Televisão
por Elmo Francfort Ankerkrone

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Hebe, a gracinha da TV

"- Mais que gracinhaaa..." - Esta, entre outras frases, marcaram mais ainda a carreira talentosa de Hebe Camargo.

Meu irmão Arthur fala que: "Se a Xuxa é a rainha dos baixinhos da TV, a Hebe é a rainha-mãe" e concordo plenamente, pois a Hebe é considerada hoje a rainha da televisão brasileira - por ser atriz em atividade de sucesso a mais tempo em nossa TV.

Outra que poderia competir o título seria Lolita Rodrigues, sua grande amiga (sem esquecer Nair Bello!), pois até na fundação esta fez o papel que Hebe deveria cumprir: o de cantar o Hino da Televisão, de Marcelo Tupinambá e Guilherme de Almeida. Como já comentei na coluna "A TV Tupi está no ar!" 

Portanto, nesta semana falaremos da história da menina Hebe, que saiu do interior para conquistar o Brasil. Com vocês, a filha do Fego. 

Uma voz no rádio 

Fego Camargo e sua esposa Ester moravam no Vale do Paraíba e ele trabalhava em Taubaté, sendo violinista do Cinema Politeama, ainda na era do cinema mudo. Chega 1929, em plena época de recessão mundial, quando a quebra da Bolsa de Nova York desequilibra a vida de todos. É neste ano, no dia 8 de março, que nasce a pequena Hebe Camargo.

O casal vai segurando a situação por muitos anos, até que o ganha-pão do músico Fego tem fim, pois o cinema falado surge, sem precisar de acompanhamento. A família entre em crise, se sustenta de uma forma ou de outra, até que não agüentam mais aquela vida e partem para uma nova opção: migrar para São Paulo. 

Chegando à capital do Estado, Fego consegue um emprego de músico na orquestra da Rádio Difusora, propriedade de uma sociedade jornalística que começava a se empenhar no ramo da radiodifusão, o qual chamavam de "Diários Associados". 

Hebe fica maravilhada com São Paulo e pede ao pai para se apresentar em programas de calouros, imitando seu maior ídolo, Carmem Miranda. Fego aceita, pois sabia do empenho e do talento de sua filha. Em 1944 consegue seu primeiro registro profissional. E aos poucos, surpreendendo até o pai, Hebe começa a ganhar vários prêmios nas rádios paulistanas, ajudando no sustento da casa. Hebe começa a atingir a fama. 

É bom lembrar que no começo desta carreira, após vencer muitos prêmios como calouro, parte para idéia de formar um grupo musical e une-se à sua irmão Stela Camargo e às primas Helena e Maria, nascendo assim o Quarteto Dó-Ré-Mi-Fá. As quatro cantam músicas do grupo feminino Andrews Sisters, dos Estados Unidos. E o resultado do sucesso do grupo é quando a Rádio Tupi (irmã da Rádio Difusora em São Paulo e também propriedade dos Diários Associados) a contratam. 

Em 1947 o Dó-Ré-Mi-Fá se desfaz, pois uma de suas primas decide se casar. A outra prima segue a irmã, só restando Hebe e Stela. Para não perderem o sucesso que já conquistaram, as duas mudam de estilo musical e compõem uma dupla sertaneja, Rosalinda e Florisbela. Só que Stela também desiste de cantar com a irmã. E Gilberto Martins, diretor da Rádio Tupi anima Hebe a continuar, mesmo que faça uma carreira solo (como fazia quando era calouro). E grava músicas com Moreno Lindo, Dora Dora, Oh! José e Quem foi que disse?.

Cantando sozinha, Hebe inicialmente é chamada de Estrelinha do Samba e ao diversificar estilos musicais recebe o apelido de Estrela de São Paulo. Aos poucos conquista não só São Paulo, como todo país.

Quando se vê realizada na carreira, decide homenagear Carmem Miranda, que além de ídolo foi também a ferramenta inicial para construção de sua carreira profissional. Hebe grava um disco com os maiores sucessos de Carmem e oferece a mesma, quando emocionada a cantora liga a Hebe e agradece, sendo que foi a única vez que se falaram. Já que pouco tempo depois Carmem Miranda morreria.

Em maio de 1949, participa do filme Quase no Céu, de Oduvaldo Vianna. E ainda participou muitas vezes como cantora dos filmes de Mazzaropi. Chegou a cantar com Agnaldo Rayol em um destes filmes.

A Rainha da Televisão

Sendo uma profissional das Emissoras Associadas de rádio, Hebe se engajaria na televisão antes mesmo de sua fundação. Prova disso é a famosa foto onde a garota de sobrancelhas grossas (... e escuras, cabelos morenos e longos) está ao lado do diretor Demirval Costa Lima, no porto de Santos. Ambos estão sorrindo ao ver os caixotes da RCA saírem dos navios e serem colocados no chão. Lá estava Hebe acompanhando a comitiva de Assis Chateaubriand, que buscava em Santos os aparelhos daquela tal de televisão. Era 1949.

Na inauguração da TV no Brasil (PRF-3 TV Tupy-Difusora) Hebe não cantou o Hino da Televisão em 18 de setembro de 1950, pois preferiu namorar às escondidas. Mas não foi um dia importante que acabou com a carreira de Hebe na televisão. Aos poucos ela deixava de ser do rádio e começava a se tornar apresentadora de TV. A primeira amostra disso foi quando substituiu Ary Barroso em seu programa de calouros, que tinha muito sucesso na TV Tupi daquela época.

Em 1952 surgia a TV Paulista, canal 5 de São Paulo, que logo contrataria Hebe para apresentar O Mundo É das Mulheres, ao lado de Vida Alves, Wilma Bentivegna, Walter Foster e outras apresentadoras, que não me recordo os nomes. Foi um grande sucesso da época. Que a levou depois até a estrear seu programa na TV Continental, canal 9 de Rio de Janeiro, além de voltar a São Paulo tempos depois. Parando sua carreira em julho de 1964, quando casou com Décio Capuano.

Hebe, depois do casamento, resolveu abandonar de vez a carreira porque a julgava incompatível com a vida de dona de casa. No ano seguinte nasce o já "famoso" Marcello, seu único filho. Este que até hoje rende comentários da "mãe coruja" em seus programas. 

Só que os fãs fizeram uma enorme pressão que deram a Hebe a vontade de continuar sua carreira na televisão. Causa que rompeu um casamento onde o marido não aceitava a idéia do sucesso da esposa. Hebe ali mostrava estar casada com os telespectadores, mostrada o afeto que tinha pelo público, que fez sua vida profissional passar sobre a pessoal, sem limites. Em 1971 se separa de Décio. E dois anos depois conhece o tão "falado" Lélio Ravagnani de seus programas, que por 27 anos acompanhou a carreira da esposa, até falecer em 2000. 

Na década de 60 de casa Hebe volta ao sucesso com seu programa de entrevistas na Rádio Excelsior (atual CBN). 

Em 6 de abril de 1966 é contratada pela TV Record lançando o seu Programa Hebe, cujo convidado era Roberto Carlos. Ali, já com o seu famoso sofá tinha uma excelente fase profissional, chegando a ter 70% dos telespectadores ligados a seu programa. Foi um recorde da Record! Mesmo com incêndios seguidos na emissora, Hebe não saiu do ar, continuando com a audiência de sempre.

Mas nem tudo foram alegrias, Hebe tem uma traumatizante decepção na sua carreira de cantora, quando participou da última edição do Festival de Música Popular. Ela defendeu a música Volta Amanhã, mas mesmo com toda sua fama e apresentação, o público a vaio como nunca tinha feito.

Na segunda metade da década de 70 a decadência da Record começa e Hebe acaba largando a emissora. É assim que inicia os quase dez anos fora da televisão.

Hebe Camargo só volta à televisão em 1981, quando é contratada pela Rede Bandeirantes, ficando quatro anos por lá. O programa sai do ar naquele ano - sem a própria entender - enquanto surge uma proposta de contrato milionária do SBT em novembro de 1985.

No dia 4 de março de 1986 estréia o Programa Hebe, no SBT. Até hoje sempre às segundas-feiras, no fim de noite.

Chegou a possuir às terças-feiras o programa Hebe por Elas (para o público feminino) e nas tardes de domingo também, ambos por um tempo bem limitado. Só mesmo o Programa Hebe se firmou na emissora.

Hebe também criou polêmica no SBT, quando em 1990 enfrentou o deputado Ulisses Guimarães ao fazer críticas à atuação dos políticos do Congresso e do Senado, levando Ulisses para o lado pessoal, já que o mesmo era presidente do Congresso Nacional e a apresentadora ofendia os seus colegas também. Só que a opinião pública ficou do lado de Hebe, dando a mesma uma imagem de defensora pública. No final da década de 90, Hebe causa novamente polêmica com o seu Troféu Peroba, aos políticos corruptos, que é censurado depois de vários semanas irem ao ar.

Foi nesta última década que Hebe teve muitas alegrias em sua vida, foi "batizada" pela AACD como madrinha do Teleton, foi considerada A Cara de São Paulo em 1990 após uma pesquisa com os paulistanos, ganhou o título de Cidadã Paulistana em 1994, obteve grande sucesso ao lançar seu CD Prá Você em 1999, ganhou a medalha do cinqüentenário da TV em 2000 - dada pela Pró-TV (ex-APPITE) e pelos vereadores de nossa Assembléia.

É por causa de toda esta carreira que o público elege Hebe a Rainha da TV, como foi demonstrado na Revista Época da semana do cinqüentenário televisivo em 2000.

Uma Aurora muito sincera

Após viverem anos em Criciúma (SC) cuidando da TV Eldorado, afiliada da Rede Bandeirantes e a emissora de maior audiência da região na época, Luiz Francfort e Regina da Glória Lopes, meus tios, recebem uma proposta da própria Bandeirantes de se firmarem na "cabeça de rede" em São Paulo.

Minha tia Regina, para os familiares "Nina", veio à Band não para parte administrativa, como meu tio Luiz, mas sim na parte artística. Foi assim que Regina entrou para a equipe de produção do programa Boa Noite Brasil, de Flávio Cavalcanti. E ela estava na equipe da parte do programa chamado Desafio à Produção, às sextas-feiras. Foi ali que Regina conheceu a simpática Aurora Prado, na época produtora do Desafio....

Era um programa como uma proposta genial: o telespectador montava o show. Tudo que os mesmos pediam à produção, esta teria que aceitar o desafio, correr e conseguir os resultados finais do desafio no próximo programa. Interessantíssimo, mas trabalhoso.

Aurora começou ali como estagiária, depois foi assistente de produção e logo a produtora. Só que Cavalcanti dois anos depois foi para o SBT e a Bandeirantes contratou a atriz Baby Garroud (famosa como a irmã do garotinho da primeira versão da novela "Meu Pé de Laranja Lima", na década de 70). Foi nesta época que Aurora começa a produzir o Programa Hebe, que muda de domingo para a sexta-feira, dando fim ao Boa Noite Brasil, conseqüentemente ao Desafio à Produção.

Em 83 passa à produtora-geral, depois em 84 à diretora assistente do diretor-geral Roberto de Oliveira. No ano seguinte, Hebe vai para o SBT e leva Aurora junto, agora como produtora executiva. Em 1993 o diretor Hélio Vargas deixa a produção e Aurora assume a direção-geral do programa, como até hoje continua a ser. Isso porque Aurora Prado enfrentou não só o Programa Hebe, como também o Hebe Por Elas.

Deixamos aqui um registro desta excelente profissional que por vezes Hebe recorre em seu programa: ( "- Aurora, Aurora..."). É um laço de amizade muito forte entre as duas, a ponto de Aurora dizer "só encerro minha carreira quando Hebe encerrar !"

Quem quiser saber mais informações sobre as duas, sobre os programas de rádio e de televisão da Hebe, podem entrar no site da mesma, o www.hebevirtual.com.br. Vale a pena conferir.

TV Leitor

- Chegamos ao segundo TV Leitor. Neste darei uma atenção especial a carta do leitor Francisco Umetsu, já que este nos enviou uma que nos deixou cheio de orgulho pelo trabalho que realizamos. Foi um imenso prazer receber seu e-mail, Francisco, pois é muito bom ouvir a opinião satisfeita de um pioneiro telespectador, como disse que é. É bom saber que programas como o "Teledrama Três Leões", da TV Paulista (que nos citou emocionado) ficaram no subconsciente do brasileiro, pois é desta forma que sabemos diferenciar o que é bom do mal na televisão atual, já que possuem uma bagagem de qualidade adquirida durante estes já 50 anos de TV.O que temos no site ainda é pouco perto do que vem por aí. Mas inicialmente as principais estarão aqui, o resto com o tempo virá. Mas sempre que puder colocarei mais figuras de interesse do leitor.

- Só complementando a pergunta sobre o que teremos em minha coluna, feita pelo leitor e colunista do Sampa On Line, João Antonio Wiegerinck, a idéia de minha coluna é fazer com que o leitor seja o possuidor de um controle remoto de assuntos, assim não colocando só os assuntos que eu gostaria de recordar, mas também os que os mesmos também gostariam de rever.

- Continuem nos escrevendo, leitores!

- Até a nossa próxima atração, nesse mesmo canal!

Nota: Todas as fotos pertencem ao acervo do portal Hebe Virtual (www.hebevirtual.com.br); exceto o anúncio da Rádio Excelsior, de 2 de abril de 1952, onde Hebe é o destaque - pertencente aos Arquivos Folha de S. Paulo; exceto também o logotipo do programa, que pertence a parte de Divulgação do SBT.

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