Alcoólicos Anônimos, uma irmandade que deu certo
Outubro 23, 2003

Imagine uma Irmandade da qual, para fazer parte, basta você querer. Uma Irmandade onde os que ocupam cargos não exercem nenhuma autoridade oficial sobre os demais e cujos princípios básicos, apresentados como simples sugestões, podem ou não ser seguidos por seus integrantes.

Imagine enfim, uma Irmandade sem nenhuma regra, tipo de controle ou fichário de seus membros, da qual ninguém pode ser expulso não importa o que façam. E, para completar, uma Irmandade que não cobra absolutamente nada dos que dela participam, não aceite nenhuma doação vinda de fora e que se mantém exclusivamente da contribuição espontânea de seus membros.

Por incrível que pareça, esta Irmandade existe, já tem mais de sessenta anos e especializou-se em salvar vítimas da terceira doença que mais mata no mundo: o alcoolismo. Estamos falando de Alcoólicos Anônimos.

A doença

Existem muitas e variadas interpretações do que é realmente o alcoolismo. A explicação que parece ter mais sentido para a maioria dos membros de A.A. é que o alcoolismo é uma doença, uma doença progressiva que nunca pode ser curada. Como algumas outras doenças, porém, pode ser detida. Indo um pouco mais longe, muitos membros de A.A. acreditam que a doença representa a combinação de uma sensibilidade física ao álcool com uma obsessão mental pela bebida que, apesar das conseqüências, não pode ser superada somente pela força de vontade.

Antes de entrar para o A.A., muitos alcoólicos que não conseguem abandonar a bebida se consideram moralmente débeis e, possivelmente, desequilibrados mentais. Para A.A., os alcoólicos são pessoas enfermas, passíveis de recuperação se seguirem um simples programa, bem sucedido com outros homens e mulheres.

Uma vez que o alcoolismo tenha se fixado, não há pecado algum em ser doente. A esta altura, o livre arbítrio inexiste, porque o sofredor já perdeu seu poder de decidir se continua a beber ou não. O importante, porém, é encarar a realidade da própria doença e aproveitar-se da ajuda disponível. Também é necessário que exista o desejo de parar de beber. A experiência nos ensina que o programa de A.A. funcionará para qualquer alcoólico, quando este é sincero em seu esforço para abandonar a bebida: geralmente não funcionará para o homem ou mulher que não esteja absolutamente seguro de que quer parar.


Passos e Tradições

Já no decorrer dos primeiros anos da Irmandade, os fatos mostraram a relação entre o beber excessivo e algumas características da personalidade presentes na maioria de seus membros. Evidenciou-se também que, para levar uma vida de relativa paz e serenidade sem amortecer os conflitos através do álcool, o alcoólico precisa promover uma mudança nestas características melhorando-se interiormente. 

Para que o membro da Irmandade, já abstinente, pudesse melhorar gradativamente sua visão do mundo, foi elaborado um programa de recuperação intitulado OS DOZE PASSOS. Neste programa estão contidas sugestões a serem aplicadas pelo alcoólico em seu dia-a-dia. Embora de cunho espiritual, este programa não se prende a nenhuma seita ou religião, ideologia ou sistema filosófico, tanto que é seguido com êxito por alcoólicos adeptos das mais diversas doutrinas. Aliás, por representarem um programa de vida altamente útil, os Doze Passos foram adotados por outros grupos de pessoas com problemas em comum, e até por indivíduos sem nenhum problema específico, como diretriz às suas vidas.

Paralelamente a esses aspectos concernentes à recuperação individual de cada alcoólico, outras questões surgiram durante o desenvolvimento da Irmandade no que diz respeito aos relacionamentos entre os grupos que a integram e as atitudes de Alcoólicos Anônimos como um todo perante a sociedade e seus diversos segmentos. Através de tentativas, erros e acertos chegou-se a um conjunto de princípios denominado AS DOZE TRADIÇÕES. Estes princípios são seguidos por todos os grupos de A. A. do mundo impedindo que as imperfeições humanas desviem a Irmandade de seu objetivo básico que é o de ajudar os alcoólicos que ainda sofrem, e que, disputas internas por fama e poder minem sua maior força: A unidade. As Doze Tradições também garantem o caráter totalmente democrático da Irmandade, citado no início desta matéria, da mesma forma que asseguram o anonimato de seus membros.

Além da proteção conferida ao membro que inicia sua recuperação contra o estigma do alcoolismo, o anonimato lembra a todos a necessidade de colocarem os princípios acima das personalidades. Este é um ponto fundamental na recuperação de alcoólicos que, durante o alcoolismo ativo, caracterizaram-se pela megalomania e prepotência. O anonimato é uma medida salutar contra o fantasma da celebridade, tão comum aos alcoólicos na ativa, e permite a convivência entre pessoas cultural e socialmente díspares como homens e mulheres de todas as profissões, raças, credos e ideologias.

Como fazer parte ?

Existem cerca de 6.000 grupos de Alcoólicos Anônimos no Brasil, 500 em nosso Estado. Destes, 200 estão na Grande São Paulo. Estes grupos funcionam em salas disponíveis ou alugadas em igrejas, postos de saúde ou dependências locadas em prédios comerciais. 
Para ingressar em qualquer um deles não é preciso pagar nada. Basta o desejo de abandonar a bebida. Alcoólicos Anônimos têm membros voluntários para reuniões informativas em empresas, escolas, hospitais, sindicatos, instituições beneficentes, igrejas, etc. e coopera, sem afiliação, com profissionais e entidades que lidam com alcoólicos. 

Para obter maiores informações, ou simplesmente para saber o endereço do grupo mais próximo de sua casa, ligue para esta Central de Serviços.

Fax/fone: (11) 3315-9333 (plantão 24h) ou visite www.aa-areasp.org.br

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