Domingo tem brinquedos e brincadeiras na Casa de Dona Yayá

Janeiro 15, 2019

Brinquedos e Brincadeiras é o tema da programação especial que o CPC-USP oferece para o público no próximo domingo, dia 20, das 10h às 15h, na Casa de Dona Yayá, com entrada gratuita.

A programação marca o aniversário de nascimento de Sebastiana de Mello Freire, chamada Dona Yayá, última moradora da casa que hoje leva seu nome, nascida em 21 de janeiro de 1887. Educadores e monitores vão receber crianças e adultos para participarem de oficinas de confecção de brinquedos e atividades de interação com brincadeiras comuns no final do século XVIII e início do século XIX, como jogos de roda, cobra-cega, esconde-esconde. Para o encerramento, teremos a participação do Bloco Dona Yayá, criado pela organização União de Mulheres de São Paulo, que vai apresentar suas marchinhas para o Carnaval de 2019.

No início do séc. XX as brincadeiras aconteciam ao ar livre: pião, jogos de roda, brincar de esconde, cabra-cega, futebol com bolas feitas com retalhos de tecidos e meias velhas. As crianças mais ricas tinham acesso à brinquedos industrializados, como cavalinhos de balanço, a carrosséis de corda, barcos com motor, bonecas de porcelana, soldadinhos de chumbo, marionetes, carrinhos, comboios (trens). Entretanto, muitos brinquedos ainda eram confeccionados em casa, com materiais simples como madeira, trapos, pasta de papel ou folhas de estanho, que serviam para criar bonecas de pano, brinquedos em miniatura imitando animais, barcos etc. Com as transformações do modo de vida nas cidades, e principalmente com os novos hábitos decorrentes do desenvolvimento tecnológico, as atividades infantis foram se adaptando às mudanças socioculturais: algumas brincadeiras permanecem, enquanto outras surgem a partir das inovações e invenções da humanidade. A proposta do CPC é que, a partir da memória das brincadeiras de antigamente, crianças e adultos possam vivenciar diferentes modos do brincar. Vamos reviver um tempo em que não existiam os aparelhos eletrônicos, celulares e internet, recursos que transformaram significativamente não só a relação com brinquedos e brincadeiras, mas até mesmo a convivência social. Essa atividade é uma parceria do Centro de Preservação Cultural da USP com o Museu do Brinquedo, da Faculdade de Educação da USP e com o grupo União de Mulheres do Município de São Paulo.

VISITAÇÃO: 10h às 15h

OFICINAS: 10h30 às 13h30
Educadores e monitores vão receber crianças e adultos para oficinas de confecção de brinquedos e atividades de interação com jogos e brincadeiras do final do século XVIII e início do século XIX.

CARNAVAL DA YAYÁ: 13h30 às 15h
Participação do bloco de rua criado pela União de Mulheres de São Paulo que homenageia Dona Yayá e chama a atenção para os direitos das mulheres, com suas marchinhas para o Carnaval de 2019.

CPC-USP/Casa de Dona Yayá
Endereço: Rua Major Diogo, 353, Bela Vista – São Paulo – SP
Entrada gratuita
Contato: 2648-1501 / 1511 ou cpcdivulga@usp.br
Programação sujeita a alterações, sem aviso prévio.

BLOCO DONA YAYÁ

O Yayartes é um bloco criado pela União de Mulheres de São Paulo que há mais 18 anos percorre as ruas do Bixiga pautando questões de gênero, saúde mental e a memória de Dona Yayá nas letras das suas marchinas. O bloco sai sempre na semana que antecede ao Carnaval, com concentração na Rua Coração da Europa, 1395, onde está localizada a sede da organização. O trajeto termina na Casa de Dona Yayá, em homenagem à memória dessa figura feminina. Em 2012, como parte do projeto Bixiga em Artes e Ofícios, o CPC registrou em vídeo as atividades do bloco: https://vimeo.com/48027866.

A história da União de Mulheres do Município de São Paulo, por sua vez, se entrelaça com a história do feminismo no Brasil. Esta organização não governamental, sediada no bairro da Bela Vista, há 34 anos vem defendendo os direitos das mulheres. As atividades visam chamar a atenção para os desafios que precisam ser enfrentados para que a igualdade seja alcançada, apresentando propostas, e, principalmente, empoderando mulheres para que elas possam ser mais livres para desenvolver todo seu potencial pessoal, social, político e econômico. Projetos como o Promotoras Legais Populares, desenvolvido ininterruptamente desde 1994, e o Maria, Marias, desde 2008, levam a educação popular feminista em direitos para mulheres que, na construção coletiva do conhecimento com outras mulheres e com as facilitadoras e facilitadores do curso Promotoras Legais Populares e Maria, Marias, descobrem para si e para suas comunidades novas possibilidades de acesso à justiça, serviços e políticas que possam efetivamente melhorar suas vidas e das pessoas a sua volta. O grupo provomo ainda outras iniciativas, como o Yayartes, Bloco Carnavalesco Casa de Dona Yayá, cursos de igualdade de gênero e direitos das mulheres em parceria com instituições públicas, e eventos diversos como seminários, rodas de conversa e atos públicos, entre eles o 8 de Março e o Abraço Solidário às Mulheres em Situação de Violência, ampliando o debate sobre questões que historicamente afligem as mulheres não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

QUEM FOI DONA YAYÁ
Nascida em 21 de janeiro de 1887, de família pertencente à elite paulistana, Sebastiana Melo Freire, a Dona Yayá, recebeu educação esmerada, tendo sido aluna interna do tradicional colégio Nossa Senhora de Sion. Era religiosa, falava francês, tocava piano, pintava, realizava trabalhos manuais e tinha a fotografia como passatempo preferido. Vestia-se com discrição e elegância, tinha hábitos simples, saía pouco - sua vida social restringia-se a um pequeno grupo de amigos. Nunca se casou. Consta que teria recusado propostas de casamento por julgar que os pretendentes estivessem interessados em sua fortuna, mas também se dizia que fora apaixonada secretamente por um rapaz de rica família. Em 1919, após apresentar recorrentes sinais de desequilíbrio emocional, foi internada em um hospital psiquiátrico, tida como incapaz de administrar a fortuna da qual era a única herdeira. Sua interdição causou comoção na sociedade paulistana, gerando uma série de artigos publicados pelo jornal sensacionalista "O Parafuso". Um ano depois a família seguiu conselhos médicos para que seguisse tratamento em casa, onde receberia melhores cuidados. Foi escolhida, então, a chácara localizada nos arrabaldes da cidade, local tranquilo e afastado do burburinho urbano. Dona Yayá viveu reclusa nessa casa por 40 anos, juntamente com amigos da família e empregados. Passava a maior parte do tempo encerrada em aposentos que foram adaptados para sua segurança segundo critérios médicos. Os cuidadores de Dona Yayá mantinham-na sempre asseada e penteada e preservaram o hábito de comemorar seu aniversário todos os anos com um jantar especial. A respeito de sua personalidade, diz-se que Dona Yayá era alegre e generosa, apesar de marcada por tristes acontecimentos. Ainda na infância sofreu a perda de duas irmãs, viu-se órfã aos 12 anos de idade e aos 18 foi surpreendida pela notícia da morte do único irmão, que teria se atirado ao mar durante um acesso de insanidade mental - quadro que também ela viria a manifestar. A trágica história de Dona Yayá instiga a curiosidade e a imaginação dos que dela ouvem falar: ela ora é apresentada como a "louca do Bixiga", ora como uma mulher vitimada pela tirania de familiares e incompreendida pela moral da época em que viveu. Restaurada e tombada como patrimônio cultural, a Casa de Dona Yayá é hoje testemunha dessa história.

SOBRE A CASA DE DONA YAYÁ

Sede do CPC-USP desde 2004, a Casa de Dona Yayá foi transferida em 1969 como herança vacante à Universidade de São Paulo. Passou, ao longo das últimas décadas, por cuidadosos trabalhos de conservação e restauro que abrangeram a recuperação do imóvel, restauração das pinturas parietais em seu interior e dos jardins da chácara que a circundava. Reconhecido como um dos últimos remanescentes do antigo cinturão de chácaras que circundava a região central da cidade, o imóvel assumiu importância histórica ainda maior em razão da reclusão de sua última proprietária, Sebastiana de Mello Freire, Dona Yayá, entre 1919 e 1961. Com base nessa rica história material e imaterial, a Casa de Dona Yayá foi tombada pelo Estado de São Paulo, em 1998, e pelo Município, em 2002. A trágica vida de Dona Yayá ainda hoje instiga a curiosidade e a imaginação dos que dela ouvem falar, e é parte da história do bairro da Bela Vista. O CPC- USP promove a valorização desse imóvel através de sua abertura ao público, incentivando reflexões a respeito de sua arquitetura, da história do bairro e da personagem Dona Yayá.