A dimensão pedagógica da dislexia

Outubro 03, 2018

A professora e diretora do Instituto de Psicologia da USP (IP-USP), Marilene Proença Rabello de Sousa, que possui mestrado, doutorado e livre-docência em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano também pela Universidade de São Paulo (1991, 1996 e 2010, respectivamente), concedeu uma entrevista à Rádio USP, no final do mês de setembro, na qual aponta a importância de se fazer um diagnóstico da dislexia que leve em conta a relação da criança com o método de ensino estabelecido, bem como o próprio ambiente escolar.
De acordo com o site da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), que se utiliza da definição do National Institute of Child Health and Human Development – NICHD), a dislexia é "um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizado por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração". Pode ser fruto de um trauma, ocorrido por conta de um acidente, que afete áreas do cérebro responsáveis pela leitura e escrita, mas é bastante comum que ocorra no processo de alfabetização. E foi pensando nesta última ocorrência do distúrbio que o Instituto de Psicologia tem feito um trabalho de atendimento, através do Serviço de psicologia escolar e da Orientação à Queixa Escolar, a alunos com diagnóstico de dislexia o qual vem mostrando equívocos nos laudos.
Aprofundando-se na parte educacional da vida da criança ou do adolescente, os psicólogos notaram que, em muitos casos, uma questão pedagógica foi entendida como uma patologia já que, ao tomarem conhecimento de quais eram as condições de ensino em que o aluno estava inserido, puderam constatar que as dificuldades se tratavam, na verdade, do resultado de uma má alfabetização.
Portanto, alerta Marilene Proença, um diagnóstico deve levar também em consideração fatores como a sala de aula na qual o indivíduo estuda, a maneira como o professor trabalha o conteúdo (metodologia), a qualidade da escola e, até mesmo, as expectativas da família. Esses aspectos podem mostrar-se reveladores no momento de fazer um laudo, o que auxiliará no momento de traçar estratégias para a superação do problema e, consequentemente, elevará a autoestima dessa pessoa que vem passando por diversos fracassos escolares.
Já no caso da investigação que elimine as possibilidades acima, é imprescindível que a criança ou o adolescente sejam acompanhados por um especialista, e que este trabalhe em conjunto com o professor para que se possa abordar a dificuldade de maneira eficaz, resultando no sucesso escolar.
Esse levantamento também pode ser feito pelos próprios pais e responsáveis se há uma suspeita de dislexia. É necessário conversar com a direção, a coordenação e os professores dos filhos para entender o que se passa em sua vida escolar. Além disso, é muito importante que os adultos estejam abertos ao diálogo para que a criança e o adolescente sintam-se confortáveis para falarem de seus problemas.
Outro ponto importante levantado na entrevista foi o papel dos pais no estímulo à leitura: "é fundamental que os pais possam sempre estar lendo histórias, contando histórias para os seus filhos desde de pequenos; que possam mostrar a beleza e a importância da leitura, e a escrita vai sendo constituída nesse processo também", recomenda Marilena.

Fonte: Dislexia, distúrbio que afeta aprendizado da leitura e escrita
www.dislexia.org.br