríamos a ela, uma pena normal, prevista no Código Penal ou uma baseada no Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim trataríamos os diferentes de formas diferentes e os iguais de forma igual. Acho que essa é a verdadeira justiça.

SO:  Para que time o sr. torce?
LL: Sou sofredor, sou palmerense.

SO:  O sr. acompanha o futebol pela televisão ou vai nos estádios?
LL: Meus filhos também adoram futebol, e desde pequenos quando eles me pediam para ir ao estádio eu respondia: “vamos”; mas sempre em jogos pequenos ou de uma torcida só. Jogos sem briga, sem encrenca.

SO: Gostaríamos que o sr. deixasse uma mensagem para a população.
LL: Embora a polícia tenha muitas dificuldades e limitações, quero que a população tenha sempre certeza que estamos abertos a atendê-la, fazer o melhor que nós podemos e buscar dar um pouco mais de segurança a ela. E precisamos fundamentalmente da colaboração dela [comunidade].

SO:  De que forma?
LL: Eles não podem esperar que a polícia haja por agir. Nós não temos bola de cristal. Informação é a alma do negócio da polícia; então qualquer informação que queiram nos dar pode me procurar, procurar a chefia de investigação. Eles não serão identificados. Tudo o que nos trouxer vamos analisar, filtrar, passar por uma equipe de investigação. Eles [investigadores] vão ver se há fundamento e se tiver as providências policiais serão tomadas. Quero pedir que se tente evitar ao máximo acreditar nas famigeradas “lendas urbanas”. Em caso de dúvida, venha à delegacia que explicamos se é real ou mentirosa, como nesse caso dos trotes em que ligam à cobrar dizendo que seqüestraram alguém. Seqüestradores não ligam à cobrar e não pedem dinheiro na primeira ligação. Eles querem causar pânico na família da vítima e ligam quando você já está desesperado. Tenham muito cuidado com os cartões de crédito. Nunca dêem o cartão na mão do garçom porque não sabemos por onde esse cartão poderá passar. Por isso tente não se afastar dele [cartão] porque hoje em dia uma clonagem de cartão pode causar um prejuízo muito grande. Por último, nunca responda e-mails oriundos de instituições financeiras ou imposto de renda pedindo dados. Ninguém trabalha dessa maneira; nenhuma instituição financeira manda e-mail para a casa do correntista pedindo para que ele confirme dados. A Receita Federal também não. Esses são os grandes golpes de hoje em dia, que estão mais em voga.
 


 

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