Santo Amaro, o bairro que nunca deixou de ser cidade
por Maria Helena Petrillo Berardi
Janeiro 08, 2002

Prof. Berardi e Camilo Torres(Na foto à direita, a professora Berardi recebe um troféu das mãos do ator Camilo Torres, que interpreta o poeta Paulo Eiró, Ao fundo, o famoso painel da Associação dos Artistas Plásticos de Santo Amaro representando cenas do bairro.)

O Amaro que era Santo nasceu na Roma Antiga, no ano 513 DC. Tornou-se monge beneditino. Um dia encontrou uma criança aleijada; compadecido, abençoou o menino e, para a surpresa dos companheiros que o seguiam, a criança ficou curada. É um santo muito querido pelos portugueses.

A localidade com o nome de Santo Amaro tem sua origem na Catequese dos Jesuítas. Era uma das aldeias indígena em torno do colégio dos padres em Piratininga, chamada inicialmente de Ibirapuéra. Uma região descrita como “de relevo brando, com lindas e extensas campinas”. A peregrinação dos missionários pelas tabas indígenas aproximou as duas culturas. O noviço Pedro Dias, da Companhia de Jesus, desligou-se dos votos e casou com a índia Terebé, filha do Cacique Tibiriçá. O bandeirante Borba Gato, o padre milagreiro Belchior de Pontes e o Poeta Paulo Eiró são descendentes do casal.

A catequese foi se desenvolvendo e ergueu-se uma capelinha, onde uma imagem de Santo Amaro, doada por um casal, era ali venerada. Virou Paróquia, depois Freguesia. Acolheu o grupo de imigrantes alemães que se instalaram no sertão de terras devolutas formando a primeira Colônia alemã de Santo Amaro. E aqui ficaram os Krist, os Sellig, Klein, Gilcher, Helfenstein, Schunk, Conrad, Theissen, Kaspers, Schimidt, Roskembach, Bauermann, Schneider, Schafer, Lange, Kirschner, Krammer, Müller, Hessel, Heinickel, Glasser, Gottfried. Kuntz, Reimberg…*(lista do livro de Edmundo Zenha: “A Colônia Alemã de Santo Amaro”)

Em pouco tempo virou Vila, e chegava mais gente: Adolfo Pinheiro veio de Portugal e tornou-se escrivão, juíz de paz, delegado fiscal, tesoureiro e provedor da irmandade do Santíssimo, vereador, presidente da Câmera municipal e chefe político de prestígio. Depois de Adolfo Pinheiro, o Barão de Tietê, o Capitão Manoel Vieira de Morais, Francisco Antônio das  Chagas, Paulo Eiró, gente que fazia Santo Amaro crescer. Na metade do século XIX já era o celeiro de São Paulo. Enquanto o trem a vapor leva alimentos para São Paulo, as ruas ganham lampião e querosene para receber o Imperador D. Pedro II.

O primeiro bonde elétrico agita a cidade e os novos edifícios vão sendo inaugurados: a Santa Casa de Misericórdia, o novo Grupo Escolar, a nova Igreja Matriz, o teatro Pindorama que depois virou cinema. Muitas famílias estão aqui a muito tempo: os Branco de Araújo, os Guerra, os Padro, os Sgarbi, os Elias, os Borba, os Vieira de Morais, os Machado, os Luz, os Barroso…

O progresso atraia mais e mais pessoas. Algumas dessas famílias cruzaram oceanos e vieram morar em Santo Amaro: quem além dos primeiros alemães? Os Pongiluppi, os De Lucia, os Cataldo, Vaccaro, Benatti Tanchela, Robba, Poletti, Cirello, Paulinetti Rivelino, Manzini Pavanelli… ou ainda os Okamoto, Sato, Kitadai… me perdoem, vou esquecer muita gente!

Desde 1935 Santo Amaro deixou de ser uma cidadezinha independente, pacata e de características muito peculiares. O sentido de comunidade, tão intenso em tempos passados, diluiu-se quando aqui aportaram muitos e muitos brasileiros de outros lugares. Mas todos são bem vindos, todos contribuem para o crescimento desse bairro que continua cidade. Mas conservamos muitas tradições: as romarias a Pirapora, os milagres do Bento Portão, a pontinha de orgulho ao contar do ator Raul Cortês ( o pai dele foi prefeito aqui!); um jornal de Bairro com mais de 40 anos, as obras de um escultor de renome e talento, Júlio Guerra.  As  missas “aeróbicas” do Padre Marcelo, o museu de Santo Amaro, uma universidade de renome UNISA, além de outras, os “botina Amarela”, uma associação de artistas plásticos, outra de Mulheres “em sol maior” (que reúne mulheres que se destacaram em seu ramo de atividade e conquistaram o respeito e admiração de seus pares…) e ainda o CETRASA, (centro de tradições de Santo Amaro), onde o Dr. Alexandre Moreira, Roberto Pavanelli, os dois Bruno (pai e filho) seu “Manelão”, o artista Algacyr desafiam o progresso que lhes tirou o lugarejo sossegado de outrora. Assim é Santo Amaro e assim o amamos: muito peculiar, muito nosso!

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