Especialistas discutem as causas da violência
Março 21, 2002

Evando Freitas de Souza, presidente da AAPSA, disse que "dentro da visão macro econômica a organização que mais tem condições de desenvolver mudanças é a empresa, que por sua vez é provocada pela sociedade -que somos nós- a desenvolver um novo papel de buscar um relacionamento com a comunidade além da busca do lucro". 

Para Lívio Giosa, membro do Conselho do Instituto São Paulo contra a Violência, o "processo destrutivo" de nossa sociedade começa pela mídia: as novelas, por exemplo, são uma violência contra a família: "Em cada novela um ator se relaiciona, pelo menos, com três atrizes. Como pode ser que nossos filhos olhem para aquilo e pensem que é normal?". Isto é, para Lívio, uma violência contra os valores mais simples da vida familiar. Lívio finalizou seu discurso dizendo que esperava que "a causa pela não violência seja o estandarte para a vida de cada um de nós".

O Vereador Gilberto Natalini também concordou que a mídia é responsável pelo aumento da violência: "nos programas de auditório, nos filmes, nos desenhos, tanto a violência quanto a questão sexual vai banalizando". Mas, para o Vereador Natalini, há outros agravantes: "o álcool, que é a droga mais acessível e mais barata" e certa "frouxidão ética" na religião. Hoje a pessoa não se intimida mais com aquilo que "se você não fizer o bem tu vai para as profundezas; de onde a gente menos espera as vezes sai uma maldade"

O Capitão Djalma de Lima Santos, Comandante da 1ª Companhia do 22° Batalhão da Polícia Militar, disse que "não adianta a gente ficar apenas discutindo o assunto; nós precisamos buscar soluções", afirmando que "a policia está totalmente aberta para o exercício da cidadania". Mas o policial também precisa sentir que é valorizado: "O governo de São Paulo é muito rico, e pode trazer efetivamente recursos de nível nacional -tanto recursos federais como externos- para gerar esse processo de melhoria em termos de recursos. Precisamos também valorizar o policial, por que não adianta o policial ter um carro de última geração, todo blindado, se a sua auto-estima é baixa; isso torna o seu potencial de ação limitado". O esforço da Polícia Militar em implantar o policiamento comunitário esbarra, nas áreas mais privilegiadas da cidade, "onde a criminalidade atua mais fortemente", em um problema: as pessoas estão vivendo individualmente, sem conhecerem seus vizinhos. "Como é que nós vamos implantar o policiamento comunitário em uma sociedade que não vive em comunidade?", questionou o Capitão Djalma. Comunidade é, segundo um sociólogo contratado pela Polícia para ajudar na implantação do policiamento comunitário, "um grupo de pessoas que estão em um processo de interação, integração e cooperação". Para o Capitão Djalma "o sistema prisional atual não educa ninguém, mas prefiro ter um mal-educado preso de que um mal-educado na rua. Tem pessoas que são ladrões por profissão; você pode dar todo os cursos, estrutura, etc., que ele vai voltar para área do crime porque é sua profissão. Não adianta; esse tem que ficar encarcerado, não tem jeito em qualquer sistema prisional, são irrecuperáveis. Talvez os sociólogos e psicólogos tenha uma posição diferente da minha, que é formada na vivência na prática". Para não economizar paz "cada um de nós vai ter que dar um pouco mais, vai ter que se preocupar com o seu vizinho para que ele também se preocupe com você. Cada um de nós tem de participar, mas não é só em segurança publica: é em tudo aquilo que seja referido à comunidade local, e efetivamente participar. Só que aí as pessoas tem que sair do anonimato -e a cidade grande empurra as pessoas para o anonimato- e se expor. Mas se expor não é enfrentar um delinqüente; quem faz isso é a polícia. De repente tem uma lâmpada queimada e eu penso: "o vizinho vai ligar para trocar", de repente tem um terreno ao lado que está vazio e o mato está crescendo, e aí penso: "o problema é da Prefeitura, ou do dono do terreno", só que aquele mato pode ser um esconderijo de um infrator para praticar um atentado contra pessoas; uma calcada com um buraco pode gerar um processo de acidente em uma pessoa que está passando. "Mas eu pago os meus impostos e não quero nem saber; a Prefeitura que tem que passar lá e tampar o buraco". Não é assim, você deve participar e acionar o poder publico para que ele possa agir, e para isso é preciso sair do anonimato, perder um tempinho conversando com os vizinhos, perder um tempo numa reunião, participar de um debate. Porque quase ninguém vai às reuniões de condomínio? Porque ninguém quer se expor; "o síndico que se vire". O Capitão Djalma exortou à comunidade a confiar na Polícia, que apesar de trabalhar com poucos recursos, "trabalha com uma profissão de fé e voluntariedade".

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