A Evolução do Seqüestro
Hoje o seqüestro virou um crime banal, que atinge qualquer um de nós.
Novembro 10, 2000

Para o Dr. Maurício Guimarães Soares, ex-delegado titular da Delegacia Anti-Seqüestro da Polícia Civil, a banalização do seqüestro originou-se na década de 70, quando ativistas políticos foram detidos em presídios comuns. Originários de uma realidade sócio-cultural diferente, garantiram uma boa vizinhança transmitindo seu know-how aos presos comuns. Isto provocou a propagação de três crimes no sistema penitenciário: roubo a banco, ataque a carro forte (do qual Lamarca foi o precursor) e o seqüestro.

Porque aconteceu a banalização do seqüestro?

Há uma década o perfil do seqüestrável era típico: pessoas conhecidas, com padrão muito acima da média, bilionários, como Abílio Diniz, Luis Salles e vários outros. Esses casos ganharam super-exposição na mídia, e em um pais onde há mais antenas de TV que filtros de água potável, o criminoso comum acabou incentivado a se aventurar no seqüestro. No começo do seqüestro a exposição é maior (divulga-se o pedido de um milhão de dólares de resgate), e o ladrãozinho de carro pensa: "o negócio é ser seqüestrador". O que ele não sabe é que no seqüestro bem negociado não se paga mais que cinco a dez por cento da exigência inicial.

Outro fator que empurrou marginais a esta atividade foi o aumento das medidas de segurança no sistema bancário e nas empresas. O roubo a residências, com raras exceções, está restrito à classe média baixa. Não há dólar nem jóias nas grandes residências, e roubar eletro-eletrônicos não compensa mais, já que esses objetos estão cada vez mais baratos. 

Como o crime patrimonial tradicional, o roubo, está cada vez mais difícil, o quê o marginal faz? O marginal não vai abandonar a carreira por causa das dificuldades; vai procurar outras modalidades de crime, outras fontes de sustento. Pega sua filha na saída da faculdade, e aí acabou o muro de proteção, a câmera, o alarme. O seqüestro é o modo de atingir o que antes se atingia pelo assalto, pelo roubo.

Hoje tanto o perfil do seqüestrador quanto o da vítima é outro. Cada vez mais ladrões despreparados, que não sabem diferenciar entre patrimônio e liquidez, estão aventurando-se no seqüestro. Há, no mesmo mês, pedidos de resgate de 3 mil a 3 milhões de Reais. Antigamente o "seqüestrável" era o grande empresário, o milionário; hoje a situação é preocupante porque pode atingir qualquer um de nós. Os "bons" seqüestradores nunca escolhem executivos visando extorquir a empresa, mas muitas vezes o patrimônio pessoal daquele executivo já é suficiente -pelos padrões atuais- para ser vítima de seqüestro. Já houve até casos de seqüestro de funcionário publico. Um executivo com BMW '94 já é uma vítima atraente.

Nota: esta matéria foi baseada em notas extraídas pela produção do Sampa Online na palestra proferida pelo Dr. Maurício Guimarães Soares, delegado titular da Delegacia Anti-Seqüestro da Polícia Civil, na AMCHAM. Sua reprodução só é permitida mediante autorização da produção do site.

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