A sétima edição de Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade debate masculinidades em shows, conversas, teatro e dança

Agosto 19, 2020

Masculinidades é o tema que conduz a sétima edição de Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade, que o Itaú Cultural realiza neste ano de 24 a 30 de agosto (segunda-feira a domingo) integralmente online, em www.itaucultural.org.br. Voltada especificamente para as questões de identidade de gênero, sexualidade, corpo e afetividade, ela reúne convidados que abordam, em rodas de conversa e programação artística, as formas como os homens se entendem e se comportam.

"Sempre falamos que cada edição desse projeto recupera os temas das mostras anteriores para agregar outras perspectivas de existência. Nunca partimos do zero, mas de um histórico de vozes que ecoam novamente a cada edição", observa Galiana Brasil, gerente do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural. "Assim chegamos nesse momento de colocar em foco as tantas possibilidades de construção – e, mesmo, desconstrução – a fim de refletirmos a pluralidade de uma existência homem", conclui ela.

Durante a última semana de agosto, o público acompanha conversas com formadores de opinião, artistas, ativistas e pensadores convidados, como Tiago Koch, criador do projeto Homem Paterno. Pode também assistir a espetáculos como Barrela, texto de Plínio Marcos encenado pela companhia Cemitério de Automóveis, cujo enredo trata da violência sexual nos presídios masculinos, assim como cenas de dança e teatro feitas a partir do pensamento sobre a masculinidade recebida e a masculinidade criada.

O encerramento fica por conta dos shows permeados pelo universo musical queer do rapper paulista Rico Dalasam e do cantor pernambucano Ciel Santos. Para preparar os visitantes virtuais a esse mergulho na temática desse ano, o site do Itaú Cultural disponibiliza, no dia 21, uma publicação digital com textos e ilustrações de artistas convidados, também norteados pelas masculinidades.

Programação

Todos os Gêneros abre no dia 24 (segunda-feira), às 18h30, com Filho Homem. Cena teatral do ator carioca Bernardo de Assis, aborda violência, amor e a descoberta da transexualidade. A ficção trata das diferenças e proximidades entre dois irmãos, que foram criados um para ser homem e o outro para ser mulher.

A exibição antecede a primeira mesa desta edição, que, a partir das 19h, coloca em pauta a questão Masculinidades em Trânsitos. Permeada pelos repertórios de vida e formas de construção das masculinidades dos convidados, a conversa mediada por Thiago Rosenberg, produtor e editor de conteúdo do Itaú Cultural, reúne o jornalista gaúcho Airan Albino, que atua nos campos da cultura e das questões de identidade racial com o grupo MilTons, Lino Arruda, quadrinista transmasculino paulista e doutor em literatura com tese sobre autorrepresentação travesti/trans em zines latino-americanos, e o escritor pernambucano Marcelo Freire. Também de Pernambuco, o poeta Miró faz uma participação especial, dando voz ao poema que escreveu especialmente para a publicação da mostra.

A roda de conversa A Construção das Masculinidades dá início à programação da terça-feira, 25, às 17h, com convidados de diferentes e sensíveis olhares para a discussão: o carioca Jordhan Lessa, primeiro homem trans publicamente reconhecido da Guarda Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, o terapeuta baiano Marcus Boaventura, que atua como facilitador de grupo de homens, e o antropólogo pernambucano Sirley Vieira, coordenador da Rede de Homens Pela Equidade de Gênero (RHEG) e do Instituto Papai. A mediação é do mineiro Guilherme Valadares, fundador do Papo de Homem, portal de conteúdo e de formação e transformação das masculinidades.

No mesmo dia, às 20h, entra no ar Oboró, um conjunto de cenas teatrais dos atores Cridemar Aquino, Drayson Menezzes e Sidney Santiago Kuanza, gravadas especialmente para esta edição de Todos os Gêneros. Com texto de Adalberto Neto e direção de Rodrigo França, a exibição retrata a realidade e a subjetividade de homens negros, marcadas por questões como a hipersexualização do corpo e a busca por perfeição em troca de um lugar ao sol numa sociedade de estrutura racista.

O terceiro e último debate da programação entra no site no dia seguinte (quarta-feira, 26), às 17h, com o tema Paternidades. Mediada por Viviane Duarte, fundadora e CEO da iniciativa Plano Feminino e presidente do Instituto Plano de Menina, a mesa promove uma troca de experiências entre o paulista Luis Baron, criador do Canal Topassado, voltado ao bem-estar e ao aumento da autoestima das pessoas LGBTQIA+ idosas, também o capoeirista e bailarino pernambucano Orun Santana, filho do mestre de capoeira Meia-Noite, que explora a relação entre pai e filho e entre mestre e discípulo no espetáculo solo dedicado ao pai, e o naturólogo gaúcho Tiago Koch, criador do projeto Homem Paterno, que auxilia homens que desejam imergir no universo da paternidade integral.

A quarta-feira conta, ainda, com a exibição, às 20h, do espetáculo Bola de Fogo, do ator e diretor baiano Fábio Osório Monteiro. Ele faz uma performance de si próprio enquanto prepara e frita a massa do acarajé. A peça estreou em janeiro de 2017, quando o artista, tentando resistir às dificuldades na época, se tornou baiana de acarajé, com registro oficial na Associação Nacional das Baianas de Acarajé e Mingau, ABAM.

Palco

De quinta-feira a domingo, a programação artística domina as atividades da sétima edição de Todos os Gêneros, mantendo o tema masculinidades no centro das reflexões.

O olhar sempre atual da obra do dramaturgo paulista Plínio Marcos (1935-1999) entra em cena na quinta-feira, 27, com a encenação feita pela companhia Cemitério de Automóveis de Barrela, primeiro texto do autor. Dirigida por Mário Bortolotto, a peça aborda a história real de um jovem preso por um pequeno delito e violentado pelos companheiros de cela. O debate expande-se ao estado de exceção que se cria em determinados ambientes e o código de conduta estabelecido entre os criminosos. 

Na sexta-feira, 28, tem início a série de apresentações de cenas para web feitas por cinco artistas convidados a partir da provocação: a masculinidade que me deram e a masculinidade que criei. Às 20h, entra no ar Kaddish, uma Oração para os Homens que Eu Matei, do dramaturgo e ator paulista Ronaldo Serruya, que parte da reza tradicional judaica em homenagem aos mortos, recitada pelos filhos homens da pessoa falecida, para abordar o modelo masculino judaico-cristão que o formou. Na performance, mostra, ainda, a necessidade de matar esse modelo para afirmar, diante do mundo, o seu corpo queer e portador de HIV.

No mesmo horário, também entra em cena C(h)ancela 24. Nele, o artista e professor pernambucano Elilson parte da representação do número 24, que remete à figura do "veado" e à condição de ser "viado", usado como xingamento contra homens gays no Brasil, para fazer uma ação-tributo a um irmão, também homossexual, que se suicidou aos 24 anos.

Sábado, 29, é dia de dança conduzindo as três cenas exibidas também a partir das 20h. Em CorazA, o amazonense Odacy Oliveira reflete sobre a couraça como resultado do medo e da vergonha de ser livre, tendo como única saída a decisão de liberar a musculatura para respirar e ser quem se é. Para Não Dançar em Segredo, do performer André Vitor Brandão, de Pernambuco, revisita memórias e construções identitárias de gênero, abordando as problemáticas da construção de uma masculinidade hegemônica no sertão.

Nkisi Hongolô – A Divindade do Arco-Íris, do coreógrafo gaúcho Rui Moreira, por sua vez, aborda a masculinidade como um princípio energético dinâmico que pode ser alterado, ficando a cargo de cada um construir a sua. Por um lado, Hongolô é um Nkisi – uma divindade – de princípio masculino, que recebe vários nomes, dependendo do seu local de culto em terras bantus, por outro, Hongolô auxilia na comunicação entre os seres humanos e as divindades.

A sétima edição da mostra Todos os Gêneros, fecha no domingo, dia 30, com sua programação inteiramente dedicada à música, com a participação de artistas cujos trabalhos são permeados pelo universo queer. Quem abre a noite, às 20h, é o cantor Ciel Santos. O artista cresceu no vilarejo de Sacapurana, zona rural de Bezerros, agreste pernambucano, e hoje se define como um brincante de saia e batom. Ele apresenta ao público faixas do disco Enraizado, lançado no ano passado, influenciado pela cultura popular nordestina.

O número final é do rapper paulista Rico Dalasam, que apresenta o pocket-show do recém-lançado disco Dolores Dala Guardião do Alívio. Definido por ele como um trabalho que desenha um coração dentro de um corpo preto sul-americano pisando pelas primeiras vezes na vida adulta, o álbum reúne suas composições mais intimistas baseadas em episódios vividos por ele. Em Braille, as rimas abordam as descobertas em um relacionamento interracial e em Mudou Como?, o afropop flagra a vivência dos trágicos efeitos da ordem colonial. Em Vividir, as harmonias e melodias aliviam a dor quando reportam o artista a um lugar geográfico que não existe mais.

Outros olhares

Com ensaios, contos e poemas produzidos especificamente para este material digital, ilustrados com os traços do artista uruguaio Troche e uma HQ do quadrinista paulista Lino Arruda, a publicação tem convidados como o escritor moçambicano Mia Couto, com o texto Um Corpo Extracorpóreo, e o paulistano Ferréz, em Patriarcado no Meu Crucifixo.

Essas páginas virtuais abrigam, ainda, o poema Agora Recolho-me a Mim, do pernambucano Miró, a prosa A Última Flor, de seu conterrâneo Marcelino Freire, as reflexões sobre identidade do jornalista Airan Albino em Carnaval Não se Pula Sozinho e os pensamentos sobre o legado da figura paterna descritos pelo psicanalista carioca Tiago Mussi em A Carta (roubada) ao Pai. A publicação conta, ainda, com notas de um percurso por terrenos das masculinidades assinadas pela jornalista e cineasta Luiza Fagá em Desde a Fronteira.

Este material estará disponível no site do Itaú Cultural a partir do dia 22 de agosto.

Serviço
Todos os Gêneros – mostra de arte e diversidade
24 a 30 de agosto (segunda-feira a domingo) 
No site do Itaú Cultural: www.itaucultural.org.br

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