Comando da PM solicita à Prefeitura retirada dos ambulantes da Av. Adolfo Pinheiro
Julho 29, 2002

O Tenente Marcelo Salomão, comandante interino da 1ª Cia. do 22º Batalhão da Polícia Militar, solicitou ao chefe de gabinete da Administração Regional de Santo Amaro, Márcio Luiz da Costa, a retirada dos ambulantes da Av. Adolfo Pinheiro. Segundo o Tenente Marcelo, a presença dos ambulantes representa um problema de segurança: impossibilitados de utilizarem as calçadas, ocupadas pelos camelôs, os pedestres são obrigados a caminhar pela rua, arriscando sua integridade física. “Recentemente, uma garota teve a perna amputada após ser atropelada. A única solução é retirar esse pessoal.”, segundo Salomão.

O comandante da 1ª Cia. do 22º Batalhão da Polícia Militar, Capitão Djalma de Lima Santos, em férias, mas presente à reunião do Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG) de Santo Amaro, onde foi efetuada a solicitação, lembrou que há poucos meses todos os ambulantes foram retirados do local, após uma operação apoiada por sua Companhia. “Mas eles retornaram em número maior, e ninguém explicou até agora porque isso aconteceu”. O Capitão Djalma também expressou sua indignação com o assunto: "Meus policiais que trabalham no Largo 13 a pé passaram a ser objeto de gozação, e isso não posso admitir".

Márcio Luiz da Costa admite o problema, e reconheceu que "os fiscais têm medo” dos ambulantes. "Isso é crime organizado", afirmou, mas considera que o problema não é responsabilidade só da Prefeitura. O Ministério da Fazenda, a Polícia Federal, a Polícia Militar e a Polícia Civil são, segundo o representante do governo Marta Suplicy, co-responsáveis pela presença dos camelôs na região.

As autoridades presentes à reunião prometeram unir forças para a retirada dos ambulantes concentrados na Avenida Adolfo Pinheiros.O assunto voltará a ser abordado na próxima reunião do Conselho, marcada para a última segunda-feira do mês de agosto.

Leia também ...

na edição do dia 26 de julho de 2002 do jornal O Estado de São Paulo: "Fiscais corruptos arrecadam R$ 1,2 milhão com ambulantes

É bom lembrar que ...

No dia 15 de outubro de 2001, questionado pelo Dr.  Roberto Pavanelli, Presidente da 102ª Subseção da OAB (Santo Amaro) sobre a vontade política do PT em resolver o problema dos camelôs, o Eng. Nerilton Antônio de Amaral, Administrador Regional de Santo Amaro (hoje subprefeito) respondeu textualmente: "Não só há vontade política como estamos resolvendo. O Largo Treze ficou muito bonito; uma feira de hortigranjeiros que há oito anos estava no local saiu de lá e não volta mais.". O Eng Nerilton também afirmou que os camelôs que exerciam sua atividade no início da Av. Adolfo Pinheiro saíram de lá; "voltou uma parte, mas combinamos com eles que até sexta-feira eles vão procurar outro local e não vão voltar mais para lá. Ali há até risco de atropelamento; o outro dia até eu quase fui atropelado! É um absurdo, um verdadeiro crime". Leia a íntegra desta reportagem.

No dia seguinte ....

No dia 30 de julho de 2002, às 15h10, fomos ao Largo Treze, para constatar se a solicitação do Tenente Marcelo tinha sido atendido e a Prefeitura finalmente agiu para garantir a segurança dos munícipes. Eis nosso registro fotográfico.

A criança, junto com sua mãe, é obrigada a caminhar na rua, frente à Catedral de Santo Amaro, já que a calçada é ocupada por comerciantes irregulares. 

Desemprego? A alegação do PT que os camelôs são empurrados à rua pelo desemprego não tem sustentação. À direita, funcionárias uniformizadas de uma empresa de concessão de crédito que montou duas barracas na Av. Adolfo Pinheiro aguardam fregueses.

Segundo a AR/SA, os munícipes são também culpados do problema já que consomem os produtos comercializados pelos camelôs. A foto registra uma senhora, com uma criança, bebendo refrigerante comprado de um camelô que ocupa a calçada.

As ofertas dos camelôs são tão irresistíveis que nem os próprios funcionários do setor de Apreensão da Prefeitura conseguem evitar a tentação e acabam conferindo as bugigangas. Afinal, ninguém é de ferro, gente!

A resposta da Regional

Na matéria acerca dos ambulantes na Adolfo Pinheiro é feita referência de que a argumentação do PT de que os ambulantes são fruto do desemprego não se sustenta.

Respondo que o PT não considera o problema do modo simplista como foi colocado e sendo assim, cabem algumas considerações:

1) O comércio de ruas na cidade tornou-se parte de uma engrangem social e econômica na qual uma infinidade de produtos supostamente contrabandeados, falsificados e até mesmo fruto de roubo de cargas é comecializado. Junta-se a isto produtos legalmente adquiridos.

2) O desemprego não é a única resposta para a proliferação nos últimos 10 ou 15 anos do comércio ambulante, mas ele é parte constitutiva desta realidade. Se partirmos do pressuposto de que a espinha dorsal do comércio ambulante sustenta-se na teia do crime organizado, devemos levar em conta que o crescimento deste (crime organizado) encontra, não só no desemprego como também na miséria, a base social de seu desenvolvimento, haja vista que em toda a história das organizações mafiosas e correlatas a presença da pobreza é básica: máfia siciliana, "estados paralelos" nos morros e periferias do Rio de Janeiro, guetos de grandes cidades norte americanas e outros tantos exemplos.

3) O desemprego e a crise social representam um dos pilares de sustentação do crime organizado, em especial do tráfico de drogas, do roubo e também da comercialização de produtos suspeitos, sendo assim boa parte dos vendedores ambulantes são a ponta do iceberg de uma teia complexa de natureza criminosa que encontra, em muitos casos, na necessidade do desempregado e do excluído do sistema produtivo e tecnológico de nosso dias a "mão de obra" barata e necessária para viabilizar sua atividade. Isto de modo algum justifica nem o comércio ambulante e muito menos o crime organizado, porém, reduzir as coisas a meras frase como sendo sim ou não, ou seja se ambulante é ou não problema social é por demais simplista.

4) Em situações de crescimento econômico e estabilidade social, existe uma tendência à redução do crime organizado e vice-versa. Exemplo maior é a era dos gangsterismo nos EUA, onde o crime organizado cresceu em meio e aproveitando-se da grande depressão e seus nefastos efeitos sociais.

5) Apesar de perceber esta faceta da sociedade, o PT não considera o desemprego como justificativa aceitável para a proliferação sem limite do comércio ambulante, prova maior disto está na criação pela Prefeita da Força Tarefa, que procura atacar a raiz do problema, ou seja os núcleos de produção e distribuição das mercadorias iregulares comercializadas tanto nas ruas como também em lojas.

6) A gestão moderna do estado e principalmente das grandes cidades devem buscar não só resolver o problema do espaço público, ocupado de forma irresponsável e prejucial aos munícipes e ao paisagismo da cidade, mas principalmente deve procurar resolver a questão do emprego e de possibilidades de renda e qualidade de vida para os cidadãos, incluindo aí os ambulantes que também são brasileiros, seres humanos e como tal possuem direitos e deveres. Além disto, as políticas públicas devem, além de resolver o problema do espaço público, priorizar o combate ao crime organizado, "instituição" esta que está corroendo o poder público, degradando a sociedade, colocando em risco a democracia, os princípios da ética e o estado de direito.

7) Em suma, o desemprego não pode ser desculpa para o comércio ambulante, porém dizer simplesmente que são coisas sem nenhuma relação é o mesmo que "jogar fora a criança junto com água do banho".

Márcio Luiz da Costa
Chefe de Gabinete da Subprefeitura de Santo Amaro e Vice- presidente do PT de Santo Amaro 

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