Mostra Dança Agora reúne cenas, espetáculos inéditos, bate papos e oficinas com o olhar sobre o efeito do tempo em corpos e movimentos

Outubro 29, 2021

O Itaú Cultural realiza de 3 a 7 e de 10 a 14 de novembro (sempre de quarta-feira a domingo) a 4ª edição da Mostra de Dança do Itaú Cultural, que neste ano tem como título Dança Agora - Movendo Tempos e Trajetórias e faz um convite a refletir sobre o efeito do tempo nos corpos e suas expressões de memórias e resistências. Para tanto, convidou artistas de diferentes lugares do país a criarem cenas de dança, que dividem a programação – integralmente virtual – com estreias e temporadas de espetáculos, mesas, lançamento de livro, oficinas e aberturas de processos. Ao todo, convidados de 12 estados trazem olhares e expressões múltiplas da dança vindas de Amazonas, Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Todas as atividades da mostra Dança Agora são online, e as apresentações são seguidas por conversas com os artistas e mediadores. Gratuita, a programação acontece pela plataforma Zoom e os ingressos devem ser reservados via Sympla – mais informações em www.itaucultural.org.br.

Também pelo site do Itaú Cultural, o público pode conferir a cobertura crítica da mostra, com um texto assinado pelos críticos Carmem Luz e Daniel Kairoz. Em sinergia com a programação, o Palco Virtual no YouTube do Itaú Cultural www.youtube.com/itaucultural estreia temporadas para adultos e crianças de produções ligadas à dança.

Referência

Conduzida pelo olhar de como o tempo afeta diretamente os corpos, historiografando memórias de resistências e formas de reinvenção manifestas na dança, a mostra Dança Agora - Movendo Tempos e Trajetórias abre no dia 3 de novembro (quarta-feira), às 20h, com Trajetórias, mesa emblemática que reúne três nomes que são referências na dança: a baiana Inaicyra Falcão, a mineira Dudude Herrmann e a cearense Silvia Moura. Juntas no encontro para falarem sobre a longevidade de suas carreiras, em conversa mediada pela pesquisadora Karina Almeida, elas exibem cenas criadas para a programação.

Em Da porteira para dentro. Da porteira para fora, Inaicyra Falcão mergulha na ancestralidade e questiona o que a fez escolher a dança, ou até mesmo se a dança a escolheu. Dudude Herrmann, por sua vez, trata em ReAlllllityyyyyy do tempo agora, da dança e do desejo da dança que aparece nos entres do querer. Já Sílvia Moura, com Casa, Corpo, Mulher, Árvore, convida o público a acompanhar uma experiência entre o corpo e a memória da artista, na qual a dança, a performance e a palavra são as principais pontes entre arte e vida.

Neste mesmo dia, entra em cartaz no Palco Virtual no YouTube do Itaú Cultural Conceição em Nós – documentário, longa-metragem do pernambucano Grupo Experimental. Disponível para ser assistido até o dia 28, o filme produzido em 2021 é um mergulho no tempo presente, mas também volta o olhar ao passado. Esse retorno é feito mais precisamente ao ano de 2007, quando o grupo criado em 1993 estreou o espetáculo de dança Conceição, uma pesquisa sobre o Morro da Conceição, periferia da zona norte de Recife, onde está a imagem da santa e onde é celebrada pelos devotos.

Estreias

A partir do dia seguinte, a mostra inicia uma série de exibições inéditas, grande parte fruto de encontros de artistas provocados pela programação. Todas as exibições são seguidas de bate-papos dos artistas com criadores ou pesquisadores da dança.

Na quinta-feira (dia 4), às 20h, o artista da dança e do teatro Kleber Lourenço, pernambucano radicado em São Paulo, apresenta pela primeira vez Pedreira!, espetáculo que atravessa o tempo e habita os espaços para refletir sobre o cruzamento entre mundos, sobre corpos que se deslocam na diáspora dos terreiros para a cidade em ações de luta e sobrevivência. Na sequência, o convidado conversa com o criador baiano Neemias Santana.

É o próprio Neemias Santana que na sexta-feira (dia 5), no mesmo horário, apresenta ao público Tecitura do Vazio, criação feita em conjunto com o artista amazonense Odacy Oliveira, a convite da mostra de dança. A cena, que depois é tema do papo mediado pela bailarina e diretora teatral carioca Duda Maia, dá luz a dois corpos distantes que instauraram um território comum de povoamentos invisíveis. São danças que não se encerram no tempo, de escuta e evocação acordadas no corpo.

No dia 6 acontece a primeira oficina de dança, que ocupará a tarde dos dois sábados da mostra. Neste, a partir das 16h, Kety Kim Farafina, da Bahia, que trabalha no Brasil como divulgadora da cultura oeste africana, conduz a aula Introdução aos Ritmos e Danças Tradicionais e Urbanos do Oeste Africano e Coupe Décalé Passo a Passo. Dividida em duas etapas, a programação abre com os ritmos tradicionais do oeste africano, para depois serem colocados em prática em uma coreografia do ritmo africano Coupé Décalé.

No mesmo dia, às 20h, a coreógrafa Eliza Oliver, pernambucana que mora em Juazeiro, na Bahia, e a paulista Kanzelumuka levam ao público a cena de dança Matreira. Elas definem a obra como uma dança de duas mulheres negras diaspóricas, que se lançam como flecha por todos os lugares, e cuja força do movimento integra e cessa a distância que há entre Juazeiro, Petrolina e São Paulo. Elas dançam, são dançadas, e se lançam ritmicamente pelos territórios onde vivem. Após a exibição, a dupla conversa com a artista goiana Renata Kabilaewatala.

A primeira semana fecha no domingo (dia 7), com outra dupla programação. Às 16h, uma mesa mediada pela cineasta e coreógrafa Carmem Luz se dedica à trajetória do Grupo Experimental, que participa da conversa ao lado de Renata Pimentel, co-roteirista e co-diretora do documentário Conceição em Nós – em cartaz no Palco Virtual no YouTube. Antes da conversa serão exibidos trechos do documentário, para mostrar ao público sobre os mais de 27 anos de atuação do grupo pernambucano, que traduz em dança um olhar às questões do lugar, como uma crônica dançada da cidade de Recife.

À noite, a semana fecha às 19h com a exibição de Akaiá, cena de Iara Campos e Íris Campos, atrizes e artistas pernambucanas da dança, ao lado da paraibana Ewe Lima, artista, arte-educadora e mulher indígena. Em Akaiá - que no tupi antigo significa útero -, o trio cria um diálogo entre o antes e o agora, vivenciando a retomada de suas histórias ancestrais e convocando um olhar para novos trajetos possíveis dentro de um presente que desenha distopias. O encontro é mediado por Kleber Lourenço.

Em paralelo, o domingo é marcado, ainda, pela estreia no Palco Virtual no Youtube da temporada de Sobre as Coisas, espetáculo de dança para crianças da companhia paulista Lagartixa na Janela. Em cartaz até dia 21, a obra, que tem direção artística de Uxa Xavier, questiona o que se faz enquanto se espera. Criada integralmente online durante a crise sanitária, tem como ponto de partida o ator de estar em casa, ressignificando o ambiente com invenções e criação de mundos a partir das relações com objetos.

Nova rodada

A mostra Dança Agora - Movendo Tempos e Trajetórias conta com uma nova série de programação a partir do dia 10 (quarta-feira). Assim como na semana anterior, o primeiro dia leva ao público um espetáculo completo, realizado por Bruta Mirada, da Cia Dual, de São Paulo, seguida de conversa com a artista da dança Karina Almeida.

Dentro da proposta da programação, voltada ao tempo e suas consequências em trajetórias, o espetáculo traz olhares do velho para o novo e vice-versa. Assim, com dança, música, poesia e biografia, os artistas do grupo convidam o público a adentrarem suas vidas, histórias, segredos e espaços de morar, em um vídeo onde as biografias individuais mostram-se como a coluna vertebral dessa trajetória.

A quinta-feira (dia 11) retoma, a partir das 20h, as exibições de cenas criadas em conjunto para a mostra, com Deságua, das artistas Deise de Brito, de São Paulo, e Renata Kabilaewatala, de Goiás. Em um movimento de "corpo de ondas, maré de palavras", elas veem suas histórias refletidas uma na outra, assim como as camadas criadas a partir de então. A conversa sobre esse encontro é conduzida pela artista Kanzelumuka.

Já Percursos Encruzilhados, na sexta-feira (dia 12), às 20h, reúne as artistas Irani Cippiciani e Silvana de Jesus, ambas de São Paulo, e que trazem para a dança referências culturais de diferentes lugares. O elo se faz em um terreiro da cidade, onde se vislumbra a Índia. Nessa encruzilhada de tradições e percursos, o encontro acontece em forma de diálogo, de pergunta e resposta e de história entrelaçada entre a capoeira, as danças brasileiras e as danças indianas.

Dobradinhas

No final de semana, a mostra de dança conta novamente com uma programação expandida, com atividades que vão além das apresentações e debates.

É o caso do sábado (dia 13), que começa com às 16h, com a oficina de dança O Osso Se Lança No Espaço, com Duda Maia. Nela, a bailarina carioca convida os participantes a experimentarem o movimento a partir de suas estruturas ósseas e assim realizar um movimento harmônico e sem sobrecarga de trabalho para o corpo.

Às 20h, é a vez da intérprete-criadora amazonense Raíssa Costa, do performer cearense João Paulo Lima e do ator, diretor e bailarino gaúcho Fabiano Nunes exibirem Desabandono. Unindo Manaus, Fortaleza e Porto Alegre, o triângulo formado pelos coreógrafos, apesar da distância, refletem sobre o que os define enquanto compatriotas: a decomposição histórica, o descaso da política em relação à ética e aos valores da humanidade. Esse é o tema que conduz o papo mediado na sequência pela atriz e bailarina Irani Cippiciani.

No domingo (dia 14), o último dia da programação abre às 16h com o lançamento do livro Dança, Residências Artísticas e Composição em Tempo Real, do Coletivo CIDA, do Rio Grande do Norte. No encontro, que conta com uma conversa tendo o crítico de dança Daniel Kairoz na mediação, é abordada a trajetória do CIDA – Coletivo Independente Dependente de Artistas, fundado em 2016 por Arthur Moura, René Loui e Rozeane Oliveira, reunindo jovens artistas emergentes, negros, com e sem deficiências, oriundos das mais diversas regiões do Brasil. O grupo é uma referência na produção experimental e inclusiva.

Às 19h, a mostra fecha com a exibição de Atrito, que reúne o bailarino Marconi Araújo, do Rio Grande do Norte, e o Bboy, artista do breaking e arte-educador alagoano Jessé Batista. Na cena, partindo da proposta de levar o corpo à tela, chamam a atenção para os trajetos: os sons, as curvas, os solos, os atritos com o chão. A conversa após a exibição é conduzida pela pesquisadora e intérprete-criadora amazonense Raíssa Costa.

Serviço:
Mostra Dança Agora - Movendo Tempos e Trajetórias
Semana 1: de 3 a 7 de novembro (quarta-feira a domingo)
Semana 2: de 10 a 14 de novembro (quarta-feira a domingo)
Todas as apresentações são seguidas de bate-papo com o elenco.
Pela plataforma Zoom. Ingressos via Sympla.
Mais informações em: www.itaucultural.org.br
Programação paralela: Palco Virtual no YouTube
Pelo YouTube do Itaú Cultural www.youtube.com/itaucultural