Sesc Vila Mariana abre trigésima edição do Ciclo Mutações

Setembro 19, 2016

Enquanto a 30ª Edição do Ciclo Mutações tem por missão rememorar e atualizar as temáticas tratadas em realizações passadas, o filósofo francês Francis Wolff ficou incumbido de desenvolver uma reflexão sobre um assunto que relaciona-se, intimamente, com o mesmo: a amizade. A ocasião, que contou com boa presença de público, se configurou como um retrato fiel do interesse público pelas discussões promovidas pelo ciclo.

Vale ressaltar que, nos 30 anos do Ciclo Mutações, mais de 800 ensaios trouxeram temas como as paixões, o olhar, o desejo, a política, a ética, a civilização e a barbárie.

PROGRAMAÇÃO E TEMAS DAS PALESTRAS:
15/9 – O olhar (O Olho e a História) / João Carlos Salles
Sentir, perceber, ver, desejar, lembrar, ter a intenção, notar aspectos, interpretar etc. Tudo isso é cifrado pelo saber de um sujeito afirmado em primeira pessoa do singular, um sujeito que, na maioria das vezes, vê significações e nota aspectos que, ao invés de resultarem de um sujeito pré-constituído, estabelecem seu lugar e o constituem. Um sujeito que realiza performances, que segue regras e, enfim, incorpora os sucessos e fracassos à determinação do significado de cada uma das operações subjetivas.

22/9 – Tempo e História / Marcelo Jasmin
Quando se acreditava que o tempo era o da repetição ou o da circularidade, a história teve a função de ensinar por meio de exemplos, guiando os seres humanos no presente de incertezas, dando-lhes alguma segurança pela narrativa das experiências de seus antepassados, vitoriosos ou fracassados. Quando se concebeu o tempo como uma linha infinita pela qual escorria uma mudança que deixava o passado para trás, a história foi alçada ao patamar de ciência da humanidade, ganhou unidade ontológica, direção e significado, sendo, então, responsável por indicar os caminhos para um futuro por vezes redentor.

30/9 – A Invenção das Crenças (Uma Antropologia da Crença) / Renato Lessa
Crenças são, além de mapas cognitivos e práticos orientados para a ação, sedes das sensações mais fundas de certeza. É no abrigo da crença – e não no cotejamento com a materialidade das coisas – que as sensações epistêmicas de verdade são usufruídas. “Crer na verdade”, nesse sentido, é uma condição necessária para que o sujeito a vivencie como tal, como caução necessária à convicção.

5/10 – Civilização e Barbárie (Nós, os Bárbaros) / Newton Bignotto
Olhando para o cenário de destruição que se seguiu às experiências mais radicais e violentas no último século, pode-se dizer que se adentrou na época de uma nova barbárie e não naquela de uma nova civilização. Esse cenário de desolação foi descrito por Paul Valéry, em “A Política do Espírito”, da seguinte maneira: “O mundo que dá o nome de progresso à sua tendência a uma precisão fatal busca unir as benesses da vida às vantagens da morte. Certa confusão reina ainda; mas em pouco tempo tudo se esclarecerá e veremos enfim surgir o milagre de uma sociedade animal, um perfeito e definitivo formigueiro”.

6/10 – O Homem Máquina (O Amor na Era Digital) / Francisco Bosco
Com efeito, o estado passional é ainda um valor forte nos dias de hoje. Mas é duplamente depreciado, assim como é a experiência do amor como construção de uma “perspectiva da diferença”, como define Badiou: de um lado por um interesse subjetivo em esvaziar-lhes os riscos constitutivos, submetendo o imponderável de seu acontecimento a uma espécie de encontro arranjado moderno, uma mentalidade “securitária” (ainda Badiou), propiciada por sites de relacionamentos que, por meio da onipresente lógica do algoritmo contemporânea, prometem “o amor sem o acaso”; de outro, por uma sobrevalorização extrema do sexo, espécie de materialismo radical, facilitado por sua vez pelos aplicativos de paquera.

7/10 – Muito Além do Espetáculo (Muito Aquém da Superação) / Eugênio Bucci
Entendido por Guy Debord como nada menos do que o modo de produção capitalista em outra potência – “é o capital em tal grau de acumulação que se torna imagem” –, o espetáculo põe em cena o olhar como dispositivo-mestre. Não poderia ser diferente, pois o espetáculo não é meramente o império das imagens.

14/10 – O Silêncio dos Intelectuais (Entre o Silêncio e a Irrelevância) / Marcelo Coelho
Foi num sentido muito preciso que Jean-Paul Sartre se referiu ao intelectual como “aquele que se mete onde não é chamado”. Em suas conferências no Japão, em 1965, ele apontava a contradição existente entre o saber particular, técnico e especializado de um estudioso ou cientista, e a ideologia de uma classe – a classe burguesa – que não podia se acomodar a valores como a verdade e o interesse universal. Desse modo, surgia para Sartre a alternativa: ou o especialista se conforma na busca da verdade em seu campo específico de atuação – e, restringindo-se a isso, orgulha-se de não ser um intelectual –, ou nota o particularismo de sua ideologia, deixando o papel de simples “agente do saber prático” para se transformar num intelectual, “que se mete no que é de sua conta (em exterioridade: princípios que guiam sua vida, e interioridade: seu lugar vivido na sociedade) e de que os outros dizem que se mete no que não é de sua conta”.

21/10 – Libertinos Libertários / Pascal Dibie
A libertinagem não é mais aceita ou é muito mal aceita em pleno século 21. Todos lembram que a Europa do século 17 teve um retorno à ordem no domínio da moral e da religião, retorno que somente uma família de espírito combateu, pondo bem alto a independência do pensamento: os libertinos. A palavra pertence à linguagem da polêmica e à polissemia e deve-se buscá-la do lado da liberdade. É verdade que há indisciplina, irreligião e mesmo um gostinho de devassidão quando esse adjetivo se fixa, mas há também – e sobretudo – a ideia de um “ser apaixonado por independência, que odeia a coerção sem nunca se afastar da honestidade”.

26/10 – O Esquecimento da Política (As Novas Docilidades) / Frédéric Gros
Hoje permanece a suspeita do esquecimento do político. E se a obediência do sujeito às leis não fosse de natureza propriamente política? Três principais modelos de obediência foram propostos, de maneira ou crítica, ou mistificadora, todos eles destacando uma ultrapassagem do político. Em primeiro lugar, a subordinação: o sujeito deve obedecer às decisões de seus dirigentes como a criança obedece aos pais, o ignorante ao perito, isto é, ao reconhecer a autoridade de quem dá ordens, supondo nele ciência e bondade. Em segundo lugar, a submissão: o sujeito obedece às leis porque elas lhe são impostas por uma classe dominante que o oprime e que tem a justiça e o exército a seu dispor. Obedece porque é prisioneiro de uma situação que o torna inferior, vítima de uma relação de forças dissimétrica. Por fim, o sujeito talvez obedeça por conformismo: faz como os outros, obedece como um autômato, um robô, uma máquina formatada.

1/11 – Fontes Passionais da Violência (O Sono da Razão) / Jorge Coli
Vênus agrega. Marte fecunda. Daí que, junto ao progresso em meio à harmonia, a história progride por meio da violência. Isso de que a Revolução Francesa é exemplo. E hoje? Como conceber a sistematização da violência ilegítima?

3/11– A Outra Margem do Ocidente (Nos Limites do Mundo) / David Lapoujade
Não há fronteiras e limites para o capitalismo – diz-se. Por que, então, sociedades fundadas no controle total? Em outra escala, por que a instituição de mais de 30 mil quilômetros de novas fronteiras internacionais? Isso sem tratar das novas limitações que cada um encontra diariamente em seu trabalho, em seus direitos sociais, em sua liberdade – liberdade tão mais restrita.

Serviço
30º Ciclo Mutações
Horários: Quartas, quintas e sextas, às 10h30
Local: Auditório do Sesc Vila Mariana
Endereço: Rua Pelotas, 141 - Vila Mariana, São Paulo
Classificação etária: não recomendado para menores de 14 anos
R$ 20,00 (inteira) por palestra
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