Futebol
por Luiz Fernando Bindi
Outubro 05, 2001
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Má Educação igual a Mau Futebol. E vice-versa.

Oi, gente, tudo bem?

Além de escrever essa coluna, sou professor. Ser professor é uma vocação, que exerço com carinho e amor, provavelmente fruto da carga genética que eu trouxe da minha mãe, que deu aulas durante mais de trinta anos.

Dou aulas numa escola profissionalizante ligada ao Rotary Clube de São Paulo. É um projeto sério e dedicado, feito com jovens entre 14 e 16 anos. A matéria que trabalho com mais carinho é Cidadania, minha área por opção. Mas dou aula até de Matemática, que tanto povoou meus pesadelos juvenis. Mas, como já disse, ser professor é vocação e a gente até encara a arte exata.

Outro dia, eu ensinava meus jovens alunos (por quem tenho amor quase de pai) uma matéria simples: multiplicação de números decimais. Por exemplo: 9,74 x 64,84. Vi que eles tinham muita dificuldade, apesar da simplicidade das contas.

O fato é o seguinte: as dificuldades deles provinham e provém de algo inimaginável. Muitos dos alunos não sabiam tabuada, a velha tabuada da nossa antiga 3ª série do Primário. E eles estão, em sua maioria, no 1º Colegial (chamado de 1º ano do Ensino Médio).

Como é possível um aluno chegar ao 1º Colegial sem saber tabuada? Simples: num Estado onde o objetivo da Secretaria de Educação é apenas uma estatística na parede, não existe mais reprovação. Daí, surgem situações escabrosas e preocupantes como essa, que não é a única, é apenas um exemplo clássico da ineficiência da Educação.

Eu tive que ensinar tabuada aos alunos (algo que eu fiz quase por intuição). Aí, sim, eles entenderam decimais, porcentagem e até juros compostos. Mas eu tive tempo, dedicação e carinho.

Eis que no bom programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, assisti à uma entrevista com Cabralzinho, técnico do Santos. Fiquei muito bem impressionado com ele, articulado e sem as frescuras luxemburguianas.

Entre outras observações inteligentes, Cabralzinho disse que tem sentido uma dificuldade ao treinar no Brasil: os jogadores chegam nos clubes sem saber os fundamentos básicos, como passar a bola, chutar em gol, marcar com eficiência ou se movimentar em campo, por exemplo.

Creio que o motivo disso seja o seguinte: os técnicos das categoria de base preocupam-se mais em fortalecer massa muscular, em tentar transmitir ao jogador uma inteligência tática, postar o zagueiro que surge habilidoso como líbero, que coloca o meio-campista inteligente para fazer exercícios de musculação.

Desde a base, a cultura da equipe é ganhar campeonatos, para depois, vender menores de idade para empresários picaretas da Suíça ou China.

O técnico de base quer manter seu emprego (às vezes, conquistado por indicações suspeitas) e não quer formar um craque de fato. O jovem chega ao profissional e não sabe os fundamentos.

Os treinadores do chamado “time de cima”, não têm paciência, tempo nem vontade de ensinar o básico ao jogador. Ele já quer um atleta formado, que possa ser titular e conquistar títulos, o que garantiria seu cargo como técnico.

Daí, temos que suportar jogadores como Eduardo Costa, onde falta habilidade e sobra vontade; como Roberto Carlos, onde sobra habilidade, mas falta humildade; como César Sampaio, onde sobra humildade, mas falta categoria; como Romário, onde sobra habilidade, mas falta vontade; como Alex, onde sobram habilidade e sonolência; como Fábio Júnior, onde falta tudo.

Vai mal, vai mal...

Pílulas de Idéias

# Neste domingo, dia 7, o Brasil enfrenta o Chile. O Brasil, com um técnico perdidinho da silva, um time medíocre e uma classificação algo ameaçada. O Chile, com um técnico novo e desconhecido até dos chilenos, um time mais medíocre ainda e uma classificação fora de cogitação.

# Ganha o Brasil, portanto? Sim, mas daquele jeito.

# Há duas colunas que peço Evair na Seleção. A atuação veterano craque no jogo em que o Coritiba esmagou o Palmeiras é digna de ser gravada.

# Depois de gravada, pegar a fita e colocar Felipão, Parreira, Celso Roth e outros numa sala, onde eles teriam que assistir a fita até ficarem convencidos que futebol é outra coisa, não aquilo que eles gostam.

# Que coisa mais ridícula a situação criada para o pobre Ronaldinho. Ele teve que vir da Itália para mostrar aos médicos da CBF que realmente estava machucado. Foi cortado. Parece piada.

# Há quatro volantes no Campeonato Brasileiro que merecem ser vistos com muita atenção e carinho: Gilberto Silva (Atlético Mineiro), Fausto (Guarani), Fernando (Palmeiras) e Fabinho (Corinthians). Marcam com eficiência e saber dar um destino à bola. Coisa rara entre nossos brucutus.

# Neste sábado, tem Gre-Nal, um dos maiores clássicos do futebol. Parreira, o técnico do Inter de Porto Alegre, com medo de perder o jogo, colocou reservas contra o Portuguesa, para não ter jogadores suspensos com cartões amarelos.

# Resultado: tomou uma sova da Lusa (que vem crescendo) e pode perder para o Grêmio. Parece coisa de técnico campeão do mundo?

# A situação do Palmeiras (goleado duas vezes seguidas), é triste. Tem um time razoável, mas tem o pior técnico que eu já vi. Não no Palmeiras, mas no futebol.

# Celso Roth não merece o Palmeiras. Não é retranqueiro, pois ele não consegue nem montar um esquema defensivo. Prefere Misso a Rovílson, Magrão a Flávio, Juninho (o horror, o horror) a qualquer um e preferia Fábio Júnior a Tuta.

# Edmundo, jogando pelo Cruzeiro, erra de propósito, a cobrança de um pênalti contra o Vasco. O atacante é um caso para o Juqueri. O Cruzeiro demitiu Edmundo por essa sandice.

# Essa tabela do Brasileiro, com os clássicos todos juntos é o fim da picada. Se por um lado, São Paulo x Palmeiras ou Flamengo x Fluminense atraem público, quem assiste Guarani x Gama ou Santa Cruz x Botafogo de Ribeirão Preto?

# A grande surpresa da NFL (Campeonato de Futebol Americano) dessa temporada é o San Francisco 49ers., um dos mais tradicionais do esporte, mas que esteve muito mal em 2000. Já ganhou dois jogos difíceis e perdeu por muito pouco do Saint Louis Rams, um dos favoritos ao título. Os torcedores (eu entre eles), agradecem.

Fala, Internauta!

# O leitor Osvaldo Gusmão, de Amparo, me pergunta o que estou achando de Neto como dirigente do Guarani. Claro que acompanho de longe, mas gostei de uma declaração do ex-craque, que ficou ajuizado depois que parou, após a vitória sobre o Corinthians.

# Segundo Neto, no Guarani, quem sabe jogar tem lugar garantido e não há espaço para brucutus. Isso é muito bom e merece elogios.

# Marco Aurelio Klein, perspicaz, me corrige: a contusão de Van Basten foi no tornozelo, e não no joelho, como afirmei. Consultei meus alfarrábios e de fato: em outubro de 86, o holandês sofreu uma lesão na cartilagem do tornozelo direito, mas após nove cirurgias frustradas, abandonou o futebol aos 28 anos.

# No dia 4 de outubro, foi dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. Eu simplesmente sou apaixonado por animais, desde simpáticos cãezinhos até asquerosas baratas (que não mato!). Apesar de eu não ser católico, fica meu registro de respeito e admiração.

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