Curso discute Reflexões de Michel Foucault em Relação à Política, Liberdade e Ética

Março 07, 2016

O curso aborda sua contundente crítica às formas de manifestação do poder disciplinar, da biopolítica ou da governamentalidade neoliberal, em nossa atualidade. Para Foucault, a ética deve ser entendida como um modo de vida, como uma atitude crítica e como uma maneira de se relacionar com a verdade em busca da construção de uma vida verdadeira, bela e digna de ser vivida.

Vale lembrar que o tema da ética não se destacou no repertório dos movimentos políticos de esquerda, no passado; já para os feminismos, ao contrário, passou a ser um dos pontos fundamentais da discussão e da luta. Assim sendo, da importância conferida à parresia (ou coragem da verdade) pelos antigos gregos em suas “artes do viver”, chegando à discussão sobre a “teoria do capital humano”, formulada nos marcos do neoliberalismo, e apontando para as criações feministas em sua crítica da cultura patriarcal e para as experiências libertárias de outros grupos e coletivos em luta, o curso focaliza aspectos centrais da filosofia de um dos maiores filósofos da contemporaneidade.

Confira a programação:

14/3 - “Ética e política em Michel Foucault. Em torno da parresía”
A relação entre a ética e a política em Michel Foucault a partir do viés constituído pelo estudo realizado pelo pensador acerca da noção de parresia (dizer-verdadeiro). Em especial, abordará o tema da "parresia democrática" entre os Antigos, segundo a perspectiva de Michel Foucault. Ao discutir o significado dessa palavra verdadeira pronunciada no âmbito da cidade antiga, Foucault nos leva a perguntar pelos critérios de legitimação e pelos limites do jogo político democrático confrontados com o significado do dizer-verdadeiro e da ética. Com Márcio Alves da Fonseca. Doutor em Direito pela Universidade de São Paulo. Pós-Doutor em Filosofia pela École Normale Supérieure de Paris e pela Université de Paris-XII. Professor de Filosofia da PUC-SP.

15/3 - “Michel Foucault e o sujeito de direito”
A problematização que Michel Foucault fez à figura do sujeito de direito, apontando para os seus limites dentro do pensamento e da prática política. Ao emergir em um período histórico específico, a sociedade do contrato do século XVIII, o sujeito de direito começa a ser invadido por outros modos de pensar a produção do indivíduo na modernidade, tais como as figuras do sujeito disciplinar, de interesse, do homem econômico etc. Já os estudos do filósofo sobre a ética indicaram uma diferença muito grande nos modos de produção das subjetividades, principalmente pela problemática da coragem da verdade. Nesse sentido, há divergências muito grandes entre, por exemplo, o sujeito livre do liberalismo e do neoliberalismo e o sujeito ético e autônomo da cultura antiga. O objetivo, então, será compreender os trabalhos de Foucault não somente pela sua capacidade de criticar os conceitos tradicionais, mas também pela possibilidade de criar problemáticas novas, tais como as propostas de inventar um “direito novo” e de construir modos de vida éticos e libertários no presente. Com Priscila Vieira. Doutora e pós-doutoranda em História pelo IFCH-Unicamp. Professora Adjunta no Departamento de História da UFPR.

16/3 - “Neoliberalismo e a "ética" do empresário de si”
A crítica de Foucault ao neoliberalismo, muitas vezes mal compreendida, passa não apenas pela análise da forma de governamentalidade neoliberal, mas principalmente pela exposição de seus mecanismos de submissão das subjetividades, produzindo sujeitos identificados com empresas, "empresários de si mesmos". A teoria do capital humano, ponto-chave da doutrina neoliberal, pretende afirmar a autonomia e a liberdade individual, mas aparece, sob o olhar de Foucault, como conduzindo à heteronomia e à submissão subjetiva ao biopoder. O pensamento ético de Foucault, assim, apresenta-se como forte crítica às teorias neoliberais e às formas de governo tornadas hegemônicas nas últimas décadas. Com Mauricio Pelegrini. Doutorando em História Cultural pela Unicamp. Mestre em História pela Unicamp. Bacharel em Ciências Sociais pela Unicamp.

17/3 - “Foucault e as políticas feministas da subjetividade”
Ao longo dos últimos cinquenta anos de mobilização, de lutas e de criações inovadoras pelos feminismos no Brasil, novas políticas da subjetividade foram construídas pelas mulheres, que ocuparam a esfera pública e questionaram radicalmente as definições tradicionais da maternidade, da sexualidade e da política. As problematizações e os conceitos elaborados por Michel Foucault nos permitem perceber com maior clareza essas práticas de resistência aos processos normalizadores, ao controle biopolítico dos corpos e às formas da governamentalidade neoliberal, marcadas pela combatividade e pela ética. Com Margareth Rago. Professora titular do Programa de Pós-Graduação em História da UNICAMP.

18/3 - Foucault e a atitude crítica: do cinismo às novas formas de subjetivação ético-política
Trata-se de ressaltar a importância atribuída por Foucault à atitude crítica como instância de um trabalho constante de transformação de si e dos outros por meio de práticas refletidas de liberdade. O exercício de tal atitude crítica parece caracterizar a atuação de certos coletivos ético-políticos do presente, centrados na experiência da criação de novas formas de vida, de vínculo e de amizades, em relação àqueles movimentos sociais que fazem do sujeito de direito e de suas identidades o porto de ancoragem e o foco exclusivo de suas lutas. A atitude crítica, entendida como experiência de autotransformação refletida por meio de práticas de liberdade e de insubordinação, é o elo teórico que permitiu a Foucault estabelecer um diálogo trans-histórico entre sua discussão da constituição do sujeito ético em certas escolas filosóficas do passado, em particular o cinismo antigo, e os movimentos gays e de mulheres dos anos 60-80. Trata-se agora de verificar em que medida tal diálogo poderia ser estendido a experiências ético-políticas contemporâneas, tal como postas em ação por coletivos pós-identitários e inspirados na teoria queer, como a Marcha das Vadias, distinguindo sua forma de atuação daquela dos movimentos identitários de minorias. Com André Duarte. Doutor em Filosofia pela USP. Professor adjunto da UFPR.


Serviço

Foucault, a liberdade e a ética
De 14 a 18 de março de 2016. Segunda a sexta, das 15h às 17h30.
Recomendação etária: 16 anos. Número de vagas: 30.
R$ 60,00 (inteira); R$ 30,00 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e professor da rede pública); R$ 18,00 (trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes).
Atividade com tradução em libras. Solicitação deve ser feita no ato da inscrição, com no mínimo dois dias de antecedência da atividade.
Informações e inscrições a partir do dia 25 de fevereiro pelo site (sescsp.org.br/cpf) ou nas unidades do Sesc no Estado de São Paulo