Ainda
ele, o passe
Oi,
gente! Tudo bem?
A intenção dessa
coluna é basicamente fazer um apanhado geral do que aconteceu pela semana e
colocar em discussão fatos sobre o futebol. Há duas colunas, eu já havia
falado sobre a Nova Lei do Passe, mas ainda pairam algumas dúvidas e
incertezas.
Desde a última terça-feira
(dia 20), Juninho Pernambucano libertou-se das amarras da casa-grande de São
Januário e do capataz Eurico Miranda.
E nesta segunda-feira,
dia 26 de março, todos os jogadores do Brasil estarão livres de suas amarras
e, sejamos otimistas, nunca mais freqüentarão o pelourinho do ostracismo, do
desemprego acordado entre cartolas desqualificados.
No entanto, é
revoltante ver as declarações de Gamarra, zagueiro paraguaio do Flamengo, que
disse não estar “...nem aí...” para o passe e o que o preocupa é
“receber meu salário no fim do mês...”. Gamarra ganha 400 mil dólares
mensais, por isso não se preocupa com a Lei do Passe.
Mas e a grande maioria
de jogadores que ganha entre 0,5 e 3,5 saláros mínimos (algo em torno de 75%
do total, segundo dados do Sindicato de Atletas de São Paulo)? Por que Gamarra
não está nem aí para eles? Por ser tecnicamente privilegiado, ele precisa ser
de uma falta de humildade e solidariedade dessas?
Hoje em dia, o passe
prende o jogador ao clube, que só o libera mediante pagamento. Daqui para
frente, basicamente, basta a um time pagar uma multa rescisória que o jogador
está contratado, independentemente da vontade do time original.
Há no Brasil, uma idéia
de se aplicar o modelo europeu, seguindo pedidos de Fabio Koff, que representa
os grandes clubes barsileiros. Esse modelo diz, em linhas gerais, que times e
jogadores devem se ressarcir no caso de rompimento unilateral.
O interessante do
modelo europeu é que o jogador deve ficar dois ou três anos num clube antes de
ir para outro, o que a meu ver, pode trazer de volta o amor pela camisa ou pelo
menos, a identificação com o time. Outro aspecto interessante: o clube que
formou o jogador será indenizado se este for vendido a outro time antes dos 23
anos.
Mais uma vez, eu
espero que a Lei seja cumprida. Creio que seja um passo no nascimento de um
futebol brasileiro ético e decente.
Pílulas
de Idéias
# Ainda repercute o assustador acordo entre Pelé e Ricardo Teixeira. Na
reunião, decidiram que a Copa de 2010 seria no Brasil. No entanto, a FIFA já
havia determinado que a mesma seria na África. No último sábado (dia 14), a
entidade máxima do futebol mundial publicou uma errata em seu site na Internet,
onde dizia que a garantia que a Copa de 2010 seria no continente africano havia
sido um erro de digitação. Curioso é que a empresa de Pelé detém os
direitos de transmissão da Copa do Mundo. Muito curioso.
# O genial Armando Nogueira disse que o acordo acima citado foi uma clara
evidência que o homem Édson Arantes do Nascimento “...deu um chute na
canela...” do atleta Pelé. Mas acho difícil dissociar um do outro e ainda
espero que Pelé se explique e que esse acordo renda algum bom fruto.
# É muito bom ver o futebol de volta ao Pacaembu, que estava há tanto
tempo vazio. E isso se refletiu no péssimo estado de conservação que o
charmoso estádio apresenta. Um trabalho sério de recuperação deveria ser
feito e creio que se o Corinthians assumisse o Pacaembu como seu e dele
cuidasse, o estádio seria bem melhor.
# Falando em Corinthians. A goleada de 5 a 0 sobre o Santos e a vitória
por 3 a 1 diante do Joinville, pode ter representado, de fato, a ressurreição
do Timão no futebol. Era muito desagradável ver um time tão tradicional na
situação em que ele se encontrava. O time do Corinthians é bom, mas precisa
arrumar sua defesa, que não tem jogadores confiáveis.
# O Palmeiras venceu a União Barbarense por 5 a 1, com atuações de
alta classe de Felipe e Alex. O time palmeirense tem mostrado melhoras e esse
domingo, contra o São Caetano, será a prova de fogo.
# Não assisti ao jogo entre Portuguesa Santista e São Paulo. Mas o
resultado, 4 a 4, me faz pensar como é bonito e divertido acompanhar um futebol
com tantos gols. O futebol ofensivo sempre é mais alegre.
# O atacante Dodô saiu do treino do Santos, reclamando do técnico
Geninho, porque não concordava com a reserva. Se Dodô jogasse o que acha que
joga, seria um craque. Mas a verdade é bem outra: Dodô é fraco tecnicamente,
não tem garra e não transmite confiança. Com Deivide, Rodrigão e Caio, o
Santos não sentirá falta dele.
# O diário Lance! publicou, no último dia 19, interessante e reveladora
reportagem sobre Wagner Ribeiro, empresário que desde que Paulo Amaral assumiu
a presidência do São Paulo (no final de 2000), passou a ser procurador de dez
jogadores do time do Morumbi, inclusive França, Alexandre e as revelações Kaká
e Renatinho. A oposição da diretoria do São Paulo vê com preocupação a
excessiva influência de Ribeiro (há dez anos amigo de José Dias, diretor de
futebol tricolor), pois acha que a amizade referida rende bons frutos apenas
para Wagner Ribeiro. Coisa para se investigar seriamente, pois a influência de
determinados empresários normalmente é nociva aos clubes e especialmente aos
jogadores.
# Algo incompreensível: um time ganha de 5 a 0, ganha o título do
primeiro turno e o técnico é demitido. Foi isso que ocorreu no Atlético
Paranaense, com a demissão de Paulo César Carpeggiani. O técnico saiu
atirando, ao dizer que não aceita influência de empresários na sua escalação.
Isso apenas corrobora a opinião acima. Os empresários mandam em alguns times,
em detrimento da técnica e da capacidade dos jogadores.
# O São Raimundo de Manaus, novamente venceu a Copa Norte, pela
terceira vez seguida, num jogo emocionante contra o Paysandu, de Belém. O São
Raimundo, que até outro dia era um time de bairro, tem no seu técnico Aderbal
Lana, o grande diferencial. Ele está no clube há cinco anos, mantendo a mesma
base e ganhando títulos, sinal que a manutenção de um trabalho sério sempre
dá resultados. Parabéns ao São Raimundo!
# O São Caetano e o Juventude de Caxias do Sul querem pleitear na Justiça
Comum para poderem jogar no Campeonato Brasileiro 2001. Consideram os times que
eles têm direito assegurado de participar da competição. O São Caetano, que
em 2000, aceitou o regulamento da João Havelange (no qual havia um artigo que
dizia que a JH não era o Campeonato Brasileiro e sim um “torneio-tampão”)
e agora quer bagunçar ainda mais o futebol. Já o Juventude tem razão de
brigar. Afinal, por que ele não está na lista dos participantes? Por que então
Fluminense, Botafogo do Rio, Bahia, Botafogo de Ribeirão Preto e América
Mineiro estão nessa lista? É mais um caso de imoralidade no futebol
brasileiro.
# No último dia 14 de março teve início mais uma Copa do Brasil.
Campeonato mais do que tradicional, a Copa do Brasil é o maior campeonato
interestadual do país, com 64 times de todos os estados da Federação. Veja a
tabela e os distintivos dos times participantes.
# Se no Brasil, os erros e as incompetências da esfera pública fossem
punidos como devem ser, o presidente da Petrobrás, Henri Phillipe Reichstul, já
estaria demitido há muito tempo.
Fala,
Internauta!
#
O jornalista Ricardo Pandolfi, são-paulino mais do que assumido, me parabeniza
por ter tocado numa ferida que poucos têm coragem de fazê-lo: a mediocridade
dos técnicos que estão na ativa do futebol brasileiro (coluna de 16 de março).
Ele também diz que Cláudio Coutinho foi um grande injustiçado entre os técnicos
brasileiros. Segundo Pandolfi, Coutinho (falecido em 1983) foi o responsável,
entre outras coisas, pelo fabuloso time do Flamengo no início da década de 80,
onde Júnior e Leandro se destacaram e no qual Zico, Tita, Lico e Adílio
trocavam constantemente de posição, numa antevisão tática maravilhosa.
Pandolfi também diz que vê em Carpeggiani uma possibilidade de surgir um novo
grande técnico, faltando-lhe apenas um trabalho de longo prazo.
#
Ricardo: antes de qualquer coisa, agradeço seu apoio. Sobre o Flamengo,
realmente era um time fantástico, mas infelizmente não tenho idade suficiente
para fazer uma análise detalhada como a que você fez daquele time. Mas
acredito que Coutinho realmente tenha sido um revolucionário e não apenas mais
um enganador. Já Carpeggiani, considero que ele seja um inventor, mais do que
qualquer coisa. No entanto, reconheço que no Paraguai, onde ele teve tempo para
trabalhar, formou-se a melhor seleção da história do país.
#
O jornalista-estradeiro Dilson Duques (um dos meus mestres) não concorda que
Osvaldo de Oliveira seja medíocre, pois ele conseguiu, em pouco tempo, levar o
Corinthians e o Vasco a títulos importantes. Também diz que Telê Santana foi
técnico quando havia craques no nosso futebol, que tirou os pontas da Seleção
Brasileira e só amenizou sua fama de pé-frio quando foi Bicampeão Mundial
pelo São Paulo.
#
Dilson, ao falar que Telê só foi bom por dirigir craques, digo o mesmo de
Osvaldo de Oliveira. É clássico o exemplo de Lula, que treinava o Santos de
Pelé: quem não ganharia com aquele time? Com o time que Luxemburgo deixou para
Osvaldo de Oliveira ou com o time do Vasco, muitos ganhariam. Sobre os pontas: o
número de atacantes não têm relação com a ofensividade e sim com a
fragilidade da defesa. O Palmeiras está jogando com um atacante e desde a era
Felipão, não era tão ofensivo.
#
Agradeço às manifestações enviadas. Um abraço aos leitores Coriolano Júnior, Rodrigo
Machado, Oswaldo Barbosa, Cláudio Saraiva, Fabio Hideo, Eliana Gonçalves,
Maria Luíza Matarazzo (a quem muito comoveu a citação que fiz à minha mãe
na coluna passada), Luciano Ferreira, Janaína Costa, Décio Garbelline, Luís Sérgio
Moreira, Gualberto Santos Júnior, Mariana Sousa e Nikkos Pappandrakkis. Assim
caminharemos juntos.
#
Dedico essa coluna ao brilhante jornalista Daniel Piza, editorialista de O
Estado de São Paulo, que me enviou interessantes e preciosas impressões sobre
minha coluna. Quem dera a humildade de Daniel se refletisse em todos.
# Até semana que vem. Namastê!
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