Itaú Cultural celebra o legado de Antônio Abujamra em programação especial com debates, show, espetáculo e leitura inéditos

Fevereiro 17, 2021

O Itaú Cultural abre suas atividades cênicas de 2021 em fevereiro, com uma homenagem a um dos principais nomes do teatro no Brasil. Intitulada Antônio Abujamra – A Voz do Provocador, a programação acontece de 18 a 21 e de 25 a 28 deste mês (sempre de quinta-feira a domingo) e leva virtualmente ao público – em conversas, encenações inéditas e música – a trajetória de Antônio Abujamra (1932-2015), ator e diretor paulista que foi um dos primeiros a introduzir os princípios e métodos teatrais de Bertolt Brecht no país. Essa celebração, parte da efeméride dos 30 anos de fundação da Cia. Os Fodidos Privilegiados, no início da década de 1990, no Rio de Janeiro, a qual participa diretamente desta programação.

Antônio Abujamra – A Voz do Provocador acontece pela plataforma Zoom e os ingressos podem ser reservados via Sympla, a partir de 1 de fevereiro. Para mais informações, basta acessar o site da organização: www.itaucultural.org.br.

"É uma oportunidade para as novas gerações conhecerem o trabalho de diretores de teatro como o Antônio Abujamra", destaca a diretora, roteirista e produtora de teatro e eventos Márcia Abujamra, sobrinha do ator, que idealizou essa mostra junto com o Itaú Cultural e que participa mediando os debates, além de dirigir uma das estreias dessa mostra.

A programação abre no dia 18 (quinta-feira), às 20h, com Abu, de Cabo a Rabo, mesa que recebe o crítico teatral e professor Edélcio Mostaço, para traçar um panorama da vida e obra de Antônio Abujamra. Na conversa, mediada por Márcia, Mostaço aborda a trajetória de Abu, como era conhecido, que ao longo da carreira, iniciada em meados da década de 1950, colecionou sucessos e alguns fracassos, com os quais lidava com autoironia. De humor ácido, levava para suas criações esse espírito crítico, com inteligência, sensibilidade e um tom provocativo. Este também influenciado pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), com críticas sociais e explorando aquilo que nem sempre está visível nas personalidades.

No dia seguinte (sexta-feira, 19), também às 20h, a segunda mesa reúne as atrizes Filomena Mancuzzo, Guta Stresser e Paula Sandroni, além do diretor João Fonseca, em Cia Os Fodidos Privilegiados - Exorbitâncias e O Casamento, a Renovação do grupo. Integrantes do elenco da companhia, eles abordam o caminho trilhado nas três décadas que o grupo comemora em 2021 e destacam um momento da grande virada, como sugere o título, com histórias e a exibição de cenas de espetáculos que marcaram época.

A Cia. Os Fodidos Privilegiados foi criada em 1991, no Rio de Janeiro, encenando três peças no mesmo ano: Um Certo Hamlet, A Serpente e Phaedra. Em 1993, Abujamra foi para São Paulo, mas quando retornou ao Rio, em 1995, retomou a companhia. Foi quando convidou diferentes artistas da cena carioca para integrar o espetáculo Exorbitâncias, com 60 atores em cena. E reafirmando sua identidade cênica, o grupo estreou em 1997 a sua montagem de O Casamento, de Nelson Rodrigues, outro marco da companhia.


Crédito: João Caldas

Estreia

Nos dias 20 e 21 (sábado e domingo), às 20h, a programação Antônio Abujamra – A Voz do Provocador apresenta uma de suas estreias teatrais. Trata-se de O Veneno do Teatro, espetáculo criado pelo ator e interpretado por ele por mais de 10 anos, e que agora ganha nova versão, com roteiro e direção de Marcia Abujamra.

Retomando o título da primeira das três montagens anteriores – que foram O Veneno do Teatro (1996), com participação de André Abujamra, o solo A Voz do Provocador (1997) e provocador@ (2001) –, o espetáculo mantém-se essencialmente pessoal, ao combinar histórias de vida de Antônio Abujamra com fragmentos de textos de outros autores, poemas que ele sempre falou e seus pensamentos e opiniões sobre o teatro e a televisão no Brasil.

Interpretado agora pelo ator Elias Andreato, apresenta trechos de histórias biográficas presentes no espetáculo original criado por Abujamra, e partes de vídeos desse e de outros espetáculos que ele dirigiu. "O Veneno do Teatro tem uma carga pessoal muito grande, é um espetáculo biográfico e a releitura tinha que trazer um ator que pudesse jogar com a personagem do Abu e, ao mesmo tempo, com a nossa visão sobre ele. Por isso escolhi o Elias Andreato, que é um dos grandes nomes do teatro. Ter um outro ator em cena nos dá a possibilidade de trazer outros aspectos do Abu que não são só as coisas que ele falava sobre ele mesmo", detalha Márcia.

A diretora adianta que incluiu na nova versão outros textos sobre ele e trechos de depoimentos de alguns artistas, a exemplo de Antunes Filho, Alcides Nogueira e Felipe Hirsch, captados há alguns anos.

Segundo ato

Na quinta-feira, dia 25, às 20h, acontece a mesa Antônio Abujamra e o teatro épico no Brasil, conduzida pelo dramaturgo e encenador Sérgio de Carvalho. Fundador do grupo teatral Companhia do Latão, que também usa a estética brechtiana, o convidado trata do importante trabalho de encenação de Antônio Abujamra em diálogo com o movimento de renovação da cena brasileira. A apresentação aborda seu contato com os debates franceses e com a experiência alemã dos anos 1950 e 1960, em especial a partir da obra Bertold Brecht, o qual contribuiu para que criasse um caminho independente e pouco conhecido no que se refere à produção do teatro épico no Brasil.

Já na sexta-feira e no sábado, dias 26 e 27, às 20h, é a Cia. Os Fodidos Privilegiados que faz uma estreia na programação: apresentam pela primeira vez a leitura de Um outro Hamlet, passo inicial em direção a uma nova montagem do espetáculo Hamleto, que o grupo prepara para 2021, para celebrar seus 30 anos de fundação. Com direção de João Fonseca e de Johayne Ildefonso, ele parte do texto escrito em 1972 pelo italiano Giovanni Testori (1923-1993), com adaptação de Antônio Abujamra, e que reescreve a história clássica do Hamlet, de Shakespeare, de maneira debochada, anárquica e política. Provocador e potente, coloca duas personagens vividas pela mesma atriz, propõe uma relação homossexual entre Hamlet e Horácio, e faz o personagem principal, no ato de sua morte, deixar todas as posses da coroa ao povo.

Na leitura – online –, a companhia amplia características levadas por Abujamra ao palco nas cinco encenações anteriores desse texto. Uma das adaptações reuniu um elenco só masculino, outro todo feminino e um terceiro com atores e atrizes negros. A nova leitura que a Cia Os Fodidos Privilegiados encena reúne dois elencos: um só de mulheres e um só de homens.

O último debate acontece no sábado, 27, desta vez às 17h, com participação do professor André Dias. Intitulada O Teatro Dissonante de Antônio Abujamra: A Temporada Carioca, a mesa refaz a trajetória e momentos fundamentais da Cia Os Fodidos Privilegiados no Rio de Janeiro, dando luz ao humor ácido e a ironia refinada de seu fundador presentes na essência do grupo. Aborda, ainda, o legado do grupo para a história recente do teatro brasileiro.

Música em cena

A programação Antônio Abujamra – A Voz do Provocador encerra no domingo, 28, também às 20h, com um show online, que leva à cena outra herança artística de Abu. Abujamra Presente é o nome do show que o músico André Abujamra, filho caçula do diretor, apresenta no Palco Virtual, em homenagem ao pai, de quem herdou a verve provocadora, além do talento.

Com mais de 40 anos de carreira, André Abujamra tem uma trajetória profissional que transita por diferentes áreas artísticas. É cantor, compositor, guitarrista, percussionista, pianista, produtor musical com mais de 70 trilhas feitas para cinema, onde também tem trabalhos como ator e diretor.

É com essa característica de multiartista que conduz a live dedicada a Antônio Abujamra. Junto com um repertório extraído de seus quatro discos solo – Mafaro, Homem Bruxa, Omindá e Emidoinã –, serão exibidos vídeos com imagens do pai e projeções produzidas para suas apresentações.

"Vai ser um show com minhas músicas, mas diferente do habitual. É uma homenagem ao meu pai", fala. "Vou cantar algumas coisas que fiz para ele, como muitas trilhas de espetáculos e também para o programa Provocações. Uma música que jamais poderia faltar é Alma Não Tem Cor, que o meu pai usou em quase 90% das peças de Os Fodidos Privilegiados", adianta André.

Serviço
Antônio Abujamra, a Voz do Provocador
De 18 a 21 e de 25 a 28 de fevereiro (quinta-feira a domingo)
No site do Itaú Cultural: www.itaucultural.org.br