Televisão
por Elmo Francfort Ankerkrone
Outubro 26, 2001
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TV no banco da 'Praça' 

Quando você está folgado no fim de semana e a procura de paz, o que você procura? Um parque ou talvez uma praça... É, uma praça como as várias espalhadas por todo mundo. E no Brasil, praça recebeu uma outra conotação que não é a de apenas um lugar público onde as pessoas sentam para conversar ou andar, ou andar com algum conhecido por toda ela. O que vem na cabeça, desde a década de 50, é a figura de um programa de TV. Muitas vezes reformulado e até mudado de apresentador e nome, mas sempre a "Praça". Por isto aqui falaremos da história de a "Praça", uma "praça da alegria", uma "praça que é nossa" e de quem a quiser também. (À direita, "A Praça da Alegria" (TV Paulista) / Década de 50 - Na foto: O mendigo (Moacyr Franco) e Manoel da Nóbrega. Arquivo Multimeios/CCSP).

A plaza que virou praça 

Manoel da Nóbrega, trabalhava na Rádio Nacional de São Paulo, onde dirigia e apresentava diversos programas. O deputado Ortiz Monteiro, proprietário da TV Paulista convidou o radialista para trabalhar em sua emissora. Foi lá que Manoel da Nóbrega e seu filho Carlos Alberto inventaram o programa humorístico "Recruta 23", que já contava com vários profissionais do elenco da Rádio Nacional. O programa era feito no Edifício Liége, na Rua da Consolação. Usando dois estúdios, um em cima e outro no andar debaixo. Tendo que subirem e desceram várias vezes enquanto o programa estava no ar, na mudança de cada quadro. 

Mas os problemas acabaram quando Victor Costa comprou as empresas de Ortiz Monteiro e depois montou os estúdios da Rua das Palmeiras, transportando toda emissora para lá. 

Mas o programa "Recruta 23" foi se desgastando e Manoel da Nóbrega queria algo novo, mas original e inovador para o humorismo televisivo. Pensou e muito. Muito mesmo. Até mesmo nas férias que tirou em 1957 continuou pensando. E foi nestas férias que a idéia nasceu. Foi viajar para Buenos Aires e num desses dias, resolveu sentar-se em uma praça. Continuava pensando nos programas... Quando percebeu os tipos curiosos que passavam pela praça e conversavam com os argentinos que estavam ali próximos, sentados em bancos e lendo seus jornais. Acendia uma luz! Ali estava a idéia para seu novo programa. 

Voltou para o Brasil e apresentou a idéia à sua equipe e a Victor Costa. Começou a implantar a idéia na Rádio Nacional para ver se daria certo...e deu! Naquele mesmo ano então, com um fundo de papelão ilustrado e um banco, criaram para a TV Paulista o programa "A Praça da Alegria" - gravado no grande auditório da Rádio Nacional, na Rua das Palmeiras. 

O programa contava com uma platéia que ficava grudada no auditório da Rádio Nacional e era transmitido simultaneamente pelo rádio e pela televisão. 

Inicialmente ao vivo, no primeiro dia a emissora conquistou 70 pontos de audiência. Pouco tempo depois, começou a ser gravado em video-tape, mandado por avião para ser exibido horas depois para as outras emissoras do país. O sucesso do programa já fazia parte de todo país. Todos já conheciam o Manoel da Nóbrega, aquele senhor meio careca que ficava sentado no banco da praça, lendo jornal e falando com os que ali passavam. 

Os personagens da "Praça da Alegria" eram baseados em personagens da vida cotidiana de Manoel da Nóbrega. A escritora Rose Esquenazi, fala em seu livro "No Túnel do Tempo" que Manoel criou o Nobre Colega (Borges de Barros) a partir da figura de um velho que circulava pela Galeria Cruzeiro (Rio de Janeiro) e que dizia ser irmão do Almirante Tamandaré. A Dona Catifunda (Zilda Cardoso), Simplício e o mendigo (Moacyr Franco) também tiveram origens vivas. 

A popularidade de seus personagens foi tanta, que o nome do ator Simplício quase ninguém conhece hoje e sempre o referem pelo nome do personagem, Moacyr Franco fez com que seu mendigo ficasse conhecido pela frase "Me dá um dinheiro aí?", que virou marchinha de carnaval pouco tempo depois de estrear o programa. 

Voltando a falar de Simplício e continuando o papo sobre a popularidade de "A Praça da Alegria": o seu quadro chegou a modificar uma cidade, hoje conhecida por esta mudança. Sempre com uma rivalidade entre Simplício e Nóbrega, o "dono do banco" falava que alguma coisa na cidade dele era bonita e Simplício retrucava dizendo: "Ah, na minha cidade é bem maior." E certa vez Nóbrega no improviso acabou perguntando a cidade de Simplício. E Simplício falou a primeira que veio a sua cabeça: "Itu". Assim nasceu a fama de que tudo em Itu é grande, desde o sinal até o orelhão, o picolé, óculos e os brinquedos. Os turistas vão para Itu hoje sem nem saberem direito a história de Simplício, mas em busca da conseqüência da mesma. 

Na TV Paulista o programa era às quartas-feiras, tinha direção de Dermeval CostaLima e era patrocinado pela Cica. Aliás, conforme o livro de Rose Esquenazi que já citamos, o presidente da Cica chegou a ordenar a mudança de horário do programa, de quarta-feira para segunda-feira para que ele pudesse assistir, já que era o único dia que não tinha reunião às 20h. 

Ainda falando em 20h, quando "A Praça da Alegria" estreou neste horário no Rio de Janeiro, pela TV Rio, os cinemas tiveram que cancelar este horário de exibição já que ninguém mais ia, pois o público ficava em casa assistindo "A Praça". 

Desta época muitos personagens resistiram com o tempo. A grã-fina de Consuelo Leandro, o baixinho de Canarinho, o sujeito esperto que lia livros ao contrário e os citava, interpretado por Walter D´Avilla, o personagem de Walter Stuart, o Simplício, entre outros. Alguns morreram, outros mudaram de programa humorístico. Walter D´Avilla, por exemplo, muito tempo depois saiu de "A Praça da Alegria" (fase Globo) e foi integrar o elenco de humorista da "Escolinha do Professor Raimundo". Moacyr Franco chegou a se separar de "A Praça" no início da década de 60, para ser apresentador de seu programa humorístico e de variedades na TV Excelsior ("Moacyr Franco Show"). Outros que mudaram de programa e eram de "A Praça da Alegria" original foram José de Vasconselos, Costinha, Brandão Filho, entre outros. 

Aliás, para quem não sabe, Silvio Santos nesse início chegou a participar de "A Praça da Alegria". Começou na Rádio Piratininga ao lado de Manoel da Nóbrega, pessoa que até hoje considera ser o seu padrinho. Chegou a comprar o Baú da Felicidade de Manoel da Nóbrega até reerguê-lo, para ajudar o seu "patrão". Na Rádio Piratininga Silvio Santos participava no programa de Manoel da Nóbrega fazendo o "Peru que fala", já que Silvio ficava vermelho de tanto rir. 

Mudanças de praça 

"A Praça da Alegria" no ano de 1962, se transferiu para a TV Record. Aos poucos ela foi ganhando cada vez mais qualidade. E o intercâmbio entre TV Rio e "A Praça" era maior ainda, já que a emissora carioca era irmã da Record por causa das Emissoras Unidas. A formação de rede era mais fácil de ser feita agora com "A Praça", já que ambas estariam exibindo no mesmo horário, sem furar a grade de programação da outra emissora. Há uma época que registram a passagem de "A Praça" pela TV Tupi, mas sem dizer se era a de São Paulo ou da Rio de Janeiro ou em rede nacional. 

A partir da Record Carlos Alberto de Nóbrega se separa da equipe de seu pai e começa a viver uma vida de redator de outros programas humorísticos (entre eles "Família Trapo" e "Os Trapalhões"). 

Em 970, Manoel da Nóbrega se cansou de fazer "A Praça da Alegria" e se desligou da equipe. Saía uma das peças chaves do programa, aquela que sempre apresentou e que agora deixava centenas de personagens, literalmente, na história de "A Praça". Conforme o livro "No Túnel do Tempo", Nóbrega se pronunciou à Imprensa dizendo: 

"- Ela não acabou, apenas vai ficar interditada para reformas. Se todas as praças podem ser remodeladas, porque não a minha?" 

O apresentador sentia-se desgastado, assim como julgava que seu programa também estava. Mas o programa não parou por muito tempo, voltando pouco tempo depois, mas na Globo e com Miele apresentando. A atração foi até o final da década de 70 e assim acabou voltando a ser exibida pelo canal 5 de São Paulo. Ao contrário das primeiras versões, esta era totalmente colorida, com um cenário que possuía um fundo azul e umas árvores feitas de madeira e com o verde da árvore muito bem ressaltado. 

Em 1976 morria Manoel da Nóbrega e junto com ele a esperança de sua volta ao programa. Era mais um passo para ruína da versão global de "A Praça da Alegria". Tempos depois acabava o programa. Nesta fase nascem novos personagens que chegaram até "A Praça É Nossa", como a velhinha surda Bizantina Escatamáquia Piiiiintooo (Rony Rios) ... O que é mesmo que eu falei? 

Aí o tempo foi passando, entramos na década de 80 e o cenário televisivo deu um "looping"... Tupi sumia, surgia o SBT e a Manchete... A Bandeirantes era cotada como a grande sucessora da Tupi, tempos depois ela entra numa crise, chegando ao ponto de dizerem que ela seria a próxima emissora a falir. Mas ela se ergue e em 1987 estava amadurecida novamente para apostar em novos projetos. A emissora do Saad lembrou-se de "A Praça da Alegria" e no início daquele ano, chamou o filho de Manoel da Nóbrega, o Carlos Alberto para ocupar a posição do pai neste "remake" da Praça. Só que agora o nome era outro, chamando-se "Praça Brasil". Inventaram ali novos personagens para fase esta fase "moderna" do programa. 

Naquele mesmo ano, por volta de abril, Silvio Santos vendo o crescimento da rede e a ameaça dela voltar ao segundo lugar e abocanhar a fatia pertencente ao SBT, fez uma proposta irrecusável a Carlos Alberto da Nóbrega e àqueles que quisessem segui-lo. Teriam um programa no SBT e eles teriam mais autonomia e melhor salário. Assim surge no SBT o programa humorístico "A Praça É Nossa", inicialmente no horário das 21h20, todas as quintas-feiras. 

A "Praça Brasil" assim ficaria sendo a competidora da "Praça do filho do Manoel da Nóbrega". E para brigar mais ainda com a "Praça Brasil", lançaram a provocação no nome do programa do SBT. A Praça "é nossa", não da outra emissora. A "Praça Brasil" brigou com a outra praça por uns três anos até sair do ar. Chegando a passar pelo banco Dionísio de Azevedo no lugar de Carlos Alberto da Nóbrega e depois desse Moacyr Franco. Ficou conhecido da "Praça Brasil" o bravo guarda interpretado pelo ator Carlos Leite. 

Desde essa época o programa vem optando por novas formas de humor, não trazendo sempre piadas inteligentes e levando mais para o lado da malícia. Foram criados novos personagens, que já chegaram a marcar. A maioria nascido no "A Praça É Nossa", como a Fofoqueira, o menino Buiú, o homossexual Guarda Juju, entre outros. Hoje temos Filó (Gorete Milagres) que nasceu na "A Praça É Nossa", ganhou programa próprio e voltou para este novamente. Moacyr Franco depois de muito tempo veio para outra "Praça" agora fazendo o personagem Jeca Gay. Muitos fãs da época de "A Praça da Alegria" contestam o programa atual pela queda da qualidade e acham que Carlos Alberto da Nóbrega não consegue manter o programa como seu pai, mas concordam que o formato proposto por Manoel da Nóbrega felizmente continua até hoje. 

E encerramos esta coluna com a música-tema de "A Praça da Alegria" e que hoje é tema de "A Praça É Nossa", de Ronnie Von. 

A Praça

I

Hoje eu acordei com saudades de você
  Beijei aquela foto que você me ofertou
Sentei naquele banco da pracinha só porque
Foi lá que começou o nosso amor
Senti que os passarinhos todos me reconheceram
E eles entenderam toda minha solidão
Ficaram tão tristonhos e até emudeceram
Aí então eu fiz esta canção

Refrão:

A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim

Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você perto de mim

II

Beijei aquela árvore tão linda onde eu
Com meu canivete um coração eu desenhei
Escrevi no coração meu nome junto ao seu
Ser seu grande amor então jurei
O guarda ainda é o mesmo que um dia me pegou
Roubando uma rosa amarela pra você
Ainda tem balanço, tem gangorra meu amor
Crianças que não param de correr
A mesma praça...
(Refrão)

III

Aquele bom velhinho pipoqueiro foi quem viu
Quando envergonhado de namoro eu lhe falei
Ainda é o mesmo sorveteiro que assistiu
Ao primeiro beijo que eu lhe dei
A gente vai crescendo, vai crescendo 
E o tempo passa
E nunca esquece a felicidade que encontrou
Sempre eu vou lembrar do nosso banco
Lá da praça

Foi lá que começou o nosso amor
A mesma praça
...(Refrão)

É, pessoal. Agora já fiz esta homenagem ao humorista e radialista Manoel da Nóbrega. Mas eu vou continuar sentado nessa praça lendo meu jornal. E vocês, espero uma nova visita semana que vem!

Imagens 

- Anúncio de "A Praça É Nossa" (SBT) / 19 de maio de 1987 - Arquivo Folha de S. Paulo.

Anúncio de "A Praça É Nossa" (SBT) / 19 de maio de 1987 - Arquivo Folha de S. Paulo.

Logotipo de "A Praça É Nossa"

Logotipo de "A Praça É Nossa" (SBT) / Década de 90. - Divulgação SBT.

"Praça Brasil" (Rede Bandeirantes) / 1987 - Na foto: Carlos Leite, Moacyr Franco e Lady Francisco. Arquivo Multimeios/CCSP.

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