Mostra Latino-Americana de Dança Contemporânea chega à sua quarta edição

Julho 26, 2016

Entre 1 a 7 de agosto, acontece a Dança à Deriva 2016 – Mostra Latino-Americana de Dança Contemporânea, que chega à sua 4ª edição. Desta vez, o Centro de Dança Umberto da Silva da Galeria Olido é o espaço escolhido para receber espetáculos, performances, rodas de conversa, debates, lançamento de livro e exibição de vídeos de 19 coletivos artísticos de países como Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, México, Uruguai, Paraguai e Guatemala. Toda a programação é aberta ao público.

A mostra, que se dá sempre com o propósito de facilitar e estimular trocas de experiências entre os artistas, fomentando o diálogo entre as nações por meio da linguagem da dança, traz para a cena espetáculos que evidenciam processos de pesquisa de linguagem que arriscam novas estéticas e outros novos modos de se relacionar artisticamente com o corpo e com as ideias nele perpassadas. O evento também potencializa coletivos que buscam alternativas para realizar seus projetos poéticos numa perspectiva mais horizontal, de parcerias e estratégias. Desenha, assim, um novo mapa de possibilidades, fortalece processos colaborativos de criação e de produção e, sobretudo, abre caminho para que as produções nacionais possam circular por outros países deste continente diverso e multifacetado, dando espaço para o que pouco se discute na dança: a internacionalização.

PROGRAMAÇÃO:
01/08 - SEGUNDA-FEIRA
às 20h
Compañía Hombrebuho (Colômbia)
Elogio de Guerra
Yenzer Pinilla é um artista envolvido com a direção de alguns dos mais representativos coletivos de dança da capital da Colômbia. Em 2015, motivou-se por montar sua própria companhia com o propósito de abrir novas portas criativas para sua pesquisa de linguagem e composição coreográfica. Com “Elogio de Guerra”, trata das angústias do homem contemporâneo, forçado a percorrer, inerte, um caminho que não escolheu em contraposição aos seus desejos mais profundos e prementes.

02/08 – TERÇA-FEIRA
às 19h
Balé Baião Dança Contemporânea (Ceará – Brasil)
Prelúdios para Danças Caboclas
Em “Prelúdios para Danças Caboclas”, Gerson Moreno, Cacheado Braga e Viana Júnior, atuantes na Cia Balé Baião, de Itapipoca, interior do Ceará, desenham na cena um itinerário de ritos precários e crus. Gradativamente os corpos se fazem “abertos para incorporar” suas ancestralidades caboclas, curandeiros, pajés e guerreiros, na vibratória de maracás, tambores, loas e clamores desnudando suas peles encarnadas pelo Urucum sagrado. As características caboclas se revelam nos corpos afro-indígenas dos dançarinos, que despretensiosamente evocam códigos, símbolos e gestos que residem na gíria da Jurema e, através delas, se permitem chegar à outras possíveis corporeidades, outros possíveis rituais.

às 19h45
Patricia Pina Cruz (São Paulo – Brasil)
Z.I.G.O.T.O.   
Em Z.i.g.o.t.o, Patrícia Pina Cruz levanta questionamentos sobre o poder dos gêneros, a luta de forças entre os sexos, a supremacia de um perante o outro ou igualdade de importância na existência. O poder de nossas heranças sociais patriarcais emaranhadas em nossa mitologia pessoal limita a percepção exata das coisas; a percepção é influenciada pelo senso comum. Z.i.g.o.t.o vem negar essa herança patriarcal, que passa por uma cultura de dominação que oprime especialmente as mulheres, que nega a elas humanidade e as trata como inferiores e incapazes. A luta entre os estereótipos dos gêneros resulta no estupro, dando origem assim ao zigoto, fecundo da escravidão e do ódio de séculos de moldes opressores de sociedade, mas também, fecundo de esperança e de um recomeço de luta contra qualquer forma de opressão.

às 20h30
Dual Cena Contemporânea (São Paulo – Brasil)  
Profetas da Selva
Espetáculo criado a partir do envolvimento dos integrantes da Dual com a rotina de trabalho, de rituais e danças na casa sagrada, da religiosidade, da música e das pinturas corporais das aldeias Guarani Guyrapa-Ju e Krukutu, ambas situadas no Estado de São Paulo, “Profetas da Selva” propõe a recomposição de danças praticadas pelas etnias Tupi e Guarani no século XV, para evocar a mitologia ao redor do chamado "profetismo tupi-guarani", cujo tema principal consistiria nas grandes migrações "místicas" dirigidas por xamãs em busca de uma terra maravilhosa – ‘Yvy Marã ey’, Terra Sem Mal –, onde deuses e homens seriam iguais e cujo acesso se daria através de jejuns e de danças, conduzidos por profetas.

03/08 - QUARTA-FEIRA
às 19h
Camila Bilbao (Bolívia)
Vértigo
Em “Vértigo”, trabalho multidisciplinar, que combina teatro, dança e audiovisual, criado pela dramaturga Camila Urioste e a bailarina Camila Bilbao, o tubo de pole dance – que nos últimos anos vem se distanciando de seu lugar tradicional de entretenimento em bordéis e transformando-se em uma disciplina que mulheres de todo tipo praticam para conectar-se com seu corpo, estar em forma e divertir-se –, torna-se um elemento narrativo para falar da mulher e seu corpo, seu medos e sua relação com outras mulheres.

às 19h45
Cia. Flex de Dança Contemporânea (Ceará – Brasil)
Vida ou morte ao boi
O trabalho nasce do desejo de compreender as possíveis relações e distanciamentos existentes entre a brincadeira do Reisado, folguedo popular brasileiro, e a demanda tecnológica contemporânea, partindo da vivência e observação de um lugar que, mesmo rico em tradição, se desvincula a passos largos da essência, que vê a globalização com ares dicotômicos e não conectivos, impossibilitando as relações da cultura hight-tec com os costumes tradicionais.

às 20h30
En Ningunlugar & Amaranto (México/Colômbia)
Re-Construcción de los hechos
Projeto de pesquisa cênica e fotográfica mutável e adaptável, “Re-Construcción de los hechos” inspira-se no ciclo da água como metáfora e necessidade real para a vida e a morte. A partir de ângulos diferentes, a peça explora a reconstrução, redefinição e re-significação constantes a que estão submetidos nossos corpos físico e mental.

04/08 - QUINTA-FEIRA
às 19h
Otrapiel Compañia Danza (Paraguai)
Corteza
Baseado na carta “O Inverno sempre se transforma em Primavera”, escrita pelo Monge Budista Nichiren Daishonin, por volta de 1250, “Corteza” explora, por meio de diferentes linguagens de composição estética, como o ser humano evolui e transcende avançando frente aos obstáculos.

às 20h
Nívea Jorge e Viana Junior (Ceará – Brasil)
Solo de Barro
Numa busca pela (re)significância da sua dança, Nivea Jorge propõe uma concepção que surge a partir da sua própria projeção, com a metáfora entre o feitio do jarro e as diferentes fases da vida. A partir desse auto encontro, o barro como elemento imagético e sensorial, é o mote para explorar o desconhecido numa descoberta de percursos corporais que traduzem o corpo como sujeito e objeto de arte. O fio condutor é o diálogo entre movimentos e sonoridades que refletem o eco da natureza humana em busca de sua origem, da (re)significância do “eu” ancestral. Uma obra que se propõe ritualizar os ciclos do sagrado/humano, pelo barro, água, fogo e ventanias afro-indígenas/ancestrais.

às 20h30
Espiral Danza (Guatemala)
Nahual
Para o povo maia, Nahual significa espírito ou força dos seres e elementos da natureza. E cada ser tem um nahual que o representa e o conecta com o equilíbrio do universo. Com movimentos circulares, música executada com instrumentos digitais e sintetizadores e desenhos pintados e exibidos ao vivo, o espetáculo foca nos quatro principais nahuales: E (caminho sagrado), Aj (abundância e renascimento), K'at (a rede) e I'x (paciência, astúcia, ação).

05/08 - SEXTA-FEIRA
às 19h
Compañia Fósforo (México/Colômbia)
Tripulación a bordo
“Tripulação a bordo” fala de trânsitos, dos impulsos e caminhos que percorremos para resolver nossos conflitos. Com trilha sonora original da Triciclo Circus Band, a coreografia nos coloca em um barco onde cinco tripulantes – um marinheiro, um piloto, um gondoleiro, um maquinista e um astronauta – empreendem uma viagem para fugir da melancolia da rotina e realizar o sonho almejado por cada um. Seu formato lúdico torna a peça também apropriada para o público infanto-juvenil, que está aprendendo que na vida há momentos difíceis e que muitas vezes a solução está em nós mesmos.

às 19h30
Kalus Danza Contemporânea (Colômbia)  
No sistematico
Vivemos como unidades de produção, mas somos seres de pensamento e sentimento. Por que nos comportamos como robôs? Por que buscar a aprovação dos outros, em vez de buscar nossa realização? Por que não arriscar mais e ouvir mais a nós mesmos? “No Sistematico” propõe uma reflexão sobre estas questões por meio de uma proposta coreográfica de improvisação para ser vista a partir de qualquer ângulo e permitir que cada um construa sua própria história.

às 20h
Proyecto Inmersíon (Argentina)
Inmersión
“Inmersión” une corpo e imagem em constante movimento, para acompanhar a vida de um ser, desde o nascimento, passando por seu condicionamento social, o desenvolvimento do feminino até a luta pela liberdade. O corpo, presente aqui e agora, se multiplica, dialoga com sua imagem projetada, com suas sombras e as diversas paisagens, que se desdobram em outras personagens. O pequeno e o sublime se entrelaçam num percurso que convida à intimidade do mundo, do corpo e seu fluir.

às 21h
Colectivo Chile (Chile)  
Paisajes 
"Paisajes" se constrói por meio de desenhos corporais e sonoros que representam certa extensão do terreno feminino. A partir de uma visão lúdica e irônica, vários clichês relacionados ao papel da mulher – inocência, feminilidade, vulnerabilidade – são visitados e manipulados para transformá-los em ferramentas de poder.
 
às 22h
Aline Brasil e Anna Behatriz Azevedo (Goiás – Brasil)
Ao caírem as abas
“Ao caírem as abas” nasceu da parceria entre três artistas goianos: a bailarina Aline Brasil, a bailarina e artista plástica Anna Beahtriz Azevêdo e o músico Jeferson Leite. As principais referências partiram do conto “Cadeira”, de José Saramago, e se estenderam para outras perspectivas em torno da discussão sobre a queda de uma cadeira que, com os anos, torna-se frágil por guardar dentro de si seres que carcomem o seu interior, construindo caminhos e significados que só se tornam visíveis quando a sua estrutura roída cai. A leitura sobre esta queda trouxe, na perspectiva dos artistas criadores, diversas imagens que traduzem a degeneração, a decomposição, o limiar entre a vida e a morte.

06/08 - SÁBADO
às 19h
Colectivo Caninos - Danza y no Danza (México)
MOR, Sutilezas del sueño
“MOR, Sutilezas del sueño” é um jogo baseado no conto “7 coisas que você deve saber sobre Jerônimo”, do escritor mexicano Ruy Feben. Na história, um especialista em Súbito Movimento Ocular (MOR) narra a vida de Jerônimo, homem rico e poderoso que frequenta uma empresa de sonhos com o desejo de superar um trauma da infância, viajando em um mar de possibilidades, memórias, ficção e realidade.

às 19h30
Kalus Danza Contemporânea (Colômbia)  
No Fatum
Qual é a sua história pessoal? Que caminhos tem percorrido? Em quem você se tornou com suas decisões e aprendizado? Experiências vividas, incorporadas e recolhidas como pedras de caminhos quadrados, circulares, infinitos que geram outros caminhos iluminados de cores e grandes avenidas cinzas, metálicas, asfaltadas. Estradas onde temos de caminhar sem ver, sem saber. Caminhos invisíveis sem rumo onde o trajeto que cada um forja é, no final, a viagem de sua vida e não só um destino que se encontra.

às 20h
Cia de Danza Conminombre (Chile)
Algunos mitos sobre el cuerpo y otras siutikerías 
Com (aparentemente) um intérprete na cena, "Algunos mitos sibre el cuerpo y otras siutikerías" transita com humor por diferentes formas de materializar a ideia do corpo na cena contemporânea. Ao organizar e ressignificar, por meio dos possíveis jogos de sentido, as diferentes relações que o corpo e sua imagem exibem, levanta questões, pondera sua existência e dá lugar ao pensamento sensível repartido por cada fragmento de ser sujeito. Dança o corpo ou o sujeito?

às 20h45
Cia Hombrebuho (Colômbia) & En Ningunlugar (México)
"Intromisiones Insatisfactorias"
“Intromisiones insatisfactorias” investiga os problemas de comunicação entre dois homens que habitam o mesmo espaço. Representa um "não-lugar", um espaço absurdo onde dois indivíduos, sem saber como ou porquê, despertam um dia completamente colados. Incapazes de serem percebidos pelos outros, tentam resolver o seu estado por meio de incessantes debates e inevitável viagem interna que implica em reconhecer-se através do outro.

07/08 - DOMINGO
às 19h
Resultado Cênico do Laboratório Coreográfico Camaleão
Yenzer Pinilla e Ingride Londoño

às 19h30 
Compañia Fósforo Escenamóvil (México)
Enigma de un dia sin Luna
“Enigma de un dia sin luna” traz como tema a relação de codependência entre um homem e uma mulher, cujo conflito se resolve com o desprendimento de um dos personagens para chegar ao desenlace da morte do outro.

às 20h
Kalus Danza Contemporânea (Colômbia)
Viví-En-Do
“Viví-en-do” nasce da reflexão da companhia sobre um mundo menos indiferente, menos egoísta e mais solidário para com o sentir e o pensar do outro. A mídia, a violência, o individualismo e a necessidade de obter coisas materiais nos distraem e distanciam.

às 20h30 
Colectivo Al Borde de la Piscina (Uruguai)
Al borde de la piscina
Este solo absolutamente despojado revela a realidade de um corpo maduro com espírito jovem. Mostra a fragilidade do ser em contraposição ao poder da vida, da força do ser humano que escolhe a luta, a beleza, o amor e o aprendizado em vez da complacência, a resignação e a rotina. Ambos os criadores – diretora e bailarino –, dois veteranos da dança, decidiram “atirar-se na água” e gozar do privilégio que a vida lhes dá: dançar. 

OUTRAS AÇÕES:
02 a 06/08 – TERÇA A SÁBADO
às 16h
Conversatório
Espaço coletivo de compartilhamento e conversas em que os diretores das companhias falam sobre suas dramaturgias e processos. O bate-papo tem coordenação e mediação de Sylvia Fernandez, articuladora cultural boliviana, coreógrafa e diretora da Vidanza Companhia. Sylvia também participou da curadoria desta edição da Mostra.

03 a 06/08 – QUARTA A SÁBADO
das 10h às 13h
Laboratório Coreográfico
Camaleón – Investigação de Movimento
(mostra de resultado no dia 7)
Por: Ingrid Londoño e Yenzer Pinilla
O laboratório coreográfico "Camaleón" é um projeto de formação e investigação do movimento aplicado com a função de construir experiências cinéticas e acionar qualidades relacionadas com agilidade, capacidade de adaptação e consciência corporais. Como dinâmica, é dividido em três momentos que buscam um corpo camaleão, com base nas características próprias do animal, sua conduta e comportamento: corpo sigiloso, corpo em relação e corpo hábil/composição instantânea.

03 e 04/08 – QUARTA E QUINTA-FEIRA
às 18h
Mostra de Videodança - Documentário
Na Oficina do Zé Américo
O Documentário “Na Oficina do Zé Américo” registra e revela como se desenvolveram as experimentações corporais no Galpão da Cena de Itapipoca (antiga oficina do Pai de Gerson Moreno, o Zé Américo), de agosto de 2014 a fevereiro de 2015, que geraram a demonstração técnica “Receitas de baião e outros pratos”. Também compartilha das oficinas ministradas pelos artistas/pesquisadores convidados que vieram contribuir com a feitura do livro “Dança Balé Baião: 20 anos em Companhia”.

05 e 06/08 – SEXTA E SÁBADO
às 18h
Lançamento de Livro
Dança Balé Baião: 20 Anos em Companhia
Com prefácio do artista-pesquisador, professor e crítico de dança Joubert Arrais, “Dança Balé Baião: 20 anos em Companhia” celebra os 20 anos de uma trajetória de resistência e resiliência artística imbricada no movimento comunitário da cidade de Itapipoca, sertão do Ceará. Festeja a continuidade coletiva permanente, junto com passagens provisórias de outros corpos dançantes.

07/08 – DOMINGO
às 15h
5º Fórum Dança e Sustentabilidade
"Modus Operandi - modos de ser, fazer, existir e acreditar dos coletivos de dança latino-americanos”
Encontro com artistas, criadores e gestores latino-americanos numa discussão que busca compreender a realidade das artes cênicas, especialmente a dança, no contexto social, político e econômico em que se apresentam atualmente. Objetiva criar redes de articulação a fim de potencializar o intercâmbio artístico e cultural entre os países participantes. Em destaque os depoimentos dos diretores das companhias que participam da Dança à Deriva 2016, sobre suas realidades e necessidades artísticas e culturais. Atividade aberta a todos os interessados em políticas públicas para as artes em geral.

Serviço
Dança à Deriva – 4ª Mostra Latino-Americana de Dança Contemporânea
de 01 a 07 de agosto – espetáculos a partir das 19h.
Entrada gratuita (retirar ingressos com 1 hora de antecedência)
Local: Galeria Olido – Centro de Dança Umberto da Silva
Endereço: Av. São João, 473 - 2º andar – República, São Paulo.
Telefone: (11) 3331-8399
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