Nos 110 anos de nascimento de Guimarães Rosa, uma programação especial sobre o autor no Sesc

Outubro 30, 2018

Neste ano de 2018 celebram-se os 110 anos do nascimento de um dos maiores expoentes da terceira fase do modernismo brasileiro. Formado em medicina, foi nas letras que o mineiro de Codisburgo, João Guimarães Rosa, ganhou notoriedade ao retratar de forma ímpar o sertão de Minas Gerais. O Centro de Pesquisa e Formação do Sesc propõe, nos meses de novembro e dezembro, uma reflexão sobre a produção deste grande autor brasileiro e coloca em debate sua literatura, seu engajamento político social, a geografia e misticismo de seu sertão.
Entre os temas das palestras e cursos que compõe a programação estão A literatura de Guimarães Rosa e o cinema; As dobras do texto na obra de Guimarães Rosa; Poty e Luís Jardim: Ilustradores de João Guimarães Rosa; além da relação entre o sertão e o inconsciente; a questão do destino e acaso em Grande Sertão: Veredas; a música na prosa de Guimarães Rosa; a literatura de Guimarães Rosa e o nazismo.

Confira a programação:
SER TÃO GRANDE: GUIMARÃES ROSA EM DEBATE


NOVEMBRO

A literatura de Guimarães Rosa e o cinema
De 5 a 8/11, segunda a quinta, das 14h às 17h
R$60,00 / R$30,00 / R$18,00

João Guimarães Rosa era um admirador do cinema, o que se nota em seus comentários verbais registrados, por exemplo, por seus amigos cineastas, como Glauber Rocha, para quem afirmou que muito apreciava os filmes de Akira Kurosawa. Neste curso, é valorizada e analisada essa citação, aproximando alguns contos de Tutameia com o filme Rashomon, de Kurosawa, por exemplo.
A morte e o silêncio são os dois eixos temáticos que sustentarão as análises, que ainda abrangerão os possíveis diálogos entre o conto "Soroco, sua mãe e sua filha", de Rosa, e O sacrifício, de Andrei Tarkóvski, um cineasta que provavelmente o autor brasileiro não conheceu, mas que guarda profundas coincidências com ele, principalmente pela fixação por assuntos transcendentes.

Com Julio Augusto Xavier Galharte, pós-doutor em Teoria e História Literária pela Unicamp, Mestre e Doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP. Já atuou como professor da UEMS e UFMS. Tem artigos publicados em periódicos científicos e capítulos de livro sobre literatura e cinema.


As Dobras do texto na obra de Guimarães Rosa
Dia 14/11, quarta, das 19h30 às 21h30
R$15,00 / R$7,50 / R$4,50

A proposição de território literário firma-se nos caminhos da obra entre espaço, sons, imagem e várias outras ações literárias que resultaram na valorização da cultura local e na relação estabelecida pelas comunidades com seu território, revitalizado a partir da literatura.
Esta palestra abordará diálogos interartísticos entre texto e imagens (pintura e bordado); texto e som (literatura narrada de cor) e ressaltará aspectos da recepção e difusão da obra de João Guimarães Rosa pelo sertão.

Com Elizabeth Maria Ziani, professora e pesquisadora nas áreas de literatura e memória. Doutora em Estudos Comparados pela USP. Desenvolve projetos culturais e educacionais em cidades relacionadas à vida e à obra de Guimarães Rosa (Cordisburgo/Morro da Garça/Andrequicé). Curadora de projetos e exposições, como "Do Danúbio ao São Francisco - Guimarães Rosa para todos" (SP), "Brasil Fio a Fio" (SP), entre outros. Dirigiu o documentário: Conto o que vi, o que não vi, não conto.


Poty e Luís Jardim: Ilustradores de João Guimarães Rosa
Dia 26/11, segunda, das 14h30 às 16h30
Grátis

A proposta da palestra é destacar a ilustração em seu viés artístico; elucidar o contexto cultural da época e a importância da José Olympio Editora neste contexto em que especial atenção era dada ao aspecto visual do livro; assim como, apresentar as obras destes dois artistas, suas trajetórias e as técnicas por eles utilizadas.
A apresentação das capas e miolos de livros ilustrados pelos artistas para obras de João Guimarães Rosa e também as de outros escritores permite o estabelecimento de relações e comparações entre inúmeras edições da época e edições contemporâneas. Especialmente, destacam-se as ilustrações criadas para livros de adultos, uma prática muito comum no período.

Com Sonia Magalhães, ilustradora, artista plástica e professora de artes. Realiza ilustrações para revistas e livros sempre por meio da colagem. Há 20 anos, pesquisa sobre os ilustradores de João Guimarães Rosa: Poty e Luís Jardim. Em 2016, recebeu indicação para Prêmio Jabuti.


Guimarães Rosa: dois olhares que conversam
Dia 28/11, quarta, das 19h às 21h
R$15,00 / R$7,50 / R$4,50

Nesta edição da série “Dois olhares que conversam”, Yudith Rosenbaum, psicanalista e professora de Letras da FFLCH-USP e Heinz Dieter Heidemann, professor de geografia aposentado da FFLCH-USP, debatem sobre diferentes aspectos da obra de Guimarães
Rosa. Yudith enfatiza a linguagem, a relação entre o sertão e o inconsciente e a questão do destino e acaso em Grande Sertão: Veredas. Dieter, morador do Morro da Garça, apresenta as paisagens roseanas, a relação do autor com a geografia e a cartografia e suas anotações que compõem as cadernetas da Boiada, de 1952.

Com Yudith Rosenbaum, professora de literatura brasileira na FFLCH-USP e pesquisa a interface da literatura com a psicanálise.
Com Heinz Dieter Heidemann, professor de geografia humana na FFLCH-USP e explora as relações entre geografia e literatura, no sertão mineiro e nordeste do Brasil.
Mediação de Tania Rivitti é educadora, trabalhou no Centro Universitário Maria Antonia/USP e coordena cursos de extensão nas áreas de Artes, Design, Filosofia, Literatura e Psicanálise em diferentes instituições.

DEZEMBRO

O encontro do menino Rosa com os miúdos portugueses
Dias 1 e 8/12, sábados, das 10h às 14h
Inscrição - R$50,00 / R$25,00 / R$15,00

O curso irá mostrar as aproximações e as diferenças entre os brinquedos sertanejos de Guimarães Rosa e os brincares de alguns escritores portugueses como, por exemplo, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, José Saramago.

Com Selma Maria, graduada em artes visuais pela FAAP, é artista plástica, atriz e arte-educadora, autora de 15 livros para crianças, três deles sobre brinquedos. Tem se dedicado a pesquisa sobre esse tema em exposições, livros, espetáculos e palestras.

A música na prosa de João Guimarães Rosa
Dia 7/12, sexta, das 14h30 às 16h30
Inscrição - R$15,00 / R$7,50 / R$4,50

Uma das características das Ciências Humanas é a relação entre as disciplinas por meio de diferentes abordagens. Música e literatura há muito cooperam visando o incremento da obra de arte com o intuito de propiciar experiências estéticas mais complexas. A compreensão do fenômeno sonoro organizado e suas correlações na língua e na música proporcionam virtualidades que cada compositor utiliza à sua maneira e conforme o seu talento.
No caso de João Guimarães Rosa, formas, arquiteturas de signos e arcabouços lógicos perpassam as mútuas influências entre musicalidade e literariedade.
A oficina irá apresentar o modus operandi da criação da prosa poética do autor por meio de exemplos e aproximações entre música e literatura. Os ensaios de criação de Guimarães e os autores que mais o influenciaram são alguns dos tópicos de interesse.
Fruto de tese de doutorado, de pesquisas etnográficas e visitas a locais que plasmaram afetividades rítmicas e sonoras na obra do autor, o tema interessa pela efervescência da interdisciplinaridade no nosso tempo e também pela inesgotável qualidade da obra.
Sendo uma temática de crescente interesse, as relações entre música e literatura ainda carecem de estudos sistemáticos no Brasil. A palestra se encerra com um breve apanhado dessas pesquisas.

Com Ivan Siqueira - Professor na ECA/USP. Doutor pela FFLCH/USP em estudos comparados sobre música erudita e popular em João Guimarães Rosa. Foi professor visitante na Kyoto University of Foreign Studies (Japão). Lançou recentemente o álbum "Outono da Infância" (www.ivansiqueira.com).


A Literatura de Guimarães Rosa e o Nazismo
Dia 11/12, terça, das 19h30 às 21h30
Inscrição - R$15,00 / R$7,50 / R$4,50

A palestra apresentará exemplos da recepção da cultura alemã por João Guimarães Rosa, com base em declarações do escritor, documentos e anotações disponíveis no Instituto de Estudos Brasileiros (USP). Problematizará a postura assumida por Rosa diante da Alemanha, tendo em vista o fato biográfico de sua atuação como diplomata em Hamburgo, entre 1938 e 1942, e a clara remissão a esse fato em três contos publicados em "Ave, palavra". As referências sempre elogiosas à cultura alemã e a parcimônia nas manifestações sobre o nazismo, por parte de Rosa, são curiosamente suspensas nos aqui chamados "contos alemães" ("O mau humor de Wotan", "A senhora dos segredos" e "A velha"). Os textos são marcados pelo olhar crítico e autorreflexivo de um diplomata brasileiro em Hamburgo, que nos três contos aparece como narrador-personagem. Destaca-se aí o problema da concessão de vistos de imigração pelo Estado brasileiro, capítulo delicado de nossa história, vivido de perto pelo autor de "Grande sertão: Veredas".

Com Paulo Soethe, docente da UFPR. De 2012 a 2015, foi presidente da Associação Latino-americana de Estudos Germanísticos (ALEG). É detentor do Prêmio Jacob e Wilhelm Grimm do DAAD (2015), distinção para germanistas atuantes fora dos países de língua alemã. No projeto CAPES/PrInt da UFPR, é coordenador do subprojeto SmartMinds, na área de Digital Humanities.

O Livro da Vez: Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa
Dia 13/12, quinta, das 19h30 às 21h30
Inscrição - R$15,00 / R$7,50 / R$4,50

A palestra trata do modo como em Grande Sertão: Veredas João Guimarães Rosa integra as culturas orais e iletradas do interior do país na representação literária culta por meio de dois gêneros: dramático e narrativo. Assim, no presente da leitura, o personagem Riobaldo, um velho que é fazendeiro às margens do rio São Francisco, mantém um diálogo com um visitante da cidade sobre a sua vida passada como jagunço de bandos em luta pelo poder no Brasil central.
A palestra trata da sua narrativa sobre como conheceu e amou Diadorim, no passado, fazendo um pacto com o diabo para obter o poder no sertão. No presente, Riobaldo discute com o visitante temas como Deus, o demônio, o amor, a memória, o tempo, o sentido da vida etc, pondo em cena várias representações do Brasil produzidas desde os tempos coloniais.

Com João Adolfo Hansen, professor titular do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo, membro da FAPESP e CNPQ. Tem 13 livros publicados, além de ser autor de dezenas de artigos e capítulos de livros. Recebeu os prêmios Jabuti (1990) e o Grande Premio da Crítica 2014 da APCA.

Leituras poéticas de Guimarães Rosa
De 11 a 13/12, terça a quinta, das 10h às 13h
Ingresso - R$15,00 / R$7,50 / R$4,50

O minicurso é um mergulho na produção textual do autor através de uma seleção de obras que serão lidas e trabalhadas em três encontros. A impressão que tem quem se aproxima da obra de João Guimarães Rosa (1908-1967) é a de que ela parece continuar crescendo, em uma profusão contínua de ramificações artísticas, literárias, científicas e filosóficas.
Nos encontros, conheceremos um pouco sobre o autor e nos debruçaremos sobre contos, poemas, trechos de romances, trechos de contos maiores. Além de experimentarmos as leituras, vamos nos aproximar de obras inspiradas pela produção literária, conhecendo canções, filmes, imagens. Vamos apontar, em outras palavras, as potências da arte desse nosso escritor em uma abordagem comparatista.
Rosa é convite a um mundo emaranhado, em uma língua só sua, uma lindeza!, Em erudição e com sensação de familiaridade, convoca em sua escrita um povo. Ele não reproduz a vida, tampouco funciona no apenas registro de memórias. Não é imaginação nem imaginário. Ele dá vida, cria a vida, explorando a poeticidade e também o descompasso da violência, das dores, da morte, do sofrer. Na estética se manifesta o sentido ético de sua produção.

Com Davina Marques, graduada em Letras e pedagoga. Mestre em Educação (UNICAMP) e Doutora em Estudos Comparados de Literaturas de L. Portuguesa (USP). Em sua tese, Entre literatura, cinema e filosofia: Miguilim nas telas, trabalhou "Campo Geral" (1956), de J. Guimarães Rosa, em relação ao filme Mutum, de S. Kogut (2007).

O Som dos Meninos Quietos
Dia 1/12, sábado, das 16h às 18h
Inscrição - Grátis

Espetáculo lítero-musical inspirado na obra Roseana. O menino quieto, sempre observando a natureza, criando seus próprios brinquedos, brincando de imaginar é o protagonista desse espetáculo, que faz uma viagem pela infância sertaneja, inspirada na obra de João Guimarães Rosa.

Com Jean Garfunkel (narração, violão e voz), Joana Garfunkel (narração e voz) e Pratinha Saraiva (bandolim e flauta)

Sobre o CPF Sesc
Inaugurado em agosto de 2012, o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc é uma unidade do Sesc São Paulo voltada para a produção de conhecimento, formação e difusão e tem o objetivo de estimular ações e desenvolver estudos nos campos cultural e socioeducativo.
Além do Curso Sesc de Gestão Cultural - que visa a qualificação para a gestão cultural de profissionais atuantes no campo das Artes, tanto de instituições públicas como privadas - a unidade proporciona o acesso à cultura de forma ampla, tematicamente, por meio de cursos, palestras, oficinas, bate-papos, debates e encontros nas diversas áreas que compreendem a ação da entidade, como artes plásticas e visuais, ciências sociais, comportamento contemporâneo e cotidiano, filosofia, história, literatura e artes cênicas, voltadas para o público em geral.

Serviço:
Recomendação etária: 16 anos.
Vagas: 30

Tradução em Libras disponível. Faça sua solicitação com no mínimo dois dias de antecedência da atividade através do e-mail centrodepesquisaeformacao@sescsp.org.br.

Informações e inscrições pelo site ou nas unidades do Sesc no Estado de São Paulo. Serviço de van até a estação de metrô Trianon-Masp, de segunda a sexta, às 21h30, 21h45 e 22h05, para participantes das atividades.

Fonte: ritasolimeo@cpf.sescsp.org.br