O crime organizado avança no seu processo de infiltração na sociedade
Maio 22, 2001

Guilherme Afif Domingos, presidente emérito da Confederação das Associações Comerciais do Brasil, falou, no recente lançamento do Projeto de Mobilização Empresarial na Distrital Santo Amaro, sobre a presença do quarto setor -o crime organizado- nos diversos setores que compõem o País.

Afif reconhece três grandes setores atuando no País: "O Primeiro Setor é o poder, é a União, o Estado, o  Município, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.  O Segundo Setor somos nós, os empreendedores, os empresários e profissionais liberais, todos que atuam na livre iniciativa e seus trabalhadores. O Terceiro Setor, uma magnífica estrutura que até então estava escondida, são as associações beneméritas".

Mas há um Quarto Setor, que atua como um fantasma, que se chama crime organizado e, segundo Afif, este Setor está se infiltrando em todos os outros: "Está infiltrado no Primeiro Setor, porque não tem ladrão que não tenha proteção de polícia, não tem ladrão que não tenha proteção de justiça e não tem ladrão que não tenha proteção do Executivo ou dentro do Legislativo. Porque hoje tem Representante bandido, sim, e isso está provado pelas CPIs que começam a aparecer, começa a se desvendar exatamente essa enorme metástase do crime organizado se infiltrando no Primeiro Setor".

Para Afif, o Quarto Setor continua avançando: "Agora também está entre nós, no Segundo Setor. Eu não sei se hoje, do meu lado, quem está concorrendo comigo vende mercadoria comprada ou roubada. Hoje há bandidos vendendo, em postos da combustível, gasolina misturada com solvente, para vender mais barato. E isso é um crime que nós estamos assistindo todo o santo dia, fruto de uma quadrilha que está atuando em todo o território. Isto não é crime organizado?"

Mas o crime organizado não se detém por aí: também "está presente no terceiro setor; ele se infiltrou nas instituições de benemerência, ou com fachada de benemerência, e eu vou contar alguns casos para vocês. O Carrefour de Pernambuco compra lote de celular roubado; você acha que para vender para o Carrefour o que vendeu não é um pé de chinelo; é uma empresa organizada. Segundo exemplo: de novo o Carrefour, e por conta disso o presidente já foi mandado embora, já que se acostumou muito rápido ao jeitinho brasileiro  de acertar as coisas.  O Carrefour abriu uma loja nas imediações do Morro da Rocinha. No primeiro mês, 12 assaltos. Chama a polícia  e registra, até que recebe a visita da turma do tráfico: "O senhor quer que acabem os assaltos aqui? Nos contrate que a gente faz a segurança. Mas tem uma condição: a polícia dos homens não pode pisar aqui que o território aqui é nosso; nós é que mandamos aqui". Aí o Carrefour aceitou e a partir daquele dia nunca mais teve um assalto, só um, algum desavisado que foi roubar lá no território. Não passou uma hora  que estava preso; foi levado ao gerente e perguntaram: "o que o senhor quer que a gente faça com ele?" Portanto aplicam a justiça também ali na hora. Agora, como o Carrefour, uma empresa organizada, pagou isso? Muito simples: é chique lá no Rio até  a alta sociedade se relacionar com a comunidade, tem até um cineasta que ficou amigo do Fernandinho Beira Mar e lhe dava mesada. O Quarto Setor está fazendo benemerência; eles tem uma entidade e essa entidade recebia as doações do Carrefour".

Para Afif até as rádios comunitárias, criadas "com as melhoras das intenções", estão sendo utilizadas pelo crime organizado para controlar o tráfico em seu território. "Está na hora de separar o jóio do trigo", concluiu.

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