Mostra "Mulheres em Cena" chega à 4ª edição

Outubro 28, 2020

De 29 de outubro a 3 de novembro, a Cia Fragmento de Dança apresenta a 4ª edição do "Mulheres em Cena". Interessada em discutir a performatividade do feminino na poesia e na vida, a mostra deste ano reserva os quatro primeiros dias (29/10 a 1/11) para as apresentações de trabalhos de dança, teatro e performance, que exploram materiais autobiográficos e o depoimento como linguagem cênica. Serão dois horários por noite: quinta e sexta, às 20h e 21h; sábado e domingo, às 19h e 20h. Na segunda e na terça (2/11 e 3/11), às 19h, as artistas envolvidas conversam com o público pela plataforma Zoom.

A atriz-performer, escritora-dramaturga, diretora e arte-educadora Letícia Bassit, que, no ano passado, colaborou com o "Mulheres em Cena" na curadoria e organização, abre a programação no dia 29, às 20h, com "Cabra Que Lambe Sal". O trabalho traz uma mulher com feições de cabra, que perdeu suas bordas desde que pariu e, enquanto fala, esforça-se para tê-las de volta. O que diz é denúncia, transe, alucinação, desejo, memória, revolta, testamento e manifesto. Seu maior desejo é escalar montanhas inimagináveis e lamber o sal que a Terra oferece, mas o medo do vírus a faz permanecer confinada.

Em seguida, Lilian Martins, que integra atualmente a companhia Gumboot Dance Brasil e o Projeto Turmalinas Negras, dança "No Baile", inspirado no funk de rua e nos corpos femininos periféricos. "No Baile" traz reflexões, lembranças, vivências e a origem do morro entre os pés e o quadril.

Na sexta (30/10), Tati Caltabiano, idealizadora do Petit Comitê, um coletivo de mulheres artistas que tem interesse na pesquisa de poéticas autobiográficas, abre ao público o processo de "A Conquista de Miranda", criado a partir da experiência da atriz de parir de forma natural e domiciliar. A peça apresenta uma crítica à sociedade patriarcal ao trazer à tona o tema das violências obstétricas, por meio de uma coreografia que revela a potência do corpo feminino no prazer e na dor do parto.

A pesquisadora em Danças Urbanas Morgana Apuama, pioneira do estilo Waacking no Brasil, entra na sequência com "RisKo. Por um trajeto de luz uma mulher revive memórias de seus afetos pela cidade e, em meio a este percurso, prossegue (re)descobrindo maneiras de (re)desenhar escolhas. Unindo a dança e a técnica de light-painting, misturando performance, luz, fotografia e audiovisual, "RisKo" busca apresentar a realidade da mulher negra com a vida, a rua e seus afetos.


Crédito: Ilma Guideroli

A Corpórea Companhia de Corpos, núcleo de pesquisa do corpo negro na cena, fundado pela bailarina e coreógrafa mineira Verônica Santos, apresenta no sábado (31/10), às 19h, um fragmento performático de "RÉS", espetáculo premiado pelo "Rumos Itaú Cultural" (2018/2019), que traz como temática principal o universo do encarceramento feminino e propõe uma análise poética sobre as estatísticas e a vulnerabilidade desse corpo no Brasil.

"Todos Te Amam Até Você Se Assumir Preta", do Coletiva 3 de Nós, fundado em 2017 quando realizou o espetáculo performativo "A Mais Forte", selecionado pelo Edital de Circulação de Artes Cênicas de Jacareí/SP, será transmitido às 20h. Entre a baixada fluminense e a Zona Sul do Rio de Janeiro, a performer Jessica Madona passa a limpo suas relações interpessoais, quando encara o processo de reconhecimento de sua pretitude.

O último dia de apresentações (1/11) começa com "A Última Mulher do Mundo", investigação cênica da coreógrafa, dançarina, atriz e professora Patrícia Noronha (às 19h), e encerra com "V A C A", da atriz, performer e também professora Bruna Betito (às 20h). Em "A Última Mulher do Mundo", que teve início em 2012, real e ficção se misturam em meio ao relato de estupros sofridos pela protagonista. A presença de um cachorrinho intensifica essa confusão e o viés performativo da cena. Atualmente, o exercício dialoga imageticamente com este momento que vivemos de pandemia e isolamento social.

"V A C A" discorre sobre o universo da amante, figura transgressora e indissociável ao casamento, condenada e sem direito de defesa. Longe de ser uma defesa e, tampouco, uma condenação ao "amor ilícito", o trabalho investiga a existência do adultério desde que o casamento foi inventado. A partir daí, questiona como devemos entender esse tabu consagrado pelo tempo, universalmente proibido e universalmente praticado. Além da referência autobiográfica, a criação inspira-se em obras de Gustave Flaubert ("Madame Bovary"), Elisabeth Abbot ("Amantes: uma história da outra"), Esther Perel ("Casos e Casos"), no universo da mitologia grega, com suas histórias de amor e traição, em especial o triângulo Zeus, Hera e Io, e na Bíblia, que possui histórias, parábolas e mandamentos muito precisos a respeito do tema. A apresentação terá acesso para 20 pessoas do público que ingressarem em sala do ZOOM com a artista (se inscreva aqui para receber o link).

Idealizado por Vanessa Macedo, diretora da Fragmento de Dança, o projeto Mulheres em Cena surgiu do desejo de difundir trabalhos concebidos e dançados por artistas mulheres. A primeira edição trouxe criações apenas da própria Cia. A segunda, aconteceu em parceria com a bailarina Lavinia Bizzotto e seu trabalho autoral "A pequena Morte". E a última se deu com a colaboração da atriz e escritora Leticia Bassit, na curadoria e organização da mostra, que reuniu nove mulheres mães, entre bailarinas, atrizes, cantoras e escritoras, em depoimentos performáticos a partir da experiência da maternidade.

Este projeto foi realizado com apoio do Programa Municipal de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura.

Serviço
Mulheres em Cena – 4ª edição
Data: de 29/10 a 03/11
Horário: quinta e sexta-feira, às 20h e às 21h; sábado e domingo, às 19h e às 20h
Transmissão pelo canal do YouTube da Cia Fragmento de Dança: www.youtube.com/ciafragmento2