Televisão
por Elmo Francfort Ankerkrone
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Palmeiras televisivas

Esta semana apresentaremos aqui a vida de uma das ruas por onde a televisão passou e deixou marcas de modificação em sua linguagem. Com vocês, direto do bairro de Santa Cecília, a história da Rua das Palmeiras - da TV Paulista às Rádios Globo e CBN.

Rua das Palmeiras, 322

A Rádio Televisão Paulista S/A, canal 5 de São Paulo, onde meu tio Luiz começou, foi comprada do deputado Ortiz Monteiro em 1955 pelo radialista Victor Costa. Este, dono da chamada O.V.C (Organizações Victor Costa) possuía já duas rádios em São Paulo (Rádio Excelsior e Rádio Nacional), uma no Rio de Janeiro (Rádio Nacional também), entre outras emissoras de rádio e televisão pelo interior de São Paulo e por diversos pontos do Brasil. A compra da TV Paulista prometia ser uma grande chance da emissora ultrapassar a TV Tupi em preferência.

E começou a fazer sucesso com seus novos programas, dotado de um profissionalismo ainda maior do que antes - já que Victor Costa contratou vários profissionais da Tupi para trabalhar no canal 5. Entre eles, para ser o diretor-geral da Paulista, veio Demirval Costa Lima. Outro da Tupi foi Álvaro Moya, para cuidar da teledramaturgia do canal. E Cláudio Petraglia foi contratado para o cargo de supervisor. 

Victor Costa queria ver agora a emissora crescer mais ainda, saindo dos estúdios do pequeno Edifício Liége, na Rua da Consolação. A meta era a de conseguir instalações maiores para sua televisão. Foi assim que no ano seguinte, 1956, expulsou as Rádios Nacional e Excelsior de seu prédio, na Rua das Palmeiras, 322 e as colocou na Rua Sebastião Pereira, uma quadra de diferença da Rua das Palmeiras. Mais tarde este auditório das rádios foi utilizado pelo canal 5, para realizar programas maiores.

Minha mãe e meu tio chegaram a conhecer estas novas instalações da TV Paulista na época que seus amigos Claudinei Fulmman e David Grimberg trabalhavam por lá.

Tempos depois compraram logo em frente aos estúdios da TV Paulista um prédio, onde viria a ser depois a sede oficial da Rádio Excelsior e a Rádio Nacional.

O Peru que fala

Foi nos estúdios da Rua das Palmeiras que nasceu para o meio televisivo como um dos maiores comunicadores brasileiros do século XX : Sílvio Santos, "o peru que fala" - apelido dado por Manoel da Nóbrega quando esse fez parte da "Praça da Alegria" no rádio e na televisão (também na Paulista), por Sílvio ficar vermelho quando ria. Sílvio começou como locutor comercial das lojas Clipper e foi animador de auditório da emissora a partir de 1958. Este que ficou na emissora até maio de 1976, quando, já sob o comando global cancelou seu contrato e passou a exibir o "Programa Sílvio Santos" na Tupi, na Record e na TVS (Rio de Janeiro). E este programa, que é o conjunto de todos os pequenos programas de auditório e de brincadeiras, saía da emissora que nasceu. Todos dizem que se não fosse o Faustão ter alcançado por um bom tempo ibope elevado no domingo, a Globo até hoje não estaria recuperada do desfalque que a saída de Sílvio Santos provocou.

O fim da TV Paulista

A Tupi e a Record fazem com que os programas da emissora se transferissem para seus canais. Com o nascimento de mais emissoras fortes pelo Brasil, como a Excelsior, a TV Paulista se desfalca mais ainda... As emissoras do Rio de Janeiro, como a TV Rio e a TV Continental fazem o possível também para pegar parte dos destaques da emissora. É bom lembrar que a inexistência da rede gerava competição não só entre as emissoras da cidade. A "Praça da Alegria" vai para Record, Hebe se transfere para o Rio de Janeiro, os diretores da emissora trocam de canal... E ainda por cima o dono da emissora, Victor Costa, morre em 1960.

Dívidas se acumulam com tudo isso, a programação não chama mais atenção do público paulistano...A concessão corre o perigo de ser cassada... Só que no Rio de Janeiro um jornalista está de olho da emissora: Roberto Marinho, proprietário do Jornal "O Globo" e que está prestes a colocar no ar sua pequena emissora TV Globo, canal 4 carioca. E por trás dele o Grupo Time-Life tenta uma sociedade, aplicando dinheiro para a sustentação do canal. A Globo se segura com esta sociedade por 4 anos até desfazê-la, já que os demais canais e a justiça resolvem puni-la por isso. Em 26 de abril de 1965 Roberto Marinho funda sua televisão no Rio.

O próximo passo seria justamente entrar no ponto mais forte do eixo Rio-São Paulo, o mercado televisivo paulistano. E a decadência da TV Paulista faz com que em 1966 as Organizações Globo comprassem toda Organização Victor Costa, com suas rádios e emissoras de televisão pelo Brasil. E a partir deste ano, a programa começou a ser modificada, não de modo imediato, mas gradualmente. Agora sobre a a direção de Geraldo Casé, que teve a idéia de rebatizar o canal 5 aos poucos...Primeiro TV Paulista, uma marca já conhecida pelos paulistanos, depois TV Globo Paulista, após TV Globo, como até hoje conhecemos... Mas na fase de transição a Globo fez o possível para associar o globinho apenas com o número 5 do canal, sem nome, nem nada. E aos poucos o resto foi acontecendo como o previsto.

Sobre as rádios, na década de 70 começavam as mudanças: a Rádio Nacional de São Paulo tornou-se Rádio Globo e a Rádio Excelsior, que deu origem ao nome da TV Excelsior, viria a se tornar a Central Brasileira de Notícias (CBN). As duas até hoje nos estúdios em frente ao prédio da emissora.

O fogo que queima a história

A TV Globo em 13 de julho de 1969, exatamente 32 anos atrás da publicação desta coluna, sofreu um atentado que vitimou de vez o prédio da Rua das Palmeiras, 322. Depois que o público saiu do auditório do Programa Sílvio Santos estourou atrás do cenário um frasco inflamável, fazendo com que em 5 minutos o prédio inteiro estivesse pegando fogo. Resultado: 4 milhões de cruzeiros perdidos, 4 horas fora do ar, mudanças drásticas na produção e operação da televisão, sem dizer que isto causou a perda de boa parte do arquivo em video-tape existente da época da TV Paulista, antes de ser Globo.

Conforme o "Almanaque da TV", de Ricardo Xavier, viraram cinza 200 desenhos animados, 20 filmes longa-metragem, 39 capítulos de "National Kid", seis lotes de séries americanas, fitas do programa "Mister Show", "Oh! Que Delícia de Show!", "Discoteca do Chacrinha", "Concertos Para Juventude" e "Amaral Netto - o Repórter", dois capítulos da novela "A Ponte dos Suspiros", nove de "Rosa Rebelde" e os 20 primeiros de "A Cabana de Pai Tomás".

As novelas passaram totalmente a serem feitas nos estúdios da TV Globo do Rio de Janeiro, no Jardim Botânico. Os programas de auditório, principalmente o de Sívlio Santos foram improvisados no pequeno auditório da Rádio Nacional. E o Cine Miami, na Praça Marechal Deodoro, também no bairro de Santa Cecília.

Muitos dizem que o incêndio foi a própria Globo que provocou, querendo iniciar o processo de transmissão em rede e com a produção centralizada no Rio de Janeiro. Ainda mais porque os velhos equipamentos foram substituídos por novos, conseguidos através do seguro do prédio da Rua das Palmeiras. Acaba assim a história televisiva daquele local.

O futuro global

Os problemas enfrentados depois na Praça Marechal Deodoro dão inspiração para o teledramaturgo Dias Gomes compor a novela "O Grito" que falava dos problemas dos habitantes da região que iria abrigar o famoso "Minhocão" ("Elevado Costa e Silva"), sendo que o prédio cinza da Globo hoje está encostado na beirada deste viaduto.

Depois de muito tempo, o jornalismo local volta a ser feito. E nos pequenos estúdios da Praça Marechal Deodoro improvisam um espaço para o SP TV, no início da década de 80 - não ficando só com os jornais de rede nacional, como o Jornal Nacional, o Jornal da Globo, o Bom Dia Brasil e o Jornal Hoje. A parte comercial (e até a direção jornalística) de São Paulo fica dividida entre o edifício que compram na Alameda Santos e com salas alugadas por eles no 5º andar do Edifício Cásper Líbero (Av. Paulista, 900), propriedade da Fundação homônima, dona da TV Gazeta.

Com a inauguração das novas instalações da Globo, na Avenida Berrini em 1999, muitos dos programas grandes realizados no Rio de Janeiro passam a ser feitos aqui em São Paulo. E eles abandonam o prédio da Praça Marechal Deodoro e desalugam os da Avenida Paulista. O projeto ainda é levar o departamento comercial da Alameda Santos para lá também, na parte que ainda está em construção.

Sobre a Rua das Palmeiras, ainda com as rádios no mesmo lugar agora não possui mais quase nenhum resquício de que o número 322 havia sido estúdios do canal 5. O famoso toldo, que depois da mudança do nome da emissora passou a ter "Rede Globo - Canal 5" escrito em sua beirada ainda existe, sem os escritos. Em cima não nos damos conta de que ali existia um prédio. Acima do toldo foi feito um novo teto reforçado, já que o resto do prédio se desfez com o fogo. Podemos ver no fundo do terreno, na parede que dá para o prédio atrás e para os do lado, rastros de que existiu paredes ali, já que se vê à mostra centenas de tijolos vermelhos quebrados. Dá a impressão de que algo ruiu mesmo. No térreo existe hoje um estacionamento. E onde eram janelas grandes, foram quebradas para dar lugar a novas portas do estacionamento.

TV Leitor

Dedico esta coluna a dois leitores em especial: Eduardo Furtado, profissional do meio que se interessa bastante pela história do canal 5 (agradeço também aos recortes que me mandou na última semana pela Internet!), e também ao jovem Leandro Tavares Guimarães, que além de também possuir impressões estranhas como quando visita instalações antigas da televisão (como se já tivesse trabalhado no local antes) e por ele trabalhar também no meio e ser morador do bairro de Santa Cecília, cuja coluna se referiu inteiramente nesta edição. Abraços à ambos! Abraços também ao amigo, leitor e colunista do Sampa On Line (escreve "Comportamento") João Antonio Wiegerinck!

Até nossa próxima atração, pessoal! Até semana que vem!

Imagens

Logotipo da TV Globo em São Paulo, na época da transição do nome (fim da década de 60). Símbolo cedido pelo leitor Eduardo Furtado.

Foto do que restou do prédio da TV Globo / Paulista na Rua das Palmeiras, 322. Arquivo pessoal, tirado pelo colunista em 2000. Destaque para o toldo antigo.

Cena gravada pela TV Globo de São Paulo no dia do incêndio, com os funcionários tentando retirar objetos de dentro da emissora e tentando apagar o fogo no prédio da Rua das Palmeiras, 322. Arquivo CEDOC - Rede Globo (13/07/1969). Destaque para a borda do toldo escrito "Rede Globo - Canal 5".

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