Pela primeira vez, a Copa será disputada em dois países (no caso, Coréia do Sul e Japão). Vejo isso com muita reserva, pois entre países próximos sempre existe rivalidade, ainda mias entre Japão e Coréia, que até já estiveram em lados opostos em uma guerra, em 1954.

No sorteio dos grupos, parece que o Brasil levou nitidamente uma enorme vantagem, principalmente devido ao bobo sistema de sorteio, que possibilitou um grupo fácil como o do Brasil e grupos mortais, como o da Argentina, da Espanha e da França.

Vamos aos grupos:

A

França

Senegal

Uruguai

Dinamarca

B

Espanha

Eslovênia

Paraguai

África do Sul

C

Brasil

Turquia

China

Costa Rica

D

Coréia do Sul

Polônia

Estados Unidos

Portugal

E

Alemanha

Arábia Saudita

Eire

Camarões

F

Argentina

Nigéria

Inglaterra

Suécia

G

Itália

Equador

Croácia

México

H

Japão

Bélgica

Rússia

Tunísia

No início do sorteio, imaginava-se que o Brasil ficaria no grupo F, que é disputado no Japão. Do grupo A do D, os jogos serão na Coréia do Sul e do E em diante, no Japão.

Como o Brasil não tem mais força política (decorrente da fraqueza atual do seu futebol e do fim da era Havelange na FIFA), acabou caindo no grupo C. Acabou por agradecer pelo seu grupo, aparentemente uma “baba”, ao contrário do desejado grupo F, que é o chamado “Grupo da Morte”.

Analisemos os grupos um a um:

Grupo C

Sem dúvida, é o grupo que os brasileiros sonharam. Quando eu soube do sistema de sorteio, achei péssimo, pois imaginei que o Brasil poderia pegar Inglaterra, Portugal e Nigéria, por exemplo. Também imaginei que o Brasil pegaria, idilicamente, Arábia Saudita, Tunísia e China.

“Ganhamos” Turquia, China e Costa Rica. A Turquia é o adversário mais forte, seu futebol vem crescendo, tem bons jogadores (como o goleiro Rustu, o zagueiro Alpay, os meias Bülent e Okan e o artilheiro Hakan Sükur) e um estilo de jogo gaúcho, que beira a violência. A China só não é uma incógnita total, pois tem no banco o técnico iugoslavo Bora Milutinovic, que sempre monta times velozes e com grande disposição, com destaque aos atacantes Yan Chien e Xie Hue, que jogam na Alemanha. A Costa Rica (que desclassificou Honduras) tem um técnico brasileiro, Alexandre Guimarães, fez uma grande campanha na última Copa América e conta com Paulo Wanchope, um atacante perigosíssimo.

Devemos ter medo desses times? Serão mesmo uma “pera doce”, como imaginamos? Provavelmente sim, mas não nos esqueçamos de Honduras, Bolívia e outras tragédias. Mesmo assim, eu acho que seria bom o Brasil pegar um adversário mais forte, como Bélgica, Suécia, Rússia, Croácia ou Polônia. Chegaria mais preparado para as Oitavas-de-Final. Depois, vamos ver. Mas precisamos ser humildes e profissionais: Antônio Lopes já falou que o grupo é uma baba. Com Rivaldo, Cris e outras pérolas, nada é uma baba.

Classificados: Brasil e Turquia

Grupo A

A França destaca-se como favorita ao primeiro lugar, pois sua fase é ótima, o time joga direitinho e agora achou em Wiltord e no instável Anelka um ataque que os franceses não tiveram em 98. Tem um meio-campo superior, comandado por Zidane, Makelele, Djorkaeff e Pires. Uruguai e Dinamarca lutam pela segunda vaga. Time por time, a Dinamarca (comandada pelo brilhante ex-jogador Michael Laudrup e com destaques como os veteranos Helveg, Heintze e Tofting, além do faro de gol de Gronkjaer e Sand) é melhor, mas o Uruguai, que tem em Recoba e no ótimo goleiro Carini os destaques, tem a tradição ao seu lado. O Senegal, por ser africano, por ter desclassificado o tradicional Egito e Ter um time com grande experiência (especialmente os avantes Diuof e Camara), precisa ser olhado com cuidado.

Classificados: França e Uruguai

Grupo B

Considero o grupo equilibradíssimo. A tarefa da Espanha não será fácil. Como em todas as Copas, a Espanha chega credenciada, mas pode falhar na hora agá. Mendieta, o fantástico Hierro, Sergí, Raúl e Morientes serão destaques. O Paraguai tem um bom time, muito entrosado, mas não terá Chilavert nos dois primeiros jogos (contra África do Sul e Espanha). Mas terá Arce, Ayala, Cañiza e Paredes, além do oportunista atacante Santa Cruz. Os sul-africanos estão envelhecidos em relação às outras Copas, mas merecem respeito, apesar de muitos jogadores (verdadeiros “mercenários” da bola), não vêm aceitando suas convocações. A Eslovênia é uma boa novidade, com um time hábil e disciplinado, assim como é o futebol iugoslavo, país do qual a Eslovênia fazia parte. Destaque para os meio-campistas Zahovic e Pavlin.

Classificados: Espanha e Paraguai

Grupo D

Portugal surge como a maior força, mas pode não responder de acordo com o esperado, apesar de ter a sua melhor formação desde a Copa de 66, com os excelentes Figo, Simão Sabrosa, Fernando Couto, Pauleta, Rui Costa e Nuno Gomes, além de um técnico (Antonio Oliveira) que gosta do futebol bem-jogado, com técnica e habilidade. A Polônia, comandada por Karwan e o nigeriano naturalizado Olisadebe, é tradicional demais, vem sempre com força e habilidade e deve ser a segunda força do grupo, desde que não perca pontos para os Estados Unidos, terceiro time do grupo, que cresce constantemente, mas nunca passa de coadjuvante, dessa vez um grupo jovem comandados pelo treinador Bruce Arena. Ainda no grupo estão os donos-da-casa, a Coréia do Sul (com o holandês Guus Hiddink como técnico), que só pode contar com isso: o fator campo. No mais, a correria e a inocência de sempre.

Classificados: Portugal e Polônia

Grupo E

Grupo bastante fácil para a Alemanha, apesar da má-fase da seleção germânica. No entanto, a Alemanha é como o Brasil: mesmo mal, nunca deixa de ser candidata ao título. Tem o excelente goleiro Kahn, o bom zagueiro Novotny, os meias Ziege e Ballack, além dos limitados atacantes Jancker e Bierhoff. As outras três seleções do grupo lutarão, com muito equilíbrio, pela segunda vaga. O Eire deve mostrar seu futebol feio e defensivo, além de um time envelhecido, com Keane, Stauton e Quinn, sem esquecermos que foram os irlandeses que eliminaram a Holanda. Camarões deve ser respeitado como força africana, apesar de ser um time desconhecido, onde despontam apenas Eto’o, Mboma, Foe, Wome e Geremi. A Arábia Saudita demonstrou qualidades (velocidade e garra) nas duas últimas Copas e pode surpreender irlandeses ou africanos, ainda mais por contar com um time jovem e animado.

Classificados: Alemanha e Camarões

Grupo F

O grupo da “morte”, como se popularizou dizer. A Argentina não terá facilidades frente às seleções de Inglaterra e Nigéria. Afinal, jogar contra Chile, Uruguai e Venezuela é fácil. Nas Eliminatórias, a Argentina só foi mal em dois jogos, ambos contra o Brasil. Isso me faz desconfiar do time portenho, que, de fato, é fantástico (principalmente Samuel, Sorín, Verón, Claudio Lopez e Crespo). A Inglaterra sempre aparece como candidata, mas sempre fica pelo caminho (só foi campeã em 66, na sua casa e notoriamente ajudada pelos árbitros, inclusive em jogo contra a Argentina e na final contra a Alemanha). Dessa vez, os ingleses mostram bons jogadores, mais experientes que em 98, como o goleiro Seaman, Ferdinand, os irmãos Neville, Scholes, Beckham, McManaman e Owen. A Nigéria deve ser muito forte, como sempre, mas precisa ter mais responsabilidade tática. Sofreram para se classificar, estão num momento de afirmação, mas ainda têm West, Oliseh, Babangida, Okocha, Kanu e o jovem atacante Agail. A Suécia (com Larsson, destaque da Copa de 98 e o excelente meio-campista Svensson) será o fiel da balança desse grupo: quem perder pontos para ela pode ser eliminado.

Classificados: Argentina e Inglaterra

Grupo G

Parece simples, mas a tarefa da Itália não será tão fácil. Apesar de ter uma tradição inigualável e um time interessante, mas que não entusiasma ninguém (onde se destacam o ótimo goleiro Toldo, o hábil, porém instável Del Piero e o atacante limitado Inzaghi), pegar a garra e a correria do México (comandado pelo veteraníssimo García-Aspe), a habilidade da Croácia (um time que tem imensa qualidade, até para lutar por título, apesar de um pouco envelhecido) e o jogo defensivo e em alto-astral do Equador (que depende do bom-humor do eterno Alex Aguinaga). Se der a lógica, Itália e Croácia se classificam. Mas como a beleza do futebol está justamente no seu inesperado...

Classificados: Croácia e Itália

Grupo H

Os donos-da-casa, o Japão, vêm muito animados, com muito entrosamento e com alguns bons jogadores, como Nakata, Takahara, Ono e Ihara e podem dar muito trabalho e trazer surpresas, especialmente à Bélgica, uma seleção que sempre está na Copa, mas sempre mostra um futebol sem a menor graça ou eficiência (com pequeno destaque aos atacantes Wilmots e Mpenza). A Rússia mais uma vez deve apresentar um time habilidoso (com Smertine, Mostovoj, Karpine, Aleinitchev e Bestchastnykh), mas sem muito espírito de luta. A Tunísia, que tem a habilidade africana mesclada à velocidade árabe e pode complicar, ainda mais pelo bom técnico francês Henri Michel. Creio que esse grupo seja muito equilibrado, também. Desse grupo, sai o adversário do Brasil na Segunda Fase (se o Brasil se classificar, é óbvio).

Classificados: Rússia e Japão

Pílulas do Sorteio

# Curiosidade que traz alegria: todos os sete campeões do mundo estarão na Copa do Mundo. França, Brasil, Alemanha, Itália, Argentina, Inglaterra e Uruguai jogarão na Ásia.

# O show que ocorreu juntamente ao sorteio tem uma definição: ridículo. Pior ainda a apresentação de um artista sul-coreano, clone oriental e piorado de Vanilla Ice. Certamente, há um folclore riquíssimo nos dois países. Não precisava desse símbolo de reverência americana.

# Por outro lado, achei muito simpático o fato dos presidentes das federações de Japão e Coréia do Sul, respectivamente Sunichiro Okano e Chung Mo Joon. Muito bonito, ainda mais por tentar apagar a bobagem que a FIFA fez ao escolher dois países para sediar a Copa.

# Se a Organização do Mundial for parecida com o sorteio, devemos nos preparar para o pior. A dupla de apresentadores parecia não saber do que falava, metia os pés pelas mãos... Enfim, estavam perdidinhos em cena.

# Galvão Bueno ficou irritadíssimo que o Brasil não foi para o Grupo F. “O Brasil não tem força política, isso é uma mostra do momento terrível que vivemos...”, vociferava. Se tivéssemos ganho a briga e ido para o Japão, estaríamos no grupo da Argentina. Será que Galvão preferiria?

# A Copa começa dia 31 de maio, com França e Senegal, em Seul, capital da Coréia do Sul e termina em Yokohama, onde fica o maior estádio do Japão.

# Serão sedes da Copa: na Coréia do Sul, as cidades de Seul, Busan, Daegu, Incheon, Gwangju, Daejon, Ulsan, Suwon, Jeonju e Jeju. No Japão, Yokohama, Sapporo, Nagai, Niigata, Ibaraki, Saitama, Shizuoka, Osaka, Kobe e Oita.

# Anote aí: dia 3 de junho, 6h, Brasil e Turquia. No dia 8, às 8h30, Brasil e China e dia 13 de junho, ás 3h30, Brasil e Costa Rica.

# Copa do Mundo é uma delícia. Não vejo a hora de começar.