Conheça o Dr. Enjolras Rello de Araújo, Delegado Titular do 27º Distrito Policial
Abril 19, 2002
por Glaucia Noguera

Dr. Enjolras Rello de AraújoHá nove meses a frente dos trabalhos investigativos do 27º Distrito Policial, Dr. Enjolras Rello de Araújo se diz orgulhoso por poder colher os primeiros frutos de sua filosofia de trabalho que prega a valorização tanto do policial quanto do cidadão. Nesse período, o delegado titular acredita que já tenha conseguido mudar o ambiente do 27º, começando por uma atitude simples. "Mandei pintar todas as paredes de branco para apagar todo o cinza que havia e espalhar mais plantas pelos corredores". Nesta entrevista ao Sampa Online ele fala sobre trabalho e vida pessoal.

O senhor é casado? Tem filhos?
Sim. Sou casado há 18 anos com a Edna e tenho uma filha de treze anos chamada Letícia. Aliás, ela veio com quatro notas vermelhas no boletim e eu fui obrigado a deixá-la sem celular. Tirei também o mouse para que ela não possa usar o computador por um tempo. (disse, retirando o celular e o mouse da gaveta da mesa do escritório)

O senhor nasceu em São Paulo?
Sou de uma cidade chamada Boa Esperança do Sul, localizada no centro geográfico do Estado de São Paulo. É pequena, fica próxima de Araraquara 20km e tem cerca de 12 mil habitante. Vim para São Paulo garotão e por isso, a minha vida é São Paulo. Estou tão viciado em São Paulo que outro dia tirei cinco dias de férias e fui para Salvador. Ia ficar até terça-feira, mas não agüentei. Na Segunda-feira já estava de volta. Minha mulher falou que eu estava louco, mas eu vim. Foi até bom retornar antes, porque por volta do meio-dia da segunda-feira houve uma troca de tiros nas proximidades do Ibirapuera e eu já estava aqui.

O que São Paulo tem de tão especial?
Apesar de ser interiorano, eu adoro São Paulo. Amo esta cidade. Sempre brinco com a minha mulher dizendo que quando eu morrer quero ser cremado e que as minhas cinzas sejam espalhadas sobre a cidade. São Paulo é a minha vida e o centro do Brasil. Aqui, encontramos todos os recursos, tudo o que precisamos: as grandes faculdades, os grandes professores, os jornais, os cinemas. Isso para mim é importante porque sou um cinéfilo.

O que o senhor gosta de assistir?
Tudo o que for bom, tudo o que me agrada. Gosto de filme de romance, de aventura. A mesma coisa com a música. Não tenho um estilo preferido e digo que gosto mais daquela que me agrada o ouvido. Ouço um estilo em cada momento determinado, desde romântica, MPB até um "sambão". Depende do lugar que vocês esteja. Também gosto muito de dançar e sair com a minha esposa.

Vai ao cinema com freqüência?
Costumava ir mais. Gostava de freqüentar as salas do Shopping Morumbi e do Ibirapuera. Atualmente, tenho alugado mais fitas nas locadoras e assistido aos filmes em casa.

Tem algum outro hobbie?
Leitura. Gosto de Guimarães Rosa, Paulo Coelho, Jorge Amado, na fase dos contos nordestinos.

Por que esses autores?
Uma coisa pela qual eu tenho muita admiração é pela pessoa que fala bem, o orador. Essa é a paixão da minha vida e eu tenho todos os livros do Reinaldo Polito.

Já fez curso com ele?
Não. Ainda não tive oportunidade, mas sempre vou nas primeiras aulas de cada curso, porque essas são gratuitas. (risos). Quando estava iniciando na profissão, gostava de ir ao Tribunal do Juri para ver o debate. Gosto da réplica, da tréplica, do reflexo. Assisto até à TV Senado por causa dos debates.

O senhor tem algum ídolo?
Carlos Lacerda, Jânio Quadros. Essas pessoas que pegam o microfone e derrubavam todo mundo.

E o futebol?
Gosto muito de futebol. Eu não jogo, mas gosto muito de acompanhar. Sou são-paulino ferrenho, vou sempre no Morumbi. Quando eu assisto futebol xingo todo mundo e minha mulher fica até meio brava. Lá eu não sou delegado, sou cidadão comum e falo palavrão como todo mundo. Gosto de pegar amendoim e cerveja e ficar torcendo.

E a Seleção Brasileira?
Apesar de toda a crítica que se faz, o Brasil ainda é páreo. As outras seleções não estão muito superiores.

O senhor convocaria o Romário?
Acho que o Romário não está preparado para o futebol moderno. Tecnicamente ele é bom, mas fisicamente não está preparado para jogar. Por isso, eu não convocaria.

Passando para a parte profissional, o que o senhor acha desta imagem que se construiu em torno da polícia brasileira?
Brigo muito pela ética na polícia, pela cortesia para com a população. A delegacia é uma repartição pública como outra qualquer, como o Banco do Brasil, como a Secretaria da Saúde. Eu não admito que se maltrate quem quer que seja. Já removi daqui três delegados, um escrivão e um investigador. Nossa filosofia é de que o povo tem de ser bem tratado. A polícia é um órgão constantemente fiscalizado. A população nos fiscaliza, a Corregedoria nos fiscaliza, o Ministério Público nos fiscaliza e a imprensa também sempre está perto. Reconheço que temos defeitos, mas a mentalidade está mudando. Esses jovens delegados de polícia já estão pegando uma nova formação. Nossa conduta tem de ser exemplar porque na polícia expomos as nossas mazelas e qualidades. Mas falta humildade para algumas pessoas.

Falta humildade também para a população?
A vida é o relacionamento, a cortesia, a educação e você tem de ser respeitado pela humildade, pela postura. Estava no trânsito, vindo para o trabalho, e uma pessoa estava saindo da garagem de um prédio. Eu deixei ele passar, mas ele nem olhou para o espelho para agradecer. É isso que falta às pessoas. Costumo dizer que o lugar ideal para se conversar é o elevador. Um dia estava aplicando esta técnica, já que eu moro em prédio, e deu certo. Mesmo que seja um papo-furado, trocar umas palavras cativa as pessoas. Você se torna mais simpático.

Um momento de tristeza e um momento de alegria.
Um momento de tristeza foi quando mataram o Lula (Luís Carlos dos Santos, investigador de polícia). Nós trabalhávamos juntos no 83ºDP. Um dia, no final do expediente, nos despedimos. Ele demorou a chegar em casa e a esposa ficou preocupada. Ela me ligou duas vezes e, na segunda, percebemos que havia algo de errado. Iniciamos a busca e encontramos o Lula morto, assassinado, na manhã seguinte. Um momento de alegria foi na prisão do Maníaco do Parque. Fomos nós que começamos a investigação no 97º DP e, quando ele desembarcou do avião, já tínhamos os dados completos do criminoso, a forma como ele agia. Fizemos um retrato falado que a Globo mostrou em rede nacional. Com isso, me senti muito orgulhoso.

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