Futebol
por Luiz Fernando Bindi
Outubro 19, 2001
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Ética e informação precisam andar juntas.

**Antes de qualquer coisa, quero agradecer o carinho recebido por alguns leitores devido ao falecimento da minha avó no dia 11. Um beijo especial para os colegas João Wiegerinck e Eliana Gonçalves e os amigos José Maria de Aquino, Viviane Mazin, Ernesto Sabbal e Jorge Marmion, do SampaOnLine, que além de editor, se mostrou um amigo.** 

Invado um pouco a seara do amigo Wiegerinck. Na vida profissional, creio ser possível que possamos agir sempre com a máxima honestidade e humildade. Agir com ética, decência, retidão de caráter acima de tudo. 

E na informação jornalística, seja esportiva ou não, isso claramente não muda. Já me dizia o mestre Elias Awad que devemos ser éticos sempre, pois trabalhamos com a informação, às vezes a única que chega às mãos ou aos olhos dos leitores. 

Um conhecidíssimo jornalista conta a história que seduziu uma secretária de uma federação de futebol a fim de conseguir uma informação exclusiva, o chamado “furo”. Seria isso ético? Seria isso honesto? Não creio. Ser ético deve ser uma linha a ser seguida, custe o que custar

Felipão, o técnico da Seleção Brasileira, pelo seu jeito simplório, às vezes fala demais, fala bobagens e acaba criando inimizades dentro do chamado “quarto poder”. E se ele pega alguém pouco ético pela frente, acaba em situações mais do que espinhosas. 

Antes do jogo em que o Brasil venceu, às duras penas, a fraca seleção do Chile, o jornal O Dia, do Rio de Janeiro, publicou uma entrevista do técnico Carlos Alberto Parreira com o jornalista Márcio Guedes (que foi da extinta TV Manchete). O olho ou chamada da entrevista dizia que Parreira afirmava que aceitaria um convite para ser novamente técnico da Seleção. 

Quem lesse a entrevista (uma obrigação para o bom disseminador de informações), perceberia que em nenhum momento, Parreira dizia o que a manchete da notícia tentava fazer crer ao leitor. Ou seja, era uma chamada sensacionalista, para criar um frisson

Desde que ouvi a notícia (e até então, não lera a entrevista), duvidei que Parreira pudesse ser tão anti-ético, já que ele sempre se mostrou muito digno e honesto. Flávio Prado, Milton Neves e Paulo Calçade, entre outros, comungavam da mesma opinião. 

Eis que na coletiva ao final do referido jogo contra o Chile, o repórter Leandro Quesada, da Rádio Bandeirantes, numa pergunta a Felipão, diz que Parreira afirmou que aceitaria um convite assim que ele fosse feito pela CBF. 

A coletiva, que vinha sossegada, praticamente acabou. Felipão ficou irritadíssimo (com razão, pois não sabia da suposta afirmação de Parreira), chamou o técnico de “esperto”, entre outros adjetivos bem menos elogiosos. 

Minutos depois, o apresentador Milton Neves, da Rádio Jovem Pan, leu a íntegra da entrevista no ar, deixando evidente que Parreira jamais disse o que se afirmava. 

Márcio Guedes foi ético ao colocar no seu texto uma “chamada para vender jornal”, como se diz no jargão? E Leandro Quesada, leu a entrevista antes de fazer a venenosa pergunta? Se leu, por que fez a pergunta, com que intenção? Pôr fogo numa entrevista até então chôcha? E se não leu, deveria ter ficado em silêncio. 

Pelo bem da ética. Pelo bem da informação. 

Pílulas de Idéias 

# Como eu disse, Felipão fala bobagens. Agora, disse que em 58, 62 e 70 qualquer um era campeão. 

# Uma asneira bruta, sem dúvida. Em 58, tivemos Pelé e Garrincha juntos! Um goleiro acima da média, zagueiros de altíssimo nível, laterais modernos (especialmente o ofensivo Nílton Santos, o precursor dos atuais alas), um meio-campo esplêndido (com Zito e Orlando), além de um ataque que se dava ao luxo de ter Pepe na reserva de Zagallo, com Didi, Garrincha e Pelé. Só isso. Assim, qualquer um é campeão. De fato.

# Felipão disse que aquele futebol é do “tempo que se amarrava cachorro com lingüiça”. Pode ser que ele não tenha querido ofender os monstros do futebol. Mas, usando outro ditado, “em boca fechada não entra mosca”. 

# Felipão quer ficar de três a quatro semanas com a Seleção completa, treinando para os jogos contra as poderosas e temíveis Bolívia e Venezuela. E os clubes, que pagam salários aos jogadores, ficam desfalcados em momentos decisivos? 

# A Liga Rio-São Paulo começa nojenta. A inclusão do Etti “Parmalat” Jundiaí e a exclusão do São Caetano é imoral. 

# Os Estaduais estavam tornando-se anacrônicos e o seu enfraquecimento era inevitável. 

# Se os Estaduais fossem classificatórios para a 3ª divisão do Campeonato Brasileiro e para a Copa do Brasil, seriam muito atraentes e não ficariam esvaziados. 

# É delicioso ver o São Caetano vencer, jogar bonito e liderar. O trabalho da diretoria do Azulão é sério (algo inédito entre nossos cartolas) e pode render grandes frutos. 

# Mas sem oba-oba! O São Caetano é pequeno e o peso da camisa é ponto chave em decisões. Mas torço pelo simpático time do ABC. 

# Mais uma vez, Nelsinho arruma briga por onde passa. Lembro que no Palmeiras arrumou birga com Evair, o maior ídolo dos anos 90 da torcida do Verdão. 

# Agora, arruma confusão com Carlos Miguel (que não é flor que se cheire, realmente), Gustavo Nery e Rogério Pinheiro. Nelsinho é um técnico medíocre –como tantos outros. E a diretoria tricolor começa a fritá-lo em óleo fervente. 

# Hélio dos Anjos sai do Vasco dizendo que tem salários atrasados e Romário denuncia corrupção nas categorias de base, almejando ser dirigente após o fim de sua carreira. Sobre corrupção, não duvido, já que a direção vascaína é bem desse estilo. 

# Fico feliz com a China na Copa do Mundo. Afinal, é sempre interessante ver países se destacando no futebol pela primeira vez. Mas se a China fosse um país democrático, que respeita seu povo e sua história seria bem mais bonito e digno de comemoração. 

# Estive em Amparo e vi que o futebol, representado na 6ª divisão do Campeonato Paulista pelo Atlético Amparo está em último plano na cidade. Procurei uma lembrança do time pelas lojas da cidade e não achei nada. Por outro lado, camisas de Flamengo e Grêmio eram comuns entre as do Trio de Ferro da Capital. 

# É uma pena que isso aconteça. O clube tem uma bela sede social, um ginásio dos mais bonitos e um estádio muito simpático. Merecia coisa melhor. 

Fala, Internauta! 

# O leitor Paulo Duarte me pergunta sobre Donizete, do Palmeiras. Para mim, foi uma contratação mais que pífia. Um atleta que nunca foi grande coisa, ainda mais em fim de carreira. E por uma fábula de dinheiro. Coisa de empresário. Não dou dois meses para Donizete sumir do Palmeiras. Ele dá uma desculpa qualquer e vai embora. 

# Recebo o email de Alcione Júnior, que mora na linda Porto Alegre. Alcione é lateral-esquerdo, com passagem por times pequenos do Rio Grande do Sul. Tem 23 anos, faz faculdade de fisioterapia e é muito inteligente, coisa rara num jogador de futebol.  

# Está sem time, pois não tem nenhum empresário (ou “bruxo”, como diz o próprio Alcione). Garante que é veloz e chuta forte de fora da área. Independente de qualquer coisa, vejo como é triste a situação do nosso futebol. 

# Por que Misso, Rovílson, Lino e outras pérolas têm chance e milhares de Alciones estão desempregados? Os “bruxos” que nos respondam... 

# Marco Aurelio Klein diz que se mostrássemos uma fita com a classe de Evair a Felipão, Parreira e Celso Roth, eles “não iriam entender nada”. Eu acho que seria como se eu assistisse uma cirurgia de cérebro: até sei do que se trata, mas não faço a menor idéia de como fazer. 

# Uma das minhas filosofias de vida é saber que viver é apenas uma passagem a fim de que façamos de tudo para beneficiar os seres. Retoricamente, tudo bem. Mas quando alguém muito querido se vai, nosso coração se aperta e nossa garganta se fecha em soluços. Nos esquecemos das filosofias e apenas lamentamos a distância infinita ora estabelecida. Minha avó Teresa se foi do jeito que viveu: com dignidade. Choro por ela e pelo meu pai, cujo rosto sereno não consegue transmitir o vazio que se instala no coração de um filho que perdeu sua mãe. Depois de 61 anos, ele é órfão. Mas que ele tenha certeza que atrás dessas linhas há alguém que o ama.

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