Filmes dirigidos por mulheres são o fio condutor da nova mostra de cinema no site do Itaú Cultural

Setembro 10, 2020

De 12 a 26 de setembro, o Itaú Cultural exibe em seu site, um ciclo de filmes que enfoca a produção audiovisual de diretoras mulheres. Com sete curtas-metragens, a mostra mergulha sobre o olhar feminino por trás das câmeras, com histórias registradas entre os anos de 2012 e 2020.


Crédito: Taís Amordivino

A desigualdade social, o racismo estrutural, a falta de representatividade e a força do amor são alguns dos temas presentes nas obras das cineastas Safira Moreira, Everlane Moraes, Elen Linth, Larissa Fulana de Tal, Larissa Nepomuceno, Taís Amordivino e Mariana Campos. Além de poder acompanhar os filmes, o público tem acesso a vídeos introdutórios sobre os processos de filmagens, contados pelas próprias diretoras.

Dirigido por Safira Moreira, Travessia é um registro real sobre a estigmatização da representação das famílias negras e como suas histórias vem sendo apagadas sistematicamente com o passar do tempo. Utilizando uma linguagem poética, a partir da procura de registros fotográficos dessas famílias, o filme ganhou destaque na programação da 17ª Mostra do Filme Livre, em 2018. No ano seguinte, foi exibido na abertura do Festival Internacional de Cinema de Rotterdam, na Holanda.

No documentário Caixa D’água: Qui-lombo é esse?, a premiada cineasta Everlane Moraes mostra, por meio de depoimentos de antigos moradores e de acervos fotográficos projetados em corpos negros e nas paredes da comunidade, a importância histórica e cultural de um bairro remanescente de Quilombos. Neste filme, a ênfase é dada à cultura negra e à presença do escravo e seus descendentes, com o resgate de assuntos relacionados à origem, oralidade, localização geográfica e consciência de sua identidade racial. Apesar de a comunidade existir em uma área urbana, ela ainda mantém muitos aspectos da vida em quilombo dos antigos negros escravos do Brasil.

As angústias de uma mulher negra, que carrega consigo a dor da infância e o silêncio no medo, são mostradas no filme Entre Passos, da diretora Elen Linth. Utilizando uma simbologia de bailarinas jogadas no chão, a história leva a acreditar que é possível existir um refúgio dentro da própria memória. Por sua vez, a emocionante produção Seremos Ouvidas, dirigida por Larissa Nepomuceno, mostra a história de três mulheres surdas que, apesar de viverem em realidades distintas e em uma sociedade sexista e feita para ouvintes, compartilham suas lutas e trajetórias dentro de um movimento feminista surdo.

Em Cinzas, a cineasta baiana Larissa Fulana de Tal narra a difícil realidade dos brasileiros que residem em comunidades afastadas, mostrando um retrato da desigualdade social que existe no país. Contando a história de Toni, o curta-metragem mostra a rotina de um homem que pega ônibus lotado, é cobrado por pontualidade no trabalho, recebe seu salário com atraso e é constantemente abordado nas ruas por policiais, que têm como cultura um racismo estrutural. Essa situação de solidão e abandono faz com que ele tenha uma crise psicológica, perca a vontade de estudar e passe a ter angústias.

Registrado no interior de Minas Gerais pela cineasta Taís Amordivino, o filme Motriz conta a história de Bete, uma mulher de olhos caudalosos e sorriso largo, que convive com a dor da distância das filhas. Apesar disso, mesmo vivendo em um lugar onde o tempo passa devagar e a saudade teima a andar depressa, ela encontra no amor a força motriz de que precisa para se aproximar da sua felicidade.

O último filme da mostra, Minha História é Outra, de Mariana Campos, mostra como uma paixão entre mulheres negras se torna mais do que uma simples história de amor. Moradora do Morro da Otto, Niázia abre as portas de sua casa para reforçar essa teoria. Enquanto isso, Leilane apresenta os desafios e possibilidades de se construir uma jornada de afeto. A produção foi exibida no Berlin Feminist Film Week e premiado como melhor filme nacional pelo júri popular no Recifest - Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero.

Sobre as diretoras

Safira Moreira

Formada em cinema pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro e pelo Centro Afrocarioca de Cinema - Zózimo Bulbul. É graduada pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage em 2015, mesmo ano em que foi selecionada para a residência artística Afrontrancendence, no Red Bull Station em São Paulo. Dirigiu a videodança Sentinela, selecionada para o Festival Dança em Foco 2017. É fundadora do cineclube Capa Preta, com foco no protagonismo da mulher negra no cinema.

Everlane Moraes

Formou-se pela Escola Internacional de Cinema e TV – EICTV, em Cuba, onde realizou parte de sua obra, que traz experimentações em linguagens híbridas, passando pelo documental e a ficção, e é por vezes acionada pela religiosidade afro-cubana da Santería. É diretora de filmes como Caixa D´Água: Qui-lombo é esse? (2012) e Conflitos e Abismos: A expressão da condição humana (2014).

Elen Linth

Formada em Cinema e Audiovisual, atua na área executiva de projetos, direção, roteiro, fotografia e curadoria. Dentre suas produções destacam-se as obras Transviar (2018) Territórios (2017) e Travessia (2018). Ela também é co-diretora da série Diversidade (2017).

Larissa Nepomuceno

É roteirista e diretora cinematográfica, formada em Cinema e Artes Visuais e mestranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Seu primeiro curta-metragem foi o documentário Megg - A Margem que Migra para o Centro, que recebeu sete prêmios e duas menções honrosas, além de ser exibido em dezenas de festivais internacionais. O curta Seremos Ouvidas é o seu mais recente trabalho com cineasta.

Larissa Fulana de Tal

Graduada em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (URFB), atua como Conselheira Associação de Profissionais Negros da Audiovisual (APAN). É diretora do documentário Lápis de Cor (2014), projeto contemplado pela I Chamada de Curtas Universitários do Canal Futura. Ela também dirigiu o filme Cinzas, contemplando no Edital Curta Afirmativo (2012). A cineasta ainda atuou como diretora geral da série documental Diz aí! Afro e indígena do Canal Futura (2018).

Tais Amordivino

Bacharel em Comunicação Social e Cinema e Vídeo, é uma das realizadoras do festival Itinerante de Cinemas Negros - Mahomed Bamba (MIMB). Atuou como diretora e roteirista do documentário A Invisibilidade da Identidade Negra na educação, selecionado em festivais nacionais. Dirigiu e roteirizou o premiado curta-metragem documental Motriz, exibido em mais de trinta festivais, nacionais e internacionais, incluindo oito premiações. Atualmente, dirigiu sua primeira ficção A Menina Que Queria voar, contemplada no Edital Setorial de Audiovisual 2019 – FCBA.

Mariana Campos

É cineasta graduada em Produção Audiovisual, pela Universidade Estácio de Sá, e formada em Direção Cinematográfica, pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Em sua filmografia, destaca-se a direção do filme Tia Ciata, premiado em diversos festivais nacionais e internacionais, como London Feminist Film Festival e Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro. E o filme Minha História é Outra', que atualmente circula por festivais ao redor do mundo, como Berlin Feminist Film Week e, recentemente premiado como melhor filme nacional pelo júri popular no Recifest - Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero.

Serviço

Travessia (2017)
De Safira Moreira
Duração: 5 minutos
Classificação Indicativa: Livre

Seremos ouvidas (2020)
De Larissa Nepomuceno
Duração: 13 minutos
Classificação Indicativa: Livre

Motriz (2018)
De Taís Amordivino
Duração: 15 minutos
Classificação Indicativa: Livre

Caixa D’água: Qui-lombo é esse? (2012)
De Everlane Moraes
Duração: 15 minutos
Classificação Indicativa: Livre

Entre Passos (2012)
De Elen Linth
Duração: 9 minutos
Classificação Indicativa: Livre

Cinzas (2015)
De Larissa Fulana de Tal
Duração: 15 minutos
Classificação Indicativa: Livre

Minha história é outra (2019)
De Mariana Campos
Duração: 22 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos (Contém cenas de nudez)

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