80 anos de rádio : a inauguração
por Elmo Francfort Ankerkrone
Outubro 04, 2002

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80 anos? Minha nossa... Como o tempo voa! Imaginar que TV já tem 52 anos já parece um absurdo, agora pensar que aquele nosso rádio, pequeno ou grande, tem 80 é quase que impossível de se pensar. Essa convivência faz com que anos atrás torne-se apenas o dia de ontem... E as vezes, faz com que esqueçamos que horas são durante o dia.
 
Dizem muitos teóricos que são meios de alienação, com vistas tendenciosas e críticas. Mas o pior é que são... E não que isso seja ruim. O importante é o ouvinte ou o telespectador saber dosar o quanto de alienação está pegando para si. Mas vale a pena a diversão, o entretenimento e as notícias.
 
Quando Edgar Roquette Pinto e Henrique Morize fundavam oficialmente o rádio no país, em 7 de setembro de 1922 - lá no alto do Corcovado, na então Capital Federal (Rio de Janeiro) - o Brasil estava comemorando o centenário de nossa independência. Grandes festejos acontecido por toda parte. Minha tia-avó Luiza lembra-se da data como um dia onde em São Paulo as principais avenidas lotaram, as pessoas ficavam em pé no bonde, se segurando nas batentes de suas laterais e com a outra mão bradando o centenário da independência. As proximidades do Ipiranga lotaram, já que foi lá que Dom Pedro primeiro deu o famoso grito "Laços fora, soldados! Independência ou morte!" Muita festa aconteceu nesse dia.
 
No Rio de Janeiro, pela estação experimental de rádio, que se tornaria em 1923 a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, o presidente Epitáfio Pessoa saudava o povo pelo centenário da independência e pela grande fase que entrávamos naquele momento no mundo das comunicações. Em 1934 a Rádio Sociedade, que era propriedade de Roquette Pinto, não agüentou mais viver... Sem investimento Roquette Pinto não podia modernizar seus aparelhos e ele não aceitava que o investimento comercial e político desvirtuas-e os ideais de sua rádio. Entregou-a ao governo. E tornou-se aos poucos a Rádio MEC, hoje propriedade do governo e da antiga Fundação Roquette Pinto (atual ACERP), detentora da TVE / Rede Brasil, canal 2 carioca.
 
Antes disso ainda há o nascimento da Rádio Clube de Pernambuco (em Recife), de Oscar Moreira Pinto. Esta em 1919. E ainda temos, mais atrás, em 1893 as experiências do Padre Roberto Landell de Moura, em Santa Catarina, onde o mesmo faz as primeiras transmissões de palavras faladas.
 
Em São Paulo, pouco tempo depois da Rádio Sociedade entrar no ar, entrava aqui a Rádio Educadora (1933). Por ser a pioneira do rádio paulistano, saiu na frente e foi longe... Todas as rádios que surgiram naquela época se espelhavam na Educadora. E de lá saíram grandes profissionais.
 
Meu tio-avô Otto (Octascílio Moreira de Freitas) tinha um amigo de juventude de nome Nicolau Tuma. Este, que logo se meteria no meio, já na PRA-E Rádio Educadora. Mas Nicolau Tuma, na PRB-9 Rádio Record, foi um dos grandes responsáveis pelas transmissões sobre a Revolução de 1932 (ano também que Getúlio Vargas autorizou a publicidade no meio). A Record, aliás, que havia sido fundada um ano antes da revolução constitucionalista e que era de propriedade de Paulo Machado de Carvalho. Mas Nicolau Tuma além disso, é considerado pelo Guinness Book como o brasileiro que falou o maior número de palavras e menor tempo, após análise de uma de suas famosas locuções esportivas de turfe (corrida de cavalo). E é dele também o termo "radialista", que hoje designa os profissionais tanto de rádio como os de televisão também. Tuma inventou o termo em sua passagem pela Rádio Difusora, em 1934. Passou por quase todas as rádios importantes de sua época. E depois de tantas atividades, ainda continua firme e lúcido. Tive o prazer de conhecê-lo e constatar, que continuava com a simpatia que diziam que ele possuía. Ele está vivo e possui mais de 90 anos. Com lucidez, chegou a lembrar de meu tio-avô Otto, numa reunião interna da associação dos pioneiros da televisão (Pró-TV) onde nos encontramos.
 
Geraldo Cazé, no Programa do Cazé (na Rádio Philips) cria em 1932 o primeiro jingle. O patrocinador era o Pão Bragança. E o jingle, criado pelo avô da atriz Regina Cazé, era o seguinte:
 
"Oh, padeiro desta rua
Tenha sempre na lembrança
Não me traga outro pão
Que não seja o pão Bragança..."
 
E começavam a pipocar as emissoras de rádio... Rádio Cruzeiro do Sul, Rádio Clube Paranaense, Rádio São Paulo, Rádio Record...No Sudeste, no Sul, no Nordeste... Os grandes grupos jornalísticos já se interessavam pelo meio. Os Diários Associados fundava em 1935 no Rio de Janeiro a PRG-3 Rádio Tupi AM, o "cacique no ar"!
 
Um ano depois surge também no Rio de Janeiro a PRE-8 Rádio Nacional. A história da rádio carioca começaria a mudar... A Rádio Tupi encontraria pela frente uma forte concorrente, que consagraria a "Era do Rádio", principalmente por possuir um grande elenco e de criar grandes fórmulas para o rádio brasileiro...
 
Dia 25 de setembro se comemora o Dia Nacional do Rádio pois é a data em que Edgar Roquette Pinto nasceu, no ano de 1884.
 
E encerramos esta primeira parte da coluna sobre os 80 anos do rádio com a talvez mais conhecida frase de Roquette Pinto sobre o meio radiofônico, falada pelo mesmo no discurso de inauguração do rádio no país: "Pela cultura dos que vivem em nossa terra. Pelo progresso do Brasil".
 
Até semana que vem

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