Doenças oculares dificultam renovação da CNH

Julho 24, 2018

Acidentes de trânsito são considerados um grave problema global de segurança e saúde pública pela OMS (Organização Mundial da Saúde). No Brasil, o número de pessoas que perdem a vida por esta causa vem crescendo. É o que revelam os relatórios do DPVAT, seguro social que cobre acidentes no país. Só nos cinco primeiros meses de 2018, foram mais de 100 pessoas por dia. Houve um aumento de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior, passando de 15,6 mil indenizações para 16,7 mil este ano.
De acordo com o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, perito em medicina do trânsito e membro da ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego), o uso de óculos desatualizados é um dos fatores que contribui com esse crescimento. Isso porque a maioria dos brasileiros só faz exame oftalmológico quando vai renovar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). "A nossa legislação é clara: para dirigir é necessário ter, no mínimo, 50% de acuidade visual. O problema é que as alterações no grau dos óculos ou lentes de contato são lentas e passam despercebidas. Por isso, pessoas que enxergam próximo ao limítrofe estabelecido pelo Detran correm mais risco de serem reprovadas no exame de renovação da carteira de habilitação", alerta. Resultado: além de colocarem a própria vida e a de outras pessoas em risco por descuido com a saúde ocular, esses motoristas tem que refazer o exame no Detran posteriormente e ficam um período privadas de dirigir.
Queiroz Neto afirma que a dificuldade de enxergar aumenta em até três vezes a chance de acidentes. Isso porque, 85% de nossa integração com o meio ambiente depende da visão. "Um motorista que enxerga 100% e trafega em uma estrada a 90 km/hora tem 3,2 segundos para processar as informações de uma placa de sinalização. Para quem enxerga 66% e com 50% de acuidade visual, a leitura tem de ser feita em 2,5 segundos, além de ocorrer uma queda no tempo de leitura, que passa a ser de 1,6 segundos", exemplifica o médico.
Os sinais de que já está na hora de consultar um oftalmologista são:

· Não ter o tempo suficiente para ler algumas placas de um trajeto.

· Apertar os olhos para ler.

· Sentir desconforto na claridade.

· Dificuldade para acompanhar palestras ou as legendas de um filme.

· Dor de cabeça, que geralmente ocorre no final do dia, depois de longo tempo de esforço visual.

Independente desses sinais, o oftalmologista recomenda às pessoas com até 40 anos de idade que realizem um exame oftalmológico a cada 18 ou 24 meses. A partir dessa idade, a consulta deve ser anual já que nessa faixa etária surge a presbiopia e o risco de outras doenças oculares.
Mas engana-se quem pensa ser somente o envelhecimento a causa da visão dos motoristas ficar prejudicada. Pesquisa, realizada por Leôncio, com portadores de ceratocone mostra que a doença dificulta a direção de 1 em cada 5 jovens. E mais: também dentro desse grupo de idade, 1 em cada 8 tem problema para conduzir à noite, e essa mesma proporção de pessoas não consegue dirigir independente do horário. Por isso, ceratocone é a doença que mais causa acidentes entre pessoas mais novas. O oftalmologista comenta que essa enfermidade afina e altera a curvatura da córnea, lente externa do olho responsável pela refração, e dependendo do quanto avança, torna a visão bastante embaralhada para perto e longe. Isso explica porque a doença responde por 70% dos transplantes no Brasil.
Já a partir dos 60 anos, a catarata, doença que torna o cristalino opaco, responde por 49% dos casos de cegueira tratável no mundo. De acordo com o profissional, acesso à cirurgia, menor frequência entre as avaliações oftalmológicas para esta faixa etária prevista na legislação e disponibilização de informações aos médicos peritos sobre os efeitos da doença na visão do condutor podem resultar no diagnóstico precoce da catarata.

Os primeiros sinais da doença elencados pelo médico são:

· Mudança frequente do grau dos óculos.

· Perda da visão de contraste.

· Visão de halos ao redor da luz.

· Dificuldade de enxergar à noite ou em ambientes escuros .

· Aumento da fotofobia (aversão à luz) a ponto de gerar cegueira momentânea causada por faróis de carros.

A má notícia é que a espera no SUS pela cirurgia pode demorar mais de um ano e, por isso, muitos condutores acabam colocando a vida em risco no trânsito. No entanto, há uma boa notícia: a cirurgia de catarata reduz em 50% o risco de acidentes. "Por isso, quem precisa dirigir, principalmente à noite, deve passar pela operação que substitui o cristalino opaco por uma lente intraocular logo no início da doença", conclui.

Fonte: ldcldc@uol.com.br