Futebol
por Luiz Fernando Bindi
Novembro 09, 2001
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Palmeiras, um grave caso de incompetência 

De trágico: Daniel, inútil e amedrontado. Alexandre, péssimo e mascarado. Misso, nada a dizer. Galeano, uma múmia que ficaria melhor em algum museu de horrores. Magrão, péssimo dos péssimos. Lopes, ninguém. Fábio Júnior, zero à esquerda. Tuta, sabe-se lá. 

Em colunas passadas, fiz uma crítica à última contratação do Palmeiras, um tal de Ricardo Boiadeiro, que chegou ao Parque Antártica com chapéu de couro e visual country. Achei ridículo, não só pela indumentária bizarra, como pela contratação estapafúrdia de um obscuro centroavante do Olaria. 

No domingo, dia 4 de novembro, o mesmo Ricardo Boiadeiro estava no Programa Mesa Redonda, da TV Gazeta. Bizarro por bizarro, o jogador permaneceu o tempo todo de chapéu, uma patética mistura de Indiana Jones e Tom Mix. 

Como um clube como o Palmeiras, tradicionalíssimo, campeão de quase todos os torneios que disputou, considerado o Time do Século pela FIFA, aceita uma coisa dessas? Como permitem que esse jogador apareça representando o clube num programa de boa audiência? 

Nada contra Ricardo Boiadeiro. Ele pode ser um craque e ter vindo do Olaria não diz nada a respeito de sua capacidade. Afinal, o Mestre Ademir da Guia veio do igualmente minúsculo Bangu. O que não pode se admitir é que ele seja uma personagem, lembrando Zé do Caixão, Pedro de Lara e Falcão. É o Palmeiras que ele representa, não o Vila Xurupita! 

Mas a inépcia da diretoria do Palmeiras é mais do que histórica. 

Senão vejamos: o time foi campeoníssimo quando o futebol ainda era muito amador (na época que “se amarrava cachorro com lingüiça”, seguindo a infeliz frase de Felipão) e a paixão e a habilidade faziam ganhar jogos. 

Após estar por quase 16 anos na fila, o Palmeiras, com uma diretoria surpreendentemente inovadora, fechou contrato com a Parmalat, num exemplo que até hoje provoca inveja em todos os clubes brasileiros. 

A Parmalat tinha objetivos empresariais específicos: ganhar mercado no Brasil através de uma publicidade no maior esporte do país, o futebol. Em seus quadros, gente séria e competente como Marcos Bagatella e acima de tudo, José Carlos Brunoro, esse um gênio da área. 

Lembro que logo depois de ter assumido o futebol do Palmeiras, a multinacional italiana anunciou intenção de contratar Maradona, já em fim de carreira. Foi um factóide, mas veio para gritar: nosso trabalho é sério. E foi. 

O Palmeiras ganhou títulos, chegou à Libertadores e foi vice mundial, perdendo para o fraco Manchester United. Perdendo porque Felipão deixou Evair no banco em detrimento de um Asprilla sem ritmo tampouco emoção. Perdendo por uma falha bisonha do goleiro Marcos. 

Mas o acordo com a Parmalat acabou, pois a empresa atingiu seus objetivos profissionais (hoje, ganha até da Nestlé) e a diretoria do Palmeiras, capitaneadas por Mustafá Contursi, nem deu bola. Achou que tudo daria certo. 

Pois bem: desde que a Parmalat definitivamente se afastou, o Palmeiras não ganhou rigorosamente mais nada. Não digo que a Parmalat fosse a melhor coisa do mundo, mas para o Palmeiras e sua diretoria inepta, sem dúvida era uma das melhores. 

Hoje, o Palmeiras faz campanhas medianas (como fazia antes da Parmalat, na época do jejum), tem um elenco pavoroso (somente Marcos, Arce, Pedrinho e Muñoz teriam lugar em qualquer time do mundo), técnicos medíocres (culminando com Celso Roth, incrivelmente péssimo) e poucos títulos. Aliás, nenhum. 

E por quê? Meu tio foi diretor de futebol do Palmeiras na época da chamada “2ª Academia” e por vezes, tempos mais tarde, me levou à Sala de Troféus do clube. Numa dessas visitas, conheci Mustafá Contursi. Eu tinha algo em torno de dez anos e mal me lembro do que meu tio falou à minha mãe, que me acompanhava. 

Mas lembro que foi dito que Mustafá não gostava de futebol, adorava a parte social do clube e tudo mais. A imprensa esportiva diz o mesmo. O excelente jornalista Mauro Betting chega a afirmar que, se dependesse de Mustafá, o Palmeiras seria como o Juventus: um grande patrimônio social e um time “para disputar”, como se diz. 

O Palmeiras não é lugar disso, Mustafá. Deixe de amadorismo e lembre-se que por trás da gloriosa camisa verde-e-branca existe 5 milhões de apaixonados que não querem Taddei, Alexandre, Galeano, Titi, Magrão, Claudecir, Tuta, Lopes, Fábio Júnior, Donizete, Misso, Rovílson, Thiago Mathias, Edmílson e outras mediocridades. Infelizmente, prevejo um futuro sombrio para o Palmeiras. Fora do Brasileiro, como há muito eu previ e longe dos títulos. A Parmalat foi o Pelé do Palmeiras; ela venceu dirigentes amadores mas foi vencida por incompetentes.

Pílulas de Idéias 

# Bolívia 3 x 1 Brasil, fora o baile. Quando criança, um resultado desses só podia ser visto em jogo de botão. O Brasil não perdia para quase ninguém e quando perdia, era uma ferida nacional. 

# Marcos (que falhou grotescamente no 2º gol boliviano) salvou o Brasil de um vexame a la Palmeiras contra o infantil time da Bolívia. 

# Que não me falem da altitude! Time bom ganha no Maracanã, na Javari, em La Paz, em Águas de Lindóia, no terrão da várzea... 

# A Seleção foi medrosa e “feliponescamente” covarde. Há alguns jogadores no time que não jogariam nem no catadão do bairro. Não servem para nada! 

# Mas tem um que é um exemplo de medo, de falta de garra, de falta de amor ao esporte: Rivaldo. Para quê ele está na Seleção? Por que crucificam Juan, Lúcio e Edmílson (bons zagueiros) e poupam Rivaldo? O que ele já fez pelo Brasil? Jogar contra o Rayo Vallecano, o Valencia e o Liverpool é fácil. Jogar pela Seleção é outra coisa! 

# São Paulo e Corinthians foi marcado por erros do árbitro Alfredo dos Santos Loebling, que não deu um pênalti claríssimo para o Corinthians, deixou as faltas correrem soltas e ainda se complicou no gol do São Paulo. Culpa dele? Também, mas o culpado maior tem nome: 

# Armando Rosa da Castanheira Marques, ex-árbitro de futebol e que dirige a Comissão de Árbitros da CBF. Quando apitava, Armando Marques era polêmico na mesma medida em que errava, ou seja, muito. Tirou títulos de Palmeiras e Santos, deu um título à Portuguesa e perseguia Pelé, que “aparecia” mais que ele. 

# Que coisa, hein? 

# Ainda sobre Corinthians e São Paulo. O gol de Kaká foi uma obra de arte. Maravilhoso, milimétrico, com suavidade e elegância. Kaká é ótimo e logo estará na Seleção. Só espero que nenhum técnico o proíba de ser criativo. 

# Corinthians, um dos times mais gloriosos do país e com uma torcida apaixonada e apaixonante. São Paulo, bicampeão mundial e uma legião de torcedores entusiasmados. Onde seria um jogo entre eles: na cidade-sede dos times ou a 500 km de distância?? 

# Que responda a Rede Globo, que monopoliza o futebol e agora quer elitizar a paixão brasileira, com essa caríssima arapuca que é o pay per view

# Palmeiras 2x6 Fluminense; Atlético Paranaense 6x3 Bahia; Ponte Preta 5x2 Vitória; Portuguesa 5x4 Vasco; Santos 4x2 Grêmio. Exemplos de futebol: os jogos podem não ter sido brilhantes, mas teve gols, emoção e fez a torcida sorrir. Isso é futebol. Avisem Felipão, Parreira... 

# O Flamengo está à beira do precipício. Mas não cairá. Tenham certeza. Se cair, a mesa será virada. Afinal, estamos no futebol brasileiro. 

# O que eu disse acima tem uma carga de tristeza e melancolia muito grandes. Tenho medo que no futuro, por causa desse tipo de sem-vergonhice, o brasileiro se afaste do futebol. 

# Felipão consultou os astros para escalar a Seleção e fizeram uma marafona por causa disso. Sem dúvida, recorrer a esse tipo de crendice para qualquer coisa é de um primitivismo imperdoável para o técnico da Seleção. 

# Quando Parreira contratou um psicólogo para fazer palestras de auto ajuda em 94, todo mundo achou “moderno”. Não é a mesma crendice infundada de Felipão? Por que a complacência com Parreira? 

# Os gaúchos que fizeram os mapas astrais dos jogadores disseram que Eduardo Costa é a salvação. E quem deve ser o centroavante? A Maga Patalójika? 

# É muito, mas muito triste mesmo, mas concordo com Milton Neves: Ronaldinho é um ex-jogador. Que pena, que pena. 

Fala, Internauta! 

# Fernando Pratti, assessor de Imprensa da CBT, conta a seguinte  história sobre Oscar, em comentário à coluna passada: “Há duas semanas, uma ex-jogadora do Rio de Janeiro, com passagens pelo Tijuca, que também é sobrinha de um funcionário da CBT, estava em seus últimos dias de vida em um hospital carioca. Com 21 anos, ela estava em uma cama, vítima de câncer. Pouco tempo antes, ela havia participado de uma promoção para passar um dia com seu ídolo. E como muitos de nós que jogamos basquete faríamos, escolheu Oscar Schmidt. Algum tempo depois, quando soube que ela estava doente, Oscar largou seus afazeres, que não devem ser poucos como maior estrela do basquete nacional e titular do Flamengo. Sem a presença de imprensa, câmeras, fotógrafos, ele chegou de surpresa e passou a tarde todo visitante a garota. Pouco depois, ela veio a falecer.” 

# Fernando, sua história mostra apenas a decência e hombridade que marcam o caráter do grande Oscar, um dos símbolos do nosso esporte. O que eu coloquei em questão foi a validade do seu recorde (em grande parte, calculado por estimativa) e questionei quando o jogador se juntou a Paulo Maluf, alguém muito diferente do grande atleta que é Oscar. 

# O sempre leitor Marco Aurelio Klein comenta: “Muito legal mesmo a comparação aritmética entre Oscar e Pelé. Pena que fora da profissão se equivoquem tanto...”. De fato, é uma pena. Mas a história acima mostra que o erro de Oscar foi uma escorregada grave, mas perdoável. 

# O mesmo Marco Aurelio diz que sonha em ver Sir Alex Ferguson no comando do Palmeiras. Na verdade, creio que a grande vantagem do técnico inglês foi uma continuidade impressionante. Será que a torcida palmeirense teria paciência para tal? 

# Danielle Hypólito não recebe salários do Flamengo há quatro meses, mas ainda ama seu clube de coração. Nunca a imprensa esportiva fala dela. E acaba de se tornar medalha de prata na Ginástica Olímpica no Mundial de Ghent. A pequenina Danielle é muito maior que a alma dos brasileiros monoesportistas (como eu, inclusive). Parabéns à ela.

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