Adolescentes de Moema dão exemplo de cidadania
Agosto 24, 2001

Olívia Lucas e Tatiana Prado Vargas gostam, com todas as adolescentes, de dançar, ir ao cinema, passear, sair à noite. Mas para elas a palavra cidadania tem um sentido concreto. Conscientes dos seus direitos, mas também de suas obrigações, Olívia e Tatiana educam, através do balé, crianças das escolas públicas de Moema. "A sociedade não é fixa, a gente pode transforma-la, e nós queríamos tomar parte nessa transformação", afirma Olívia, 16 anos, que cursa o 2º colegial do colégio Bandeirantes: "O balé não é coisa da elite, é uma arte como todas as outras, à qual o povo tem de ter acesso".

Tatiana Prado Vargas, também com 16 anos, dança há onze anos. Atualmente cursa o 2º colegial no Colégio Moema, e conta como começou seu engajamento social: "Minha mãe era voluntária na Pastoral do Menor da Igreja Nossa Senhora Aparecida, eu ia ajudá-la nas festinhas". Ao ver o amor que as crianças tinham por sua mãe, e a alegria que o trabalho voluntário trazia às crianças, propôs a sua amiga Olívia, com quem estudava balé, ensinar dança às meninas. Tinham treze anos. Os primeiros três anos foram difíceis, já que o local não era apropriada para o ensino. No ano passado resolveram sistematizar o trabalho e criaram o Projeto Corpo e Alma, já que o balé "mexe tanto com o físico quanto com a alma", segundo Tatiana.

Após visitar as escolas públicas de Moema (Napoleão de Carvalho Freire, César Martinez e João Carlos da Silva Borges) e expor seu projeto, receberam oitenta solicitações de inscrição. Escolheram, por sorteio, trinta meninas, e começaram o trabalho em maio do ano passado. Como a maioria das meninas mora longe, Olívia e Tatiana peregrinaram pelo comércio do bairro solicitando ajuda financeira ou de materiais: "Inicialmente, devido a nossa idade, ninguém acreditava, mas no final a maioria ajudou". O Colégio Moema cedeu o auditório. O uniforme foi conseguido através de doação das grandes fábricas, e as sapatilhas, conta Olívia, "a gente pegou de achados e perdidos das escolas de balé". O lanche "é uma professora do prézinho do Colégio que dá", e as doações mensais de R$ 5,00 custeiam o transporte das meninas. "Se sobra algum dinheirinho, a gente repõe uniformes", diz OIívia.

Os resultados mostram que o trabalho está dando certo. "A gente percebe as diferenças; as meninas chegaram mais retraídas, não eram soltas, não tinham os conhecimentos gerais que tem hoje", afirma Tatiana, para quem o resultado é perceptível até na educação das crianças: "Um dia comparamos o boletim de uma menina e estava bem melhor".

As aulas não se restringem somente ao balé: conceitos como cidadania e cultura fazem parte das mesmas. Olívia e Tatiana criaram um jornal no qual expõem, mensalmente, o trabalho do Projeto e os conceitos estudados nas aulas.

Jornal "Projeto Corpo e Alma"

Entusiasmadas com o sucesso do projeto, Olívia e Tatiana, com apóio de suas mães, estão tentando um patrocinador que assuma as despesas do aluguel de uma casa, "para que a gente possa trabalhar de segunda a sexta só com o Projeto, ensinando não só balé como oferecendo curso de teatro, de música e de outros tipos de dança", diz Olívia. Um obstáculo é que o Projeto não é uma ONG, "já que precisamos de um advogado e os trâmites são muito complicados", diz Maria da Paz, a mãe da Tatiana. Mas quem superou, até agora, tantas dificuldades, com certeza enfrentará o futuro com a certeza de estar trilhando o caminho certo.

Como ajudar

Se você é advogado(a), e quiser prestar assistência jurídica ao Projeto, ou deseja contribuir, mensal ou esporadicamente, com o trabalho de Olívia e Tatiana, entre em contato com o Projeto.

Fotos

A aula de Olívia

Olívia Olívia

Olívia

A aula de Tatiana

Tatiana Tatiana

Tatiana

Tatiana

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