Artistas indígenas, teatro de animação, dança, circo e teatro clássico marcam o Festival Arte como Respiro – Cênicas de novembro

Novembro 12, 2020

O Itaú Cultural dá continuidade à série de apresentações do Festival Arte como Respiro, e de 18 a 22 de novembro disponibiliza em seu site www.itaucultural.org.br mais um bloco da Edição Cênicas, reunindo, agora, 19 apresentações de nove diferentes estados. Com selecionados de Arte como respiro: múltiplos editais de emergência, realizado pela instituição para apoiar os artistas no período de suspensão social, esse novo recorte é marcado pela diversidade de temas e de linguagens, mostrando ao público como os artistas das artes cênicas buscaram novos formados para fazer sua arte chegar às pessoas, assim como destaca a riqueza e cênica de artistas de diferentes lugares do país, fazendo essa arte chegar a um público cada vez maior. Entrando no ar sempre às 20h, as apresentações ficam disponíveis no site da instituição (www.itaucultural.org.br) por 24 horas, para serem assistidas virtualmente (segue anexado todo o serviço da programação).

A programação do Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas começa no dia 18 (quarta-feira), com a força de presença de trabalhos que abordam questões indígenas, femininas e raciais. O grupo Dyroá Báya, da etnia Tariano, do Amazonas, mas radicado em São Paulo, abre a noite com dois trabalhos. Em A Reviravolta dos Pássaros, as atrizes Sandra Nanayna e Rosa Peixoto, tratam a reviravolta não como uma questão utópica, mas como uma mensagem da natureza, sentida pelos que têm a sensibilidade de observar, sentir e respeitá-la. Já em Ancestralidade Viva os mais velhos aproveitam o tempo em casa, na vida urbana, para passar seus conhecimentos ancestrais de dança, cantos e movimentos para as novas gerações. Enquanto uns pensam que esse tempo de ficar em casa com a sua família é um tempo perdido, eles acreditam que é um tempo presenteado pela natureza.

O pernambucano Coletivo Encruzilhada, por sua vez, está em Urtiga, videodança gravada dias depois da execução da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, em março de 2018. Tendo em cena a dançarina Rebeca Gondim, traz à tona pontos invisíveis da cartografia de uma cidade, questionando quantos desmoronamentos ela já presenciou e quantas pedras já ruíram dos corpos. Se passa no Alto do Pascoal, mas poderia ser qualquer bairro, em qualquer periferia das grandes cidades do Brasil.

A noite fecha com Vaga Carne, da atriz, dramaturga e diretora mineira Grace Passô, que faz um jogo entre palavra e movimento, onde um corpo de mulher vive a urgência de discurso, à procura de suas identidades e de pertencimento. Transcriação para a tela da peça feita para o palco, o filme, dirigido por Grace e Ricardo Alves Jr., é centrado numa voz errante, que invade o corpo de uma mulher, traçando uma jornada de autoconhecimento, narrando o que sente, o que finge sentir, o que é insondável em si, o que sua imagem é para o outro que vê e o que significa seu corpo enquanto construção social.

Linguagens

Na quinta-feira (dia 19), a programação do Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas é voltada a trabalhos com máscara e teatro de animação. É o caso de Coração InBox, projeto dos artistas Leandro Maman e Sandra Coelho, do Eranos Círculo de Arte de Itajaí, Santa Catarina. No início da quarentena, Maman iniciou pesquisa na construção de mecanismos clássicos de teatro de bonecos, utilizando como recurso impressora 3D, criou um boneco de vara de giro de cabeça, que protagoniza o vídeo, no qual um boneco guardado dentro de uma caixa de papelão no período da quarentena aguarda em silêncio o tempo passar. Por fim encontra a redenção.

Já Mini-documentário e espetáculos de Teatro Lambe-Lambe da Cia. PlastikOnírica, que também entra no ar neste dia, é um registro sobre o teatro lambe-lambe, linguagem genuinamente brasileira do Teatro de Formas Animadas, criada em 1989, na Bahia, pelas mestras populares Denise Di Santos e Ismine Lima. Pesquisa acadêmica de Pedro Cobra, diretor artístico da Cia. PlastikOnírica, acaba trazendo os bastidores de dois espetáculos da companhia nesta linguagem:

A Fiandeira, no qual a grande Deusa Aranha fia e tece os destinos dos homens e das mulheres numa viagem cósmica e íntima, e Saudade, onde um boneco, que busca a razão de sua solidão numa carta, o boneco se vê entre ficar e partir, que alimentam e saciam esta falta: sua saudade.

Outra cena teatral da noite é a gaúcha Imobilhados na Quarentena, do grupo Máscara EnCena. Criado durante o isolamento, inspira-se no espetáculo Imobilhados, mas agora questionando o que os personagens da peça estariam fazendo na quarentena. Assim, convida o espectador a testemunhar fragmentos da vida de moradores de um prédio, fazendo uso da máscara expressiva inteira, linguagem que dispensa a fala, uma vez que o prédio funciona como um microcosmo revelando particularidades existenciais individuais e coletivas.

Os artistas Elisa Rossin e César Gouvea também abordam a intimidade do isolamento em Quarentena Mascarada, nascido da experimentação com vídeos com as máscaras, na tentativa de construir uma linguagem visual específica a partir delas. No espetáculo, um pássaro conduz a intimidade de cada casa, ao circular livremente sobre a cidade. Na Casa 1, revela o cotidiano de uma mãe que cuida integralmente de seu lar e de seu filho. Na Casa 2, um casal de idosos busca formas de reinventar os dias, entre jogos, suspensões de angústias, porém, em movimento. Já na Casa 3, um homem sozinho, inquieto, busca estímulos externos para superar a situação de isolamento.

Já O BRAILE, Uma Dança às Cegas, dos cariocas da PeQuod Teatro de Animação, une teatro de animação e dança contemporânea. O trabalho nasceu de um intercâmbio internacional entre a companhia carioca PeQuod Teatro de Animação e a companhia holandesa DudaPaivaCompany. A performance parte da observação dos limites impostos pela redução do importante sentido da visão, estimulando uma percepção mais aguçada do mundo, atravessado por emoções intensas. A partir de então, foi criada uma partitura corporal da performance, com uma narrativa de movimento essencialmente poética, reunindo quatro corpos: três intérpretes e um boneco.

Os paulistas do Coletivo Mó, por sua vez, participam do festival com HAIKORPOS, quadro criado coletivamente no isolamento e à distância. Composto por sete poemas visuais, resulta da pesquisa do grupo sobre exercícios livremente inspirados nos haikais japoneses, buscando a síntese e a precisão desses poemas de grande carga poética nas ações corporais. Assim, em HAIKORPOS, um gigante solitário aparece na Terra e encontra um grande livro, onde estão outros seres isolados em diferentes cotidianos, dos mais confinados aos mais livres.

Clássicos

Espetáculos criados para diferentes marcam a programação da sexta-feira, dia 20. Sem Céu do paulista Caio Deroci, abre a noite. Artista que estuda artes e técnicas circenses há 11 anos, com ênfase em aparelhos aéreos, Deroci coloca-se analogamente em cena como um pássaro trancado na gaiola.

Do palco circense para o tradicional, o festival apresenta também Um Tartufo, espetáculo da companhia carioca Teatro do Esplendor inspirado em peça de Moliére. No texto, dirigido por Bruce Gomlevsky, Orgonte é um chefe de família e homem de posses, que cai nas garras de Tartufo, um suposto religioso, que na verdade um inescrupuloso charlatão. Toda família de Orgonte se dá conta do caráter de Tartufo imediatamente, exceto ele, que instala Tartufo em sua casa e passa a seguir todos os conselhos do líder espiritual e lhe oferecendo regalias.

Em cada investida da família contra Tartufo, Orgonte reage dando cada vez mais liberdades e direitos ao hóspede, ao qual acaba prometendo a filha Mariana em casamento, sendo que ela já estar prometida com Valério. Mas Elmira, esposa de Orgonte, conta que seu hóspede está tentando seduzi-la e ele acaba descobrindo tudo e expulsa Tartufo de sua casa. Mas é tarde demais: Orgonte já havia passado todos os seus bens para o nome do falso amigo.

Corporal

O final de semana começa com espetáculos voltados às artes circenses e do corpo. No sábado (dia 21), Otavio Fantinato, cofundador da Cia do Relativo, de São Paulo, apresenta 4×1, experimento de videomalabarismo que explora os riscos – inerentes na linguagem do circo – em novos lugares: a proximidade entre a cena e a câmera, seus desvios, aproximações e balanços.

A noite segue com E Se...?, do também paulista Los Circo Los, que promove um diálogo entre a técnica e a história de um sujeito, regido pela dinâmica do malabarismo, suas repetições, ciclos e círculos, padrões e planos. Ele é alguém que, tal qual qualquer um, vive imerso em seu mundo de previsibilidades e controle. Entretanto, por contingências que extrapolam suas paredes, seu chão se abre e o lança na explicitação mais dura e real de sua vida: a incerteza, que faz cair as referências sólidas que lhe sustentavam.

A série de microperformances para a câmera Dez Posições Ante o Irreparável, do AND Lab Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba), fecha a noite conjugando linguagens da performance ao vivo e do vídeo, concebida por seus integrantes a partir dos verbetes que acompanham o Quase-Manifesto ante o Irreparável escrito por Fernanda Eugenio, criadora do Modo Operativo AND (MO_AND).

Diante da necessidade de isolamento, suscitada pela condição pandêmica, a programação de cada núcleo local do AND Lab Brasil ficou suspensa, situação que levou o grupo a reparar na possibilidade de reunir integrantes das três cidades em uma só proposição inédita, em formato digital. (An)coragem, Comparência, Co(m)passionamento, Consistência, Des-cisão, Firmeza, Fanqueza, Justeza e Suficiência são as 10 ferramentas-conceito traduzidas nesta ação performativa. Articulando o dizer e o mover, cada vídeo apresenta uma das palavras sob a forma de gesto poético-político feito de fala e corpo em relação.

Representatividade

O bloco de novembro do Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas fecha no domingo (dia 22), com quatro espetáculos que trazem linguagens e olhares de diferentes partes do país.

A artista circense Marina Bombachini, de São Paulo, apresenta Entre Cacos, Cercas e Caos e um Cadinho de Esperança. Criado no contexto do isolamento social, traz imagens que refletem, de forma subjetiva, suas angústias, pensamentos e esperanças da artista, que é acrobata e equilibrista. Combinando elementos cênicos, como garrafas de vidro, farpas, concreto e flores contrapõe delicadeza, risco e brutalidade.

Da Paraíba vem O Dia em que Tirei a Minha Alma pra Dançar, performance interativa de poesia e dança com Bianca Rufino e Mariana Sanfer, que traz uma perspectiva poética e coreográfica dos sonhos, quando a alma foi convidada para uma dança. Partindo do poema, que traduz essa capacidade imaginativa de se conectar com a alma e dançar com ela, - o que já fugiria da realidade -, traz ao lado a partitura corporal, presente e viva.

À Luz do Tempo, quadro de dança de Fabiano Nunes, do Paraná, que aborda a passagem do tempo nesse momento obrigatório de reclusão e isolamento social. Assim, essa passagem é tratada a partir de dois parâmetros: no primeiro, com a câmera em time-lapse, o tempo se apresenta em escala, e horas tornam-se minutos; já no segundo, o tempo é explorado em slow motion reverse, revelando o início dos movimentos corporais, em que segundos viram minutos.

A edição fecha com a exibição de Baldio, espetáculo do grupo cearense Pavilhão da Magnólia. Nele, cinco atores estão em quadros cênicos que abordam histórias reais do próprio grupo, atravessando temas, como a morte, o estar-no-mundo e a possibilidade do encontro, que se costuram por meio dos relatos, em uma junção de cena, audiovisual e literatura. A figura do cão, precisamente, do vira-latas, em sua dimensão de abandono, constituiu a dobra a partir da qual memória e representação questionaram seus limites e desenharam a moldura de "baldio", ou o que que não vale a pena, o que é infrutífero, inútil.

Serviço
Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas
De 18 a 22 de novembro (quarta-feira a domingo)
No site do Itaú Cultural: www.itaucultural.org.br
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