O Guerreiro Covas
por Elmo Francfort Ankerkrone
Março 06, 2001

Gostaria de fazer, nesta coluna, uma homenagem póstuma a um dos poucos políticos honestos do nosso país, Mário Covas, que faleceu às 5h30 do último dia 6 de março, de falência múltipla de órgãos. Desde 1998 estava lutando contra o câncer e, mesmo com toda sua garra, não conseguiu vencê-lo. Tentou até o quanto pode, não desistiu nem mesmo de trabalhar até os últimos dias fora do Instituto do Coração (Incor), mas a ciência não chegou a tempo de aniquilar esta doença. Por maior que seja o profissionalismo dos médicos, o câncer ainda é uma batalha que não foi vencida totalmente.

"Mário Covas Júnior" foi fundador do PSDB e um dos mais famosos e importantes tucanos que até hoje existiram. Foi o primeiro governador reeleito da história do estado de São Paulo e foi prefeito da cidade de 1983 a 1986, foi senador neste último ano pelo MDB. Também lutou contra a ditadura e pelas Diretas Já em 1985. Foi um dos grandes políticos do nosso país. De Santos a São Paulo, 70 anos de vida e 40 de carreira profissional teve este tucano, que nos deixa a marca de que foi uma pessoa que sempre representou e muito para a história política brasileira. Foi exemplo de alguém que lutava não só para vencer a doença, mas também para retomar o seu cargo político, esta profissão que não exercia só por obrigação, mas também por amor ao que fazia. Dedicação e censo de justiça fizeram de Covas esta grande personalidade que conhecemos.

Covas na Mídia
O governador de São Paulo foi tantas vezes fotografado para as revistas, foi flagrado trabalhando, protestando na rua, se impondo contra a privatização do Banespa, gravaram ele no aeroporto voltando do exterior em 79 (depois de ser anistiado da obrigação do exílio que fora imposto pelo regime militar). Covas levou pedradas, foi capa da Veja, de O Cruzeiro, de Manchete, apareceu em todos os jornais brasileiros, foi notícia desde Santos até o depois que morreu.
  Lembro-me que ele também teve sua influência na minha vida como eleitor e na vida dos meus pais e parentes, todos que votam no colégio eleitoral formado dentro da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), aqui na Rua Iguatemi (Itaim Bibi). A ordem era ir antes ou depois do Covas, sempre foi esta a nossa determinação. Ao contrário dos demais eleitores, já que na primeira sala da FMU da Iguatemi, à esquerda de quem entra no corredor principal da universidade, era onde votava Mário Covas, isto porque a cobertura dos meios de comunicação, televisões e rádios se armavam com seus equipamentos perto da porta, pois era o espaço que tinham para colocarem o cabo das câmeras e microfones conectados às unidades móveis (U.Ms) de cada uma das emissoras. Era e ainda é um festival de canais, que dali se aglomeravam para pegar o melhor close do governador votando e já fechavam link direto para a emissora. Era impossível de querer entrar na FMU neste momento! Precisávamos ou correr antes do horário em que ela votava ou esperávamos mais um pouco. Agora vocês me perguntam: como sabíamos disso? A forma era analisando o céu e os barulhos do ambiente...Quando ouvíamos os helicópteros chegando próximo a FMU já sabíamos do que se tratava: Covas estava lá. Para quem gosta de ver as U.M.s e os helicópteros das emissoras, as eleições sempre foram um show à parte! Quantas vezes o Águia Dourada, da Record, o Globocop, o helicóptero SBT/Excel e outros ficaram sobre a minha casa, sobrevoando para pegar imagens da universidade e do momento que Covas lá entrava. Talvez tudo tenha acabado agora. Nunca mais ele poderá exercer o seu ato cívico de cidadão e eleitor, uma coisa que para ele sempre foi essencial e indispensável.   

O lado frio da Comunicação   É preciso lembrar que a Comunicação, assim como a Medicina e todas as profissões existentes também seu lado frio, por mais que não gostemos dele. Não só na razão de Covas, como de qualquer celebridade que esteja em estado quase mortal, os meios de comunicação atuam como esperançosos por um lado e coveiros por outros. Ficam alertas para o fato do dia seguinte, sem saber se será um cortejo ou senão uma festa da recuperação de um enfermo famoso, mostrada numa coletiva especial emitindo boletins no meio da programação normal. Se posicionam, determinam onde cada emissora ficará, onde será formado link, tanto as televisões, como os rádios e trata, até mesmo como será feito um cortejo pelas ruas da cidade, do início ao fim. Por mais macabro que possa ser isto, é uma medida importante, porque o dever da Comunicação Social é anunciar não só os momentos felizes, mais também os tristes e maus que possam ocorrer. E para isto precisam estar preparados, porque senão não cumprimos o dever de comunicar o povo os acontecimentos. Uma coisa deste gênero, sem planejamento pode acarretar brigas e confusões de últimas horas entre as emissoras. Portanto, todas se organizam e ficam esperando o dia seguinte, mesmo que torçam pela melhoria do doente. Nem tudo são flores, pois estas são partes da profissão do comunicador social que muitos se esquecem, mas que é essencial. À qual chamamos de cobertura jornalística.


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