Que saudades do Telê !
por Luiz Fernando Bindi
Março 16, 2001

Oi, gente! Tudo bem? 

Quando o técnico Marco Aurélio foi demitido do Palmeiras, alguns nomes surgiram como possíveis candidatos ao cargo: Candinho, Celso Roth, Osvaldo de Oliveira, Carlos Alberto Parreira, Levir Culpi... 

Acabou que o cargo é de Celso Roth. Mas, sejamos sinceros: faz alguma diferença? Não há aqui uma crítica específica a Celso Roth, mas a todos os técnicos do futebol brasileiro atual. Técnico não ganha jogo sozinho, mas pode pelo menos contribuir. 

Quem é o melhor técnico do Brasil nos dias de hoje? Felipão, com seu futebol feio e vitorioso? Oswaldo Alvarez, com seu jeito bonachão e tímido? Luxemburgo, uma incógnita pós-CPI e pós-Olimpíadas? 

O que diferencia Darío Pereyra (hoje desempregado) de Nelsinho Baptista (na Ponte Preta)? No máximo, a nacionalidade. E qual a diferença entre Joel Santana e Hélio dos Anjos? Mauro Fernandes, da Matonense, veste-se como Wanderley Luxemburgo na esperança que o marketing o faça um “supertécnico”. 

Sérgio Ramírez (recém-demitido da Inter de Limeira) usa um folclórico cone de trânsito para passar mensagens aos seus jogadores. Cassiá (com passagens interessantes pela Portuguesa e pelo Grêmio) grita enlouquecidamente na beira do campo, algo que mais atrapalha do que ajuda o time em campo. 

Renê Simões, Parreira e Osvaldo de Oliveira posam de técnicos intelectuais, os chamados “estudiosos”. Mas, se na teoria eles são bons, no campo beiram a mediocridade. Quem se lembra da Seleção Campeã do Mundo em 94 com carinho ou saudades? 

De resto, qual a grande contribuição de qualquer um dos técnicos na ativa no futebol de hoje? Será que há alguma revolução tática ou técnica? 

Hoje, não existem mais campeonatos, apenas copas. Nestas competições, os times precisam ser competitivos e vencedores. A qualidade técnica fica sempre em segundo plano. Outro dia mesmo, o leitor Oswaldo Barbosa em enviou um email indignado, pois ouvira Luís Felipe Scolari dizer que “... time tem que ter disposição...”, caso contrário não ganha jogo. 

E o pior é que no Exterior a situação técnica não é melhor. Alberto Zacheronne, técnico do Milan, deixa Leonardo no banco e joga com Gattuso, medíocre volante. Louis van Gaal deixava Rivaldo na reserva do Barcelona por este não ser holandês como van Gaal. Marco Tardelli, da Inter de Milão, reservou banco para Vampeta e Seedorf. 

O título dessa coluna fala das saudades que sinto de Telê Santana. Telê, além de ser um técnico ofensivo, que punha os melhores para jogar e gostava do futebol independentemente de vitórias (por isso, chegou a ficar com fama de “pé-frio”), queria o progresso do futebol brasileiro, preservar a saúde atlética dos jogadores e brigava com muita gente para fazer valer suas opiniões (à fama de “pé-frio”, juntou-se a fama de ranzinza). 

Melhor técnico que já vi, Telê merece um lugar de grande destaque no panteão do futebol brasileiro. Mas esse lugar não seria tão destacado se a geração de técnicos não fosse tão medíocre.


 O técnico do Brasil, Émerson Leão, fez mais uma convocação. Ele chamou 22 jogadores para disputarem a partida do dia 28 de março contra o Equador, em Quito, válida pelas Eliminatórias da Copa de 2002. Mais uma vez, ele tentou manter a base, demonstrando uma coerência rara nos técnicos de hoje em dia. 

De novidades, César (lateral do São Caetano que há muito merecia ser chamado) e a ausência de outrora intocáveis Cafu e Roberto Carlos. Cafu é titular absoluto e é muito importante que se testam reservas para ele. Beletti é uma excelente opção e se pegar ritmo, pode até tirar a vaga do titular. Já Roberto Carlos é excepcional, mas sua empáfia incomoda o técnico da Seleção. Eu, aliás, manteria o lateral no Real Madrid e jamais o chamaria. O próprio César, Silvinho, Júnior, Athirson e Gustavo Nery são ótimas opções. 

Gostei das convocações de Lúcio e Robert, sem contar os “Juninhos” do Vasco, Edílson, Euller e Romário. Rogério Ceni é fantástico, assim como Émerson e Rivaldo (que espero que jogue pelo menos 30% do que joga no Barcelona). Também gostei da ausência de Christian, pois acaba com a ultrapassada tática de bolas alçadas na área. 

No entanto, não entendo as convocações de Cris (zagueiro do Cruzeiro), Ricardinho (também do Cruzeiro) e Luizão (atacante do Corinthians), assim como smpre sinto a ausência de Ricardinho, do Corinthians, entre os convocados. 


Na coluna da semana que vem, publicaremos uma matéria especial sobre a Copa do Brasil, o maior torneio interestadual do Brasil, que dá ao campeão a chance de ir para a Libertadores. Ela iniciou-se nesta quarta-feira (dia 14), com vinte e um jogos. Veja os resultados (os times com um * são os já classificados por terem ganho, na casa do adversário, por dois gols de diferença):

                Ríver (PI) 0 x 2 Flamengo (RJ)*

                URT (MG) 2 x 1 Mixto (MT)

                Comercial (MS) 2 x 0 Juventude (RS)

                Desportiva Capixaba (ES) 2 x 3 Coritiba (PR)

                Nacional (AM) 3 x 0 Paysandu (PA)

                Americano (RJ) 2 x 6 Goiás (GO)*

                Malutrom (PR) 1 x 0 Juventude (MT)

                Villa Nova (MG) 3 x 2 Grêmio (RS)

                Guajará (RO) 1 x 1 Rio Branco (AC)

                Ceará (CE) 3 x 1 Paraná (PR)

                Goiânia (GO) 1 x 1 América (MG)

                Moto Clube (MA) 1 x 2 Flamengo (PI)

                Figueirense (SC) 2 x 3 Portuguesa (SP)

                Rio Negro (RR) 1 x 2 São Raimundo (AM)

                Caxias (RS) 0 x 1 Guarani (SP)

                América de Natal (RN) 1 x 4 Bahia (BA)*

                Anapolina (GO) 1 x 2 Santos (SP)

                Sergipe (SE) 2 x 3 Botafogo (RJ)

                Santos (AP) 0 x 1 Remo (PA)

                Palmas (TO) 0 x 0 Gama (DF)

                Castanhal (PA) 0 x 1 Ponte Preta (SP)

Pílula de Idéias 

# Mais uma virada de mesa. Em reunião nessa segunda (dia 12 de março), o Clube dos Treze definiu que 26 clubes estarão no Brasileirão 2001. Entre eles, Fluminense, Paraná, Santa Cruz e Bahia, enquanto o São Caetano está fora. Com esses dirigentes o destino do futebol do Brasil é o fundo da lata de lixo.

# Pelé, Ricardo Teixeira (presidente da CBF), João Havelange e Carlos Melles (Ministro dos Esportes) se reúnem e decidem reerguer o futebol brasileiro. Poderia ser uma nesga de esperança, se a primeira resolução não fosse a candidatura do Brasil para a Copa de 2010. Há centenas de coisas muito mais importantes para o futebol brasileiro, que passam longe de uma organização de Copa do Mundo. É uma pena que Pelé esteja no meio dessa história e ainda de mãos dadas com Ricardo Teixeira, um dos maiores culpados da situação do nosso futebol.

# Na mesma reunião, lançaram uma carta de intenções, onde falam de Campeonatos em pontos corridos, com idéias mirabolantes, o respeito ao fim do passe (a melhor decisão de todas) e um projeto de calendário que só daria certo se tivéssemos uns 600 dias no ano. Mas como acreditar num grupo que só tem cartolas e as sugestões ouvidas são de Ministros e do Clube dos Treze, desprezando-se os jogadores, a torcida e os formadores de opinião?

# Uma das coisas que a reunião de notáveis decidiu foi que nenhum time brasileiro pode jogar mais de duas vezes por semana. Precisa uma reunião para decidir isso?

# Pelas rodadas iniciais da Copa Libertadores da América (que já foi tema de Especial nessa coluna), o Vasco venceu o América de Cáli por 3 a 0 na Colômbia. O Cruzeiro bateu o Sporting Cristal, do Peru, por 1 a 0 e na casa do adversário. Mesma casa, aliás, do Sport Boys, que o Palmeiras goleou por 4 a 1. Prova que os times brasileiros são novamente favoritos ao título da Libertadores –especialmente Vasco e Cruzeiro, nessa ordem. O único time que pode atrapalhar a caminhada é o excelente Boca Juniors, da Argentina.

# Será que o Corinthians está renascendo e o primeiro sinal foi a vitória sobre a Inter de Limeira, no sábado? Tudo bem, pode-se dizer que a vitória foi contra o vento. Mas nem Palmeiras nem São Paulo ganharam do vento que o Timão ganhou.

# Por falar em São Paulo e Palmeiras, no domingo foi disputado mais um “Choque-Rei”, apelido que o romântico jornalista esportivo Thomaz Mazzoni deu ao clássico entre os dois times. E dessa vez, o São Paulo deu de 3 a 0 no Palmeiras, numa bela exibição de Júlio Batista, para mim, a melhor revelação dessa nova safra que o Tricolor está lançando (junto com Cacá e Harison).

# Ainda o clássico: o Palmeiras continua seu calvário. E agora, a culpa é de quem? Celso Roth? Esse time do Palmeiras não tem raça, parece que falta sangue nas veias dos jogadores. Me lembra o Palmeiras de 1995 (vice paulista), que contratou a esmo e foi um fracasso na Libertadores. Quem não se lembra de Nílson, Alex Alves, Elivélton e Lozano? Chato é saber que se o time terminar em último, uma manobra imoral qualquer impedirá o rebaixamento.

# Ao contrário da onda geral, acho que clássicos no Interior são um erro brutal. É como aquele marido traído que finge que não vê a traição: a Federação Paulista leva o jogo para o Interior par atrair público, reconhecendo sua incapacidade de criar campeonatos interessantes tanto para o público da Capital quanto para a torcida fora da Capital. O estádio encheu porque os rio-pretenses há muito não viam times grandes na sua cidade, não porque o jogo era interessante.

# Indo para São José do Rio Preto, alguns idiotas das Torcidas Organizadas (seria isso pleonasmo?) de Palmeiras e São Paulo se enfrentaram violentamente na Rodovia dos Bandeirantes, causando ferimentos em muitos e susto em quem não tinha nada a ver com a história. Mais uma prova que o fim das organizadas é uma necessidade.

# No Campeonato Paulista, Botafogo de Ribeirão Preto e Rio Branco de Americana estão entre os líderes. Seria muito interessante, se essa liderança não fosse motivada por quatro vitórias nos pênaltis. Fica a pergunta: até que ponto é merecida uma liderança fruto de pênaltis?

# Cacá, ótima revelação dos Backstreet Boys do Morumbi, quer que seu nome seja grafado com K. Pode ser exagero, mas para mim, soou como um pouco de soberba por parte do rapaz. Espero que ele não se perca, porque capacidade de joagr bola ele tem.

# No Brasil, sempre usamos a Europa como modelo de profissionalismo e seriedade. Pois nesta semana, presenciei dois exemplos que minam um pouco essa impressão:

1. o holandês Dennis Bergkamp (um excelente jogador), negou-se a disputar um jogo entre seu time, o Arsenal, da Inglaterra e o Bayern de Munique, da Alemanha, jogo esse que seria decisivo na classificação ou não do time inglês. Até aí, seria “somente” amador, se o motivo não fosse absolutamente fútil: medo de avião, pois a viagem cruzaria o Canal da Mancha. Não tenho essa fobia, entendo quem a tem, mas cadê o profissionalismo de Bergkamp, que recebe algo em torno de 500 mil dólares por mês?

2. no jogo entre Milan e La Coruña, o zagueiro brasileiro Roque Júnior (do Milan), ao ver Djalminha (do La Coruña) caído no chão, aparentando contusão, jogou a bola para a lateral, prática comum no Brasil. Durante os quinze minutos restantes, cada vez que o zagueiro tocava na bola, a torcida o vaiava pela sua atitude humanitária. Muito séria a torcida italiana...

 Fala, Internauta !

# O geógrafo e educador Marcos Giusti me envia um email fazendo algumas observações. Ele se diz impressionado com algumas entrevistas que assistiu com Sócrates (ex-jogador do Corinthians). O ex-jogador sempre se mostra muito lúcido e inteligente. Infelizmente, Marcos, os dirigentes do Brasil não querem a lucidez de Sócrates e sim a truculência e inépcia típicas dos nossos cartolas.

# O mesmo Marcos Giusti (torcedor do São Paulo), me pergunta se o Palmeiras pode melhorar até o Mundial da Espanha (ver Especial nessa edição). Não, Marcos, não melhorará. O Palmeiras contará com a sorte, o fato de ser brasileiro (o que ainda causa algum respeito no exterior) e a fraqueza de seus oponentes. Excetuando-se Boca Juniors e Real Madrid, os outros são igualmente medíocres.

# Agradeço às manifestações enviadas. Um abraço aos leitores Rubens Coelho, Décio Santos, Sílvio Atanes, Émerson Carvalho, Célia de Azevedo (nascida em Descalvado, que adorou ver sua cidade citada na coluna do dia 02 de março), Randall Stewart, Milton Silveira, Rodrigo Tóth, Mariana Cotrim, Marcos César Marques, Oswaldo Barbosa e Eliana Gonçalves. Assim caminharemos juntos. 

# Dia 14 de março, minha mãe completou 57 anos. Professora primária de profissão, orgulha-se de ter alfabetizado centenas de crianças (e até alguns adultos). Não me imagino sem ela, sem sua companhia, sua atenção, seu carinho e sua proteção. Nunca a chamei de mãe, o que não me impede de amá-la profundamente. Feliz Aniversário, Erna Lucia! 

# Até semana que vem. Namastê!

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