Televisão
por Elmo Francfort Ankerkrone
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Seu Olavo, o gênio da televisão

Amigos leitores, sinto-me feliz de ter chegado nesta coluna sobre este homem excepcional que foi Olavo Bastos Freire. Gostaria de contar a todos que demorei para decidir quando esta entrar no ar, mas levando-se pelo sentido cronológico e na opção de assuntos que escolhi até aqui, o destino escolheu que falassemos agora dele. Esta seria na verdade a minha segunda coluna, depois de meu primeiro artigo, cronologicamente. Mas talvez assim vocês poderão entender melhor o contexto em que Seu Olavo viveu e onde minha família o conheceu. O registro que hoje aqui faço, com imensa satisfação, é de extrema importância para os profissionais do meio e com caráter de raridade, já que pouca coisa existe sobre este gênio da televisão, muito menos fotos do mesmo - o que aqui apresentamos.

Nosso inventor

Quando entrou no ar a TV Paranaense, canal 12 de Curitiba e primeira emissora do Estado do Paraná, Luiz Francfort e sua irmã Alzira (minha mãe) foram trabalhar na emissora. Foi assim que ao conheceram toda equipe do canal do Senhor Nagib Chede, acabaram por conhecer Seu Olavo.

Ali na Rua XV de Novembro em Curitiba, no último andar do Edifício Tijucas (aonde a TV Paranaense nasceu) ficava um senhor muito magro, que pouco falava, mas que era um cavalheiro ao se relacionar com as outras pessoas - chegava a chamar atenção pelo cuidado com que Seu Olavo possuía com os outros.

"Doutor Olavo" como os outros o chamavam na Paranaense era um técnico, que instalou todo o equipamento de estúdio e até os transmissores da emissora. O que mais impressionava as pessoas é que Seu Olavo ficava horas e horas, várias madrugadas acordado trabalhando em silêncio e praticamente sem comer.

Olavo na época estava entre 50 e 60 anos. Nunca perguntaram sua idade, mas presumiam que era esta. Mas minha mãe afirma que a lembrança pode estar nos traindo, já que ela afirma que com o passar do tempo a concepção de idade muda.

Este inventor chegou a ficar um mês inteiro fazendo uma um aparelhinho para ligar o transmissor da TV. Poderia ser considerado o primeiro "controle-remoto" do mundo ou talvez o primeiro e único controle-remoto de ligar um transmissor de televisão. Leia mais sobre este controle-remoto na minha coluna sobre a TV Paranaense.

E entre 1961 e 1962 Alzira e Luiz apareceram novamente em Curitiba. Aproveitaram e foram visitar a TV Paranaense. O amigo Renato Mazanek disse que Seu Olavo estava fazendo uma nova invenção, que tinha o tamanho de um armário, de uma geladeira (1, 80m de altura e 70 cm de largura)... E foram lá ver na emissora o que ele estava criando. Chegando lá Olavo Bastos Freire mostrou aos dois um enorme sintetizador sonoro, que emitia notinhas... Acreditem, ele estava criando um protótipo de um teclado, já que através daquele maquinário na época Seu Olavo já estava compondo um sambinha!

Experiências televisivas

Agora, estejam preparados para o que eu vou contar. Vocês agora saberão a importância deste técnico em nossa televisão.

Conforme o que Seu Olavo contou para os colegas da TV Paranaense, ele havia construído uma câmera em 1945, cinco anos antes da TV Tupi entrar no ar...Isso porque a TV Tupi foi a primeira da América Latina! Mas voltando à câmera, ele a construiu em Juiz de Fora (MG), sua cidade natal. E chegou a transmitir um jogo de futebol na época! Imaginem que nenhuma emissora do exterior ajudou-o nesse evento...Ele inventou e fez.

Foi assim, que fantasticamente, através da Rádio Industrial de Juiz de Fora este pioneiro do mundo transmitiu o tal jogo de futebol entre os times Tupi (MG) e Bangu (RJ). Conforme a descrição de Seu Olavo, a câmera foi feita em sua casa, constituída por chapas de zinco e com válvulas de rádio compradas com praticamente todo dinheiro que ganhava, deixando até de comer, para poder montar aquela câmera!

Conforme o livro "Almanaque da TV" de Ricardo Xavier, a Rádio Industrial de Juiz de Fora, sob a direção de Alceu N. Fonseca transmitiu a partir de 29 de setembro de 1948 imagens com a câmera de Olavo Bastos Freire (os dados não batem com o que ele contou aos colegas da Paranaense) e os eventos foram patrocinados por Carlos Pereira Indústrias Químicas, realizando uma programação variada.

Quando Seu Olavo saiu de Juiz de Fora foi para o Sul, onde conheceu os profissionais da Rádio Paranaense. Daí surgiu a oportunidade e a idéia de ingressarem no ramo televisivo. Mas Olavo não se desfez de sua invenção e levou-a para a TV Paranaense.

Meu tio Luiz Francfort desabafa: "Eu via essa câmera num quartinho-depósito da TV Paranaense, quase todo dia, e não tinha idéia do inestimável valor que ela tinha! É imperdoável! (...) Eu mesmo, na época em que vivenciei isso, não dei a devida importância. Ao entrar em contato com o público e profissionais do ramo, me sinto na obrigação de chamar a atenção para isso, na esperança que alguém se lembre de mais detalhes, para que possamos registrar e fazermos justiça a esse excepcional homem de TV, esquecido por nós."

Por um bom tempo, as listas telefônicas de Curitiba estampavam a história de Olavo Bastos Freire no verso de suas capas. Pelo menos assim preservaram a memória deste grande inventor brasileiro.

Seu Olavo não tinha nem dinheiro direito para fazer suas invenções, muito menos para registrá-las. Mas era alguém que merecia ter seus eventos registrados de graça. Ele é para televisão o que o Padre Roberto Landell de Moura foi para rádio. Só que Landell de Moura registrou a rádio, dando sérios problemas com Guglielmo Marconi por causa disso. Quem dera se Olavo tivesse todas as homenagens que merecia...E merece!

Meu tio completa: "É uma verdadeira injustiça que isso não seja divulgado e respeitado como um dos acontecimentos mais importantes da TV brasileira."

Com a saída de Renato Mazanek e dos conhecidos da TV Paranaense, não soubemos mais notícias do que aconteceu com esse nosso pioneiro inventor. Só sabemos que de tempos para cá, Seu Olavo começou a ser lembrado. A câmera dele foi levada por conhecidos ao Ministério das Comunicações em Brasília, onde hoje está exposta em seu saguão de entrada.

E fica aqui mais um registro sobre o inventor de Juiz de Fora. Nós sempre faremos todos os esforços possíveis para deixar viva a imagem de Olavo Bastos Freire, um pioneiro da TV brasileira, latina e mundial.

TV Leitor

- A leitora Marina Cardozo agradece pelas informações que passei sobre "O Circo no Brasil" a ela. E escreveu: "Sua dedicação no que acredita e faz me emocionou. Parabéns e continue, desta forma. Você está ajudando a engrandecer a nossa história !" Eu é que agradeço e saiba que pode continuar contando comigo no que precisar. E não falo só por mim, mas também pelos leitores. Estes cada vez mais vem se mostrando como uma família que faz questão de preservar a história deste meio fabuloso que é a televisão. Eu agradeço a estes também por todo apoio que estão me dando. Finalmente eu estou alcançando a minha meta de tornar essa coluna não só minha, mas de todos vocês. Muito obrigado.

- Seguindo os "obrigados" agradeço pelo artigo jurídico enviado pelo advogado Giancarlo Conti à meu arquivo pessoal. E me interessa e muito as histórias que você disse que gostaria de me contar sobre seus colegas da televisão.

- "Se é para o bem dos leitores e felicidade geral do Luiz Fernando Bindi, diga ao povo que eu faço"...as duas colunas: uma sobre heróis japoneses e outra sobre enlatados. Vocês venceram!

- Ao Eduardo Furtado, da Rede Globo, desejo um bom regresso das férias. Não foram universitárias como a minha, mas também foram legais. Boa volta ao trabalho, leitor!

- Na semana que vem, especialmente para o Sampa On Line, falarei sobre a Feira Broadcasting & Cable, da Sociedade de Engenharia Televisiva (SET) que está acontecendo estes dias em São Paulo, com ampla divulgação nos canais de TV aberta... Todos rumo à "Era Digital".

Bem, pessoal. Vou ficando por aqui! Até nossa próxima atração! That's All Folks! Até semana que vem!


Foto

Da esquerda para direita: Silas de Paula, Alzira Francfort (minha mãe), Moraes Fernandes, Schreiber, Olavo Bastos Freire (no círculo preto), Rita Eliana, profissional não identificado, Heron Garcia, Luiz Francfort (meu tio, abaixo do traço vermelho), mais um profissional não identificado. Foto tirada por Renato Mazanek no estúdio da TV Paranaense (1960). Arquivo pessoal de Luiz Francfort. Não é permitida a reprodução em qualquer outro meio de comunicação sem a permissão do autor.

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